CAPÍTULO 16-CAINDO EM SI




Kaila estacou, ao ver na parede, bem em frente a porta de entrada, uma foto enorme onde Max e Ed se abraçavam apaixonadamente. 

Ed sorriu:

_Eu e o meu amor!

Outras duas fotos enfeitavam um móvel e numa delas, eles se beijavam.

_Disseram que você e o Maximiliano eram primos. _ ela falou.

_Por favor, apenas Max. _Ed corrigiu. 

_Namorados! _ Everaldo falou rápido, temendo que Ed se traísse no tempo verbal. 

_Se importa se eu gravar a nossa conversa? _ Kaila perguntou já se sentindo desconfortável dentro daquela casa, que era mais  uma prova viva da crueldade que a mãe dela havia feito com aquelas pessoas.

Ela havia conversado com pais, filhos, esposas...famílias inteiras haviam sido destruídas, quando perderam o ente querido, que supostamente havia  morrido na explosão da fábrica. 

_Claro que não! Fique à vontade! _ Ed falou sorrindo. _Aliás, eu faço questão que você registre cada uma das minhas palavras, Kaila! Aceita alguma coisa? Um suco, um refrigerante, uma água...

_Água, por favor. 

Everaldo queria impedir aquela conversa, temendo que Ed pudesse se complicar, ao acusar várias pessoas de terem sequestrado  os treze funcionários da fábrica. Correu atrás do amigo que tinha ido pra cozinha.

_Ed, a gente poderia trocar uma palavrinha em particular? 

_Só se for depois da minha conversa com a Kaila, Everaldo. 

_Pelo amor de Deus, veja lá o que você vai dizer...

O outro pegou a bandeja e ignorou o amigo, já voltando pra sala.

Ed fez questão de mostrar um álbum de fotografias para Kaila  e contar como os dois haviam se conhecido, revelou os planos que eles tinham para o futuro, os sonhos...Era uma história linda, a neurocientista reconheceu.

A falsa repórter demonstrava um interesse enorme  pela  narrativa de Ed, como se de repente tivesse decidido não fazer uma reportagem sobre a tragédia da fábrica, mas sim escrever um livro sobre os dois namorados!

A todo momento, ela parava a fala do dono da casa  para fazer perguntas que para Everaldo pareciam completamente irrelevantes, como se quisesse simplesmente estender aquela visita.

Ao ver os olhos apaixonados de Ed falando de Max, Kaila também se sentiu um monstro, por não revelar imediatamente que Max estava vivo.

Ela, porém, sabia que ainda precisava descobrir onde estava a décima quarta cobaia e em todos os relatos que ouvira ainda não tinha tido uma pista sequer.

_Fiquei sabendo que um dos funcionários daquele setor da fábrica onde houve o vazamento do produto químico foi assassinado dias antes da explosão. Isso é verdade?

_Sim, o Anselmo. _Everaldo interferiu. _Outra perda lamentável que nós tivemos. 

_Alguém o substituiu depois? _ ela perguntou parecendo ansiosa pela resposta. 

_Não...não deu tempo. _ outra informação que Everaldo achou irrelevante, o que começou a deixá-lo confuso sobre as reais intenções daquela suposta repórter. 

_Então inicialmente  só havia quatorze pessoas naquele setor, com a morte do Anselmo ficaram treze...disso você tem certeza? _ Kaila não conseguiu disfarçar uma certa ansiedade pela resposta.

Everaldo franziu as sobrancelhas, mais uma vez desconfiado. De que aquilo importava, se somente treze corpos haviam sido enterrados? Não fazia sentido aquela pergunta!

_Eram  treze, disso eu tenho certeza!

_Ok! _ Kaila falou rápido demais, o que levantou mais suspeitas ainda. _Então eram treze!

_Por quê? _ foi a vez de Ed ficar confuso. _Existe alguma suspeita de que alguém mais possa  ter morrido na explosão? Disseram que foram treze as vítimas! 

_Por que você levantou a questão sobre o número de pessoas que trabalhavam naquele setor? _Everaldo quis saber. 

Ela percebeu que estava se expondo demais, sorriu e deu de ombros, tentando disfarçar:

_Por nada...nem sei por que perguntei isso. Podemos continuar?

Os dois amigos se entreolharam...talvez a repórter fosse um pouco confusa mesmo...Talvez só quisesse encontrar algum furo de reportagem em cima de um assunto que já tinha sido muito explorado pela mídia. Talvez não estivesse ali por vontade própria, mas apenas cumprindo ordens.

Kaila  passou a fazer perguntas também sobre os outros funcionários falecidos, tentando disfarçar.

Novamente, a filha de Joana Medeiros voltou a focar as suas perguntas  em Max, o que trouxe mais uma vez  a impressão de que ela realmente estava disposta a escrever um romance usando a história dos dois como inspiração. 

Kaila sabia que seria complicado demais revelar a Ed que Max estava vivo, mas começou a avaliar a possibilidade de contar a Max que o homem que amava estava vivo sim, ao contrário do que a mãe dela havia inventado.

Absurdo a mãe ter falsificado um atestado de óbito de Ed, somente para facilitar o seu trabalho em relação a Max! 

Num dado momento, Ed começou a chorar.

_Se nós dois não tivéssemos prometido um ao outro sobreviver sozinho, caso o outro partisse antes, eu teria me matado de tantas saudades do meu amor, Kaila!

A garganta de Kaila foi se fechando, avaliando o quanto da mãe ela havia herdado, para adiar revelar  a grande farsa que tudo aquilo tinha sido!

O seu silêncio a tornava cúmplice de um crime hediondo! Buscar pela décima quarta cobaia era justificativa suficiente para ela continuar mentindo? 

Quantos crimes a mãe dela havia praticado  em nome da ciência ao longo da vida? Como ela podia continuar julgando a mãe, se ela fazia o mesmo? Que desdobramentos ainda surgiriam diante de  uma investigação detalhada  sobre aquele caso? Sequestro parecia ser o menor dos crimes de Joana Medeiros naquele momento! A filha cúmplice e igualmente sádica certamente mereceria ser julgada com igual rigor perante a lei, Kaila concluiu.

_Licença, a minha garganta está seca!

Kaila encheu um copo de água  e virou o líquido tentando manter a calma.

De repente, ela sentiu que precisava sair dali, antes que se entregasse, diante dos olhos de Everaldo e Ed que pareciam desconfiados.

_Bem, acho que já tenho material suficiente para a minha matéria. _ ela falou demonstrando que daria por finalizada a visita. _Creio que já tomei demais o tempo de vocês dois.

Everaldo respirou aliviado cedo demais, acreditando que Ed não iria falar mais nada, porém, ele segurou o pulso da garota e a impediu de desligar o celular que gravava a conversa deles.

Kaila olhou para Ed confuso, enquanto percebia que Everaldo parecia ansioso para que ela fosse embora dali.

_Espere, que ainda preciso fazer uma  revelação, Kaila!_disse Ed decidido. 

_Ed, ela já encerrou a entrevista e eu ainda preciso falar com você... _Everaldo falou em alerta.

Kaila recolheu a mão curiosa, mesmo sabendo que era pouco provável que Ed, que não era funcionário da fábrica de produtos de limpeza, pudesse ajudá-la a encontrar a décima quarta cobaia que faltava.

_O que mais você gostaria de falar, Ed?

Ele respirou fundo, antes de fazer o anúncio:

_Eu descobri que o Max não morreu, Kaila!

A moça empalideceu!

_Como disse? Não entendi...

_Não dê ouvidos a ele, Kaila... _Everaldo falou em tom de desculpa. _Ed ainda está muito abalado...

_Eu disse que o Max não morreu, Kaila! Ele está vivo!

Kaila tentou se recuperar do susto, analisando que o outro falava figurativamente...que teria a lembrança do parceiro sempre viva dentro de seu coração...de suas memórias...

_Eu entendo, Ed... _ela falou solidária. _Também eu ainda sinto o meu pai vivo dentro do meu coração. 

Ed não deu ouvidos a ela e continuou:

_Eu ainda não sei onde o Max está, Kaila, mas eu tenho certeza de que ele está vivo!

Ela olhou pra ele confusa.

_Ele teve este sonho esta noite...e ficou tão impressionado que não quer se livrar dele... _Everaldo tentou esclarecer.

_Um sonho?

_Pois é...foi apenas um sonho... _Everaldo repetiu.

_Não foi um sonho, Kaila...Nem o de hoje e nem aqueles que eu tenho tido com o Max nos últimos dias...São reais, você tem que acreditar em mim! O Max está vivo, Kaila!

Ela sentiu que todo o corpo se arrepiava imaginando que de alguma forma, provavelmente Max estava vindo visitar Ed! Seria isso?

_Que tipo de sonho? _ela estava realmente interessada.

Mais uma vez, Everaldo estranhou a atitude suspeita daquela mulher! 

_Não são sonhos, pode ter certeza, Kaila! _Ed a encarou esperançoso. _Eu o vejo aqui...bem na minha frente...eu o sinto perto de mim! Ele está dentro de uma espécie de hospital...

Ela não se conteve e o interrompeu, se esquecendo completamente que precisava ser discreta!

 Kaila estava diante da melhor chance, até o momento, de saber mais sobre o efeito da droga que havia criado sobre a cobaia humana! Precisava se arriscar...precisava se expor, não tinha mais jeito!

_Você disse...num...hospital?

_Espere aí...você não vai dar ouvidos pras loucuras dele, não é? _Everaldo falou, mas foi ignorado pelos dois.

_Exatamente! Assim como mentiram pra mim dizendo que o Max estava morto, Kaila...também mentiram pra ele dizendo que eu estava morto, você acredita?

Kaila Medeiros abriu a boca e arregalou os olhos, visivelmente em choque!

Não havia dúvidas de que Max estava sim se comunicando com o namorado! Aquilo era telepatia?

_Ed, pare com isso que você está assustando a moça! _Everaldo virou-se pra Kaila num apelo desesperado, já prevendo os desdobramentos daquilo..._Por favor...desconsidere o que ele está dizendo...ele está perturbado pela dor da perda do homem que amava...

O dono da casa não se intimidou e simplesmente disparou sem ao menos tomar fôlego:

_Tentaram nos afastar, Kaila, mas não conseguiram! Max deu um jeito de entrar em contato comigo e me falou que ele está vivo e eu quero que você me ajude a divulgar isso pra todo mundo, Kaila! Quero que você publique nos jornais, na internet, quero que você me ajude a encontrar um jeito de exigir a abertura daqueles treze caixões pra todo mundo ver que eles estão vazios e que algum desgraçado não só mentiu sobre aquelas mortes, como também sequestrou treze homens e provavelmente provocou a explosão da fábrica para encobrir os seus crimes!

Everaldo avançou sobre o amigo o agarrando pelos ombros e sacudindo com força:

_Agora chega, Ed! Você enlouqueceu? No mínimo vai ser acusado de calúnia e difamação! Isso se não for pra cadeia!

Kaila sentia o coração quase lhe saltando pela boca! Ele sabia de tudo! 

Ed desvencilhou-se das mãos de Everaldo e encarou Kaila aflito:

_Você precisa acreditar em mim! Estão enganando todo mundo, Kaila!

Ela ainda teve um ato reflexo de auto preservação e gaguejou, passando a falsa impressão de que estava temendo aquela atitude de um homem desequilibrado mentalmente:

_Provavelmente é algum golpe, Ed! É fake news, não vê?  Se lhe mandaram alguma mensagem pelo celular, ou mesmo se ligaram pra você...desconsidere...Nada disso é real! 

Everaldo aproveitou a deixa:

_Pois é! Foi isso o que eu falei com ele... Já encerraram as investigações...já saiu o laudo depois de trinta dias...o caso já foi encerrado...

Ed não iria desistir! Sabia que sozinho seria difícil provar alguma coisa, abrir uma investigação, mas com uma repórter ao seu lado, tudo seria mais fácil! Kaila era a sua melhor chance de encontrar Max!

_Entramos em sintonia! Foi algo forte demais, Kaila! Como por milagre, a gente simplesmente consegue fazer uma conexão tão forte que eu posso ser transportado pra onde ele está! Eu posso ver onde ele está! Eu posso falar com o Max! Eu posso ouvir o que ele está falando como se ele estivesse aqui...na minha frente, Kaila! E ele também me viu dentro do nosso quarto!

_Ressonância límbica! _ ela falou sem perceber segurando a própria cabeça com os olhos parecendo que iriam saltar das órbitas.

_O que você disse? _Everaldo a olhou confuso.

Ela olhou de volta pra ele, completamente desfeita, alternando o olhar entre um e outro.

_Eu disse que preciso de um banheiro urgente, por favor! 


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