LAVAS NO CÉU DE COBALTO

Capítulo 11


     Eu estava muito nervoso na véspera da viagem. Já tinha tudo pronto e escondido no roupeiro, dentro da mochila jeans antiga; dinheiro, chocolates, uma muda de roupa e água também.  Estava deitado, pensando na desculpa que daria pra sair de casa em pleno domingo de manhã antes do sol nascer.

"Isto tudo é loucura demais, mas ele precisa de mim e eu não posso me acovardar! " – Pensei, virando de lado e apertando as pálpebras, na tentativa de dormir, mesmo sem vontade alguma.

Assim que tudo ficou em silêncio, peguei a mochila, coloquei nas costas, meu celular e sai com os tênis debaixo do braço. Desci devagar e prendendo a respiração, rezando que meus pais não acordassem de repente, estragando meus planos.

Sentia as mãos suando e os pensamentos acelerando cada vez mais rápido e uma vontade repentina de espirrar:

"Droga de sinusite!!" - Pensei.

Enquanto abria a porta lentamente, girando a maçaneta como se minha vida dependesse disto.

Assim que cheguei na calçada, o céu ainda estava escuro, mas não demoraria para o sol nascer. Me senti mais seguro, suspirando fundo e apoiando as mãos nos joelhos. Olhei as horas no celular e saí correndo em direção a parada de ônibus, que me levaria até a rodoviária. Sabia que logo chegaria, mas estava ansioso demais que parecia uma eternidade aguardar ali.

Foi quando meu celular vibrou no bolso da calça. O medo de ter sido descoberto não me deixava raciocinar direito e demorei um tempo até que lembrei de ter combinado com Lili de ligar, avisando cada passo que eu daria. Tirei o celular do bolso, no mesmo momento que o ônibus surgia a dois quarteirões de onde eu estava:

- Alô, Lili? Não dá pra falar agora. O ônibus tá vindo, amore!

- Ai, cara... Não vai! Pelo amor! - Resmungou ela.

- Eu te ligo, quando chegar na rodoviária, tá? Tiamo Bye, bye!

Desliguei, jogando o celular pra dentro da mochila e fazendo sinal para o motorista. Caia uma neblina bem de leve, avisando que aquele dia seria bem quente. Paguei em dinheiro a passagem, me sentando no fundão do veículo, colocando a mochila surrada de jeans no colo e encostei a cabeça no vidro, olhando as casas, árvores e carros que iam se despedindo de mim.

Aquele gosto amargo não me abandonava. Deveria ser porque não comi nada desde então, mas assim que estivesse com a passagem em mãos, tomaria um suco em uma das várias lanchonetes da rodoviária. Abri a mochila e peguei um dos chocolates, para aplacar a fome.

Peguei o celular, deixando uma mensagem para minha amiga, dizendo que teria de desligar o celular pra poupar bateria, mas assim que desse, colocaria pra carregar e falaria com ela, antes de embarcar. Em seguida, desliguei e coloquei o aparelho de volta na mochila, me concentrando naquela barra de chocolate, de olhos fechados.

"Se Deus criou coisa melhor que chocolate, com certeza guardou só pra ele!" – Pensei.

Olhando o céu num tom avermelhado, mesclado com as estrelas. Sorri com tal beleza.

Em menos de meia hora, estava chegando na rodoviária e meu coração começou a sair do ritmo. Desci quase que num salto, indo no guichê das passagens para São Paulo. Lembrei que precisava colocar meu celular no carregador, antes que a bateria morresse de vez.

Entrei na fila, olhando para os lados e realmente me senti um foragido, como naqueles filmes americanos em que o mocinho fugia pra tentar provar sua inocência. De repente, pensei se estava fazendo a coisa certa, se valia a pena largar tudo e sair como um fugitivo. Mas a moça por trás do vidro temperado, me tirou de meus devaneios:

- Passagem pra São Paulo, capital? – A voz dela era forte, mas bem feminina.

- Urum!

Ela olhou em volta, confusa, antes de me perguntar quase que mecanicamente:

- Só pra você?

- Isto mesmo, moça!

- Temos para daqui uma hora, para às cinco da tarde ou então, para às oito da noite.

Eu não podia ficar ali até às três horas! Meus pais iriam surgir com a SWAT atrás de mim! Mas em uma hora eu só teria tempo de tomar um café da manhã e tentar não ficar em evidência.

Ela falou o valor e se eu pagaria em dinheiro.

- Quantos anos você tem?

A pergunta que eu mais temia naquela hora e isto quase me fez sair correndo, desistindo de tudo. Mas ele estava lá, me esperando e eu não iria decepcioná-lo.

- Dezoito – Menti.

Ela ficou me olhando, em dúvida se deveria chamar seu superior.

- Tens algum documento com você?

"Pronto! Vou ser detido e esquartejado pelos meus pais!"

- Claro! Um minuto que vou pegar! – Sorri.

Eu precisava ganhar tempo e pensar no que faria. Eu revirava devagar atrás de algo que não tinha, demorando o mais que podia. As pessoas começaram a reclamar da demora e ela não teve outro jeito em aceitar, perguntando qual dos horários eu queria.

- Para o que saí agora de manhã, por gentileza, moça!

Paguei a passagem, pegando o papel. Era meu bilhete para o desconhecido e era a primeira vez que eu fazia algo do tipo. Nunca pensei em mentir para meus pais ou enganá-los, mas eles não iriam me compreender e não me deixariam ir. Como a mãe dele me disse; seria melhor que ninguém soubesse para não me proibirem de ir. Eu precisava muito ir até ele. Ele me amava!

Procurei um local para carregar e lanchar também. Entrei numa lanchonete bem simples e pedi café com torradas e em seguida, coloquei meu celular no carregador na tomada ao lado da minha mesinha.

Enquanto comia, olhava meu Facebook, verificando as postagens de antigos amigos da escola e não segurei o sorriso.

Entrei no WhatsApp, deixando uma longa mensagem para Liliane, explicando tudo em detalhes e desliguei em seguida.

"Assim, ela fica mais tranquila sabendo cada passo que estou dando." - Pensei, sorrindo.

Terminei meu café, olhei o relógio e paguei, saindo em direção ao box do ônibus que me levaria para tão longe e lá estava ele!

SANTA CATARINA- SÃO PAULO

Antes de entrar, olhei para o céu demoradamente. Tinha as cores mais lindas que eu já tinha visto. A tonalidade alaranjada, se misturando com o azul cobalto pareciam um balé. Como se o inferno e o paraíso fossem um só.

- Garoto? – O homem da bagagem, aguardava por mim, com a mão estendida, seriamente.

- O senhor já viu o céu mais lindo que este? – Falei, entregando a passagem, sem tirar os olhos daquela pintura.

Ele olhou rapidamente, avisando que meu assento era o 24, na janela. Entrei, procurando meu lugar e me acomodei. Um senhor de meia idade, me cumprimentou, se cobrindo com uma manta, apesar do calor que fazia. Era a idade, pensei.

Meu celular vibrou e eu abri a mochila, já sabendo que era a Liliane:

-Oi? Fala, Lili.

- Cara! Cê é maluco demais! Tá indo mesmo, cara! Olha só, deixe seu GPS ligado, a localização ligada, que vou transferir para meu computador, ok?

- Mas a troco de quê, Lili?

- Não discute? Só faz! É uma maneira de saber onde você vai tá. Pleaseeee?

Eu sorri do jeito preocupado dela e obedeci, mandando via Bluetooth a minha localização.

- Pronto, mamãe! Agora vou parar e dormir, porque nem preguei o olho!

"Espero te ver novamente, céu encantando? "- Pensei, me ajeitando de lado, sem tirar os olhos do céu.

Ao longe, uma revoada de pardais parecia agitada mais que o normal. Como se uma premonição do que poderia vir, estivesse me avisando.

Mas, na época eu pensei que eram apenas votos de boa viagem. Fechei os olhos e fiquei muito sonolento, acabei por adormecer em pouco tempo.

(1288 palavras)

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