Capítulo 6

Carolina fez o seu tão querido brigadeiro, e depois de comermos voltei para casa.

Estava colocando algumas coisas em caixas, para já adiantar algumas coisas para a mudança. Em uma caixa pequena guardo as coisas que não tem utilidade em cima da minha mesa, a maioria eram bonequinhos e pequenos cadernos, mas entre eles havia um belo porta-retrato de madeira e nele era possível ver a minha fotografia favorita com Carolina, ela com um vestido preto até os joelhos, sapatilhas delicadas e a Bíblia em mãos pronta para ir a igreja, e ao seu lado eu estava pronta para ir ao terreiro. Sinceramente, fico magnífica usando branco.

Não era capaz de explicar o tamanho do sorriso que se estampava em meu rosto todas as vezes que observava aquela foto. Nunca pensei que teria uma amiga como Carolina, uma menina tão flexível ao diferente. Serei eternamente grata a ela por essa amizade.

Em cima da mesa também estava uma pequena caixinha transparente com três gavetinhas que eu quase nunca abria, mas sabia que dentro da última gaveta continha um colar que me causava grandes momentos de reflexão.

O pingente era uma pedrinha do tipo que encontramos no chão, mas era perfeitamente circular e chapada, seu cordão era preto e não muito longo. Meu pai me disse que minha mãe havia o feito para mim. E aí estava o motivo dos momentos de reflexão. Por que ela não está mais aqui? Por que ela foi embora?

Nunca irei entender.

Cresci com um tanto de rancor dela. Como pôde simplesmente me largar com o meu pai? Foi tão de repente.

Mas ainda assim, sinto tanta falta dela. O que me causa muita tristeza, pois sequer me lembro do rosto dela. Eu queria ao menos saber como minha mãe era. Tudo que podia lembrá-la, ela levou embora. Eu não consigo entender.

Por que coisas assim acontecem? Por que as pessoas trazem vida ao mundo, para depois simplesmente abandoná-las?

Admiro tanto meu pai. Ele sempre foi tão forte. Se não fosse por ele, esse vazio que sinto dentro de mim seria ainda maior. Não sei o que faria se o perdesse também.

Eu estava me sentindo cansada.

Deixei todas aquelas coisas de lado e me deitei na cama, agarrando Jojo, o meu querido ursinho de pelúcia.

Não demorou muito e logo peguei no sono.

Sonhos desconexos se passavam em minha mente.

Não conseguia decifrar corretamente o que eu estava vendo, mas em pequenos flashes conseguia ver aqueles olhos azuis, e a cabeleira negra como a noite. Ele tentava me salvar de alguma coisa, mas aos poucos ele também ficou imperceptível. Eu estava perdida. Sozinha. Conseguia ouvir gritos. Gritos do meu pai. E ao longe a silhueta de uma mulher. Tão distante. Tão inalcançável. Quem era ela?

Provavelmente jamais saberei disso.

Pois os gritos de meu pai eram reais. E acordei sem saber como ajudá-lo, sem saber onde ele estava.

Tentei sair do meu quarto, mas minha porta estava trancada. Entrei em choque, tentando entender quem estava na minha casa, e o que estava falando.

- Você nunca vai conseguir levá-la! - ouvi meu pai gritar. A voz dele parecia fraca, mas não estava tão longe de mim.

Minha chave não estava em nenhum lugar do meu quarto. Comecei a entrar em desespero. Estava com medo de gritar para o meu pai e acontecer alguma coisa com ele.

- Acredite, você não me impediria nem se tentasse com todas as suas forças. Mas... Acho que já está tentando, não está? - a outra pessoa disse em um tom mais baixo.

Aquele voz. Eu conhecia aquela voz. Mas a quem ela pertencia?

A janela do quarto estava aberta. Com pouco esforço eu conseguiria pular por ela. E foi o que eu fiz.

Nuvens escuras se encontravam no céu, um vento gelado passava pelas ruas, furioso.

Fui correndo tentando encontrar um lugar para entrar. Tudo estava fechado.

Conforme andava, era possível ouvir com mais clareza os gritos de agonia de meu pai. Na sala. Eles estavam na sala. A janela de lá precisava de conserto, ela estava levemente torta, havia uma pequena fresta de onde poderia ver quem estava lá, mas para o meu azar, a pessoa estava de costas, e encapuzada.

Uma chuva forte começou a cair.

- Onde ela está? -  o outro homem perguntou. Aquele homem... Por que ele faria alguma coisa contra o meu pai?

Senti uma mão segurar os meus ombros. Uma mão levemente gelada. Aquele choque de temperaturas.

Me virei para Pablo com os olhos cheios de lágrimas.

- Você deve vir comigo. - ele disse com a voz firme, como se eu não devesse discordar.

- Tenho que ajudar meu pai. O professor vai...

- Será melhor se vier comigo. Teremos mais chances de despistar ele.

- O que? Que merda que você tá falando, Pablo?! - eu não conseguia entender nada. Esperava que apenas ainda estivesse sonhando, que estivesse apenas dormindo confortavelmente na minha cama. Mas sendo sonho ou não, eu sentia a necessidade de ajudar meu pai. -  Eu preciso dar um jeito de entrar!

Seu olhar era de impaciência. Ele sabia que eu não seria convencida facilmente a seja lá o que for. Meu pai precisava de mim.

- Está bien. Eu a ajudo. - ele disse. Me senti aliviada, mas o que dois meros adolescentes poderiam fazer? Sequer podíamos chamar a polícia, até chegarem já poderia ter acontecido algo de ruim. O que quer que o meu maldito professor queira fazer contra o meu pai, vai pagar muito caro. Eu não vou perder ele também. 

Tudo aquilo estava tão estranho, mas quando Pablo me puxou pela mão tudo aparentou estar mais claro. De certa forma, foi como se me sentisse com menos medo. Era como se ele fosse um amigo de muitos anos. O que esse garoto tinha? Eu não sei. E não quero pensar nisso. Quero apenas o meu pai seguro.

Pablo soltou a minha mão quando chegamos a porta da frente. Ele me deixou um tanto afastada, e então a água da chuva começou a obedecer a ele.

Eu me encontrava atônita, não conseguia confiar em meus próprios olhos.

Que merda estava acontecendo?


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