Capítulo 18

Dez anos depois, 1926

A situação do Sonhar estava se tornando cada vez pior. Grande parte dos locais do reino apresentavam instabilidade, e aqueles que estavam sonhando no Mundo Desperto não conseguiam mais acordar.

Embora Agnes pudesse ter algum controle sobre o reino era mínimo, ela não era um Perpétuo, mas grande parte dos sonhos e até alguns pesadelos ficavam por conta dela, todos reconheciam o esforço da bruxa para ajudar o reino.

E alguns até arriscavam dizer que ela era a luz do Sonhar, uma verdadeira rainha que sacrificava sua alma cada vez mais ao estudar o livro dos pecados, somente para garantir que ainda houvesse algum equilíbrio.

Agnes estava sendo a personificação da esperança para o reino.

E agora, dez anos depois da prisão de Morpheus, a bruxa repassava o plano que elaborava com Jessamy para tentar soltá-lo.

— Estou pronta Agnes — o corvo disse pousando no ombro da bruxa — Tenho a casa toda decorada, sei por onde entrar e como sair em casos de emergências. Já posso ir?

— Espere — a bruxa ergueu uma pequena folha — Por proteção.

— Agnes, não há necessidade.

— Claro que há! Essa missão é perigosa e pode ser suicida, deve estar bem protegida. Não conseguirei ficar de corpo lá, somente minha mente e não posso lhe proteger assim.

O corvo pegou a folha e começou rapidamente, especialmente por conta do seu gosto amargo.

— Feliz? 

— Muito. Agora vá.

Abrindo as asas, o corvo partiu do Sonhar em direção ao Mundo Desperto.

•─⊱🌙⊰─•

Dentro do círculo, Agnes podia observar o que Jessamy fazia pelos olhos do pássaro. Havia levado um tempo para aperfeiçoar o feitiço, principalmente porque o pássaro pertencia a um Perpétuo, uma magia mais poderosa do que a sua.

Mas depois de anos, ali estava ela, observando o animal preto agir com tamanha agilidade que lhe impressionava.

E foi quando ela entrou dentro do porão, que Agnes conseguiu usar as sombras ao seu favor, personificando sua mente no ambiente. O olhar do Perpétuo sobre a bruxa foi de questionamento, mas quando ela olhou para Jessamy que entrava voando, Morpheus podia sentir uma emoção dentro de si.

Jessamy estava ali para lhe soltar, e Agnes estava ali protegendo o corvo, certificando que tudo estaria bem, servindo como a ponte que o ajudaria a voltar ao seu reino.

A sensação de liberdade quase sendo expandida adentrou o corpo do Perpétuo. Observar Jessamy ali, bicando o vidro várias e várias vezes fez com que erguesse a mão, como se pudesse sentir as penas do seu fiel corvo.

Agnes se aproximou o máximo que pode, até o limite do círculo e sentia que Jessamy falava consigo mesma.

Mais um pouco. Mais um pouco.

Foi quando o pássaro caiu no chão, e um pouco de sangue respingou no vidro que prendia Morpheus.

O olhar de esperança do Perpétuo se quebrou com a cena que via. Jessamy agonizava de dor, a asa em um ângulo estranho e o piado de sofrimento.
Agnes observou que um garoto, não, um mortal havia atirado no pássaro. Atrás dele vieram outros, inclusive o responsável pela captura de Morpheus.

Antes que outro tiro fosse dado, Agnes flutuou até o mortal e segurou o cano da arma, encarando ele de modo que permitiu que uma imagem aterrorizante penetrasse em sua mente.

A imagem em si era de um pássaro estilhaçado, o sangue por todo o vidro e ela se encarregou de fazê-lo se sentir culpado pela morte do animal, mesmo que este ainda estivesse vivo.

— Chega.

Morpheus observou de longe as sombras crescendo em torno de Agnes, emergindo dela como se fosse um fogo, queimando cada canto do ambiente e tornando-o frio.

E foi então que ele percebeu que ela usava a coroa do caos.


Ela propagava a imagem de um pássaro morto na mente de todos, porque sabia que o risco de Jessamy morrer de verdade se a encontrasse novamente era grande.

No chão, Jessamy agonizava e o seu piado foi o que fez com que a bruxa voltasse a atenção ao pássaro, pegando-o com cuidado sem se importar com a queimação que o círculo lhe causava.

O olhar de Morpheus foi bastante explícito para a bruxa: vá embora.

— O que você fez? Podia ter quebrado o vidro! — Roderick Burgess reclamou com o filho — Limpe essa bagunça. 

Olhando mais uma vez o Perpétuo, Agnes pode notar que Morpheus estava tomado pelo sentimento de raiva e pela primeira vez, compartilharam do mesmo desejo de fazer com que aquela família pagasse por tudo o que fazia.

E assim, ela voltou ao Sonhar.

•─⊱🌙⊰─•

— Preciso de ajuda! Depressa!

Correndo com o corpo de Jessamy no colo, Agnes colocou o pássaro em cima de uma mesa e pegou suas plantas medicinais, abrindo o livro de feitiços de cura.

— O que houve? — Tarot perguntou vendo a bruxa desesperada e ouvindo os piados de dor de Jessamy — O plano não deu certo?

— Aquele garoto tinha uma arma, por sorte ela só quebrou a asa mas está perdendo muito sangue.

— Me desculpe Agnes — disse o corvo com dificuldades — Eu falhei. Com você. Com o lorde.

— Não pense nisso agora, fique quieta para recuperar suas forças.

Lucienne e Mervyn assistiram em silêncio Agnes operar a asa do pássaro e conter o seu sangramento, que foi diminuindo após algumas folhas serem postas no local.

Levando algumas horas, o risco de vida do pássaro havia passado, mas ainda sim, Jessamy sentia dores na asa e sabia que não podia voar por um bom tempo.

— Podia ter sido pior se eu não tivesse comido aquela folha — disse o corvo — Obrigada Agnes, pela sua proteção.

— Eu agradeço por ter arriscado sua vida, sem você não saberíamos o que fazer — ela acariciou as penas do corvo — Agora descanse.

— Eu cuido dela — disse Tarot — Vá descansar, você fez muito hoje.

— Não. Eu vou estudar outros feitiços e aperfeiçoar a magia, preciso saber como quebrar o vidro para que…

— Criança — Mervyn a interrompeu — Você não está conseguindo nem ficar de pé! Vá descansar, precisamos ter sua magia completamente recuperada e você forte.

— Merv tem razão — apoiou Lucienne — Descanse. Use um dos aposentos do castelo, durma um pouco.

A bruxa assentiu, sabendo que eles estavam certos e que somente queriam o seu bem.

— Qualquer coisa me chamem. Qualquer tremor ou algo novo que houver.

— Claro.

Agnes escolheu um quarto em um dos andares mais baixos, sentindo que não aguentaria caminhar por muito mais tempo.

Jogando-se na cama, a bruxa pode sentir as lágrimas escorrerem de seu rosto e uma sensação de estar se tornando inútil cada vez mais forte.

Por que estava tão complicado? Por que tudo estava dando errado? E por que os anos passam tão lentamente, mas tão rápido ao mesmo tempo?

Apenas por alguns instantes, a jovem bruxa desejou que o Perpétuo estivesse ali por perto, que nada daquilo estivesse acontecendo e que, principalmente, sua vida pudesse era mais tranquila.

Deixando-se levar pelo cansaço, Agnes dormiu sentindo que precisava se vingar por Jessamy o quanto antes.

E se era crueldade que Roderick Burgess gostava de pregar, era crueldade em dobro que ele receberia.

•─⊱🌙⊰─•

Notas da autora: Hey pessoal, como estão?

Bom, como vocês devem ter percebido a Jessamy não morreu, só está machucada e devo dizer que esta versão acabou vencendo na escolha que eu tinha para fanfic pelos pedidos para que o corvo não morresse (e porque na série eu fiquei muito triste), então, gostaram?

Ah, e avisando que o Morpheus vai ficar os 100 e poucos anos preso, algo vai acontecer para que a trama ocorra como na série mas com um pouco da minha imaginação.

Já viram que a Agnes está usando a coroa do caos, e guardem bem esse objeto.

O que estão achando? Me digam tudo!

Até o próximo! ✨🌙

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