(Assim como um livro, não devemos ser julgados pela capa)

Entrar naquele corredor imenso me dava calafrios. Parecia que havia inúmeros olhos de riquinhos imbecis nos encarando, mas na realidade, não havia ninguém nos olhando. Ninguém estava dando a mínima para nós três, pois éramos insignificantes demais para eles. Eu não sei se isso é bom ou ruim, e eu tinha certeza que Meghan e Alex estavam pensando na mesma coisa que eu:

— Parece que está todo mundo nos olhando. — Eu digo assustada.

— Apenas caminhe e vamos em direção a nossa sala. Minha aparência está horrível. — Diz Meghan olhando pela tela do telefone.

— Você está incrível. — Eu digo com a maior sinceridade do mundo, a fazendo corar.

— Meninas, não devemos ter medo. São apenas pessoas. E talvez, nem todas sejam ruins. Estamos subjugando quem nós nem conhecemos. — Diz Alex, diminuindo a tremedeira.

— O Alex tem razão. Não é só porque eles tem dinheiro, significa que somos menos que eles. Chegamos aqui por causa dos nossos esforços, eles apenas colocaram o dólar na mesa. — Eu digo nos encorajando ainda mais.

Era isso que eu estava falando. Nós três éramos imbatíveis contra o mundo. Não importa o que iremos passar, nunca iremos nos separar. Eu me sentia completa ao lado deles. Ficamos parados perto dos armários, já que só podíamos ir para a sala quando o sinal tocasse. Enquanto conversávamos sobre a carreira que queríamos seguir, apareceu uma menina, mas ela eu conhecia. A que sempre saía nos jornais... Lana Carpenter:

— Vocês são os bolsistas? Beatriz Miller, Meghan Cameron e Alex Campbell? — Ela pergunta num desânimo, que nem disfarçava que não queria estar ali.

— Sim. — Diz Alex.

— Então tomem! — Diz ela empurrando três planilhas no colo de Alex.

— O que é isso? — Eu pergunto com vontade de dar um soco nela.

— São planilhas com os horários e aulas do colégio. Em cada uma contém uma chave, nome e número do armário de vocês. — Diz ela com uma cara antipática.

— E porque você está nos dando isso... Pela que eu saiba era o diretor ou a diretora. — Diz Meghan confusa.

— Por eu ser a aluna destaque do colégio, eu tenho que fazer isso com todos os alunos novos. Se você pensasse um pouco, nem teria perguntado. — Diz Lana revirando os olhos.

— Entendi... — Diz Meghan super sem graça. O mal da minha amiga era não saber se defender.

— Mas alguma pergunta, ou eu posso fazer algo mais interessante? — Ela balançando os pés no chão de impaciência.

— Eu tenho! — Diz Alex.

— Fala lindinho. — Diz Lana passando a ponta do dedo no queixo de Alex e logo em seguida, eu vejo Meghan furiosa. Só não entendi o motivo.

— Como sabia que éramos bolsistas? Não somos os únicos bolsistas daqui. — Ele diz já arrependido, vendo a cara de bunda da Lana.

— A foto de vocês está na planilha. Pronto, respondi sua pergunta mega interessante, posso ir? — Diz ela olhando as unhas.

— Pode. Obrigado pela sua recepção maravilhosa. — Eu digo com deboche, para não mandar ela para lugares maravilhosos.

— De nada fofa. — Ela diz indo em direção a um grupinho, que nos olhava com uma cara de bunda.

E em seguida ela beija um garoto estilo padrão, nem um pouco chamativa. Era essa menina que minha mãe usa como exemplo o tempo todo? Ela deveria é agradecer por eu não ser assim:

— O que eu falei mesmo sobre o sub julgamento? Eu esqueci. — Diz Alex começando a rir, e me fazendo rir também descontroladamente.

— Nem sei o que isso significa. — Eu digo entrando na pilha.

— O que ela tem de arrogante, ela tem de beleza... Vocês viram aquele cabelo... Aff! — Diz Meghan, como sempre, diminuindo a beleza radiante que ela tinha. Quando eu ia falar para ela parar com isso, Alex me interrompe.

— Mas se fosse pra escolher entre vocês duas, eu iria escolher você sem dúvidas. — Diz Alex todo sem jeito, fazendo a Meghan abaixar a cabeça, totalmente corada.

— Obrigada. Você é demais. — Diz Meghan, quase voz de tanta timidez que estava tendo no momento.

O que estava acontecendo? Será que eles estavam...? Não! Estou ficando maluca. São apenas elogios que fazemos uns aos outros. Nada demais. Queria averiguar mais sobre o assunto, mas infelizmente o sinal acaba tocando. Droga!

Quando chegamos nas nossas respectivas salas, eu e Meghan nos separamos de Alex, que estava no último ano com um abraço. Só que eu notei que o abraço de Meghan durou um pouco mais de tempo, e logo em seguida, um beijo na bochecha. BEIJO NA BOCHECHA? O QUE EU PERDI GENTE? NÃO É POSSÍVEL! Quando ela termina de abraçar ele, ele vai em direção a sala dele, que era no outro corredor, e eu encaro a Meghan, com o meu olhar de detetive, que nunca falhava. Ela nem precisava contar, porque eu descobria todos os meninos que ela tinha ficado, eu deveria ser contratada pelo FBI, mas minha área era no jornalismo:

— Porque está me olhando com seu olhar de Jessica Jones? — Ela pergunta indignada.

— Nada. Dessa vez eu vou esperar você vir me falar. — Eu digo a deixando nervosa. Meghan não consegue esconder as coisas por muito tempo. Em menos de um dia eu terei a resposta. Eu sou boa demais.

Agora não era de pensar nisso, e sim, em tentar não ser mediana como sempre, mesmo gostando de ser. Não estamos no foco, mas também não somos uma planta. Somente os adultos que não entendem. Raça ignorante.

Só de olhar para a sala me deu vontade de dormir. Era totalmente branca e bege. BRANCA e BEGE! Eram três fileiras, eu e Meghan sentamos na fileira do meio, no meio da sala. Ela na frente, e eu atrás. Meghan não era mediana, ela tirava notas de se invejar. Mas às vezes ela foca tanto em estar bonita, em vez de ser inteligente, que chegava a dar raiva. Não era somente a sala que era de dar sono, as pessoas também. Tudo com cara de morto, sou obrigada a ter empatia? O único grupinho animado, mas também detestável, era o da Lana Carpenter e seu peguete bonitinho e umas plantas que os acompanhavam. Eles sentavam na última cadeira, e toda hora, eu olhava de canto, eu via ele me olhando, e olha que a Lana sentava na fileira da direita, do mesmo lado dele. Se ele quer dar motivos pra Lana me odiar, ele tá conseguindo, porque a bonita estava me fuzilando. Como se eu me importasse. Quando eu reparo, entra a diretora e um professor, ele vai em direção a sua mesa, que era de frente para os alunos, e a diretora, que tinha uma cara de antipática, continua em pé, parecia querer dar um recado:

— Bom dia alunos. — Diz ela totalmente com um sorriso.

— Bom dia! — Dizemos em coro.

— Meu nome é Jade Grey, e eu sou a nova diretora do colégio Blake. Calma, eu não sou malvada. — Diz ela tirando algumas risadas dos alunos.

— Antes de aceitar o cargo, eu vi que os antigos diretores eram muito rígidos com vocês, e quanto mais rígido com adolescentes, mais bagunças vocês fazem, esse colégio tem muita histórias. O diretor tem que ser o melhor amigo do aluno. Ouvi-lo, mas também, ser severo na hora certa, o aluno não pode abusar da liberdade. O meu dever e dos professores é fazerem vocês serem os melhores, usando bastante o cérebro de vocês. Que possamos nos dar bem. Agora com licença, que irei na próxima turma me apresentar. Tenham uma ótima aula. — Diz ela com um sorriso esplendor, pisando em mim, por ter julgado ela sem ao menos conhecer. Porque somos uns merdas? Eu queria cavar um buraco e me enfiar dentro:

— Que mulher incríveeeeel! — Diz Meghan boquiaberta.

— Eu adorei ela, o único obstáculo é suportar esses riquinhos mesmo. — Eu digo revirando os olhos, perto dos ouvidos dela.

— Sim. Mas vamos conseguir, não vamos? — Ela pergunta estendendo a mão para eu apertar.

— Claro, gostosa. — Eu digo batendo na mão dela.

Em menos de 10 minutos, não estávamos mais assustadas ou pressionadas. E garanto que Alex também não deve estar. Não tínhamos nada a temer, a escola era boa e a diretora era boa e maravilhosa, não iria ser um grupo imbecil que iria nos assustar. Você que lute Lana Carpenter, porque aos meus olhos, você não é ninguém!

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