Capítulo 3
Próximo ao pequeno lago viu um homem bastante idoso curvado à beira. Trajava um sobretudo negro, seus longos cabelos completamente brancos escorriam do topo de sua cabeça e se avolumavam ao longo de suas costas. Percebeu que apesar da idade avançada, aquele homem havia sido vigoroso em juventude. Parecia um bushi¹ das décadas passadas.
Caminhou até ele vagarosamente, queria ouvir o que sua prece dizia. Mas a certa distância, o velho moveu a cabeça, como um bom cão faz ao perceber algo ao redor, e a cobriu com o capuz. Rei parou, e como o velho inclinou a cabeça para baixo de novo, ela prosseguiu. Havia sido descoberta pelo velho bushi.
Estacou subitamente a seu lado e esperou que terminasse. Sua prece eram palavras arcaicas, que nem ela mesmo usava em seus rituais, misturadas a grunhidos. Pensou que talvez a idade avançada tivesse afetado a sanidade do bushi.
Em que o velho ergueu a cabeça para respirar fundo, imaginou tê-lo visto farejar o ar. O rosto ainda estava parcialmente encoberto pelo capuz. Decidiu quebrar o gelo:
- Esta manhã nublada sopra ares do passado, não acha? - disse rei olhando para o lago.
O bushi não respondeu, mas cruzou os braços dentro do sobretudo e deixou que o capuz escondesse a cabeça.
Rei não se importava com conversas solitárias, era sacerdotisa.
- Digo isso porque parecemos figuras feudais: uma sacerdotisa em trajes xintoístas² e um velho bushi envolto em seu capote. Seríamos tema de pinturas, livros, exposições.
Então Rei olhou para ele. Não estava agachado, como pensara anteriormente, mas sentado. Com as pernas abertas, braços de punhos fechados ancorados no chão, costas curvadas, emitia um estranho barulho. Era um chiado rápido, mais parecia um cachorro sentado farejando o ar.
- Seria indelicado perguntar o que traz sob o capote? Do jeito que as coisas estão hoje apostaria que porta uma katana³ da sua idade e, como eu, veio respirar um pouco dos problemas que a academia marcial e os alunos trazem.
Então o velho bushi se moveu. Primeiro, se levantou. Apesar da idade, era ágil e ainda mantinha certo vigor. Depois, soltou uma exclamação com a voz embargada, como há muito privada de emoção.
- Kagome¹¹...
Rei tirou os cabelos dos olhos e os jogou para trás. Não compreendia por que o bushi a chamava por esse nome. Provavelmente a confundira com alguém importante de seu passado. Sentiu pena do velho antes que retirasse o capuz completamente. Quando o capuz negro desceu revelando os brancos e abundantes cabelos, numa face de expressão fechada, de olhos amarelos, as inconfundíveis orelhas, ela sabia exatamente de quem se tratava. Ajoelhou-se em reverência.
Ele, com uma voz ranzinza, falou a plenos pulmões:
- Levante-se, Kagome. Não quero que me adore como um ídolo vazio.
Ainda ajoelhada, Rei respondeu de forma severa:
- Não o estou adorando, InuYasha, mas prestando a devida homenagem ao maior herói deste país.
1 – N.A. Sinônimo para samurai, praticante do Bushido, o código de honra dos samurais
2 – N.A. Realtivo a Xintoísmo, junto com o Budismo, uma das principais religiões no Japão
3 – N.A. Espada curva de origem japonesa tradicional entre os samurais
11 – N.A. Menina humana protagonista do anime InuYasha junto com o personagem homônimo
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