Capítulo 1
Ela vira no fogo. No fogo ancestral que arde no templo Hikawa durante eras. E a visão era impactante e assustadora. Um poder descomunal estava de volta a Tóquio, vindo do passado brutal e glorioso. Ela sentia medo apesar de tantas batalhas já lutadas e vencidas. Ela sentia que aquele era um fardo grande demais para carregar e esperava sinceramente que jamais o tivesse de portar. Não por desprezo ao passado e à história, mas pelo peso que tal poder encerrava. Ela não queria jamais tê-lo de carregar sozinha. Mas estava sozinha. Ser uma Sailor nesses dias era precisamente estar só. Após tantas e tantas batalhas, com seu dever cumprido enquanto navegantes das estrelas o mundo não estava ainda em paz perfeita. Outros heróis falharam em suas demandas. E outros mundos necessitavam de ajuda. Elas não podiam simplesmente negar uma chance por mais alguns instantes de vida àqueles que agonizavam nas trevas do ódio, da dor e da guerra.
Rei Hino esperava sinceramente estar errada quanto ao que vira no fogo. Pensava tão somente em desfazer-se de seus pensamentos, que tanto a assustavam, para ocupar-se de seus afazeres em administrar o templo, cuidar dos ensinamentos de suas discípulas ou simplesmente apreciar a companhia da natureza que a circundava diariamente.
Um pequenino pássaro saltou da grande árvore frente ao tori¹ e passou por ela. Rei estendeu um braço a chamá-lo e o passarinho deu meia volta, repousando à mão da sacerdotisa daquele antigo templo. A felicidade então encheu novamente o peito de Rei, mas por tão pouco tempo. Nos olhos da pequena ave havia fagulhas ígneas, que logo se transformaram em chamas incontroláveis, que ela sabia não poder deter. Ela sabia que nem mesmo a Sailor Marte podia deter o poder daquele fogo ancestral, com potencial para a tudo destruir.
Contudo sabia que o fogo trazia a destruição para grandes mudanças. Era a força necessária para não enlouquecer diante da estranha visão que não compreendia completamente.
Não querendo mais pensar nisso, entrou de volta ao templo e derramou todo o café que havia na cafeteira numa grande caneca e saiu com ela às mãos. Naquele momento não era a sacerdotisa, nem a Sailor Marte, mas apenas Rei. Não mais a garota colegial, porém a mulher que ansiava por uma vida normal.
1 – N.A. Na tradição xintoísta é um portal que simboliza a entrada de um templo ou o próprio templo.
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