ERA UMA CILADA!
Capítulo 08
Acordei naquele domingo com minha sinusite enlouquecida! Mal conseguia manter a cabeça inclinada que já vinha aquela dor pressionando os ossos da face e o nariz escorrendo. Me sentia totalmente de mal humor e não estava afim de conversar com ninguém e nem sair da cama.
Olhei as notificações, ignorando todas. Inclusive as do Fabrício. Enfiei um lenço de papel no nariz e funguei forte.
"Acho que acabei fazendo uma lobotomia. Com certeza! " – Pensei, sentindo a pressão
Virei de lado e pedi aos deuses que nada perturbasse a paz do semimorto. Eu
Meu celular vibrava debaixo do meu travesseiro, mais parecia um filhote faminto, reclamando de sua ração diária. Peguei, pois minha curiosidade era mais forte que a indisposição e nocauteou-a.
- Fala sério... – Resmunguei baixinho.
Olhei e era ele. Digitei explicando meu mal-estar e que precisava descansar.
King:
- O que tu tens?
-Tá doente?
Pedro:
- Não é bem doente, mas me sinto como se estivesse.
-É minha sinusite que veio com toda a corda!
King:
- Tá! E eu?
-Como fico?
-Também já fiquei doente e nunca te deixei na mão!
-Depois diz que me ama...
Pedro:
- É sério que vc tá me fazendo essas cobranças?
- Eu tô sempre disponível pra vc!
- E qtas vezes vc me deixou horas ou dias sem nenhuma resposta?
- No maior vácuo!
King:
- FODA-SE! ME ERRA!
Suspirei. Era sempre assim e eu já estava cansado com tudo aquilo. Ia dá um basta naquilo tudo! Liguei, quase em prantos para Liliane, explicando que estava doentinho e precisava de uma enfermeira. Ouvi sua risada, dizendo que já ia com algumas seringas e pastilhas mágicas.
Desliguei, colocando o celular em modo silencioso, depositando debaixo da cama.
"O que os olhos não veem..." – Tentei rir, mas logo me arrependi.
Um tempo depois, ela chegou, me tocando de leve no ombro, com seu sorriso de sempre. Pegou a única cadeira que eu tinha no quarto, se sentando perto de mim:
- Eaí, paciente? Vai querer na bunda tenra ou no braço esquálido? – Riu.
- Na testa, por gentileza. Você veio bem rapidinho! Ou eu que apaguei? – Cocei a cabeça, confuso.
- Acho que sua mãe deu algum tipo de droga psicodélica, cara! Você tava falando com alguém! – Ria.
Eu olhei, desconfiado. Não saberia dizer onde terminava a Lili Zoeira e onde começava a Amiga Sincerona. Tentei sentar, pra contar pra ela tudo que estava me acontecendo durante todo aquele tempo.
Fiz um resumo do resumo, evitando partes desnecessárias, que a fariam pausar para saber detalhes sórdidos e, sinceramente, eu não estava nada afim.
Fiz uma parada brusca quando vi os passos da minha mãe subindo as escadas, me trazendo um caldo de galinha com chá de canela. Me sentia um ancião enfermo, em seus últimos anos de vida. Lili já acostumada, falava sobre um filme imaginário que assistiu, gesticulando animada. Quem a via assim, jurava que o filme era real e ganhador de Oscar:
- Cara! Do nada surgiu um fantasma do quadro da velha! Imagina meu susto! Nossa! Eu ali, mijada de medo....
Eu olhava, me segurando pra não rir, por duas razões sérias. Uma delas era a dor, claro.
- Liliane, fale baixe, querida. Senão meu filho vai sucumbir de dor.
- Claro! Eu falarei mais baixinho. A senhora se importa que eu encoste a porta? Prometo me comportar!
Minha mãe me olhou, cúmplice. E concordando, fechou a porta devagar ao sair.
- Vá tomando seu caldinho, "meu amorzinho". – Fez as aspas com os dois dedos de cada uma das mãos.
Obedeci, finalizando minha "via crucis", reclamando que agora não sabia como terminar um namoro, se ainda estava perdidamente apaixonado.
- E vocês já se viram? Ele marcou de vim te visitar, mano? Olha que pode ser cilada!
- Eu sei, Lili! Mas...
- Sem, mas, véi! Cê tá louco?!
- O que você acha que devo fazer?
- O mais simples! Se verem! Dá um ultimato no imbecil! Chega e diz que se ele não ligar a porra do webcam, você tá fora!
Escutando-a falar, parecia tão simples. Então, por que eu não conseguia reagir? Eu olhei para ele e senti as lágrimas teimando em querer rolar pelo meu rosto.
- Não! Não vai chorar por causa de macho escroto, não! Segura tua onda de diva sofrida!
Acabei rindo. Era inevitável!
- Você tá certa.
- Eu tô sempre certa, baby! Licença! – Falou, beijando o ombro.
- Te amo, sua chata!
- Também sei! Tá! Agora, come tudo e vá descansar que vou filar o rango da "sogrinha ''. – Saiu, dando risada.
Fiquei ali, pensando em tudo que eles haviam conversado. No fundo, eu sabia o que deveria fazer ou dizer, mas me faltava coragem, pois a primeira vez eu até deixei pra lá. Depois vieram outras desculpas e por fim, uma ameaça de terminar tudo se eu continuasse insistindo.
Peguei meu celular debaixo da cama, liguei e vi as mensagens dele, entre outras. Suspirei, mandando uma resposta definitiva.
Pedro:
- Vamos conversar sério.
- Hoje depois da meia noite
- Não falte
- No Skype
King:
- Perfeito.
- Estarei lá exatamente a uma hora.
- Não falte
Pedro:
- Não vou faltar.
- Agora, preciso ir jantar.
- Beijo e até lá!
King:
- Até lá, miúdo.
- Te amo!
Olhei a tela do celular, sem vontade de fazer nada. Levantei e fui tomar banho. Em seguida, desci e fui conversar um pouco com Lili e meus pais, até que ela pediu uma carona para meu pai e nos despedimos.
Subi para o quarto e fiquei fingindo que estudava até que meus pais se despediram e foram dormir, pedindo para não abusar da visão, por conta da hora. Prometi que ia dormir e esperei mais meia hora, olhando o relógio do celular. Ainda faltavam quinze minutos, então fui até o corredor que dava para o quarto deles e encostei a cabeça na porta, tentando ouvir qualquer coisa que não fosse ruído característicos de sono profundo.
Nada. Silêncio.
Voltei na ponta dos pés e me tranquei no quarto. Liguei meu notebook, já me preparando. Sequei as mãos suadas, no calção de dormir e fiz a chamada, sem os fones, para não abafar qualquer som que viesse do lado de fora.
Fiquei esperando a chamada.
Ele atendeu e como não era novidade, sem imagem na web, mas desta vez, tinha a foto de um garoto da minha idade, muito bonito. Bonito até demais, pra ser exato.
- É você na foto de perfil? – Perguntei.
- Sim. Sou eu. Gostou?
Eu não queria desconfiar dele, porque confiava nele, mesmo tudo dentro de mim, gritando que eu era um idiota.
- Você é muito bonito, pra não se mostrar na web, amor. Se quiser, me manda o endereço que compro uma e te mando!
- Você não acredita em mim, né?
- Não é isto, amor! Juro!
- Eu queria te falar uma coisa, mas é bem íntima. A porta tá fechada?
Aquilo me pegou de surpresa. Não queria me mostrar sem roupa novamente e se fosse, daria uma desculpa. Fiquei pensando no que falar, que não o magoasse e apenas confirmei que a porta estava trancada.
De repente a web foi mostrando algo, mas era escuro e eu não conseguia definir exatamente o que era. Levei um tempo para perceber que se tratava de um peito masculino e em seguida um abdômen e por fim, o membro dele rijo. Ali na minha frente! Fora o meu, nunca tinha visto um, daquela forma tão real!
- Óh, meu Deus do céu! O que você tá fazendo, Fabrício?? Pelo amor!
- Tá gostando, meu miúdo? Olha como fico quando tô contigo!
Eu levantei em um salto e fechei o notebook numa reação involuntária. Minha pulsação estava tão acelerada, que eu conseguia ouvir e uma pressão quase ensurdecedora latejava todo meu crânio. Eu arfava e sentia o suor escorrendo nas axilas. Aquilo realmente me assustou de tal maneira que não sei o tempo que levei sentado ali, olhando o notebook sobre a mesinha de estudo.
- Mas que merda foi essa, meu santinho? Nossa! Acabei de ver um pinto ao vivo? Ele tinha web todo este tempo e me mostrou o bilau dele? É sério isso, produção? Não.... Tem alguma coisa que não tá encaixando aqui!
Enquanto falava sozinho, esfregava as têmporas, na tentativa de amenizar a dor. Fui até o note e abri a tampo novamente, retornando a chamada, mas ele não retornou, me chamando pelo Whats.
King:
- Te assustei, meu pequeno?
- Juro que não era essa intenção!
Pedro:
- Eu não sei nem o que te falar.
- Eu nunca tinha tido uma experiência deste tipo.
King:
- Queria tu aqui. Pra me ver.
- Ando muito doente e não sei se vamos poder falar depois, amor...
Pedro:
- Doente? Como assim, doente?
- O que tu tens?
King:
- É uma doença séria e não queria falar dela agora.
- Tenho medo que meus pais me separem de ti!
- Teus pais sabem de mim?
Pedro:
- Não. Eu não tenho tanta coragem assim e minha mãe é homofóbica demais!
- Mas você tá muito doente?
- Por que não posso saber?
- E o que vai ser da gente agora?
King:
- Eu queria mto te ver!
- Tenho medo de morrer!
Pedro:
- Não fala assim!
- *chorando*
King:
- Amanhã te explico.
- Minha mãe tá vindo!
- Até amanhã!
Saí da sala de bate papo, com o rosto molhado em lágrimas. Ele disse que estava morrendo e não fazia ideia do quanto aquilo me dilacerava por dentro. Tudo que eu planejava fazer, terminar com ele, foi ladeira abaixo. Não teria coragem e, no fundo, não queria terminar com ele. Larguei o celular no piso frio do meu quarto e virei de bruços, chorando ainda mais. Até que adormeci.
(1645 palavras)
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