UMA VOZ POR TRÁS DA WEB

Capítulo 07


Um mês se passou, desde a primeira foto constrangedora. Me sentia tão exausto de mentir para todo mundo, que resolvi ligar para a Lili e convida-la pra ir me ver no final de semana no parque que existe em minha cidade.

- Oi, Lili? Ocupada?

- Olá, baby? Pra você, nunquinha. Que quer desta sua humilde fã?

Ela sempre me fazia sorrir.

- Preciso de um ombro, urgente! Tô quase tendo uma síncope emocional barra bicth ponto estresse!

- Péra que já tô voando pra aí!

- Não! Me encontra lá no parque? Mesmo ponto de encontro?

- Hm! A coisa é séria! Faz uma pá de horas que você me abandonou! Mas te perdoa, como amo seu sorriso. Vou tá as três e meia

- Bora, as três, lá! Beijão.

- Beijo, amore!

Desliguei, olhando o celular sem ação. Algo em mim estava morrendo e eu não percebia na época. Suspirei e fui tentar estudar, quando uma notificação me fez sobressaltar da cadeira.

Fabrício.

Eu precisava estudar, mas a paixão sempre falava mais alto que minha sensatez. Mandei mensagem:

Pedro:

- Fab, tô estudando. Não vai rolar. É sério.

King:

- É sério que vc vai me ignorar assim?

Pedro:

- Não tô ignorando. Só que preciso passar de ano. Só isto

King:

- Nem se rolar uma web?

Aquilo me pegou tão desprevenido, que corri pra trancar a porta, esquecendo tudo. Inclusive do encontro com a Lili.

Pedro:

- Tá falando sério? Vou poder te ver?

King:

- Quer ou não? Não tenho o dia todo! Mas, vou querer algo em troca...

"Estava demorando..." - Pensei, desolado.

Pedro:

- Tá bem, então! O que vc vai querer desta vez?

King:

- Liga a web que te falo. Pelo Skype, ok?

Pedro:

- E pq não pode ser por aqui?

King:

- Vai ficar de palhaçada, agora? Não quero mais! Xau!

Pedro:

- Ei! Bora lá de Skype! Vou ligar aqui, tá? Te aguenta aí

King:

- Tu me amas ainda?

Pedro:

- Claro que amo vc! Um minuto que tô ligando aqui e tá chamando. Atende, amor

King:

Vou desligar o cel. Minha conexão não é das melhores

Pedro:

- Ok. Tô aqui, já \o

Esperei ele atender e, quando atendeu a tela estava preta. Fiquei tão confuso, mas pensei que era a tal conexão e aguardei mais um pouco. Mas, só conseguia ouvir a voz dele.

- Fabrício? Não consigo ver você. Consegue me ver?

- Eu tô te vendo de boa, meu pequeno.

- Ué.... Não vejo você!

- Não? Estranho.... Quer que eu desligue e ligue novamente?

- É uma boa ideia. Vamos reiniciar, então?

Fizemos isto algumas vezes e na terceira eu desisti. Disse que tudo bem, que ra melhor deixar para outro dia.

- Preciso sair, amor. Eu ia me encontrar com a Lili.

- Quem é esta vadia? É uma garota? Desde quando tu gostas de meninas?

- Ela é minha ex colega de aula. Eu combinei com ela e tô meio que atrasado. Muito atrasado na real...

- Eu sou teu namorado. E eu? Vou ficar aqui? Chupando pirulito?

- Amor, eu nem consigo ver você!

- Mas a culpa não é minha, meu miúdo! Juro!

Eu ouvia a voz dele e o som dele chorar. Isto partia meu coração e eu acabava sempre cedendo.

- Amor? Não chora. Tudo bem! Eu fico com você.

- Promete nunca me abandonar?

- Não preciso prometer nada.

- Se tu me largar eu me mato!

- Nunca mais fala isto!! - Na hora me lembrei de meu amigo.

- Tu vai encontrar alguém mais lindo que eu e vai embora que eu sei!

Ele o ouvia chorar e isto me fez ter uma crise de ansiedade. A traqueia fechava com o nó da emoção tentando explodir.

- Não faz assim, vai. Eu amo você! E como vou achar alguém mais bonito, se não conheço você? Apenas esta sombra com capuz, poxa!

- É porque eu sou muito feio e sei que tu vais me deixar.

- É por isto que se esconde? Mas somos namorados, ué! Mas tudo bem, vai! Sem problemas!

- Tu és tão perfeito... Levanta e me deixa te ver melhor?

- Você tá me deixando com vergonha! - Sorri.

- Dá uma volta pelo quarto, pra eu te ver? Vai!

Levantei e me afastei da câmera. Dei uma volta e dei um tchauzinho, totalmente envergonhado.

Nos despedimos em seguida. No dia seguinte a cena se repetiu e no dia seguinte. Já havia me acostumado conversar com ele assim e mostrar meus livros e cantar karaokê, jogar dama e escutar músicas. Tinha dias que eu ouvia outras vozes e risadas, mas nunca perguntei o que era. Podia ser os irmãos dele ou os pais.

Então, num sábado chuvoso, estávamos conversando e ele me pediu para ver meu corpo. A minha reação foi a pior possível. Eu sabia bem que jamais se deve fazer este tipo de coisa, par alguém que não conhecíamos, mas ele era meu namorado de quase um ano! Ele sabia ser convincente e eu estava apaixonado demais. Ele me mandava tantos presentes e cartões. Eu queria mandar, mas ele nunca aceitava, dizendo que era eu que devia ser mimado.

Para meus pais ele era ela. Não podia pensar nem em sonho contar o que realmente acontecia em meu quarto, depois que eles saiam para trabalhar ou depois que estivessem adormecidos.

Mas naquele sábado, ele estava mais insistente do que o normal. Disse que iria comprar um notebook novo ou uma câmera nova e acabaria com o suspense por que já estava mais à vontade comigo.

- Miúdo, me deixe vê-lo? Sinto tanta vontade de ter você aqui comigo! Tocar sua pele linda! Estes olhos são tão perfeitos! Sua voz tão rouca e suave!

- Fabricio. Eu não sei... eu não sei se tá certo isto!

- Eu tô sozinho no quarto. Vou mandar uma foto minha no meu quarto. Quer?

- Quero!!

Quando ouvi aquilo, me empolguei tanto que nem esperei ele mandar e fui me afastando da câmera, para ele poder me ver por inteiro.

(-Não Pedro...Não Pedro...Cuidado!).

A voz havia se calado por muito tempo e naquele dia parecia mais alta que o normal. Como se ela estivesse ali, do meu lado me alertando pessoalmente. Mas ele era meu namorado e nenhuma voz do meu gafanhoto invisível iria me impedir de fazê-lo feliz.

Meu maior erro começava ali.

Fui tirando a roupa meio sem jeito e tremendo de vergonha, mas ouvindo os elogios dele e declarações de amor, me deixaram mais à vontade. Depois deste dia, não ouvia mais a voz em minha cabeça e meu mundo se resumia a voz dele numa web negra e seus desejos cada mais insanos e pervertidos.

(1130 palavras)








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