Capítulo Cinquenta e Cinco
Victor Jones:
O Palácio dos Espíritos, em suas condições normais, poderia ter sido o lugar mais esplêndido que eu já havia visto, um verdadeiro bastião de beleza e serenidade. No entanto, a desolação que o envolvia transformava-o em um cenário de devastação. As paredes, outrora imponentes, estavam agora rachadas e cobertas por uma espessa camada de poeira. Colunas majestosas desmoronavam aos pedaços, e o chão ressoava com os ecos de um passado glorioso que agora parecia distante.
Seguíamos pelo corredor interminável, conduzidos por Urlac. Cada passo que dávamos parecia reverberar no silêncio sombrio que preenchia o ambiente. O corredor nos levou até uma escada monumental, uma estrutura colossal que se erguia diante de nós como um desafio imponente. Nunca tinha visto uma escada tão vasta e majestosa, suas escadas se estendendo como uma serpente de pedra em direção ao céu desmoronado do palácio.
Urlac parou à frente da escada e soltou um profundo suspiro, seu olhar se perdendo na altura infinita que se estendia acima dele.
— Espíritos não costumam usar escadas — ele murmurou, a voz carregada com um misto de cansaço e resignação. — Nunca pensei que precisaria subir uma escada tão longa dentro deste palácio.
— Imagino que essa não estivesse em seus planos — respondi, ainda atordoado pela cena ao nosso redor e pela enormidade da tarefa à nossa frente. — Você conheceu Calia?
A menção do nome de Calia pareceu iluminar o rosto de Urlac, como se uma centelha de esperança tivesse sido acesa em meio à escuridão.
— Conheço-a apenas através do reflexo que um mensageiro me mostrou uma vez. Temos conversas ocasionais — explicou Urlac, um brilho de carinho nos olhos. — Falei a ela sobre você, e ela demonstrou uma grande empolgação para conhecê-lo. Contudo, não consigo compreender como ela consegue manter tanta calma diante do caos que nos cerca.
— Não me surpreende — disse, tentando encontrar um ângulo positivo em meio à adversidade. — Às vezes, é a calma que esconde uma força profunda.
Urlac riu, um som que parecia um pouco deslocado diante do desolador panorama ao nosso redor. Ele tentou mudar de assunto para aliviar o peso da tensão que pairava sobre nós.
— Você está certo, não é tão ruim assim — concordou, sua voz ganhando um tom mais otimista. — Vamos em frente. Meu pai deve estar lidando com os invasores, e a situação lá fora está se tornando cada vez mais crítica.
Com essas palavras, começamos a subir a escadaria, cada passo em direção ao desconhecido, enfrentando os desafios que nos aguardavam no palácio em ruínas. O ar estava carregado de uma sensação palpável de urgência e de uma esperança frágil, enquanto nossos corações batiam com a determinação de enfrentar o que quer que estivesse à nossa espera.
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O Palácio dos Espíritos, que poderia ser comparado a uma cidade grandiosa por si só, se estendia diante de nós com uma magnificência quase incompreensível. Era um lugar de pura majestade, onde pátios amplos se entrelaçavam com jardins de uma beleza incomparável, e pavilhões ornamentados com colunas esculpidas com esmero se erguiam em esplendor.
Os jardins eram uma explosão de cores vibrantes, uma tapeçaria viva de flores brilhantes que pareciam brilhar com uma luz própria. À nossa frente, um grupo de vinte ou trinta edifícios de abalone se destacava, suas superfícies brancas cintilando com todas as cores do arco-íris à medida que a luz filtrava através das rachaduras nas paredes. Caminhos pavimentados com pérolas reluziam sob nossos pés, como pequenas estrelas capturadas no chão.
Ao chegarmos ao pátio principal, o cenário era de uma movimentação frenética. Guerreiros se empenhavam em várias tarefas vitais: alguns cuidavam dos feridos, suas mãos ágeis aplicando curativos e palavras de consolo, enquanto outros afiavam suas lanças e espadas com um fervor quase maníaco. Uma figura apressada cruzou nosso caminho, carregando frascos de poções com um olhar de determinação.
Fora do pátio principal, erguem-se fortificações imponentes, embora muitas estejam em ruínas. Outras construções queimavam com uma sinistra luz verde, ora se reconstruindo, ora sendo destruídas por uma aura misteriosa ou por inimigos invisíveis. A paisagem além do palácio se perdia na escuridão, onde batalhas violentas aconteciam. Clarões de energia e explosões ecoavam pela vasta extensão, exércitos colidindo com um estrondo ensurdecedor. Na borda do complexo do palácio, um templo com um telhado de coral vermelho explodiu, enviando fogo e escombros que flutuavam lentamente em direção aos jardins distantes.
Espíritos corrompidos mergulhavam sobre o palácio com fúria destruidora, aniquilando uma coluna inteira de guerreiros com suas investidas brutais. Em resposta, um arco de luz dourada surgiu do topo de um dos edifícios mais altos, desintegrando os espíritos corrompidos em uma nuvem de pó dourado.
— Aquele foi seu pai? — perguntei, o choque e a admiração claros na minha voz enquanto assistia à magnitude do combate.
Urlac assentiu, um brilho de orgulho iluminando seus olhos.
— Sim, ele é incrível — respondeu, sua voz carregada de entusiasmo. — Vamos, temos que encontrá-lo o mais rápido possível.
Avançamos até uma sala que servia como centro de comando. O chão era coberto por um mosaico complexo que exibia um mapa detalhado do palácio e do mundo espiritual ao redor. No entanto, o mosaico estava em constante movimento, suas pedras coloridas representando exércitos, monstros e inimigos que se deslocavam conforme o desenrolar da batalha.
Na extremidade oposta do mosaico, estavam representados o mundo mágico e a dimensão humana, ambos sendo engolidos por uma sombra escura que se expandia inexoravelmente. Senti meu coração apertar enquanto observava as sombras avançando, uma sensação crescente de desespero tomando conta de mim.
Ao redor do mosaico, guerreiros de diversas origens estudavam a situação com expressões graves, seus olhos fixos no fluxo constante de eventos. Entre eles, identifiquei um jovem que lembrava Urlac, exceto por suas vestimentas douradas e cabelos de um branco-dourado resplandecente.
— Enviem tropas para o oeste imediatamente — ordenou um espírito com a forma de um caranguejo e uma armadura dourada. — Eles estão nos atacando de todas as direções, e o oeste é nossa melhor chance de contra-atacar.
— Façam o que for necessário. Tragam os feridos para cá, e aqueles que estiverem prontos, voltem à linha de frente — declarou o rei dos espíritos com uma autoridade esmagadora. Em seguida, ele se voltou para mim. — Vejo que finalmente acordou, Guardião.
— Majestade — murmurei, a voz um pouco trêmula. — O que está acontecendo lá fora?
— O exército do Rei das Sombras está atacando tanto o mundo espiritual quanto o mundo humano — explicou o rei, sua expressão grave. — Já faz algum tempo, como meu filho deve ter mencionado.
Olhei para Urlac, que desviou o olhar para o mosaico com uma expressão de preocupação profunda. Minha mão começou a tremer, e a pergunta saiu sem que eu pudesse contê-la.
— Quanto tempo estive inconsciente? — perguntei, a ansiedade clara na minha voz.
— Aqui dentro, posso dizer que se passaram quatro horas. Mas lembre-se de que o tempo flui de maneira diferente nas profundezas do mundo espiritual — respondeu o rei dos espíritos, confirmando minhas suspeitas.
— Então, estou aqui há quatro dias... — murmurei, atordoado pela revelação.
— A dimensão prisão do Rei das Sombras está saturada de malícia. Sair dela pode afetar você de muitas maneiras diferentes — explicou o rei. Nesse momento, uma imensa sombra surgiu no alto e desceu em espiral em direção ao teto. Era de um tom sinistro, com uma boca repleta de presas grandes o suficiente para engolir um ginásio inteiro. Sem sequer olhar para cima, o rei dos espíritos apontou um dedo para a criatura, e o monstro explodiu em um pó azulado. — Devemos lutar até o fim. Você deve ir para outro lugar.
— O mundo espiritual precisa de mim — insisti, a determinação preenchendo minha voz.
— Não apenas o mundo espiritual, mas todas as dimensões precisam de você — afirmou o rei dos espíritos com firmeza. — Você deve encontrar uma maneira de derrotar o Rei das Sombras. Se eu estiver certo, sei exatamente para onde ele está indo.
Com essas palavras, o peso da responsabilidade caiu sobre meus ombros, e eu soube que o destino de todas as dimensões estava entrelaçado com a minha missão.
Urlac e eu permanecíamos estáticos, nossos olhares fixos no rei dos espíritos enquanto ele apontava para o mosaico. A imagem que surgiu diante de nós revelou uma paisagem de extraordinária beleza: uma floresta exuberante, repleta de árvores imensas e de uma vegetação densa, e, no centro, um enorme círculo mágico brilhando com uma luz etérea.
— Ele está indo para este lugar — explicou o rei, sua voz carregada de urgência e desespero. — É o único ponto onde todos os mundos se conectam: a Primeira Floresta, que se estende pelo reino espiritual, pela dimensão mágica e pelo seu mundo humano. Se esse ponto cair, as fronteiras entre os mundos se desintegrarão, e eles colidirão uns com os outros.
Mesmo com um encantamento protetor, a floresta não resistirá por muito tempo. As sombras e a escuridão já estão se aproximando.
Mordi os lábios, observando a imagem da floresta no mosaico. A luz que emanava da floresta era intensa, mas as sombras começaram a avançar, ameaçando engolir tudo.
De repente, o rei dos espíritos tremeu violentamente e caiu de joelhos, sua expressão distorcida pela dor. Urlac e eu corremos até ele, tentando apoiá-lo.
— Quanto mais território ele conquistar, mais de meu poder se dissipará — disse o rei com sofrimento, sua voz quase um sussurro. Uma bola de fogo surgiu no céu, atrás das linhas inimigas, e caiu no pátio, explodindo com uma força devastadora que lançou vários guerreiros ao chão. O rei estremeceu novamente, como se um golpe direto o tivesse atingido. — Voltem ao mundo mágico. Encontrem a floresta o mais rápido possível e protejam-na até o fim.
Olhei para o mosaico da floresta, onde a imagem estava se transformando em várias versões do mesmo lugar, uma mudança inquietante que refletia a intensidade da situação.
— Sua batalha se aproxima. Leve aliados com você — o rei disse, seus olhos fixos em Urlac. — Você deve permanecer aqui e lutar ao lado dos guerreiros. O reino espiritual precisa de seu príncipe, assim como precisa de seu rei. Guardião, a batalha ocorrerá neste ponto. Lute da melhor maneira que puder e avise aos líderes das raças que a batalha pelo mundo mágico está se aproximando.
O palácio tremeu violentamente mais uma vez, e o rei parecia sofrer com a dor, sua expressão refletindo a gravidade da situação.
— Victor, você deve partir agora — instou Urlac, sua voz firme e resoluta. — Nós continuaremos aqui; não temos outra escolha senão lutar.
— Vocês devem resistir — falei com determinação, meu coração pesado pela iminente separação.
— Faremos o nosso melhor — prometeu Urlac. — Agora vá e enfrente aquele maldito Rei das Sombras.
Diante de nossos olhos, o mundo ao nosso redor começou a escurecer, como se a luz estivesse sendo engolida pela escuridão. Um trovão ecoou pelo espaço, acompanhado por uma risada maligna e sinistra. Uma presença gélida e colossal se aproximava, e eu senti uma onda de medo atravessar os exércitos abaixo de nós, o pavor visível em seus rostos.
— Preciso me preparar para a batalha — disse o rei dos espíritos, a determinação firme em sua voz apesar da dor. — Vá, Guardião, lute sua batalha e salve o mundo.
Urlac me empurrou gentilmente em direção ao portal que eu havia aberto com meu controle sobre o mundo espiritual. Quando olhei para trás, o que vi foram lampejos de verde e dourado, uma visão tumultuada enquanto o rei dos espíritos e seu exército enfrentavam a escuridão crescente. O próprio mundo parecia assistir, abalado pela colisão iminente dos dois exércitos.
Com um último olhar para a cena de caos e heroísmo, atravessei o portal, a mente repleta de um propósito firme e a sensação de uma responsabilidade esmagadora.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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