Capítulo 24

Na ponte que nos levava para dentro do vulcão, Jahi me explicava o que deveria fazer para melhorar meu controle sobre o meu poder.

- As suas emoções influenciam muito. É importante que mantenha a calma no campo de batalha, ou seu poder pode sair do controle. - disse ele. - Como aquele garoto da água. Já viu ele lutar, não é?

Confirmei balançando a cabeça, me lembrando de quando Pablo usava seu controle sobre a água. Sua expressão era inalterável, ele mantinha uma serenidade que aparentava ser impossível para mim.

- Às vezes controlar seu elemento inconscientemente pode ser útil. Em situações de perigo por exemplo, seu poder pode te proteger quando você sentir medo. Mas se não conseguir abafar suas emoções, seu poder vai acabar machucando aqueles que lutam ao seu lado. Seus companheiros.

Me mantinha atenta a cada palavra dele. Não poderia me esquecer de nada disso. Cada pequeno ensinamento seria essencial em batalha.

Seu olhar sério se tornou mais leviano quando terminou sua explicação.

- Você é só uma criança, Ariana. Vou treinar você, mas se não quiser entrar nessa guerra irei apoiar sua decisão. - ele falava calmamente. - Você é jovem demais para ter que carregar um peso desses.

Fechei minhas mãos com força, as unhas machucando a pele das minhas palmas. Eu tinha o direito de escolha. Mesmo que quisesse proteger a todos, poderia sair dessa guerra quando quisesse.

Pensei em Pablo e em Santiago, que se arriscaram para me trazer até aqui. Pensei na coragem estampada em seus olhos. Eles estavam dispostos a qualquer coisa para acabar logo com isso. Aquela coragem me inspirava. E aquele novo instinto me dizia que eles precisavam de mim.

- Vou fazer isso. - sussurrei, e era nítido que ele queria ouvir outra resposta de mim.

- Tudo bem. - disse com um suspiro. - Então não pegarei leve com você.

- Nunca pedi para que pegasse leve. - falei, e ele sorriu de canto.

Jahi estendeu uma das mãos para a grande piscina de lava a sua frente e uma pequena parte veio até ele, do tamanho de uma bola de futebol. A lava se tornou sólida e ele a jogou para mim.

- Transforme em líquido de novo. E depois em sólido. Sem derramar nem uma gota sequer. - disse, mantendo o semblante sério mais uma vez. - Seu treinamento de verdade começa agora.

Segurei aquilo em minhas mãos, já imaginando que a dificuldade em fazer aquilo deveria ser bem maior que tentar me manter de pé sobre a lava.

Fechei os olhos com força me concentrando em sentir cada parte, cada pequeno centímetro, imaginando como queria que aquela pedra se tornasse. Mas nada acontecia.

De novo, de novo e de novo. E ela continuava intacta.

- Tem alguma dica pra mim? - perguntei a ele, mesmo já esperando qual seria a resposta que ele daria.

- Falei que não pegaria leve, não é? É seu elemento, é parte de você. - ele falou, e na sala atrás de nós, Jahi foi chamado para ir a sala de reuniões. Acabando por me deixar sozinha ali.

Pude sentir gotas de suor se formando em minha testa conforme me esforçava mais e mais.

Fui ficando impaciente, mas sempre que sentia vontade de jogar aquela coisa no chão me lembrava das palavras de Jahi, de que o controle flui melhor quando você se mantém calmo.

Após um tempo, que ao meu ver aparentava ser uma eternidade, pude sentir pessoas se aproximando de mim. Seus passos no chão de metal na sala de onde vim ecoavam até o vulcão em que me encontrava, e tudo indicava que não era apenas uma pessoa.

- Está tendo dificuldades? - ouvi a voz de Fernando, ele parecia se divertir com aquilo.

- Não ria dela, idiota. - era Pablo falando.

Me virei para eles, sem ânimo algum. Fernando se esforçava em conter um sorriso, e Pablo como sempre se mantinha com a mesma expressão serena.

- Não consigo deixar essa porcaria na forma líquida de novo. - falei, limpando meu suor.

Eles se entreolharam, como se já soubessem o que eu estava fazendo de errado esse tempo todo.

- Pode tentar de novo? - Pablo pediu, tomando um pouco da água em sua garrafinha verde. Mesmo já sem paciência, tentei mais uma vez, franzindo o cenho e segurando aquela rocha com força, esperando ela se desfazer em minhas mãos.

Quando desisti novamente, os dois se olharam, como se confirmassem que estavam pensando a mesma coisa.

- Acho que você está deixando ela mais sólida ainda. - disse Fernando, e eu quis jogar aquela pedra na minha própria cabeça. Ele riu da minha expressão, e se virou para a sala, sendo seguido por Pablo.

Cada um parou em uma extremidade do cômodo, enquanto eu me mantive parada na porta que nos levava ao vulcão.

Pablo abriu sua garrafa mais uma vez, mas não bebeu dela. A água escapou pairando no ar, obedecendo aos movimentos dele.

- O jeito que seu corpo se comporta pode incluenciar bastante no controle do seu elemento. - ele dizia, movendo os braços com suavidade fazendo com que a água se movesse também.

Enquanto Fernando havia estendido um dos braços, uma pequena muda de árvore cresceu a sua frente.

- Meu elemento é sólido. O de Pablo é líquido. - ele disse, e com movimentos firmes avançou para cima do mais novo que se defendeu com aquela pequena porção de água, com movimentos tão graciosos, como se estivesse em uma dança. Os movimentos de Fernando eram firmes e agressivos, diretos aos ponto. - Seu elemento pode ser os dois. Preste mais atenção no seu gestual, e vai melhorar.

Eles pararam de atacar um ao outro quando perceberam que eu tinha compreendido o que queriam dizer.

Me voltei para o vulcão, segurando a rocha, tentando me manter calma de novo. Suspirei, a segurando com mais leveza. Aos poucos comecei a soltá-la, movendo minhas mãos de modo mais delicado, podendo sentir ela se esquentar.

Na tentativa de me conectar mais fechei os olhos suavemente, agora já não segurando aquela pedra, apenas a deixando no ar. E quando a olhei, finalmente estava líquida.

Não pude evitar de dar um grande sorriso.

- Como você entendeu melhor com a nossa explicação do que com a do Jahi? - Fernando questionou, batendo palminhas para mim.

- Porque ele não me explicou. - respondi simplista. - Ele queria que eu descobrisse sozinha.

Fernando abriu a boca perplexo, parando ao meu lado, me fazendo rir.

- Sua trapaceirazinha!

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