Capítulo 13

Nós apenas paramos quando já estávamos bem longe da casa do primo do San. Paramos próximo a um pequeno riacho, onde os cavalos beberam e se alimentaram.

San estava inquieto, enquanto Pablo estava calmo como sempre.

Estava anoitecendo, o que era um tanto sombrio com tantas árvores ao redor, mas por alguma razão, eu me sentia segura.

Pablo me passou um pequeno potinho, onde ele estava comendo uvas. Estavam tão verdinhas que chegava a ser bonito. Comi algumas, tentando relaxar, o que eu não fazia a um bom tempo. Era deprimente ver a forma como estávamos. Todos em silêncio, apenas se alimentando, com expressões nítidas de quem estava esperando o pior acontecer.

Eu me mantinha respirando fundo, em uma tentativa desesperada de acalmar meu cérebro, mas ele trabalhava a mil por hora, sem sequer uma pausa. O que me acalmava era ver a forma como Pablo cuidava de San. Era tão carinhoso, que se o visse na rua sem conhecê-lo seria um tanto desconfortável, mas sabendo que ele é tão durão, ver ele assim é gratificante.

De repente, todos nos assustamos ao ouvirmos barulhos no meio das árvores, sons nada discretos. E um gavião-preto veio até nós, aparentemente com uma perna machucada.

San se apressou a pegá-lo, e analisar seus machucados.

- Meu primo não conseguiu segurá-los, mas está vindo de encontro com a gente. - ele disse, cuidando do pássaro, que parecia estar feliz de estar em seus braços. - É melhor seguirmos caminho, devemos ficar o mais longe possível deles, meu primo vai conseguir nos encontrar.

Pablo pareceu concordar. Eu não tinha muito o que dizer já que não estava muito ciente do quão grave era a situação, mas sentia que estávamos lascados.

- Sabe dirigir, Ariana? - San me perguntou.

- É óbvio que não, meu pai não confia nem em me deixar com a chave do meu quarto, imagine com um carro. - respondi. - Mas por quê a pergunta?

- Ah... Ok. Seria ótimo se você fosse dirigindo para que eu e Pablo pudéssemos lutar sem problemas, caso aja um ataque. Mas não se preocupe, daremos um jeito.

E lá estávamos nós na estrada mais uma vez.

San estava dirigindo, no banco do carona ficou o gavião-preto que ele estava cuidando, e no banco traseiro estávamos eu e Pablo. Era nítido o clima de tensão naquele carro, não sabíamos se poderia acontecer algo ou não, mas o que me confortava era que eles sempre sabiam para onde ir, eles já haviam pensado em cada detalhe, em cada cidade que passaríamos.

- Onde está a minha mãe? Onde é a base da resistência? - perguntei a Pablo, tentando nos tirar aquele silêncio desconfortável.

- Não podemos te dizer, apenas te levar. Se te pegarem podem te fazer falar onde fica. Podemos perder você mas não todo o exército.

Aquilo definitivamente me deixou ainda mais desconfortável. Tirei meus olhos dele e comecei a observar a paisagem.

- Não ligue para a insensibilidade dele, Ariana. Com o tempo você se acostuma  e percebe que ele não é tão seco assim. - San disse, se referindo a Pablo.

- Pra você é fácil falar, ele é seu namorado.

- É... Faz sentido, mas antes mesmo de ser eu já o achava um amor.

- Por que falam de mim como se eu não estivesse aqui? - Pablo questionou, nos olhando como se fossemos dois cúmplices idiotas. É um pouco difícil decifrar as expressões dele, mas aquela estava bem clara.

- É divertido. - San deu de ombros.

Sentia que estava sobrando ali. É estranho segurar vela até mesmo quando essas pessoas estão salvando a sua vida.

Ao menos eu tinha a janela para me fazer companhia. Ao longe era possível ver nuvens escuras se aproximando, uma chuva será bem útil caso nos alcancem. Os cavalos vinham atrás de nós. Se isso fosse colocado em câmera lenta, mesmo que fosse um momento de angústia, ainda seria o momento mais encantador da minha vida.

Eu estava em perigo, mas me sentia viva. Eu estava desolada, mas finalmente me sentia viva de verdade. Sentia que de fato algo grandioso me aguardava. E torço para que nunca mais me sinta de outra forma.

Eu sabia que o perigo se aproximava cada vez mais de nós. E o que me deixava mais aflita, é que não eram os monstros das historinhas infantis, eram pessoas cruéis. Isso era o pior de tudo, eram pessoas. Pessoas iguais a mim, mas que decidiram me matar, me aprisionar ou seja lá o que for.

- Está nervosa, no está? - Pablo disse baixinho, com aquele magnífico sotaque.

- Talvez um pouco. - falei.

- Tudo vai ficará bien. Você está comigo, lembra? - ele ficou se gabando.

- Ah, é claro, esqueci que tenho o Super-Homem pra me proteger! - falei com sarcasmo. Ele me olhou satisfeito, como se o plano fosse me distrair dos meus pensamentos.

- Como pôde esquecer? - ele abriu a boca em um perfeito O e colocou a mão sobre o coração. Ator melhor que ele com certeza não existe.

É claro que ele conseguiu arrancar um sorriso de mim.

- Obrigada. - falei, sentindo que deveria abraçá-lo, mas não o fiz. Seria estranho.

- Não precisa agradecer.

E foi assim. Uma viagem desagradável que me fez sentir coisas estranhas. Mas mesmo sendo péssima, ainda assim nunca me senti tão bem.

Todos os sentimentos estavam uma confusão, e mesmo parada, sentada em um carro, com uma tempestade vindo a caminho, eu estava pingando suor.

Podia jurar que meu corpo estava normal a um minuto atrás, mas agora ele já está fervendo.

Comecei a ficar ofegante, sentia minha pele pegar fogo, mas não doía, apenas aumentava e aumentava a sensação.

Olhei para Pablo desesperada, sem saber o que fazer.

- Merda! - ele abriu a janela do carro, a chuva começara a cair em pingos grandes e violentos. Quando se voltou para mim sua mão estava coberta com uma luva de água. Ele colocou na minha testa e foi descendo pela minha bochecha e pescoço, estava muito fria, mas aos poucos a temperatura dela foi se adaptando a minha. - Temos que parar em algum lugar!

San olhou brevemente para nós dois e sua expressão mudou de preocupado para preocupado pra caralho.

- Okay, okay. Sem pânico! - ele dizia, aparentemente para si mesmo.

- O que está acontecendo comigo? - perguntei, enquanto Pablo pegava uma água mais fria.

- Seu corpo, ele não aguenta mais ficar longe do seu elemento. Seu poder já demorou demais para se revelar. O seu elemento deve estar muito distante de você para o seu corpo começar a agir assim.

- Isso é muito perigoso? - questionei.

- Pra você? Não muito. Para nós, com certeza!

San parou o carro no acostamento, haviam muitas árvores em volta, e do outro lado da estrada um enorme campo, mas não era possível ver muito.

- O que vamos fazer?

- Vamos torcer para que você melhore. - ele disse, abrindo a porta do carro.

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