Capítulo 05

Agnes abriu os olhos com dificuldade, piscando algumas vezes para se adaptar à luz. Estava em um campo verde brilhante, e sentia que sua pele era aquecida pelo sol.

Era reconfortante, fazia lembrá-la de casa de algum modo.

A grama fofa debaixo dos pés podia aquecer o seu coração, e a sensação de tranquilidade que a Howe sentia por instantes, lhe fez esquecer sobre o que havia passado.

E foi quando sentiu o fogo se alastrar por suas pernas. Subindo, até lhe atingir o rosto, quando gritou de horror.

Agnes se viu em uma fogueira, amarrada e gritando aos céus, enquanto ao seu lado esquerdo sua mãe queimava ainda gritando de forma dolorosa, e do outro, sua irmã desmaiada pela fumaça, enquanto o fogo a consumia.

Fogo.

Tudo em Agnes queimava. Os pulmões pareciam em brasa, seu coração era labaredas viva e seu sangue, correndo pelo corpo como chamas que se alastravam em um incêndio.

A garota desejou morrer, desejou que aquilo acabasse logo.

A sensação de carne queimada, sua carne, começou a invadir seus sentidos. O cheiro, o sangue em sua boca.

Ela pensou que seria seu fim, doloroso, mas um fim como de outras de sua natureza, morta pelo fogo por ser uma bruxa.

Os sentidos começaram abandonar seu corpo, as pernas não sustentavam mais o peso do corpo, ameaçavam fraquejar e ceder ao restante das chamas.

Até que ela ouviu uma voz.

— Agnes, acorde.

•─⊱🦋⊰─•

Uma lufada de ar atingiu os pulmões de Agnes ao mesmo tempo que a fez abrir os olhos. Seu corpo doeu em boa parte dele, mas ao mesmo tempo, era como se uma onda de calmaria começasse a atravessá-lo.

Mesmo deitada, Agnes sentia que dentro de si tudo estava trabalhando de uma forma energética. Sua visão estava aprimorada, seus sentidos e a sensação de tudo ao seu redor podia ser captado como nunca antes.

Estava tudo estranho para a garota.

— Você acordou!

Agnes olhou para o lado vendo que um corvo estava encarando-a, e os olhos do animal transpareciam alívio, se é que isto fosse possível.

— Acordei, eu acho. Mas me sinto horrível, o que houve?

O pássaro voou até a cama onde Agnes estava, parando em cima dos lençóis.

— Creio que Milorde possa responder melhor, consegue andar? Precisa de ajuda?

— Acho que consigo.

Agnes colocou os pés no chão e notou que estava com outra roupa, uma melhor do que suas condições financeiras permitiam. Ainda sentindo os membros dormentes, ela arriscou um passo e mais outro, testando a estabilidade das pernas.

E ao contrário do que pensava, Agnes se sentia mais forte a cada passo dado.

— Vamos até o Lorde? — o corvo questionou, pousando no ombro da garota — Ele pode explicar melhor o que houve.

Ainda sem entender muito, Agnes ouviu a sugestão do corvo e começou a andar pelos corredores do castelo, tendo o pássaro voando baixo ao seu lado enquanto mostrava o caminho.

— Qual o seu nome?

— Jessamy, senhorita.

— É você que me acompanha quando eu andava pela floresta, não era?

— Sim, era eu.

— Jessamy, onde estamos? Tudo o que me lembro é da água e depois, eu apaguei.

O corvo agitou as asas, um pouco animada.

— Ora, estamos no Sonhar.

— Sonhar? Então eu estou sonhando?

A pergunta de Agnes ficou no ar enquanto ela seguia o corvo. Ela não sentia que estava em um sonho, pelo contrário, parecia que estava muito bem acordada.

Ainda seguindo o pássaro, a Howe notou que estava no meio de uma grande sala e com vitrais enormes atrás de um trono, que tinha acesso pelas escadas.

— Espera… eu conheço este lugar. 

— É claro que conhece.

Virando-se, Agnes pode notar o Lorde dos Sonhos caminhando até ela após entrar na sala por outra porta, com o seu casaco esvoaçando atrás de si, o que deixava a sua presença ainda mais marcante.

A jovem bruxa percebeu que o Perpétuo parecia diferente sobre sua visão, mais poderoso, e até mais intimidante do que ela achava em suas visitas enquanto dormia, talvez porque agora ela estivesse acordada, mas ainda sim, havia algo diferente.

— Você já veio aqui antes, Agnes Howe.

Trocando o peso do corpo para a outra perna, os braços da garota se cruzaram encarando o Perpétuo.

— Eu sei, mas por que estou aqui novamente?

— Pediu minha ajuda, enquanto se afogava. E eu lhe atendi.

— Atendeu? — o Perpétuo concordou — De bom grado?

— Eu cuido das minhas responsabilidades, e você é uma delas, desde o ritual de sua mãe.

O ritual. As mãos de Agnes foram até o pescoço e não encontrou o colar, talvez tivesse perdido ele no rio ou em outro lugar no reino, procuraria-o mais tarde.

— E o que aconteceu com: "você é a criatura mágica mais irritante e caótica que tive o desgosto de cruzar em minha existência."? — ela questionou — O senhor me disse isso, da última vez em que estive aqui, tanto que, eu nunca mais consegui voltar.

— Eu nunca impedi sua presença aqui, se fez isso, foi por conta própria. 

— Não, com toda a certeza foi o senhor que barrou minha entrada. Quem mais teria tal poder, de controlar quem entra e quem sai daqui?

Morpheus absorveu a pergunta e notando que era algo que ele de fato deveria investigar, mas deixou aquilo para um outro momento.

— Não é por isso que está aqui, podemos ir até a biblioteca? As respostas para algumas de suas questões, estão lá.

Agnes olhou para Jessamy, que estava no ombro de Morpheus, como se pedisse uma opinião para o corvo. E quando o animal concordou, a bruxa olhou para o Perpétuo.

— Espero que este "algumas" sejam boa parte das perguntas, Milorde.

•─⊱🦋⊰─•

A biblioteca do palácio de Morpheus era uma das mais completas que existiam, sendo a fonte para conhecimentos de eras e mais eras, desde o início dos tempos até além do final.

Seguindo o Perpétuo, Agnes observava o local com os olhos brilhantes e sentindo que deveria conhecer mais cada livro, cada página nas intermináveis prateleiras.

Até que viu uma mulher olhando um livro aberto sobre a mesa.

— Lucienne! 

Agnes saiu de trás das costas de Morpheus e abriu um sorriso ao avistar a bibliotecária. Em alguns sonhos, quando o dono do Sonhar não estava por perto, e Agnes estava em sua forma felina, era Lucienne que deixava a garota andar e conhecer o local, antes de acordar após deitar em cima de um dos livros.

— Senhorita Agnes, como é bom vê-la bem.

— Ótimo lhe ver também, e sem o senhorita, sou apenas Agnes.

— Lucienne, peço que depois que voltarmos, mostre tudo para Agnes que possa ajudá-la.

— Claro, Milorde.

A Howe olhou para o Perpétuo desconfiada.

— Estamos indo a algum lugar que não sei, ou deveria saber anteriormente?

Lucienne apenas deixou os dois conversarem, decidindo que o assunto deveria ser tratado apenas entre ambos.

— Estamos indo a uma reunião, com outros Perpétuos — Morpheus explicou.

— E o que eu faria em uma reunião com a sua família?

Morpheus sabia que quando se tratava de Agnes, as emoções que vinham da bruxa não eram calmas ou previsíveis, como as de suas ancestrais eram.

Agnes Howe era um enigma que nem mesmo ele sabia decifrar.

— Porque é hora de encarar o seu destino, agora que é uma imortal.

Os olhos da garota se arregalaram com a notícia que saiu da boca do Lorde dos Sonhos.

— Eu sou o que?

•─⊱🦋⊰─•

Notas da autora: Hey pessoal, como estão?

Agnes agora é imortal! Explicações virão a seguir, não se preocupem, mas até lá vamos ficar com o sustinho dela.

A roupa que ela está usando no Sonhar é está:

Como estou pesquisando bastante os looks para compor a essência da personagem dela, irei destacar alguns aqui, ok?

Me digam o que estão achando, amo ler os comentários, quero saber de tudo!

Até o próximo! ✨🦋

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