Capítulo 2

(Domingo, dia 10, 8h00)

O alto som de uma sirene me fez dar um pulo da cadeira. Havia levantado cedo, apesar do dia nublado e frio. Era domingo. Tomava café da manhã, com geleia de pêssego, pão de fôrma, queijo minas e suco de laranja. Engraçado dizer "café da manhã" quando justamente o que eu não tinha na mesa era café.

O som estridente da campainha me fez novamente tomar um susto. Que raios! Quem seria àquela hora da manhã? Será que eu não iria conseguir fazer meu desjejum sossegado? Atendi à porta. Dois policiais militares se encontravam no portão. Acenei para eles e falei, em voz alta:

— Um momento, por favor.

Busquei uma jaqueta e saí. O que será que eles queriam? Será que minha ex-esposa já tinha colocado a polícia atrás de mim? Será que já estavam ali para me cobrar a pensão alimentícia, atrasada há dois meses?

— Pois não?

— Seu nome é Lauro? Lauro de Azevedo?

— Sou eu mesmo. O que houve?

— Abra o portão!

Esperava um "por favor". Como não ocorreu, abri assim mesmo. Parecia o mais sensato a fazer. Apenas um deles falava. Prosseguiu:

— É dono de uma loja de materiais hidráulicos?

— Sou sim. A Hidro-Azevedo.

Um olhou para o outro.

— O senhor deve nos acompanhar até a delegacia.

— O quê?

— Isso mesmo. Queira nos acompanhar até a delegacia. O delegado quer falar com você.

— Delegacia? Mas do que se trata?

— Não temos autoridade para dizer. O delegado irá falar tudo o que quiser saber, aliás, vai lhe fazer muitas perguntas também. Mas somente ele. Tem o direito de permanecer em silêncio e só dizer qualquer coisa na presença de um advogado.

Achei estranho:

— Ora, só não se diz isso quando o sujeito é preso em flagrante? Por um acaso, estou sendo preso?

— Claro que não, não está sendo preso! Pelo prazo decorrido, até poderia se caracterizar um flagrante. Mas não é o caso. E depois, temos de ler os direitos em qualquer condição, sendo a prisão em flagrante ou não. No entanto, se recusar a ir, e principalmente, se tentar fugir, podemos, aí sim, te levar preso. E, aí sim, em flagrante delito.

— Embora não entenda por que estão 'lendo' meus direitos, já que não estou sendo preso, pelo visto não tenho escolha.

— Escolha tem. A de ficar em silêncio e de falar somente na presença de um advogado. No mais, não tem escolha melhor, a não ser nos acompanhar.

Minha grande virtude era manter a calma em situações como aquela.

— Bem, não sei do que se trata, mas não vou criar problemas. Deixe eu trancar a casa e pegar meus documentos.

O outro guarda, aquele que permanecera mudo até aquele momento, me acompanhou até a porta. Parecia acreditar mesmo que eu pudesse fugir, talvez saindo pelos fundos da casa.

Desliguei o rádio, peguei a carteira, tranquei a porta e saí, acompanhado do guarda.

— Só faltava agora eu ser algemado.

— Não está sendo preso, já falamos. Mas se quiser algemas...

— Não, não! Não faço a mínima questão. Falei por falar.

— Então, entre logo no carro, no banco traseiro.

No caminho, muitas coisas me passaram pela cabeça.

Minha ex-mulher, a pensão alimentícia, minha nova namorada. E também D. Alda (uma mulher que ligara na loja pedindo ajuda para resolver problemas no encanamento do banheiro)...

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