Estranha reação



Lucas procurou por sua mãe, que estava acabando de sair do quarto de Ana Clara, em silêncio.

— Mãe? — a senhora Melinda terminou de fechar a porta, pedindo com o dedo a boca que ele falasse mais baixo. — Oh, desculpe, Aninha está dormindo? — perguntou em um tom mais baixo.

— Sim Lucas, agora ela vai dormir pelo menos umas duas horas — respondeu. — Você queria alguma coisa?

Lucas e ela começaram a se afastar, e ele disse.

— Eu vim avisar que vou sair.

Sua mãe não entendera.

— Vai embora da mansão?

Lucas balançou a cabeça, explicando melhor.

— Não não eu quis dizer que vou dar uma volta e depois voltarei, tudo bem?

Ela parou e Lucas também.

— Filho você vai sair com alguém? — seu olhar o fez ficar sem jeito de responder.

— Eu só vou dar uma volta com um amigo mãe...

A senhora Melinda suspirou.

— Filho, não quero me intrometer na sua vida, mas, poderia dizer com quem irá sair?

Lucas estava ficando impaciente com a reação dela, mas se controlou.

— Mãe é um amigo do David, ele e eu seremos amigos, e vou dar uma volta com ele, somente isso — disse.

— Tudo bem filho, eu entendi — sussurrou ela, parecendo um pouco decepcionada, e forçou um sorriso para ele. — Então você está fazendo novas amizades é?

Lucas deu de ombro, sorrindo sem graça.

— O Felipe parece ser um cara legal e ele não estava na noite que os outros amigos do David pregaram aquela peça em mim — avisou.

— Que bom filho, eu tenho pouco contato com os amigos do David, mas pelo que conheço o Felipe é o mais sossegado do grupo — revelou, e isso aumentou a confiança de Lucas.

— Sim, ele parece ter outra mente, é mais maduro algo assim, e eu vou dar uma volta com ele, mas não se preocupe, eu estarei bem — ele a abraçou e a beijou no rosto.

— Filho você não acha que seria legal da sua parte comunicar também ao senhor Olavo?

Lucas havia pensando nisso antes de encontrar sua mãe, mas estava tão ansioso para sair que achou que avisá-lo não seria de grande importância assim, mas refletiu um pouco e concordou.

— Claro mãe, o sr. Olavo tem sido bastante legal comigo, me tratado como um filho, se é que eu posso expressar assim — disse, e sua pareceu impressionada com o jeito dele se referir ao seu patrão.

— Fico feliz que vocês estão se dando bem Lucas.

Lucas deu de ombro, sorrindo.

— Ele é bem bacana e eu gosto dele — revelou. — Agora deixa eu ir falar com ele se não o Felipe vai pensar que eu dei cano nele.

Lucas saiu e sua mãe ficou parada observando ele se afastar. Seu olhar era amoroso ao filho, mas havia também um pouco de receio e preocupação.

O senhor Olavo estava na sala de visita conversando com sua esposa, e tomando chá.

— Lucas meu bom garoto, vem pra cá, vamos bater um papo legal — ele falou alto quando Lucas apareceu em passos mansos.

— Bem... eu vim aqui senhor... perdão... eu... — ele ficou sem jeito para continuar, causando curiosidade no casal Odebrecht.

— Lucas o que foi, pode falar meu anjo — incentivou a sra. Odebrecht posando a xicara na mesinha.

— Eu só queria suas permissões para... para poder dar uma volta — pediu sem muita segurança em suas palavras.

O sr. Olavo Odebrecht sorriu encorajando Lucas, e esfregou as mãos, se levantando.

— Lucas não precisa ficar com vergonha, você é o nosso convidado e tudo que pedires vamos atender com prazer — informou animadamente. — Eu peço desculpa por não ter pensando nisso antes, de convidá-lo para dar uma volta pela cidade, compreendo que ficar nessa casa tão grande o tempo todo deve ser chato as vezes, que eu nem pensei que queria se distrair num outro ambiente.

Lucas ficou aflito e tratou logo de se explicar.

— Não não é isso senhor... quero dizer, Olavo... eu adoro ficar aqui, quando estou com meu pai eu fico o tempo todo em casa e me acostumei, e francamente essa casa eu não teria tédio nenhum, é tão grande e gostoso aqui — disse para sanar qualquer dúvida que tenha ficado na mente do senhor Odebrecht e deixa-lo tranquilo quanto a isso. — Eu fui convidado para dar uma volta com... com um dos amigos de David — revelou finalmente.

A última informação pareceu cair como uma bomba no meio da sala, mas o espanto só ficou no olhar do senhor Olavo que não pareceu disfarçar nenhum só segundo, já a senhora Maria Lurdes pareceu feliz, e sorriu para ele.

— Que bom, já está fazendo amigos Lucas, fico feliz por isso.

Lucas sorriu para ela agradecido, e seu olhar decaiu para o do senhor Olavo, que parecia não compreender muito, ou melhor, de acreditar.

— E então poderia ir? — Lucas reuniu mais forças, e o senhor Olavo amarrou a cara para ele, parecendo aborrecido, o que o espantou com a repentina mudança de comportamento.

— Você quer dar uma volta com um dos rapazes que tramou contra você? — ele indagou parecendo incrédulo.

Lucas sentiu as pernas tremerem e seu estômago formigar. Ainda não tinha visto o senhor Olavo expressando aquele sentimento, outrora era sempre sorrisos, e gentileza.

— O-o Felipe não... quero dizer... ele não estava naquela noite senhor Ola...

Quantas vezes eu já pedi para não me chamar de senhor! — interrompeu bruscamente a fala de Lucas, fazendo o garoto se calar e ficar duro, e levemente assustado. A senhora Maria Lurdes olhou para seu marido constrangida com a sua atitude, e ele suspirou, se acalmando. — Perdão... eu não queria parecer rude e grosseiro Lucas, peço que me perdoe, por favor, eu não deveria ter falado nesse tom de voz com você — ele se pôs de pé, e abriu os braços — Por favor, desculpe-me.

Lucas ficou sem saber o que fazer, e por fim caminhou até o senhor que queria o seu abraço arrependido por seu comportamento. O senhor Olavo abraçou ele, forte, beijou seu rosto, e sussurrou no seu ouvido.

— Eu sinto muito Lucas...

— Tá tudo bem Olavo... — murmurou Lucas abraçando ele também. — Eu vou dizer ao Felipe que não irei.

Lucas sentiu mais pressão no abraço.

— Não seja bobo... eu confesso que fiquei um pouco descontrolado, mas foi porque não consegui perdoar o que aqueles moleques fizeram com você naquela noite... eu não vou mais admitir que eles venham a fazer algum mau a você... jamais...

Lucas ouviu a declaração dele e as palavras encheram seu coração, que antes era de medo, e agora de felicidade. Compreendeu que o senhor Olavo só estava sendo protetor, e para ele ainda era cedo dar uma chance aos amigos de David, mesmo que ele tenha conseguido convencê-lo a deixar que David recebesse eles de volta... era um sentimento de proteção, apenas isso.

— Eu adoro você — respondeu Lucas e beijou o rosto dele. — Adoro mesmo!

O senhor Olavo se soltou dele, e tirou a carteira do bolso da calça, abrindo-a.

— Tome Lucas — estendeu a ele cinco notas altas, e Lucas afastou as mãos. — Se não aceitar vou saber que não me adora como você acabou de confessar, e estou falando sério — advertiu.

Lucas não queria aceitar, era muito dinheiro, e nem sabia se ia precisar dele ao passeio com Felipe, porque o combinado seria uma visita a sua casa, poucos quarteirões dali, mas talvez Felipe quisesse mudar o programa, e ficar dependendo dele seria chato.

— Tudo bem irei aceitar, mas estou com vergonha de ter que fazer isso — disse e pegou o dinheiro.

— Vai ter que perder a vergonha Lucas, eu já aviso que quero vê-lo bem confortável e isso não vai parar por aqui — disse de um jeito que Lucas não poderia tentar negociar com ele.

— Desse jeito vai acabar me convencendo de aceitar morar aqui para sempre — brincou.

— E quem disse que isso não vai acontecer? — sorriu enigmaticamente. — Agora vai se não o garoto vai desistir de esperar por você, mas quero que prometa que qualquer coisa de ruim que ele ou um deles vier a fazer com você, vai me contar sem esconder nada, você promete Lucas?

— Claro, eu prometo, e obrigado.

Lucas saiu da sala e colocou o dinheiro na sua carteira. Passou pela empregada Antônia, e deu um olá animado para o mordomo que manteve o rosto passivo e apenas fez uma leve reverência. Ao sair, desceu os degraus e parou para procurar por Felipe.

— Nossa pensei que ia me dar bolo — comentou Felipe chegando de lado.

— Desculpe o atraso espero que não tenha desistido — Lucas se pegou na própria surpresa por dizer aquilo. — Nossa eu não acredito que disse isso.

Felipe riu.

— Não se preocupe, eu só espero que não se arrependa de ter aceitado — disse.

— É só não aprontar nenhuma pegadinha comigo, vou logo avisando — advertiu e riu depois, acompanhando Felipe até o seu carro. — Não quero ver nenhuma cobra por um bom tempo — completou.


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