MUDAR PARA MELHOR

Capítulo 04


      Estava deitado, conversando com minha amiga Lili pelo Whats sobre assuntos aleatórios, jogando conversa fora, quando ela resolveu me convidar para sair de casa e ir tomar banho de piscina na casa do Miguel, um ex colega. Eu não sabia o que dizer. Digitava e apagava, totalmente indeciso, pois ele era o tipo de cara que não tinha nada a ver comigo, mas não queria magoá-la.

Me despedi com meus emojis favoritos e fechei o meu "Whats", ainda pensativo. Mas, logo lembrei que Lili estaria lá e não pensei mais no assunto.

Na manhã seguinte, peguei minha mochila e enfiei tudo que precisaria. Me vesti, coloquei um boné e desci as escadas, já avisando minha mãe que iria à praia com a Lili e qualquer coisa, era só me ligar. Foi neste momento que ouvi a buzina do carro em frente à minha casa e já ia saindo, quando minha mãe veio e ficou me olhando:

- Meu filho?

- Fala, mãe! – Falei, segurando a porta.

Ela me olhou, tentando dizer algo, mas apenas pediu que eu tomasse cuidado.

- Te amo, mãe! Beijo!

- Divirtam-se, filho!

Fui me aproximando do carro e percebi que Lili estava na frente, logo eu teria de dividir espaço com um casal desconhecido. A ideia me parecia constrangedora, pois minha timidez simplesmente me travava de tal forma, que preferia ficar em silêncio.

Dei um oi, sem muita convicção, esperando que Lili me apresentasse. Porém, não fui salvo e mesmo sendo totalmente ignorado pelo casal, eles se encolheram, me dando espaço suficiente para que eu me sentasse do lado da janela.

Me acomodei, agradecendo aos deuses por ter ficado no canto, assim eu poderia enfiar a cara no vidro e observar a paisagem.

- Ah, galera! Este quietinho aí atrás é o Pedro! Pedro, esta é a Mariane, Wagner e aqui é o Tiago!

Ouvi os "olás", "ois" e "eaí", dos três. Respondi de volta com um sorriso, voltando a olhar a paisagem.

Assim que o carro estacionou, esperei que todos saíssem, desci, virando o boné pra trás e peguei minha mochila. Fiquei observando tudo ao meu redor e sorri ao ver Lili toda empolgada com a ideia de se bronzear.

A fachada da casa era bem cuidada, o gramado perfeitamente cortado e decorado com coqueiros anões, flores e pedras marinhas. Tudo devidamente no seu lugar com esmero e profissionalismo.

"Ui! Que chique!" – Pensei.

Lá dentro, me surpreendi com a decoração minimalista e de bom gosto. Um hall de entrada com piso de mármore dava para uma sala dupla, bem ampla e arejada. A iluminação era natural e vinha das janelas imensas, que ocupavam toda a parede, mostrando um jardim com piscina enorme.

Liliane veio na minha direção, sorrindo. Ela era um porto seguro, pra mim e vê-la se aproximando, me fez sentir menos deslocado.

-Vem logo, cara! Olha essa piscina! Tem uma ilha no meio dela! Como assim, produção!

 Ela me puxava pela manga, tão empolgada, que era quase impossível não se contagiar.

- Tô indo! Tô indo, Lili! – Ria.

O dia estava quente, mas um ar fresco aliviava o calor intenso. Olhei ao redor atrás de alguma cadeira com sombra e ao avistar, fui até lá uma branca de praia com um guarda-sol.

"Perfeito! Vou poder aproveitar e observar!" – Pensei.

Já estava me sentindo confortável, então resolvi tirar a camisa, quando vi uma sombra surgir nos meus pés. Estreitei os olhos, pois o sol não me deixava ver quem era exatamente.

- Pedro? Pedroca?

Aquela voz...

- É tu mesmo? Da escola José Maria? Não pode ser!

Senti meu coração acelerar e as mãos começarem a suar. Não estava acreditando que aquilo estava acontecendo. Não conseguia nem falar. O garoto que me infernizou durante todo o período que estudei na mesma escola que ele.

- Não lembra de mim? Renan, cara! Eu era...

- Eu sei bem quem é você. – Cortei.

O rapaz que estava à sua frente, bloqueando o sol, puxou uma cadeira plástica, sentado à minha frente.

- Quanto tempo, não? E o que anda fazendo? – Sorriu, com um ar debochado.

Eu queria sair voando dali o mais rápido que podia!

- Ei! Não sabe que é falta de educação não responder uma pergunta?

- Não quero falar com você, Renan!

- Por que? Ainda tá bravo com aquela brincadeirinha?

Fiquei em silêncio. Ele não merecia nem uma bronca e nem era local para enfiar a mão naquela cara!

- Vá nadar, Renan. Faça um favor à humanidade e se afogue.

Tentei controlar a voz e acabou saindo um chiado. Só esperava não elevar a voz, mas sentia um embrulho no esôfago.

O rapaz loiro, que me provocava, se aproximou de mim e sussurrou alguns centímetros do meu rosto. Fui recuando, como um animalzinho acuado.

- Eu não sabia que tinha mexido tanto assim, contigo...

- Sai de perto de mim!

Tentei segurar o tom de voz, mas foi alto o suficiente para que Liliane ouvisse e fosse até onde eu me encontrava.

- Ei, imbecil! Cai fora! Não tá vendo que ele tá comigo, babaca? – Falou, com as mãos na cintura.

Ele nos olhou com tanta arrogância, que me segurei para não dar um murro naquela cara. Saiu dando risada em direção a piscina.

- Pedro, eu não sabia que ele estaria aqui....

- Ele é amigo do Miguel. Logo, estaria aqui! Eu é que fui estúpido em vir.

- Desculpa?

- Não é sua culpa, Lili.

Olhei para ela, condescendente. Sabia que ela jamais faria algo para me magoar, mas devia ter desconfiado que um dia iria reencontrar alguém da antiga escola. Principalmente morando na mesma cidade. Coloquei os óculos de volta e me recostei na cadeira.

- Vou ficar aqui, com você, tá?

- Não, Lili. Vá se divertir, sim? Eu vou ficar bem! Acho que tá na hora de encarar as coisas de uma vez.

- Ele precisa parar, Pedro! Só porque defendeu um amigo, não quer dizer que vocês estavam namorando, porra! Odeio te ver assim, sabia?

- Eu tô de boa na lagoa! Juro! – Menti.

Ela ficou quieta, me olhando. No fundo ela sabia tanto quanto eu que não estava tão de boa, mas precisava enfrentar o passado. Já era hora!

- E aí, Pedro? Tudo bem? Deixa-me te apresentar minha namorada. Vanessa, este é o Pedro, que estudou comigo no José Maria. Ele era o orador da turma.

Tirei os fones e me levantei para cumprimentar o responsável pela reunião na piscina. A moça estendeu a mão e de maneira muito simpática e sorridente, me cumprimentou, em seguida de Miguel.

- Então, cara! Fica à vontade, ok? Se sentir fome, tem um monte de comida e bebida lá dentro e é só atacar! Fica de boas, tá certo? Foi bom te ver de novo!

Lili esperou o casal se afastar e me olhou num meio sorriso disfarçado:

- Que mudança, não?

- Uau...

- Não te disse que ele tinha mudado? É o amor! – Riu.

- Milagres existem, afinal!

Terminei de falar, virando o boné pra trás novamente e me preparando pra sentar de novo, quando ela me puxou em direção ao interior da casa:

- Tá com fome? Bora atacar um sandubão?

-Bora lá!

Algumas horas depois, recebi uma ligação da minha mãe e convidei Lili para ir comigo, mas ela estava tão animada, que não quis incomodar a felicidade dela. Me despedi de todos, agradecendo a hospitalidade e chamei um táxi. Durante a viagem fiquei observando as árvores simetricamente disparando ao meu olhar e recordando da pequena aventura e acabei por sorrir.

(1264 palavras)

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