CAPÍTULO 7-A MENTIRA
Exames, entrevistas, consultas, medicação...mais exames...conversa com psicólogos, testes de concentração...dieta controlada...horário para acordar, horário para dormir...A rotina de Max e seus colegas no centro de pesquisas de Joana Medeiros era bem pesada! Eles mal tinham tempo de conversar um com o outro!
Os treze homens logo perceberam que aquilo era mais sério do que eles inicialmente haviam pensado!
Sorte terem sido resgatados a tempo, antes mesmo de perceberem que estavam sendo envenenados pela tal substância química que havia vazado na fábrica de produtos de limpeza, concluíram aliviados! Felizmente, quando perderam os sentidos, já estavam em segurança dentro da vã que tinha ido resgatá-los.
Pelo que puderam entender, ficaram internados numa espécie de UTI e só foram acordar dias depois de chegarem ali.
Eles foram informados que estavam dentro de um hospital em observação e não tinham por que duvidar disso.
O lugar era enorme, limpo, muito bem organizado e extremamente bem equipado com o que parecia ser uma tecnologia de ponta. Aceitaram tudo sem questionar, pois estavam constrangidos em indagar algo dos profissionais que os atendiam com tanta atenção e solidariedade.
Os profissionais de saúde eram muito educados e dava pra ver que eram eficientes, sempre atentos a cada detalhe e tratando todos os resgatados com extremo cuidado, o que deixava cada um deles mais agradecido ainda. Acostumados, muitas vezes, ao desprezo dos atendimentos dispensados a eles em serviços públicos, não tinha como não se sentirem intimidados naquele prédio diferente de tudo o que já haviam visto.
O que mais impressionava era que um lugar tão grande tivesse sido reservado apenas para os treze, o que levantava suspeitas de que o produto químico que haviam inalado, mesmo sem perceberem, talvez fosse pior do que imaginavam! Foram informados, inclusive, que precisariam ficar ali isolados por um longo tempo, até terem certeza absoluta de que estavam realmente fora de perigo! Precisariam verificar se não havia ficado sequelas físicas ou neurológicas e várias delas poderiam aparecer ao longo do tempo, inclusive.
Os treze não ficaram sabendo da explosão da fábrica, inicialmente, especialmente porque aquele lugar parecia isolado de tudo!
As coisas começaram a ficar desconfortáveis, porém, quando foram proibidos de entrarem em contato com o mundo exterior, com seus familiares e amigos. Diziam que a ordem para mantê-los inteiramente isolados daquele jeito tinha vindo da autoridade máxima naquele lugar: Joana Medeiros. Era ela que não queria abrir mão para que eles dessem notícias aos familiares que deviam estar aflitos...havia pais querendo saber notícias de seus filhos, marido querendo falar com a esposa, filhos querendo acalmar os pais que certamente deviam estar preocupados. Os apelos, entretanto, não convenceram a neurocientista, que não deu maiores explicações sobre o porquê de ter tomado aquela medida extrema. Ela só disse que não queria que nada desviasse a atenção daqueles homens que estavam em quarentena devido ao acidente que haviam sofrido.
Max, por sua vez, não falou o nome de Ed e muito menos deixou escapar que era homossexual e que tinha um relacionamento sério de anos com um outro homem. Melhor ser mais discreto, analisou, não levantando suspeitas sobre a sua homossexualidade, por precaução, afinal, não dava pra saber se dentro do grupo de pessoas que cuidava dele havia algum homofóbico!
O jeito era confiar no que os médicos falavam...que os familiares estavam a par daquela necessidade de isolamento e que estavam sendo informados sobre o andamento do tratamento deles.
Aos poucos, Max e alguns colegas suspeitaram que alguma daquelas drogas que tomavam causava uma espécie de apatia e submissão, o que impedia que eles se revoltassem e exigissem sair dali, preferindo confiar totalmente na veracidade do que lhes era dito. Se era pelo bem daqueles a quem amavam, então se resignariam a ficar ali sendo monitorados vinte e quatro horas por dia, até que pudessem ser finalmente liberados.
Na maior parte do tempo, cada um ficava em seu quarto individual, onde eram visitados várias vezes ao dia a fim de que informassem como estavam se sentindo...se notavam algo diferente...no que estavam pensando...se havia alguma mudança em seu apetite...se tinham desejo sexual...percepção alterada das coisas...sensibilidade diminuída ou aumentada...até questionavam sobre os seus sonhos ou possíveis pesadelos!
Por trás de tudo aquilo, estava a doutora Joana Medeiros, sempre atenta a tudo, sempre procurando respostas diante daquele fato tão inusitado: a droga criada por sua filha havia sido administrada não em pessoas portadoras de Alzheimer, mas em treze homens que tinham menos de sessenta anos e que não tinham histórico ou sinais da doença.
Joana lia e relia os relatórios diários trazidos pelos colaboradores e procurava alguma coisa de diferente nas treze cobaias...por menor que fosse!
Acostumada com pesquisas, ela sabia que tinha que ter algo ali, certamente, ela somente ainda não tinha detectado por não saber exatamente o que esperar.
Kaila havia feito a pesquisa pensando em reativar as memórias de pessoas, na maioria idosos, que sofriam de Alzheimer. Certamente ela não esperava que homens mais jovens e sem sinais do problema fossem se tornar as suas cobaias. Certamente nem ela, se estivesse ali, saberia o que esperar agora, consolou-se a neurocientista aborrecida.
A doutora Joana gostava de fazer ela mesma as observações das cobaias, às vezes, não apenas pelas câmeras de monitoramento instaladas em cada um dos treze quartos, mas também andando pelos corredores, para sentir a energia daquele lugar.
Ela estava quase lá...ela estava quase no topo...em breve teria o Nobel de Medicina em mãos para esfregar na cara dos seus adversários e também na cara de Kaila, ela repetia para si mesma como uma espécie de mantra.
Quem a filha achava que era pra ousar deixá-la fora daquilo? Mas o destino tinha sido justo e realmente tinha sido sorte ter conseguido resgatar aquelas treze cobaias...lamentável a morte do tal Anselmo, que levou para o túmulo uma parte do experimento, ela analisou.
Foi andando pelos corredores que a doutora Joana escutou uma conversa entre dois funcionários que certamente observavam as cobaias pelas câmeras:
_Eu não sei o que é mais lindo nele...aquela bunda ou aquele pau... _ disse um dos funcionários num tom indecente.
_Deixa de ser depravada, bicha! Isso aqui é trabalho e não diversão! _ o outro alertou.
_E quem falou que eu estou querendo apenas me divertir com ele? Fico de quatro e deixo ele mandar ver até eu perder o fôlego! Ou a gente pode inverter, claro...Como o rabo dele a hora que ele quiser!
A médica imaginou que talvez ela não tivesse selecionado bem a sua equipe, porém, avaliou que talvez fosse interessante escutar mais um pouco da conversa para ver do que se tratava realmente.
_ Maximiliano da Silva Almeida... _ um dos homens gemeu e estalou a língua no céu da boca. _Acho que estou apaixonado...só de olhar pra ele me sinto cheio de tesão!
_Shiii...Deixa a outra lá te ouvir falando assim que vai levar um pé na bunda, caralho!
_Nada...Acha que ela é santa? Ouvi boatos que a nossa chefe gosta de uma carne nova...
_Sério? _ o outro deu uma risadinha incrédula. _Quem diria...tão séria...
_Já pegou vários estagiários, que eu sei. A galinha tá velha, mas ainda dá um caldo, me contaram... _ o outro também riu de forma irônica.
Joana Medeiros se controlou diante daquele comentário desrespeitoso:
_Então estamos seguros...Maximiliano...o nosso...
_Max! _ os dois falaram ao mesmo tempo.
_O nosso Max não é estagiário e sim uma cobaia e eu duvido que a vadia vai querer dar para o negão gostoso, pois tem cara de racista!
_Ela pode até querer dar, mas ele não vai querer. ..não curte xoxota...
_Ainda fico na dúvida...será que ele é veado mesmo?
_Boto as minhas bolas no fogo se não for...o meu gaydar é infalível...
_Então proponho uma aposta pra ver quem vai pegar o Max primeiro!
_Aceito!
Apesar da indignação, diante dos comentários grosseiros, Joana afastou-se, sem ser vista, curiosa pra dar uma segunda olhada no homem do qual eles estavam falando...por que não? Ela não era racista, não mesmo!
A chefe daquele laboratório de pesquisas analisou dados e fotos de Max com atenção e descobriu que os seus dois funcionários não haviam exagerado nem um pouco. Realmente era um homem bem interessante...
_Está morta, Joana? _ ela falou consigo mesma alisando a tela do computador onde havia uma foto de Max sem camisa. _Melhor ter mais atenção no que cai em sua rede, porque uma hora dessas, vai perder carne de primeira! Você pode fazer uma visitinha mais demorada ao Maximiliando...Max.
Aquela descoberta tinha sido já no final da primeira semana e após quinze dias, Joana Medeiros já tinha a sua cobaia preferida, alegando que Max parecia estar mais propenso a apresentar resultados diante da droga que havia ingerido.
Enquanto os outros ex-funcionários da fábrica de produtos de limpeza demonstravam desejo em saber e mandar notícias pra uma lista de pessoas, Max insistia que precisava entrar em contato com Edmundo, a quem ele se referia como um primo que ficara de encontrá-lo na fábrica naquele dia do incidente.
Mais atenta a Max, Joana percebeu um dia que aquela cobaia parecia ter uma resistência surpreendente à medicação que deveria torná-lo mais conformado com o isolamento forçado!
Ao contrário dos outros que aceitavam as mentiras que contavam sobre o mundo lá fora, Max começou a exigir falar com Ed!
_Primo nada, Joana... _ um dos cientistas havia dito com certo desprezo. _Aposto que era namorado, por isso esta fissura toda em querer ver o macho dele. Isso aí é coisa de veado, não de primo! Os outros todos estão acomodados imaginando que logo voltarão pra casa, que os parentes lá fora já estão sabendo que eles estão de quarentena, mas este aí...vai dar problema!
_Ah, mas não vai dar mesmo! _ Joana falou determinada. _Acabo com este fogo dele em dois tempos, você vai ver!
Ela tomou pra si a responsabilidade de acompanhar Max mais de perto e decidiu revelar que a fábrica havia ido pelos ares, assim que eles tinham sido resgatados.
O choque imediato de Max o denunciou e ela não perdeu a deixa pra agir de forma diabólica, pensando apenas em seus próprios interesses:
_Graças a Deus, todos o seus colegas de trabalho saíram ilesos, mas acharam um corpo que não conseguiram identificar...só ficou claro que não era ninguém da fábrica, Maximiliano! Se você disse que tem certeza de que o seu primo estava lá para se encontrar com você naquele momento...Eu sinto muito, Maximiliano...sinto mesmo! _ ela fingiu solidariedade. _Verifiquei que realmente registraram o desaparecimento de Edmundo de Souza Gonçalves...ele não foi visto depois daquele dia...lamento mesmo...
E foi assim que Max acreditou que só podia ser o corpo do homem da sua vida aquele que tinha sido encontrado na fábrica! Foi assim que ele acreditou que Ed tinha morrido!
A neurocientista descobriu tarde demais que havia feito uma besteira, pois a sua cobaia mais promissora simplesmente ficou em choque e extremamente deprimida...completamente destruída com aquela notícia!
_Vacilo meu, reconheço... _ desabafou com um colega de trabalho. _E que nenhum dos outros venha a ter contato com Maximiliano, pois eu não quero estas cobaias histéricas aqui ao saber que a porra da fábrica não existe mais! Eu quero o Maximiliano completamente isolado dos outros doze e sendo monitorado vinte e quatro horas por dia!
_Mas todos eles já são monitorados vinte e quatro horas por dia, doutora Joana... _ uma funcionária tentou argumentar.
_Pois redobre com ele, porque eu preciso saber se realmente perdemos este homem, ou se ainda vamos conseguir tirar alguma coisa dele! E seja lá a hora que for...do dia ou da noite...se vocês notarem alguma mudança no quadro dele, por menor que seja, deverão me chamar imediatamente, entenderam? _ela berrou nervosa, temendo o pior.
Joana ficou realmente arrasada depois daquilo! Já havia perdido Anselmo...agora parecia que havia descartado a sua maior possibilidade de obter algum sucesso! Sentiu insanamente o Nobel se afastando mais uma vez do alcance dela!
Ela não queria pensar ainda no que faria com aquelas treze cobaias, caso percebesse que elas não serviam mais pra nada...pois não pensava em desistir delas tão cedo!
_Devo dar uma dose a mais de antidepressivo ao paciente, doutora? _ vieram perguntar. _Ou a senhora quer modificar alguma outra medicação?
_Suspendam todas as medicações do Maximiliano, pois eu quero ver como ele vai reagir sem elas depois de receber esta notícia! _ disse a neurocientista ainda desorientada. _Eu faço questão de vigiá-lo pessoalmente esta noite!
No trigésimo dia após a chegada daqueles homens ali, a neurocientista descobriria que havia se enganado quanto ao poder da droga criada pela filha ainda agir sobre o cérebro daqueles homens...porque ela perceberia em breve que um daqueles homens começaria a apresentar um comportamento totalmente inesperado!
Acreditando que Ed estava morto há dias, Max, com o coração despedaçado pela dor da perda, resolveu que era hora de cobrar dele a promessa que um havia feito ao outro no último encontro...era hora de exigir que Ed viesse buscá-lo, conforme haviam combinado...imediatamente, pois a dor da perda era insuportável!
Assim como Ed, também Max teve a certeza de que precisava fazer algo urgente, antes de descumprir a promessa de tirar a própria vida, por reconhecida incapacidade emocional de sobreviver sem o parceiro!
Não apenas para Max, como também para Ed e também para Joana Medeiros, aquela seria uma noite surpreendentemente inesquecível!
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