Hélio
A polícia já estava empenhada atrás de Camila. Mas ela simplesmente havia desaparecido, ninguém de sua família sabia onde ela se encontrava. Seus pais estavam absurdamente chocados ao descobrir que a filha tentara matar um amigo.
Felipe encontrava no hospital inconsciente. Seu estado de saúde era estável, mas requeria todo cuidado para não piorar. Os médicos disseram ao seu pai que ele havia escapado da morte por muito pouco.
Hélio estava na sua casa quando recebeu a visita do delegado e do investigador de polícia. Qual foi seu horror ao saber que Felipe, seu amigo, havia sido baleado por Camila.
Estavam na sala de estar conversando, Hélio ainda absorvia as últimas informações com muito espanto.
— Então você não tem ideia de onde Camila possa estar? — inqueriu o delegado fitando o rapaz pálido a sua frente. Hélio balançou a cabeça.
— Lamento, mais eu não sei mesmo — murmurou.
Um ano atrás.
09h00 da manhã. Sábado.
David e Felipe estavam pondo as malas no bagageiro da caminhonete S10, enquanto Gabriel e Paulo discutiam entre si o roteiro do mapa.
— Cara eu disse que se formos por aqui a gente pega um caminho mais rápido — gesticulava Paulo apontando o dedo no mapa.
Gabriel balançava a cabeça, discordando.
— Esse caminho tem mais chance de a gente se perder — e indicou o dedo numa outra trilha. — Vamos por aqui, essa é a direção certa.
Felipe e David observavam os amigos discutindo, cada qual querendo fazer o outro ceder.
— Eu diria que seria um casalzinho de namorados se não fossem primos — disse Felipe terminando de por a última mala. — E onde está o Hélio?
David reparou que o amigo estava mesmo atrasado.
— Sei lá, deve estar alimentando aquela cobra com ratos.
— Não acredito que ele insiste em leva-la com a gente na viagem! — reclamou Felipe. — Se um guarda parar a gente vai pensar que estamos contrabandeando animais selvagens. Vai dar um B.O isso.
David riu.
— Relaxa, talvez ela escape e se perca na floresta — sugeriu.
— Deus me livre, Hélio passaria meses procurando por ela, e pior, nos colocando para caçar junto.
David sabia que o amigo não estava sendo tão dramático assim, conhecendo Hélio e seu amor pela cobra...
— Deixa ele leva-la, e fique frio, vai ser só por dois dias — David disse, e caminhou até os dois rapazes que agora disputavam para ver quem ia ficar com o mapa. — E vocês dois parem com isso agora! — David tomou o mapa de suas mãos, dobrando e guardando no bolso da sua jaqueta de couro.
— David precisamos do mapa! — Gabriel disse. Paulo concordou.
— Sim é verdade, mas eu sugeri que sigamos a minha direção...
— Nem um e nem outro, beleza? — David decidiu. — Temos GPS para quê?
Gabriel e Paulo se entre olharam decepcionados.
— Em vez de ficarem aí brigando feitas duas mocinhas por que não tenta entrar em contato com o Hélio — sugeriu Felipe acabando com a moral deles.
— Até parece! — reclamou Paulo, e olhou para Gabriel. — Ouviu, ligue para o Hélio.
— Eu não sou seu escravo! — retrucou Gabriel e mais uma vez os dois estavam discutindo. Felipe e David reviraram os olhos e desistiram, indo para dentro de casa.
Hélio sabia que estava atrasado, e que logo seus amigos iriam entrar em contato com ele. Mas estava em apuros. Sim, em grande apuro. Camila havia dormido em sua casa aquela noite, e ele fez a pior besteira da sua vida.
Agora ela estava em sua cama, ainda dormindo, e ele precisava se arrumar para partir. David o mataria se descobrisse que ele transou com sua namorada. Camila não poderia nunca falar isso, ou...
— Hei Camila — cutucou seu ombro. Ela remexeu sonolenta na cama, virando de lado. — Camila, eu preciso ir agora.
Ela abriu os olhos lentamente, e suspirou.
— Já vai?...
Hélio estava ficando apreensivo.
— Olha a gente está numa grande enrascada sabia?
— Eu não — ela riu e sentou na cama, jogando os cabelos para trás. — Você me seduziu ontem à noite, eu estava bêbada, e você aproveitou de mim.
Hélio a olhou horrorizada. Teve vontade de esganá-la.
— Não brinque com isso Camila, você estava bem consciente e foi você que insistiu passar a noite em casa.
Camila levantou ajeitando a camisola transparente, olhando de um jeito que Hélio ficasse mais perturbado do que o normal.
— Eu não me lembro disso, só me lembro de você ter oferecido carona e quando começou a me agarrar... me levar no colo para dentro da sua casa... e você fez sexo com a namorada do seu amigo.
Hélio avançou e segurou seu punho com força, puxando para cima.
— Não me venha com essa agora!
Camila o encarou cinicamente e gargalhou alto na face dele.
— Ai como você ficou assustadinho.
Hélio a soltou. Deu a volta na cama e tirou a mochila de cima do guarda-roupa.
— É bom você não dizer nada ao David — sugeriu ele nervoso. — Pode fazer isso não é?
Camila se jogou em cima da cama, rindo.
— Pode eu posso, mas não sei se vou manter o segredo pra sempre.
Hélio a viu e controlou a sua raiva.
— Vai me chantagear?
Ela virou de lado na cama, e ficou olhando-o com interesse.
— Não sou tão perversa assim queridinho, mas se um dia eu precisar de ajuda, não seja tolo em recusar a me ajudar, fui bastante clara?
Hélio a encarou por um breve momento.
— Se eu não te ajudar vai contar ao David, não é?
Camila fez beicinho e uma cara de quem estava pensando na ideia.
— Talvez... e nunca sabemos como ele pode reagir.
— Você é uma cobra.
Camila riu.
— Já deveria estar acostumado com cobras... — apontou ela para o aquário onde Semíramis estava enrolada.
Hélio terminou de encher a mochila e fechou.
— Aquela é inofensiva, não faz mal a ninguém, agora você...
Camila se sentiu ofendida e levantou da cama.
— Já chega de me insultar seu ordinário! — disse. — Você não estava me ofendendo quando estava na cama comigo, e não pense que eu vou deixar barato isso, está me ouvindo?
Hélio a observou e sentiu medo. Era melhor não a provoca-la.
— Eu vou te ajudar quando você precisar... até lá vamos agir que nada aconteceu certo?
Camila piscou para ele.
— Concordo. Agora vou tomar uma ducha.
— Pode ir — permitiu Hélio. — Talvez eu não esteja mais aqui quando terminar.
— Vai acampar com os garotos né?
— Sim e eles devem estar preocupado com minha demora.
— Faz um favorzinho para mim? — pediu ela rindo, e Hélio controlou sua raiva.
— O que é?
— Fique de olho no meu namorado, não quero que nenhum de vocês levem periguetes para festinha nas barracas ouviu?
Hélio forçou um sorriso.
— Não se preocupe, não vai ter garotas.
— Não sei que diabos vocês inventaram de acampar, sabe que eu detesto mato e essas coisas! — queixou-se, e saiu para tomar uma ducha.
Hélio aproveitou que ela se retirou do seu quarto e pegou sua mochila, seu celular e saiu sem se despedir.
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