Capítulo 20

Meus olhos quase ficaram cegos graças a luz branca bem acima de mim.

Eu estava em um quarto com paredes de metal, deitada em uma pequena cama e com roupas limpas. Na verdade, a única coisa minha que eu ainda estava usando era o colar de pedra.

Não era um quarto grande, tinha espaço apenas para uma cama de solteiro e uma pequena cômoda, que tinham três gavetas. Não continha janelas, mas sim uma passagem de ar e uma porta.

Ao me levantar, meus pés descalços sentiram o quanto o chão estava frio, também era de metal.

Fiquei assustada. Não conhecia aquele lugar, e estava sozinha.

Em circunstâncias normais isso já seria assustador, agora sabendo que tipo de pessoas vagam pelo mundo sem que ninguém saiba me assusta ainda mais.

Girei a maçaneta da porta devagar, não estava trancada. Ver um rosto conhecido quando a abri me deixou aliviada, e me fez perceber que eu estava prendendo a respiração.

- Como você está? - Pablo perguntou, apoiado na parede em frente a porta.

Quis abraçá-lo naquele momento, mas me mantive onde estava.

- Estou bem, eu acho... - falei. - Que lugar é esse? O que aconteceu?

- É a base da resistência. E você desmaiou de cansaço, ficou dormindo por um tempo. Você correu bastante. - ele disse, vindo para perto de mim. - Vamos, muitas pessoas aqui querem ver você.

Ele me guiou por um corredor circular com várias portas, algumas estavam abertas, eram quartos exatamente iguais ao que eu estava. Algumas pessoas me olhavam passar, e sussurravam coisas em línguas que eu sequer sabia quais eram.

Nós entramos em um elevador, que nos levou dois andares para baixo e nos deixou em uma enorme sala, onde várias pessoas se sentavam em um grande círculo, e apenas uma cadeira estava vazia.

Cada uma dessas pessoas se vestia de maneira elegante, e cada um deles usava um pequeno broche que era a bandeira de um país. Nenhuma bandeira era igual a outra.

- Quem são esses? - perguntei a Pablo.

- São os fundadores da resistência. Alguns eram do Conselho Mundial Subliminar, assim como a sua mãe era. - ele explicou, enquanto um dos homens que estavam sentados caminhava em nossa direção. Ele continha um bigode ralo, o cabelo raspado e brincos em ambas as orelhas, e ao lado direito de seu paletó se encontrava o broche com a bandeira do Brasil.

Seus lábios se abriram em um grande sorriso quando ficou frente a frente comigo.

- É um prazer conhecer a filha da fundadora Malaika. - disse, estendendo a mão esquerda para me cumprimentar. - Seja muito bem vinda, Ariana. Eu sou Fernando, o representante do Brasil.

- Oi. - falei sem jeito, me reprimindo mentalmente por não ter dito algo mais esperto, ou que ao menos soasse mais gentil. Mas Fernando sorriu ainda mais, o que me deixou mais desconfortável. Ele não aparentava ser muito mais velho que Pablo.

- Creio que esteja se sentindo muito perdida, não é? - ele sussurrou. - Mas não se preocupe, por agora não terá que falar com os outros fundadores. Na verdade apenas mais dois fundadores, com exceção de mim e da sua mãe, sabem falar português. Então não precisa se preocupar tanto.

Tentei sorrir sem demonstrar o tamanho da vergonha que eu estava sentindo.

- Sua mãe está ocupada no momento. Então eu assumi a responsabilidade de te apresentar toda a situação. Venha comigo, por favor. - ele falou, se virando e acenando com a mão direita para que eu o seguisse. Ela continha uma tatuagem que eu não consegui identificar o que era. - Suponho que se tornou uma grande amiga do nosso querido Pablo, então se isso a fizer se sentir mais a vontade, traga ele também.

Olhei para Pablo e ele colocou a mão em minhas costas, me guiando em direção a Fernando, que entrava em um corredor alto e largo, totalmente iluminado.

- Temos muita sorte em ter você aqui, Ariana! - Fernando exclamou.

Nós paramos em frente a uma porta, que se abriu após Fernando colocar uma das mãos em um painel com uma luz verde.

O cômodo depois dela era enorme, com várias pessoas sentadas em frente a computadores. Todas extremamente concentradas em seja lá o que estiverem fazendo.

- O que é tudo isso? - questionei, admirada com tanta tecnologia.

- Esta é a sala de rastreamento, onde usamos os satélites para detectarmos explosões de energia, para assim encontrarmos mais subliminares. - Fernando explicou, andando até um computador desocupado. - Está vendo todos esses pequenos pontos vermelhos nos mapas? São pessoas cujos poderes estão se revelando.

Eram como várias estrelas, em diversos estados. E pude entender que em cada computador eles analisavam locais diferentes.

Fernando ofereceu a cadeira vazia para mim, me deixando virada para o computador.

- E esse ponto... - ele apontou para o monitor, onde uma ilha foi quase inteiramente tomada pela cor vermelha. - Esse ponto mostra a explosão de energia quando o seu poder se mostrou.

Eu fiquei absolutamente sem reação. Aquela área em vermelho era muito maior do que todas as outras mostradas nos computadores daquela sala.

- Se você tivesse caído em mãos erradas, estaríamos perdidos agora. - ele disse.

Meus olhos ainda estavam fixos naquela marca na ilha.

- O que... O que aconteceu? - eu perguntei a Fernando. - As pessoas que moram ali... Elas...

- Não sabemos se alguma foi morta, não temos muito acesso a rede de hospitais, mas sabemos que muitos foram internados. Principalmente por causa da fumaça.

Eu não sabia bem o que perguntar, ou o que pensar disso tudo.

- Sua mãe foi amenizar a situação. Conter as erupções, mas como você já está acordada as erupções já devem ter parado, então logo logo Malaika estará de volta.

- Erupções... - eu murmurava para mim mesma, mas Fernando pôde entender o que se passava em meus pensamentos,  e logo tratou de me responder.

- Sim. Você despertou mais de um vulcão. Incluindo um vulcão que não era despertado a mais de dois mil anos antes de Cristo. - ele fez uma pausa, esperando por alguma reação de minha parte. Mas eu estava totalmente imobilizada.

Um calafrio tomou a minha espinha, esperando o que mais ele iria dizer. Sabendo que seria algo nem um pouco leve.

Engoli em seco quando ele começou a falar.

- Nem mesmo a fundadora Malaika tem tanto poder, Ariana.

Eu não soube o que dizer, ou o que pensar.

Aquilo tudo estava me assustando. E a cada momento eu tinha mais certeza de que jamais escaparia de tudo isso.

Afinal, eu sou parte disso.

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