Capítulo 12
Nós comemos bem, os meninos ficaram um pouco assustados com o tamanho do meu prato, mas não tenho culpa se minha fome é equivalente a de um tigre.
Senti falta de comer carne, mas pelo jeito não irei ver isso por um bom tempo já que San é vegetariano.
Fiquei pesando no que Pablo disse a ele, que eu poderia controlar o fogo. Isso faz sentido, mas fogo sempre foi apenas destruição, não quero isso para mim. Mas pelo visto, se ele estiver certo, eu não terei outra escolha se não aprender a conviver com isso.
Eles comiam em silêncio, o que também era estranho para mim, já que sempre eu e papai conversávamos durante o jantar, principalmente quando Carolina estava com a gente. Não consigo descrever o quanto sinto falta dela... Mas para sua própria segurança, terei que me acostumar com isso, por mais que seja doloroso.
Tudo aqui está acontecendo tão rápido. Eu sequer tive tempo de questionar se Pablo é real ou não, se tudo isso é real ou não. Eu estava desesperada. Eu precisava de alguém para me apoiar. Alguém que eu não tivesse que deixar para trás... Mas infelizmente, eu estou sozinha, mesmo tendo Pablo comigo, ele também irá embora, ele está aqui apenas para me levar até eles em segurança. Eu não posso me apegar, de maneira alguma, mesmo que isso já esteja acontecendo.
Enquanto Pablo e San matavam a saudade, resolvi me sentar embaixo de uma árvore e apreciar a paisagem em minha volta, poderia ser um dos meus últimos momentos de sossego. E eu queria aproveitar cada segundo.
Tudo lá era tão lindo, principalmente os cavalos que corriam pelo pasto. Fiquei imaginando se não seriam cavalos selvagens.
Um deles eram negro como o céu a noite, seu pelo reluzia ao sol, enquanto os outros dois eram castanhos assim como a terra. San deve amar montá-los.
Tudo ali era tão calmo, poderia ficar nessa casa para sempre. Mas é claro que não ficaria, tive ainda mais certeza quando vi aqueles dois vindo em uma direção, já com as mochilas nas costas.
- Vamos embora daqui a pouco, vocês dois vão na frente, eu irei dar cobertura. - San falou assim que chegou a sombra embaixo da árvore.
- Não iríamos mais tarde? - perguntei.
- Sim, mas um dos pássaros vigias voltou, isso significa que temos companhia de subliminares.
- Então é melhor estarmos a frente. - Pablo falou. - Nós dois vamos no carro, San vai a cavalo.
- Meu primo nos mandou o pássaro, ele vai atrasar os subliminares enquanto nós fugimos.
- Provavelmente será difícil agora nós pararmos em algum lugar, ficaremos mais na estrada mesmo.
Pablo jogou uma mochila para mim, estava relativamente pesada, com certeza cheia de comida. San caminhou em direção aos cavalos, e Pablo estendeu a mão para me ajudar a levantar.
- Não vamos ter um minuto de sossego, não é? - perguntei, já sabendo a resposta.
- A gente vai dar um jeito de conseguir descansar, não se preocupe. - ele me disse, me levando até o carro.
Quem dessa vez estaria me caçando? Minha professora de sociologia? Francamente, pela primeira vez quis ter meus poderes para acabar com esse desgraçado de uma vez. Já não aguento mais fugir. Estou cansando de ter medo. Se sou assim tão poderosa, e eles não tem medo de mim, por quê eu teria?
Seguimos caminho pela pequena estradinha de terra, Pablo dirigia de forma tensa e logo atrás de nós San olhava para todos os lados, se certificando de que ninguém nos seguia. Ele vinha com os três cavalos, montado no corcel negro, enquanto vários pássaros voavam ao seu redor.
- San sempre está com os animais, por que você não anda com água também? - perguntei a Pablo.
- A água está em todos os lugares. Mesmo que sejam pequenas gotas, contanto que seja em estado líquido eu posso controlar. Não tem a necessidade de andar por aí com uma garrafinha quando eu posso secar completamente o corpo do meu inimigo. - ele respondeu.
Fiquei pensativa por um tempo, pensando em quantas pessoas Pablo já matou assim.
- Matar as pessoas é tão comum pra vocês? É tão fácil assim?
- É a coisa mais difícil que fazemos, Ariana. Os rostos deles ficam aqui dentro. - ele apontou para a própria cabeça. - Para sempre. Só porque é necessário, só porque se torna uma rotina, não significa que estejamos acostumados a fazer isso. Nunca vamos nos acostumar. É o maior fardo que carregamos.
Me perguntei quantos anos ele tem. É tão novo, e ainda assim tem que ter fôlego para matar. Ainda tem tantos anos pela frente, como ele vive com isso?
- Eu queria muito poder te dizer que você não irá passar por isso, Ariana. Mas você vai. Se quiser ficar viva nessa guerra, vai ter que matar.
Aquilo me assustou de tal forma que não consigo colocar em palavras, apenas sentir.
Nunca entendi sequer as guerras que via nos livros de história, imagina entender isso. Por que as pessoas tem que ser tão idiotas? Qual o sentido de ficarem lutando?
- Quem começou essa guerra? Sei que foi um homem, mas qual o nome dele? - perguntei. Pablo franziu o cenho.
- Outras pessoas irão te responder isso. - respondeu firme.
- Por que tem coisas que você não pode me responder?
- Porque sou apenas o garoto que procura outros subliminares e os leva até a base da resistência. Não sou qualificado para explicar corretamente a guerra. Sou apenas um adolescente.
Me virei para a janela do carro, vendo que cada vez mais as árvores nos cercavam e os campos iam sumindo. San ainda estava atrás de nós, com vários passarinhos se divertindo com os fios de seu cabelo, como se fosse um ninho.
- Não se preocupe. - Pablo voltou a falar após um tempo. - Alguém deixará você a par de tudo.
O que mais me preocupou nesse momento, foi se veria Pablo depois de chegarmos até a minha mãe. Ele está encarregado apenas de me levar, mas ainda assim, seria mais um rosto conhecido que eu teria que deixar para trás.
Eu não quero perder mais alguém.
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