Capítulo 11
Fiquei imóvel, tentando raciocinar as palavras que acabaram de sair da boca dele.
- Venha, Ariana! Ele vai me ajudar a cuidar de você. - Pablo disse animado, e mesmo indo atrás dele, ainda não sabia bem o que dizer, logo preferi não dizer nada.
O garoto se sentou no cavalo novamente e cavalgou até nós. O sorriso que continha no rosto era tão grande,era tão puro, tão sincero. Apenas ao observá-lo, pude ver como seria fácil para qualquer pessoa se apaixonar por ele. Ele exalava liberdade.
Quando estava mais próximo, pude olhar atentamente seus detalhes. O cabelo castanho claro possuía um brilho loiro ao sol, o corpo era magro mas as bochechas ainda eram fartas e fofas, e ao sorrir, suas covinhas eram bem marcadas. Ele desceu do cavalo, e Pablo foi até ele, aparentava ser da minha altura.
- Pablo! Por Deus, que bom que você conseguiu! - ele disse, também não era brasileiro, o sotaque era português. Ele pulou nos braços de Pablo e o abraçou tão forte, estava feliz em vê-lo. Ele parou de sorrir e se permitiu apenas sentir o outro em seus braços. - Que bom que está vivo...
- Senti sua falta. - Pablo sussurrou, e depositou um leve beijo na testa do garoto. Ele se virou para mim e puxou o outro pelas mãos. - Essa é Ariana, filha da fundadora Malaika.
Senti um calafrio ao ouvi-lo dizer o nome da minha mãe. Já fazia anos que eu não o ouvia. Na verdade, meu pai só o disse uma vez. Quando a família se reunia, não se falava dela. Todos a odiaram quando foi embora e me largou com meu pai.
- Nossa, ela é linda. - disse, me observando com uma expressão gentil. - Não é à toa que é filha da Malaika.
- Conhece minha mãe? - perguntei, chegando mais perto.
- Mas é claro que sim! Todos conhecem sua mãe!
- Aparentemente todos, menos eu... - falei, pensando em como ela poderia salvar o mundo enquanto a filha cresce sozinha com o pai. Nada justifica isso para mim.
A expressão dele agora era de tristeza, Pablo não disse nada, apenas me encarava.
- Oh... Desculpe. Mas... Pense positivo, não é? Em breve irá poder se encontrar com ela! - falou em uma tentativa falha de me animar.
- Obrigada, mas apenas farei o que seja necessário. Não quero me aproximar dela. - falei.
- Ah... É claro, eu entendo. - ele parecia cabisbaixo por não termos tido um "bom começo". Me senti mal, não tinha como não me sentir, ele era uma graça.
- Desculpe, não fique assim. Está tudo bem, eu já... Me acostumei a viver sem ela. - disse tentando animá-lo, mas não sou muito boa nisso. - Qual o seu nome, afinal?
- Santiago, mas como a maioria faz, pode me chamar apenas de San, é mais prático!
Sorri para ele. Não estava confortável, mas ele era uma pessoa legal. E eu sequer faço ideia do porquê de estar tão desconfortável.
- Bom... Acho melhor entrarmos. Vamos embora ao anoitecer. - disse Pablo, acenando com a cabeça para que eu os acompanhasse até a casa. Fiquei me perguntando o que San controla, pra conseguir se manter seguro em um lugar tão longe de tudo, e sozinho. Olhei a minha volta enquanto caminhava, e era tudo tão bonito, tudo tão calmo. Sequer parecia que eu estava fugindo de pessoas querendo me capturar, ou mesmo me matar. Não parecia que estávamos em guerra. E como eu queria que não estivéssemos...
A casa continha uma varanda enorme, com cadeiras de balanço e uma pequena mesa, e pendurado em uma das paredes se encontrava um berrante. Era muito bonito, e me questionei sobre a quem pertencia aquele lugar.
Pablo aparentava estar feliz. Eles sussurravam sobre alguma coisa, provavelmente matando a saudade, estavam sorrindo muito, e seus narizes se encostavam vez ou outra.
A casa era bem decorada, uma típica casa de peão.
- Estão com fome? Pode ser uma das últimas vezes que almocemos de verdade. - San disse, se virando para mim, intercalando o olhar entre Pablo e eu.
Pelo visto, Pablo já sabia que eu estava morta de fome. Mas afinal, quando não estou?
- Eu acabei de fazer arroz, feijão e uma salada. Come vegetais, Ariana? - San me perguntou.
Dei de ombros.
- Como o que estiver pela frente.
Ele sorriu gentilmente e entrou onde deveria ser a cozinha. Pablo foi com ele, e fiquei sentada no sofá, vendo o cômodo ao meu redor. Haviam muitos retratos e quadros nas paredes. Em um deles pude ver San ao lado de outro garoto, que definitivamente não era Pablo. Era parecido com ele, um pouco mais alto, mas a cabeleira era a mesma, fios castanhos com um brilho dourado.
- É o meu primo. Essa casa é dele. - ele disse atrás de mim, vendo que eu olhava os retratos com atenção. Levei um leve susto ao vê-lo ali.
- Ele também é um subliminar? - perguntei.
- Sim. Ele me ajudou a aprender a controlar, foi fácil, já que controlamos a mesma coisa.
- O que vocês controlam? - estava extremamente curiosa, não só para saber mais dele, mas para saber mais deste mundo.
- Não é óbvio? - disse rindo. - Olhe em volta! Um subliminar nunca deve estar longe daquilo que controla.
Olhei para todos os cantos. Haviam pequenos enfeites de cavalos. As janelas eram enormes e era possível ver cada um dos animais do lado de fora. Quando ia dar meu palpite, um pequeno passarinho voou até San e pousou em seu ombro direito. Ele pareceu não se importar, e continuou sorrindo para mim.
- Sou um subliminar nível quatro. Eu controlo os animais, Ariana. Mas somente os terrestres. - falou, estendendo a mão para o passarinho amarelo, que subiu em seu dedo.
- Subliminares de nível quatro são os controladores limitados. - Pablo apareceu, com um avental quadriculado, estava ridículo, mas adorável. - Como eu havia explicado, é como um controlador de água que controla apenas água doce.
Meu cérebro pareceu entender bem o que eles estavam falando.
- Você é de qual nível? - perguntei a ele.
- Sou um subliminar nível cinco. Um controlador geral. Há um bom tempo não nascem crianças subliminares acima de poder nível cinco. Estão cada vez mais raros. E os que nascem, graças a essa maldita guerra, são caçados.
San e ele se entreolharam, como se as esperanças de isso acabar fossem mínimas.
- Bem... Vou esquentar a comida! Vim apenas perguntar se você gosta de brigadeiro, fiz um pouco para comermos de sobremesa. - ele disse.
- Eu adoraria comer brigadeiro. - respondi, me lembrando do brigadeiro delicioso que Carolina faz. San sorriu satisfeito e se direcionou a cozinha novamente.
- Espere! - Pablo provavelmente conseguiu assustar a nós dois. Ele gritou tão de repente que San parou de andar no mesmo instante. Pablo riu de nós, e foi para perto do namorado. - Desculpe.
Ele chegou bem perto, de forma que eu não conseguia ver seus rostos.
- Não ligue o fogão, pode ser perigoso. - ele sussurrou para San. - Ainda não sei o que ela controla, mas o poder dela já deveria ter se revelado. Devemos ter cuidado máximo, acho que pode ser algo relacionado ao fogo... Passamos por perto de muitas coisas e nada, mas até o momento ainda não chegamos perto de uma chama, então tome cuidado. Não queremos uma catástrofe aqui, onde podem nos achar a qualquer momento...
- Por que acha que pode ser fogo? - San perguntou.
- Ela tem chamas nos olhos. Pode não ser o fogo em si, mas ainda é uma possibilidade.
Ele deixou que San fosse até a cozinha, e se sentou no sofá comigo.
Eu não sabia o que dizer.
Eu estava com medo.
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