CAPÍTULO 14-O REENCONTRO
Ed deitou-se na cama naquela noite, mas não conseguiu dormir. Estava agitado demais para conciliar o sono!
Por que tinha dado ouvidos a Everaldo e ido junto com ele naquele centro espírita? Pura perda de tempo, além de mais uma decepção sofrida.
Já não tinham marcado de ir a um lugar mais confiável no dia seguinte? Ele deveria ter controlado a ansiedade e recusado o convite do amigo.
Max havia deixado o dinheiro do seguro pra ele e era com esse dinheiro que Ed pretendia percorrer o mundo, se fosse preciso, para, pelo menos, mais uma vez poder reencontrar o amor de sua vida!
Só mais uma vez, Ed repetia pra si mesmo cheio de esperanças...Só precisava estar com Max mais uma vez a fim de fazer o que estava procrastinando desde o inicio...a cobrança da promessa que ele havia feito de vir buscá-lo, caso morresse primeiro que o parceiro!
Talvez o medo de uma justificativa vazia...ou mesmo uma recusa em cumprir a sua parte do acordo estivesse impedindo Ed de fazer aquela pergunta a Max... aquele apelo desesperado para que o outro o levasse embora junto com ele! Mas agora não dava mais pra suportar, pois Ed não conseguia mais viver naquela solidão!
Algo dentro de Ed parecia estar a ponto de explodir naquela noite e ele esperou impaciente que Everaldo fosse se deitar para se fechar dentro do quarto onde tivera tantas noites de prazer com Max...onde haviam feito tantos planos para o futuro...um futuro que agora sabiam que pertencia somente a Deus e não a eles!
Ed não queria pensar em Deus naquele momento tenso, pois sempre terminava em acreditar que Ele tinha feito uma grande sacanagem em separar duas pessoas que se amavam tanto! Na sequência, ele começava a se perguntar se será que Deus havia ficado com ciúmes, ao pensar que um amava o outro mais do que amavam ao criador sobre todas as coisas?
Grande tolice julgar as decisões de Deus, Everaldo havia falado quando Ed levantou essas questões num momento de extrema revolta. O amigo havia dito que ao contrário do que muitas pessoas idiotas diziam, Deus não era um ser humano carente que ficava sentado em seu trono de ouro se deleitando com as provas de amor infindáveis dadas pelos seus súditos...muito menos disputava o amor que as pessoas sentiam umas pelas outras!
_Então por que Ele deixou que isso acontecesse com a gente, Everaldo? _ Ed havia gritado segurando a cabeça com ambas as mãos. _Que levasse os dois juntos, então!
Ed fechou os olhos e expulsou as lágrimas, mas, no momento seguinte, os abriu aflito!
Vez por outra, ele se lembrava dos escombros da fábrica...e imaginava o corpo do seu amante misturado àquele monte de entulhos...mal dando para separar os pedaços...O que havia dentro daqueles caixões? Haveria quanto do corpo de Max ali? Talvez nada...talvez um dedo...um braço...Será que ainda havia partes de Max nos escombros da fábrica?
Ed tampou o rosto com ambas as mãos, temendo enlouquecer! Estava dividido entre a esperança do dia seguinte lhe trazer boas notícias...dele conseguir mais uma vez se encontrar com Max ou não...de mais uma vez só encontrar um charlatão querendo pegar mais do seu dinheiro!
O tempo estava se esgotando, os recursos definhando... o dinheiro do seguro acabaria e aí ele seria obrigado a voltar a trabalhar só para pagar as pessoas para tentarem restabelecer aquele canal de comunicação com o seu homem.
Subitamente, a sensação de que Max pudesse estar por perto invadiu Ed de uma maneira absurda e ele ficou em alerta sentando-se no meio da cama!
_Max?_ falou na escuridão cheio de esperança.
_Ed?_ a voz de Max respondeu retumbando nos ouvidos carentes do parceiro.
Ed começou a chorar se sacudindo todo, temendo estar sonhando...temendo estar enlouquecendo...temendo ser tudo apenas fruto de sua imaginação tão maltratada pela perda do outro!
_Claro que sou eu, meu amor!
_Sim...também sou eu, meu querido!
Max estava ciente de que os encontros haviam sido suspensos por sua vontade própria. Ele ainda acreditava na força daquele amor sendo capaz de realizar aquele milagre! Decidiu não perder tempo, afinal, o medo de ser sedado como os outros colegas era real!
Como nas outras vezes, Max e Ed sentiram aquela força surreal os enlaçando de maneira tão intensa, que Ed se viu no quarto do laboratório onde o amante estava!
Max se viu novamente dentro do quarto onde Ed estava!
_Você ainda está aí, meu amor! _ Max falou com a voz embargada pela emoção. _No nosso quarto!
Ed não conteve as lágrimas, mas sabia que precisava conter os soluços, ou Everaldo viria até o quarto e atrapalharia aquela conexão abençoada!
De repente, Ed quis acreditar que se aquilo estava mais uma vez sendo possível, era porque uma força superior e positiva os envolvia!
Deus, talvez arrependido pelo vacilo de ter separado duas pessoas que não deveriam jamais ser separadas, estava vindo consertar o seu erro! Por pensar nisso, Ed se emocionou mais ainda, acreditando que agora o universo iria conspirar a favor dos dois e favorecer aquele reencontro!
Max pensou no famoso arrebatamento tão falado por aqueles que liam a Bíblia e que contavam que um dia os merecedores da salvação seriam arrebatados e levados ao céu! Certamente se um céu houvesse, era pra lá que Ed seria levado e se havia justiça no universo, era pra lá que ele também seria levado...ao lado do seu homem!
_Há dias estou percorrendo todos os lugares, meu amor... _ Ed soluçou. _Estava buscando loucamente uma forma de me encontrar de novo com você, só para lhe perguntar por que me deixou aqui!
Max controlou o choro, acreditando que o seu amor ainda estava confuso quanto a sua atual situação. Sabia que precisava ser rápido, pois não podia chamar a atenção de ninguém! Poderia aparecer alguém do turno da noite, um enfermeiro, provavelmente, para verificar os seus sinais vitais ou qualquer besteira que desse na cabeça daquelas pessoas loucas!
_Eu estou aqui... _disse Max aflito acreditando que Ed estava morto e só estivesse esperando por ele para partir. _ Estou esperando você me buscar, vida! Não foi isso o que prometemos um ao outro?
Ed foi o primeiro a ficar confuso, também avaliando a possibilidade de Max não estar ciente de sua nova condição:
_Se eu pudesse, eu já o teria feito, amor...Mas o trato não foi este, lembra? Sabe que não tenho como trazê-lo de volta! É você quem tem que vir me buscar!
Max também ficou confuso:
_Você me levar de volta? Não entendo...Do que está falando, meu anjo?
Ed ficou decepcionado acreditando que o outro havia se esquecido do combinado entre os dois e que talvez tivesse vindo apenas para se despedir.
_Me leva junto com você, por favor, Max! _Ed falou num fio de voz.
Max achou que ele estava confuso, talvez precisasse de um norte, ou coisa parecida.
_Como poderia eu fazer isso, se é você agora que tem o poder de me resgatar, Ed?
Ed ficou mais confuso ainda:
_Como se poderes eu não tenho de te ressuscitar, Max? Só resta você me tirar a vida para que eu possa ir com você!
Diante do silêncio e da confusão nos olhos um do outro, tentaram controlar a ansiedade.
_Este lugar onde você está, Max...parece uma espécie de hospital...
_Na verdade, é um hospital. Foi pra cá que nos trouxeram quando a fábrica explodiu...aliás, antes da fábrica explodir, por isso não nos machucamos.
Ed ficou estático ao escutar aquilo!
_Não...Vocês ainda estavam dentro da fábrica, quando ela foi pelos ares, Max!
Max franziu as sobrancelhas, não entendendo nada:
_Amor, nós fomos resgatados por uma equipe que apareceu poucos minutos antes da explosão...mas fiquei sabendo que você não teve a mesma sorte e que já estava dentro da fábrica, quando a desgraça aconteceu.
Ed falou agoniado:
_Eu não estava na fábrica naquela hora, Max!
Max ficou calado por algum tempo, antes de questionar cautelosamente, porém com o coração disparado:
_Mas se isso fosse verdade, meu amor... aí você ainda estaria vivo...não é?
Ed respondeu imediatamente, também quase sem fôlego:
_Mas eu ainda estou vivo, Max!
_Mas como isso é possível? _ o outro insistiu quase fora de si.
_Estou aqui... em nossa casa...em nosso quarto... esperando você vir me buscar, como a gente combinou, lembra? Quem morresse primeiro viria buscar o outro!
Os dois ficaram naquele impasse...ambos acreditando que era o outro quem estava confuso diante de sua atual condição de desencarnado! Aquilo complicava tudo!
Max, o mais desesperado para se fazer entender, tentou ser mais objetivo:
_Amor...eu e os meus doze colegas fomos resgatados por uma van, pouco antes da explosão da fábrica ocorrer, entende agora? Neste momento, estamos aqui internados só em observação para eliminar qualquer possibilidade de contaminação pelo produto químico que vazou, entendeu agora? Estamos vivos, estamos bem... _Max respirou fundo, lamentando ter que dizer aquilo daquele forma. _ Já você, não teve a mesma sorte, Ed. Você não sobreviveu à explosão, meu anjo! Essa é a verdade!
Ed sentiu o coração praticamente parar! Arregalou os olhos lembrando-se com nitidez das palavras do médium:
"Meus guias disseram que o seu namorado não virá aqui esta noite...nem nas próximas, pois ele ainda não partiu deste plano carnal! Ele ainda está vivo!"
O coração de Ed disparou vindo retumbar dentro dos ouvidos dele e ele não quis pensar em mais nada...só quis acreditar nas palavras do médium...e também nas palavras de Max! Só quis acreditar que aquele milagre era possível!
A mente de Ed estava acelerada ao máximo! Era informação demais para processar! As imagens se sobrepunham numa velocidade alucinante!
As palavras do médium...os treze caixões lacrados...Então não havia corpos ali dentro?
_Ed? _Max chamou. _Ainda está aí no nosso quarto? Na nossa cama? Esperando por mim pra gente ir embora?
Por que Max parecia questionar a mesma coisa...se ele estava vivo?
_Max, onde você está?
_Já disse...num hospital desde o dia da explosão da fábrica...esperando você vir me buscar, pois não consigo viver sem você!
_Mas como eu poderia fazer isso, Max, se ainda estou vivo? _Ed falou completamente perturbado por aquela conversa que não fazia sentido algum.
Os dois se encararam silenciando os seus corações numa espécie de torpor...um sentindo aquele misto de medo e de esperança se digladiando dentro do peito do outro...e a linha que separa a realidade da ilusão nunca lhes pareceu tão fina!
Era novamente a empatia que os unia como se fossem um só! Era aquela espécie de ressonância límbica, intensificada pela força daquele amor, pois estavam ainda sob o efeito da droga produzida por Kaila Medeiros!
A pergunta seguinte foi carregada de uma súplica para que a resposta fosse o despertar de um pesadelo longo e extremamente ruim!
_Max... _Ed soluçou quase sem conseguir falar.
_Ed..._Max também estava com o coração acelerado quase o sufocando naquele momento.
A pergunta seguinte foi feita pelos dois amantes ao mesmo tempo...olhos nos olhos:
_Então você está vivo?
Max, que já tinha dentro de si a certeza de que as pessoas que o haviam resgatado eram capazes de mentir sobre algo tão sério quanto aquilo, falou pelos dois:
_Sim, meu amor! Nós dois estamos vivos!
Começaram a rir alto, sem se conter! A conexão suavemente se dissipou!
Ed percebeu que Everaldo entrava no quarto atraído pelo som de sua gargalhada de felicidade, enquanto Max percebeu que era a própria Joana Medeiros quem vinha correndo tentar entender o que estava acontecendo com a sua cobaia preferida!
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