Kaila conversou com  Max e logo se apaixonou pela personalidade forte, o carisma e a clareza com que ele se comunicava.

Os exames físicos estavam excelentes e realmente ele era um homem muito atraente e charmoso.

Joana não havia dito  nada sobre  Max ser gay e Kaila imaginou que talvez a mãe não soubesse. Para Kaila, após ver várias vezes a filmagem e também por alguma sutilezas na fala, ficou claro que Max preferia os homens. Ela arriscou pensar, inclusive, que numa relação, ele assumia o papel de ativo.

Naquele primeiro momento, Kaila acreditou que aquela informação não tinha muita relevância  para o que ela estava procurando...até porque havia identificado outro gay no grupo.

Pelas filmagens, dava pra ver que Max estava num momento de extremo  prazer sexual  e se tinha sentido  aquilo pensando num homem ou numa mulher, não importava.

Kaila  se apresentou como simples estagiária, pois não achava que era o momento de assumir perante os treze homens  que estava no controle da pesquisa ainda. Com sorte, eles a veriam como uma amiga e não como uma autoridade. Aquilo ajudaria, para que viessem futuramente a confiar nela. 

Realmente tinha sido  ousada demais a manobra de Joana ao criar aquela cortina de fumaça em torno das cobaias. A  explosão da fábrica de produtos de limpeza permitiu a rápida retirada discreta  dos treze homens de cena sem precisarem dar maiores explicações para terceiros. O suposto óbito deles encerrava o assunto, certamente...ninguém viria procurá-los. 

Impressionante como a mãe tinha contatos poderosos no governo, pessoas capazes de permitirem,  em nome da ciência e da segurança nacional, que montassem toda aquela farsa para encobrir os seus passos!

_Até quando vai me olhar deste jeito? _ Joana perguntou à filha, percebendo o olhar reprovador de Kaila.

_Até conseguir digerir tamanha crueldade de sequestrar estes treze infelizes, afastá-los de suas famílias e, pior ainda, deixar que essas famílias pensassem que os seus entes queridos haviam morrido.

A expressão da neurocientista não se alterou:

_Tínhamos urgência em tirar de circulação todos os homens que estavam carregando dentro do corpo a sua fórmula. Acharam que o mais rápido e seguro seria simular a morte deles. Sabe como é...impossível saber quanto tempo levará para que possamos terminar a pesquisa. Pode levar anos! Você queria o quê? Horário de visita com a presença de filhos, esposas, pais se encontrando nos finais de semana e interferindo no bom andamento dos testes? Não tem como fugir, Kaila...eles são cobaias que estão no meio de uma experiência científica que pode dar merda e aí você pode imaginar se isso caísse em mãos erradas! Já pensou um deles sofrendo um acidente, indo pra um hospital, fazendo exames?

Kaila odiava aquela frieza  cruel da mãe...Aliás, por que estava surpresa? Quando estava em busca de resultados para as suas experiências, Joana não tinha limites! Quantas vezes ela havia atropelado o marido e também a filha apenas para dar andamento aos seus projetos? 

A filha debruçou-se sobre todo o material que já tinha sido coletado das treze cobaias, negligenciando noites de sono, horários de alimentar-se e não encontrou explicação nenhuma para o que havia acontecido com Max.

Todos os treze estavam rigorosamente recebendo o mesmo tratamento...todos os treze haviam tomado, no mesmo dia e horário e também a mesma quantidade de sua fórmula. Não tinha explicação para Max apresentar um resultado diferente. Exceto por sutis diferenças nos testes feitos, ele ainda não tinha deixado transparecer qual o real detalhe que  havia alterado o seu comportamento.

As imagens captadas pelas câmeras naquela noite deixavam claro que o homem observado realmente entrara em êxtase sexual! Será que ela tinha fabricado algum tipo de estimulante sexual sem perceber? Se fosse aquilo...por que os outros homens também não haviam tido a mesma reação? Seria alguma coisa na genética? Será que a mãe estava certa e ela precisaria trabalhar ainda por longos anos para descobrir alguma coisa que fizesse sentido?

Num primeiro momento, poder-se-ia acreditar que ele estava simplesmente se masturbando e que era bem talentoso naquilo, mas os exames e as imagens mostravam que ali havia algo mais!

Joana omitiu o fato de que Max havia dado trabalho para esquecer-se do suposto primo que havia entrado furtivamente na fábrica para falar com ele. Ela havia contado pra Max que por um infortúnio o primo  perdera a vida na explosão e não iria revelar a mentira para a filha.

A mãe  havia afirmado para Kaila que não havia tido perdas na explosão da fábrica e sabia que se a filha percebesse que ela estava mentindo pra ela, já que estava em dúvida se deveria sustentar a mentira que havia contado pra Max ou não,  talvez a neurocientista ficasse chocada demais para colaborar com  a mãe. 

Kaila poderia ter obtido aquela informação através de uma conversa com Max, mas ele prometeu para si mesmo nunca revelar que havia se encontrado com o espírito de Ed! Aquele momento era dos dois e de mais ninguém e ele esperava que sempre pudessem voltar a se encontrar assim, até que pudessem se encontrar num outro plano que lhes permitisse ficar juntos pra sempre. 

A filha decidiu tomar outro caminho pra ver se tinha mais sorte. Iria esgotar todas as possibilidades.

_Tem como obter uma  liberação para fazermos a exumação do corpo do décimo quarto homem que fez uso da minha fórmula, mãe? Preciso ter acesso à droga pura, sem a interferência dos medicamentos que vocês têm administrado nestes homens,  para dar  continuidade aos meus estudos. 

Joana repreendeu-se mentalmente, lamentando não ter pensado naquilo antes. Talvez a filha estivesse certa e um simples ansiolítico ou antidepressivo que fosse pudesse ter interferido na medicação. Se Anselmo tinha morrido no dia seguinte em que tomou a fórmula, certamente poderiam encontrar nele justamente o que Kaila sugeria...a fórmula em seu estado mais puro. 

_É claro. Me dê algumas horas e consigo aqueles restos mortais  pra você. _Joana falou imediatamente.

A filha não precisou de muito tempo para, diante do material colhido nos restos mortais de Anselmo, descobrir atônita que ele não havia tomado a sua fórmula!

Kaila não teve dificuldades para decidir não contar a verdade para Joana, afinal, queria ela mesma estar a frente da solução daquele mistério. Ela sabia muito bem a histeria que a mãe teria, caso tivesse a mais leve suspeita daquela descoberta em relação a Anselmo! 

Quatorze doses haviam saído do laboratório...treze homens apenas apresentavam a presença de sua fórmula em seus corpos. O que fora feito da décima quarta dose?

Teria ela se perdido no caminho...se desviado? Então, por que aquilo não estava nos relatórios? Por que deixaram pensar que Anselmo também havia sido medicado naquele dia? Queriam encobrir alguém, seria isso? Haveria uma cobaia perdida perigosamente correndo o risco de chamar a atenção de pessoas não autorizadas a terem acesso àquele experimento inédito?

Abrir o jogo para os homens que estavam detidos ali seria arriscado, obviamente. Ela teria que conseguir um outro caminho para descobrir o que fora feito da última dose!

Talvez, se conversasse com os outros funcionários da fábrica de produtos de limpeza, ao invés de falar com aqueles treze homens, obtivesse alguma informação  sem levantar suspeitas. Não convinha deixar que as cobaias soubessem que estavam dentro de um experimento porque o pânico  se espalharia, certamente! Aquilo era a última coisa que ela precisava naquele momento!

Kaila estava ainda indecisa se aquilo seria o melhor a se fazer, quando, por sorte, um dos seus antigos colegas de trabalho apareceu em sua sala. 

Jaime via na filha de Joana Medeiros uma aliada e uma confidente  ali dentro. Ele só havia se assumido homossexual  para Kaila. 

Às vezes, os dois se encontravam  e a neurocientista fazia barganhas com o colega de trabalho em troca de alguma fofoca. 

_Então é verdade que a maravilhosa filha pródiga está de volta ao lar. _ Jaime falou sorrindo assim que atravessou a porta. 

_Velhos hábitos são difíceis de abandonar. Sabe que eu gosto desta atmosfera maravilhosa de sadismo da Cruela querendo arrancar até a última gota do nosso sangue!

Os dois riram cúmplices, pois Jaime havia inventado o apelido e eles usavam secretamente ao falarem de Joana Medeiros.

_Estou quase cortando os pulsos por uma barra de chocolate, fofa! _ele falou salivando. _Se me der uma do seu estoque secreto, posso te contar uns segredinhos bem cabeludos dos nossos hóspedes!

_Ainda escutando atrás das portas?

_Como você disse, velhos hábitos são difíceis de abandonar!

Kaila deu a barra de chocolate pra ele, mesmo acreditando que a mãe já houvesse lhe contado tudo o que precisava saber.

Realmente, Jaime tinha várias informações dos homens que estavam sendo monitorados ali, mas nenhuma delas chamou tanto a atenção de Kaila, quanto as que se referiam a Max.

_Você viu aquilo tudo, linda? _ Jaime revirou os olhos. _Eu daria um ano do meu salário só pra morder aquelas panturrilhas, meu Deus! Já sacou que ele é veado, né?

_Não sei...me diga você! _ ela sorriu maldosamente.

_Cem por cento de certeza! Pois é, menina...Até hoje eu não entendi por que a Cruela mandou falsificar um atestado de óbito do homem dele! Mesmo vindo dela, é maldade demais, não acha?

Kaila tentou controlar a ansiedade. Se Max tinha um amante, certamente ele saberia falar mais sobre a cobaia que lhe tirava as  noites de sono nos últimos dias! 

_Você acha que o Max tinha alguém lá fora?

_Tinha não, tem! Não acabei de falar que a magrela mandou falsificar o atestado de óbito  do tal do primo do Max? _Jaime deu uma risadinha maldosa.  _Primo...sei, viu? Um primo que entra furtivamente na fábrica do outro só pra um bate papo em horário de trabalho? Aposto que rolava uma rapidinha ali...

No dia seguinte, Kaila informou à mãe que precisava visitar a cidade onde os treze homens moravam  para ver se obtinha mais alguma informação a respeito de Anselmo. Mentiu que alguns testes haviam apresentado alterações que precisariam de mais alguns dados do falecido. 

Obviamente, o interesse real de Kaila  não era sobre a história de Anselmo.

Ela iria em busca de esclarecimentos sobre Max e, com sorte, obteria alguma informação sobre o paradeiro da sua décima quarta cobaia! 

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