Estranhos sumiços
Hospital. 01h00 da manhã.
A enfermeira caminhava pelo corredor, trazia nas mãos uma bandeja de metal, com alguns medicamentos que acabara de utilizar num paciente, quando distraidamente passou pela porta da sala de U.T.I e parou abruptamente.
O que ela viu ao olhar para a porta entre aberta a fez soltar a bandeja no chão, e gritou.
Minutos depois o corredor estava uma loucura, e os pacientes dos quartos aos lados estavam acordados assustados, alguns zangados por querer voltar a dormir e não poder por causa da movimentação louca que estava. Médicos de plantão, seguranças e enfermeiros estavam confusos, sem mencionar que ambos estavam perplexos. Como um paciente que estava em coma induzido havia despertado e pulado do quarto andar, e desaparecera, sem deixar rastro e o pior, ter sobrevivido a uma altura daquela?
A polícia fora chamada e o delegado Washington Santos interrogava a enfermeira que vira Felipe fora do leito e abrindo a janela, se precipitando dela, mas não estava conseguindo obter melhores informações, o que não ia levar a lugar nenhum. O delegado adentrou a sala da U.T.I e havia mais três pacientes acamados, em coma, sendo cuidado, e se aproximou da janela. Pôs metade da cabeça para fora, e espiou. Para alguém em condições de saúde normais a altura já era grande, e qualquer um poderia se quebrar todo, ou simplesmente morrer com a queda, mas isso não acontecera com Felipe, mesmo após uma cirurgia, se recuperando. Aquilo não fazia muito sentido, pensara o delegado, porque ele fugiria arriscando a sua própria vida daquele jeito?
— Senhor? — uma voz conhecida o chamou, e o fez se endireitar e afastar da janela aberta. Virou-se para o seu companheiro. — Recebemos uma ligação da mansão dos Odebrecht, acho que irá se interessar pelo que descobrimos.
O delegado arqueou umas das sobrancelhas, após receber o celular do seu companheiro e ouvir a gravação. Após ouvir a conversa que havia sido gravado, ele devolveu o aparelho para o amigo.
— Parece que não voltaremos tão cedo a nos deitar, amigo — suspirou o delegado ao policial.
— Não tem problema, a gente volta a dormir depois que acabarmos com isso.
02h00. Duas viaturas do carro da polícia estavam estacionando na frente da mansão Odebrecht. Seis polícias desceram armados, e o delegado com seu companheiro caminharam para o portão, e apertou o interfone.
O senhor Olavo Odebrecht que estava ainda sem dormir em sua cama, ouviu o toque do aparelho ao lado da sua cama, e levantou para atender. Sua esposa estava dormindo sob efeito de calmante, e os outros estavam em seus quartos. Olavo apertou o botão, e perguntou.
— Quem é?
— Desculpe incomodá-lo a essa hora da noite, senhor Olavo, mas é a polícia e queremos falar com você, aí dentro de sua casa?
Olavo Odebrecht se desesperou. Para sua sorte sua esposa estava dormindo e não ia acordar tão cedo. Mas não entendia porque a polícia estava àquela hora na porta de sua casa, querendo entrar. Não estaria em pânico se não tivesse em sua casa o corpo do seu amigo, o mordomo Alfredo.
E não entendia porque o porteiro da guarita não ligou para ele informando da visita da polícia... ou será que o delegado pediu que não anunciasse a sua chegada? Tudo isso estava estranho demais.
— Desculpe delegado, mas não podemos esperar pela manhã, estamos todos exausto e cansado pelos acontecimentos recentes... — tentou ganhar tempo.
— Infelizmente precisa ser agora senhor Odebrecht, estamos com muitos problemas para resolver, será rápido eu prometo — respondeu o delegado enquanto seus homens se espreitavam atentos, com armas em punhos.
Olavo quis xingar, mas se conteve. Passou a mão pelos cabelos e sem alternativa confirmou.
— Tudo bem irei abrir o portão para os senhores entrarem.
O delegado se afastou enquanto o portão alto se abria automaticamente.
— É isso aí pessoal, vamos lá — disse o delegado indo para o carro, junto com sua equipe. As duas viaturas rumaram para dentro.
Olavo Odebrecht estava de pé na janela do seu quarto observando os carros se aproximarem. Estava bem preocupado, alguma coisa estava acontecendo sem ele se quer saber o que era, mas desconfiava.
David estava em casa, e a polícia ia descobrir que ele chegara. A senhora Melinda saiu do seu quarto de camisola, podia notar pelo seu rosto que ela acabara de acordar. Encontrou Olavo saindo do seu quarto ainda de pijama.
— O que está acontecendo senhor Olavo?
— Melinda a polícia está aqui, e quer falar comigo — disse, e dois empregados apareceram para avisá-lo, mas ficaram parados ao longe, percebendo que o senhor Olavo já estava ciente das novidades.
— Mas o que ela quer a essa hora da noite? Não podiam esperar pelo amanhecer? — perguntou ela confusa. Olavo suspirou, e deu de ombro, abrindo as mãos.
— Não sei, mas isso está estranho — e se aproximou ao empregado mais jovem da mansão, e cochichou no seu ouvido. — Não deixe a polícia encontrar o corpo de Alfredo, por favor, cuide bem disso.
O jovem olhou com bastante apreensão, mas balançou a cabeça positivamente, se afastando e apressando seus passos para cuidar do assunto.
O delegado e sua equipe estacionaram os seus carros e seguiram caminhando até a porta da mansão.
— Vamos esperar ele — disse o delegado, mantendo a calma. — Ele certamente está bastante nervoso sem entender nada, vamos com tranquilidade.
David estava no seu quarto dormindo. Conseguira dormir depois de uma hora rolando na cama, pensando muitas coisas e já havia chorado, e até mesmo orado para que Camila não fizesse nada as pessoas que ele realmente amava e se importava.
A empregada Antônia estava escondida espiando o senhor Olavo Odebrecht descendo as escadas indo atender a porta.
Os policiais rapidamente guardaram suas armas quando a porta estava sendo aberta, para não assustar o senhor Odebrecht.
— Senhor Olavo Odebrecht.
— Senhor delegado.
Os dois se cumprimentaram formalmente, com aperto de mãos. E Olavo pediu que eles entrassem. A empregada Antônia se ajeitou, arrumando os cabelos, e saiu de onde estava indo ao encontro dos senhores.
— Senhor Olavo, desculpe, escutei os carros se aproximarem e vim ver se desejam alguma coisa — anunciou ela.
— Não se incomode senhora, espero que nossa visita seja breve, não queremos atrapalhar o descanso de vocês — respondeu o delegado gentilmente. Mas a empregada Antônia esperou pela ordem do seu patrão, que fez sinal que ela podia se retirar.
— Bem senhores, o que devo a honra a essa hora da manha? — disse Olavo quando eles se acomodaram na sala de visita.
— Vou logo ao ponto senhor Odebrecht — disse o delegado. — Recebemos uma ligação anônima de alguém de sua casa, informando que o seu filho, David já havia chegado.
Olavo Odebrecht se segurou o máximo que pôde a sua surpresa. E sorriu.
— Sim é verdade meu filho chegou a poucas horas, e cansado da viagem de avião foi deitar, mas não se preocupe delegado ele irá atender sua solicitação de ir a sua delegacia quando ele acordar, não acho que agora seja a melhor hora de interroga-lo, se é que não se importa.
O delegado olhou para o seu companheiro ao lado e voltou a encarar o senhor Odebrecht.
— Senhor Olavo, eu sei que o momento é muito importuno, mas devido as novas decorrências no caso, é extrema a nossa necessidade de conversar com seu filho, sobre Felipe, e sua fuga do hospital que aconteceu cerca de poucas horas.
Olavo Odebrecht abriu a boca.
— Como assim?
— Felipe despertou do coma induzido e pulou a janela do quarto andar e está desaparecido.
O companheiro do delegado, o jovem policial também comentou.
— E como sabemos que ele e seu filho são grandes amigos, e você mesmo disse que ele chegou a poucas horas, e Felipe fugiu... — Olavo se voltou para ele revoltado.
— Está insinuando que David ajudou Felipe a sair do hospital?
O delegado pediu que ele se acalmasse.
— Não é isso senhor Odebrecht, por favor, acalmasse.
— Meu filho David não teve nada haver com isso, senhores. Ele já está sofrendo muito por tudo que aconteceu, não quero nem imaginar o quanto ele irá sofrer mais quando souber que seu amigo fugiu.
David estava ouvindo tudo próxima à escada. Ele havia acordado minutos antes com a porta do quarto ao lado bater, e ficara com vontade de beber água, onde ouvira vozes estranhas junto com a do seu pai. Agora ali, sem que ninguém o percebesse ouvia a conversa. Estava chocado, como Felipe havia fugido assim? E por quê? David achou que já estava na hora de participar da conversa.
— Eu estou aqui — se apresentou, fazendo todos se virarem para ele.
Olavo se levantou.
— David você estava nos ouvindo?
— Desculpe pai, mas estava, mas era sobre mim e Felipe, então eu tinha esse direito.
O delegado se levantou interessado.
— Desculpe-nos atrapalhar seu descanso, mas foi preciso, você poderia nos conceder alguns minutos do seu tempo?
David se aproximou deles.
— Claro — e sentou.
Olavo Odebrecht estava incomodado com a presença do filho.
— David tem mesmo certeza, você está muito cansado e abalado, não quer adiar essa conversa para mais tarde?
— Não se preocupe pai — David se virou e encarou atentamente ele. — Eu sei muito bem que dizer.
Olavo estremeceu com o seu olhar frio.
O delegado havia percebido o desconforto repentino do pai ao ver o filho reunido a eles, e sabia que precisava ouvir David sem ser interrompido pelo seu pai.
— Será que o senhor poderia nos deixar a sós por uns instantes? — dirigiu-se educadamente ao senhor Odebrecht.
— Mas por quê? — Olavo estranhou.
— Pai eu estou bem, pode ir — disse David baixinho, sem olhar para ele. Olavo tentou hesitar mas, por fim cedeu e se levantou de má vontade, saindo.
O companheiro do delegado se levantou com mais alguns outros policiais e saíram, vasculhando a casa, deixando o delegado com David a sós.
Olavo Odebrecht estava bastante nervoso. David não podia contar sobre o sequestro... não podia envolver a polícia... ele estava perdendo a calma, e era difícil isso acontecer. Sem os conselhos do seu amigo, Alfredo, ele estava sentindo as coisas saírem do controle.
— Senhor Odebrecht? — seu empregado o chamou.
— O que foi agora? — respondeu ele ríspido, deixando o empregado que estava bastante assustado ainda mais. — Vamos fale, não fique aí parado me olhando como se estivesse vendo um fantasma!
— E-Ele sumiu... — gaguejou sem piscar.
— Ele quem?
— O corpo.
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