Pai

Lucas retornou para a sala, evitava encarar demais Felipe para não deixar que seus olhos o entregassem.

— Puxa você demorou hem, comi metade do seu chocolate.

— Não faz mal, foi feito pra comer não foi? — respondeu áspero demais, e sentou. Felipe o encarou preocupado.

— Nossa o que aconteceu, está parecendo chateado.

Lucas disfarçou, abraçando uma almofada no colo.

— Desculpe, é que estou com saudade do meu pai — encontrou uma desculpa na hora, embora reconhecesse que estava mesmo. Ficou olhando a tela da TV e o filme que era para ter sido uma distração legal, agora era chato e sem graça, pois seu ânimo estava perturbado.

Felipe aproveitou e se aproximou mais, envolvendo Lucas num abraço seu.

—Não fique assim, logo você o verá, não é mesmo?

Lucas esforçou-se o máximo para não o empurrá-lo para longe dele, mas ficou pensando se ele estaria arrependido de ter ficado com a namorada do seu amigo. Só saberia se perguntasse, mas ia por tudo em risco, e preferiu não dar bandeira.

— Eu espero que sim, ele é um bom pai, me ama muito, não é falso como muitas pessoas por aí — novamente se descontrolou e sua voz pareceu suspeita. Felipe riu nervosamente.

— Nossa você está bastante irritadinho.

Lucas riu olhando pra ele, dessa vez quis encará-lo pra valer, estuda-lo, vê-lo através daqueles olhos lindos e misteriosos.

— Desculpe Fê.

Felipe ficou surpreso.

— Agora estou gostando, até está me pondo apelido carinhoso.

Lucas riu, não por fingimento, foi uma risada verdadeira, mas sabia que não podia deixar ser conquistado por suas palavras e seu jeito extrovertido. Ele era um traidor.

— É muita intimidade para quem acabou de conhecer não é? — questionou Lucas pensativo.

— Não sei te responder Lucas, às vezes é como se eu já tivesse te conhecido a muito tempo e que estava apenas distante te observando.

Lucas mordeu os lábios, suas palavras vinham com muita doçura, era difícil de ouvi-las e não se arrepiar.

— Felipe... eu não quero que as coisas aconteçam rápidas demais... — disse ele sem saber o porquê estava dizendo aquilo. — Pois muitas das vezes o que começa assim, termina da mesma forma.

Felipe ouvia atenciosamente, e sorria de forma que o compreendia, e isso deixava Lucas perturbado em meio a tantos pensamentos que formava em sua mente sobre ele. Poderia ser Felipe mesmo um cafajeste, infiel, e que estivesse ali apenas para usá-lo e depois descarta-lo? Ou por trás daquele sorriso meigo, daqueles olhos cintilantes e doces, existisse uma alma que apenas não encontrou o caminho certo, pois a pessoa certa ainda não lhe aparecera para guiá-lo?

— Lucas eu sei que é tudo tão rápido isso que aconteceu, mas, eu não quero te magoar e nem te fazer sofrer — disse ele, tenuamente. — Eu já aprontei muito nessa vida, fiz coisas que jamais deveria ter feito e não posso voltar atrás para consertá-las.

Lucas ficou surpreso. Seu coração pulou forte, ao ouvir a declaração dele... suspeitou por um tempo que ele quisesse se abrir e falar do que havia acontecido entre ele e a Camila... quis encher o seu peito de esperança de que ele estava arrependido de ter feito aquilo, e que a única coisa que queria era ter o perdão de si mesmo, uma vez que ainda David não descobrirá sobre o seu caso com Camila...

— Fê... não importa o que você tenha feito no passado, o que importa agora é o que vai fazer daqui para frente, o que foi errado, já passou e não deve mais cometê-lo, pois sabe que isso vai te consumir por dentro pouco a pouco, te roubando tudo de bom que existe em você — disse e ficou surpreso por dizer aquilo com tanta força e paixão, que não sabia porque estava sentindo compaixão por ele... em vez de estar cauteloso e atento.

Felipe ficara impressionado, abaixou a cabeça lentamente, como se entendesse e depois olhou para ele, sorrindo.

— Ninguém na vida disse palavras tão lindas para mim como você disse agora.

Lucas engoliu seco. Seu peito estava parecendo que tinha balões enchendo e enchendo, e que ia explodir a qualquer segundo. Felipe era o vilão... Camila também... David o mocinho e a vítima... e ele o único que poderia salvá-lo.

Mas também estava confuso... e se a única vilã da história fosse a Camila? Que seduzira o amigo, após uma discussão com o namorado, e agora Felipe sentindo-se culpado por cair na tentação estivesse desesperadamente tentando encontrar um atalho para fugir... um caminho para andar livre de toda culpa, e feliz lado a lado com seu novo amor... e se esse amor fosse... — Lucas pensava enquanto seu corpo era atraído cada vez mais junto ao de Felipe, que agora estava abaixando-o suavemente no sofá, e com suas mãos deslizando sobre seu corpo quente e rígido... Lucas não sabia o que fazer, ou se queria mesmo fazer alguma coisa. Por um momento queria apenas fechar os olhos, deixar acontecer, sem se preocupar com nada... com ninguém... apenas sentir tudo que pudesse com Felipe que naquele exato momento estava levantando a sua camisa, e sua boca molhada roçando sobre sua pele macia e arrepiada...

Lucas cerrou os punhos, sentindo prazer... não poderia deixar ele avançar mais porque sabia que não teria forças para voltar. Sabia que suas emoções estavam cedendo descontroladamente. Forçava sua mente a duvidar de tudo aquilo, que Felipe não fosse aquele cara mal... que ele fosse apenas um perdido em busca do caminho certo... mas a sua mente jogou a imagem de David por cima de ti, imobilizando os punhos, beijando-o com ardência... queimando sua pele, sufocando sua alma... e só depois que percebeu que o beijo que estava sentindo não era de David em sua memória, e sim de Felipe.

O celular tocou. Uma chamada, duas... três... parecia distante aos ouvidos de Lucas mas na quarta ele despertou, e abrindo os olhos abruptamente, rompeu o beijo de Felipe, que se afastou insatisfeito, limpando os lábios com as costas das mãos.

— D-desculpe... meu celular — Lucas ofegava e levantou do sofá, sentindo um pouco zonzo, como se tivesse baixado sua pressão. Botou a mão no bolso da jeans e atendeu o celular que insistia em ser atendido. — Oi... Quem é? — perguntou confuso procurando algo para se escorar.

— Filho, sou eu seu pai, não está reconhecendo mais a minha voz não é? — uma voz grossa de homem, disparou animadamente fazendo Lucas ficar desperto no mesmo instante.

— PAI! — Lucas procurou um local mais afastado da sala e caminhou para um corredor. — Puxa faz dias que queria ouvir sua voz, onde você está agora? Ainda trabalhando na construção?

— Estou de folga hoje filhão, a construtora deu dois dias todos os funcionários — avisou. — E você se divertindo muito aí na casa da sua mãe?

Lucas ficou aflito com a pergunta dele. Seu pai não havia visto sua mensagem deixado para ele? Ou ele esquecera?

— Pai, eu deixei uma mensagem para o senhor no celular... que estava na cada dos patrões da mamãe... ela é babá de tempo integral da filha do casal Odebrecht e para não ficar sozinho na casa da mamãe estou aqui com ela — explicou lentamente, e houve um silêncio na linha. — Pai, o senhor está me ouvindo?

— Lucas eu quero que saia dessa casa, está me ouvindo? — a voz do seu pai retornou num tom sério e frio.

Lucas pareceu não ter ouvido bem.

— Como disse? Eu... — foi interrompido pela voz do seu pai que pareceu mais forte e agora vinha com um tom autoritário.

— Eu quero que vai pra casa da sua mãe e me espere lá.

— Mas pai eu...

— ME OBEDEÇA LUCAS!

Felipe estava se aproximando de Lucas que estava de costas, nervoso, e ao sentir um toque em seu ombro, ele se vira abruptamente se assustando.

— Desculpe Lucas, não queria te assustar— ele pareceu preocupado. — Está tudo bem?

Lucas o olhava como se ele fosse um fantasma, mas disfarçou.

— Sim está tudo bem... só me dá mais um minuto, por favor — e se virou e Felipe voltou para a sala. — Desculpe pai eu estava... Pai? Pai o senhor está na linha? Pai?

A ligação havia sido rompida. Lucas resolveu ligar de volta para o celular do seu pai. Caiu imediatamente na caixa postal.


Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top