C A P I T U L O 0 5

Agora meu coração parece uma brasa
E está iluminando a escuridão
Eu vou carregar essas tochas para você
Para que você saiba que eu nunca vou deixar que caiam, sim

Memories - Maroon 5

Encaro a cabana de madeira mal acabada. Do lado de fora, o local sequer parece habitado.

O casebre, no meio do nada é cercado por árvores por todos os lados, de forma que parece mais uma casa abandonada do que qualquer coisa. Mas, ainda assim, de alguma forma, eu simplesmente sei que Nikkolai está la dentro.

Suspiro enquanto me embrenho mais entre as árvores que cercam o lugar, tento ser cuidadoso, mas o terreno desigual coberto de folhas secas e galhos caídos acaba dificultando qualquer tentativa de ser silencioso.

Não é à toa que ele mora num lugar tão inóspito assim, não se ele é um fugitivo, não se está trabalhando contra o exército russo. Me pergunto o que se passa na cabeça dele, para trair seu país assim.

Respiro fundo, e quase deixo um palavrão escapar dos meus lábios, mas não é o momento para isso. 

Subo os degraus que compõem a soleira da porta, e as tábuas rangem sob meu peso. Meus dedos correm até a maçaneta e não preciso de muito para abri-la, uma vez que sequer estava trancada. Quase soa como um convite, quase soa como se ele estivesse me esperando.

Abro a porta e me deparo com meu irmão, sentado confortavelmente em um sofá precário, levando uma xícara de chá aos seus lábios. Ele nem ao menos olha em minha direção.

— Estava me perguntando quanto tempo levaria até o grande fantasma russo me achar. — Ele diz, sem nenhuma emoção na voz.

— Se está me esperando, sabe por que estou aqui.

— Estou te esperando desde o dia em que soube que entrou para o exército, eu sempre soube que aqueles bastardos o usariam contra mim em algum momento… Eles sabem que eu nunca mataria você.

Seus olhos me encaram. Não parece ser meu irmão ali, olhando para mim.

Não parece ser a pessoa com quem cresci, que me ensinou a andar de bicicleta e que riu quando eu caí pela primeira vez.

O homem a minha frente não parece o adolescente que segurou minhas mãos e prometeu cuidar de mim no velório dos nossos pais. E que realmente fez isso pelo tempo que pôde, indo contra tudo e todos, sendo muitas vezes mais que um irmão para mim, sendo mais que a única família que eu tinha.

O homem na minha frente parece um ser humano frio, alguém que passou por mais coisas do que a vida deveria ter o poder de ofertar. Talvez, o homem na minha frente pareça um espelho de mim mesmo.

Corro os dedos até o metal frio na minha cintura, os olhos do meu irmão acompanham o movimento, mas ele não demonstra nada além disso, seu peito não parece se agitar, não vejo suor correndo pela sua face, nada que demonstre o medo que todos que encararam minha arma sentiram. Nem mesmo quando aponto o revólver na sua direção.

— Você não precisa fazer isso — diz ele com calma — sequer sabe o motivo de estar aqui?

— Meu trabalho não é fazer perguntas — digo num tom mais agressivo do que eu gostaria.

— Claro que não… eles o treinaram muito bem. Você nunca faz perguntas, nunca tem dúvidas, não desconfia de nada. Eles o treinaram por muito tempo para que lutasse contra mim, não iam cometer um erro desses, não após perder tantos homens para isso.

— Não vai conseguir me desestabilizar Nikkolai. Você não é meu irmão, você é um inimigo do meu país. Você é meu inimigo — digo enquanto destravo a arma em minhas mãos.

— Seu inimigo? Você ao menos sabe o motivo de eu ser o seu inimigo? Ou apenas segue a onda que aquele filho da puta te coloca? Também atiraria na própria cabeça se aquele cuzão de merda pedisse por isso?

— Pare de achar que sabe de alguma coisa — o som preenche o ambiente, primeiro o tiro, logo em sequência o vidro de sua caneca se espatifando — você não sabe de merda nenhuma.

— Mark também não sabia? — Ele diz, ainda de forma inabalável.

Sinto meus dedos tremulando quando ouço o nome saindo de seus lábios.

— Do que está falando?

— Ele não sabia que eramos irmãos, mas eu sabia quem era você. Foi tudo combinado sabia? O ataque, a morte, tudo…

— Você está louco se acha que vou cair em una conversa dessa. Mark morreu. Por um ataque inimigo — digo entre dentes.

— Que inimigo entraria em um acampamento do exército assim Andrei? Eram seus homens, tão russos quanto você. Ordenados a tirar a vida do traidorzinho que dividia o quarto com você e te ensinar uma lição no caminho. Foi tudo combinado.

A arma treme em meus dedos, mas sou incapaz de acreditar em qualquer coisa que ele diga. 

— Pare de mentir para mim! — Grito e afundo o dedo no gatilho.

O próximo segundo parece demorar horas para passar. Toda a minha vida passa por minha cabeça enquanto a bala faz sua trajetória até o peito do meu irmão. O sangue espalha e ele cai com o impacto, se engasgando e tossindo vermelho quando tenta falar. Apenas nesse momento eu me pergunto, se é tudo mentira, como ele sequer sabia o nome do Mark?

— Em… baixo da cama… tem uma… tábua solta… vai achar… as respostas… lá… — ele diz num último esforço enquanto sua vida se esvai — eu te… amo… Andrei… todas às vezes, que me encontraram… foi por quê… eu tentei… contatar… você…

Os olhos de Nikkolai perdem todo o brilho da vida enquanto meu peito parece pesar, como num piloto automático sigo até o quarto. Tudo parece organizado demais, como se sequer tivesse sido utilizado.

Encaro a cama arrumada por alguns segundos antes de arrastá-la pelo piso de madeira. Me curvo sobre o chão e tento com todo o cuidado e atenção encontrar a madeira solta, demora um tempo até que eu consiga.

Afasto a tábua cuidadosamente, encontrando por baixo dela uma caixa de madeira escura no piso falso. Eu a retiro, cubro novamente o piso e abro a caixa, dentro, uma infinidade de papéis.

Encaro as folhas com cuidado, metade delas são cartas, a outra metade fórmulas complicadas que eu não consigo entender, mas imagino ser algo importante em que meu irmão trabalhava, provavelmente algo que poderia mudar o destino do mundo, não duvido disso, já que ele era um ótimo físico. Deixo as anotações difíceis de lado por um momento, e pego as cartas. No momento em que meus olhos encaram o papel, no entanto, meu mundo parece vir completamente a baixo.

Posso reconhecer facilmente a letra do Mark, já que o vi escrevendo por diversas vezes para sua… prima. Me lembro das muitas vezes que eu o vi escrevendo debruçado sobre uma folha de papel, me pergunto quantas daquelas cartas eram para o meu irmão ao invés de quem eu imaginava.

Encaro a carta e começo a leitura da primeira, com os dedos que agarram a folha tremulando levemente.

Caro N.

Estar aqui é pior do que eu imaginava, o cheiro da morte parece ter impregnado no meu ser de uma forma que nem toda água do mundo pode retirar. Eu me sinto sozinho, como se carregasse um peso que ninguém aqui conhece.

Até agora ninguém falou nada sobre mim, estou me esforçando para fazer o melhor e chamar atenção de uma forma positiva, porém… ter que matar tantas pessoas ainda é algo difícil, é como uma mancha nas minhas mãos que nem todo o sabão do mundo poderia lavar. Saber que sou o culpado de tanta desgraça está acabando comigo, mesmo que seja por um bem maior.

Vou precisar de terapia se sair vivo disso.

Abraço, M.

No final da carta alguns números e letras soltas que imagino ser algum tipo de código que eu não conheço. Dou uma folheada rápida e percebo que a maioria tem letras e números também. Não posso sequer fingir que não sei que Mark era um traidor.

Deixo a carta de lado e pego o próximo papel, como se tratam de cartas não tenho as respostas então posso apenas supor o que meu irmão teria respondido.

Caro N.

Tenho um novo colega, seu nome é Andrei, ele é um paspalho arrogante demais para alguém tão jovem. Ele é o único soldado aqui com o cabelo comprido… às vezes me pergunto se a cabeleira não o atrapalha, Andrei também é um ótimo atirador, melhor que eu. Estou tentando entender os motivos de terem juntado nós dois, te conto assim que eu tiver mais informações.

Hoje precisei falar com o general, o homem me olhou nos olhos e mentiu para mim de uma forma assustadora. Ele é como uma fera, observando tudo. Tenho medo de escrever algo explicito demais e o novato me dedurar, ele não confia em mim e sinto que também não posso confiar nele, pelo menos por enquanto vou tomar um pouco mais de cuidado.

Abraço, M.

Se em algum momento tive dúvidas sobre a veracidade dessas cartas, elas acabaram de morrer. Ler sobre mim é estranho, mas não me deixa dúvidas, é sobre mim que Mark está falando. Seguro minha respiração para evitar a lágrima que tenta escapar e pego a próxima carta.

Caro N.

Está tudo indo de mal a pior, os exércitos russos estão com muita vantagem e para ajudar uma fonte me informou que descobriram a localização de um inimigo importante, segundo minha fonte ele teria mandado uma carta para o irmão soldado e a carta foi interceptada. Imagino que não seja você, já que nunca me falou de um irmão, mas, me deixe saber se está tudo bem.

Está difícil conseguir informações de qualidade nos últimos dias, parece que tudo está prestes a ruir, mas não posso deixar que isso me abale, tantas vidas dependem de mim que posso apenas me esforçar para não estragar tudo.

O general me chamou mais algumas vezes, sinto que ele está fechando o cerco cada vez mais sobre mim. Não sei se ele já sabe de algo, mas parece cada vez mais próximo de descobrir. Se eu for pego, proteja minha família, por favor.

M.

Caro N.

Me sinto perdido, o novo soldado… tem assombrado meus sonhos. Ele é uma boa pessoa, mas é ingênuo. Tenho medo de me aproximar dele, não tenho muitas boas escolhas…  

Parece que a qualquer momento ele pode descobrir tudo e ele é tão… eu não quero que ele descubra. 

Estou te mandando as gravações que consegui. Tome cuidado, por favor. 

Abraço, M.

Como só encontrei papéis, imagino que o que quer que seja o trabalho que Mark fazia para o inimigo, deve ter sido repassado para outras pessoas. 

Respiro findo antes de continuar, dói ler as palavras de Mark, principalmente quando ele fala de mim, mas preciso continuar, preciso saber a verdade.

Caro N.

Fiz o que sugeriu, estou mais próximo do soldado. Não sei se foi uma boa coisa, mas está feito de qualquer jeito. Ele é a única coisa próxima que tenho e me sinto cada vez mais apegado… Se um dia eu precisar matá-lo, não sei se conseguiria fazer.

Estou mandando mais material.

M.

Caro N.

Não mostre essa carta a ninguém, não estou falando sobre nada relevante para o exército nela, apenas coisas pessoais que não tenho ninguém mais para dizer, e sinto muito, mas você é única pessoa que eu me comunico nos últimos tempos e de certo modo… quase como um amigo para mim.

Acho que estou apaixonado pelo soldado novo, meu coração bate tão rápido quando estou com ele… sinto vontade de tocar nele e... não quero que isso termine mal. Não quero ser o responsável por nada de ruim para ele N. estou completamente perdido, pois não tem nenhuma chance disso tudo acabar bem, tem?

Eu disse a ele que tenho uma namorada, mas ele não se importa. Ele não retribui meus sentimentos de qualquer forma, então acho que tudo ainda está a salvo, ao menos por enquanto. Também tenho medo de que ele descubra que sou um infiltrado, mas não por mim e sim por ele… ele é bom demais para morrer por minha causa. Não posso permitir que ele seja pego no fogo cruzado, isso acabaria comigo.

M.

Uma lágrima pinga no papel, e logo é seguida por outra e outra, essa é uma das únicas cartas que não possui nenhum tipo de código no final. Me sinto desmoronar, como se tudo que estava preso em mim tivesse fugido totalmente do meu controle. Minhas mãos tremulam e quase derrubam a próxima carta.

Caro N.

Hoje vi o Andrei chorando no banho, pela primeira vez ele pareceu… igual a mim… acabei falando com ele sobre a guerra, o que eu realmente acho… ele pareceu… não sei, ele pareceu entender mas também ficar nervoso com isso. Seria tudo mais fácil se eu pudesse apenas conversar com ele. Eu quase o beijei hoje… e o seu corpo… provoca coisas em mim… estou ficando maluco.

O general não me procurou mais, ele também não chegou perto do Andrei como você achou que ele faria. 

Abraço M.

Não consigo continuar. Levo minha mão ao peito e aperto, tentando de qualquer modo que seja apaziguar um pouco da dor que me aflige… mal consigo respirar, meu rosto está banhado de lágrimas e é difícil até mesmo enxergar entre elas.

Faço uma pausa, respirando fundo… tentado a ignorar todas as outras cartas, era difícil ler as palavras do Mark, era difícil ler seus sentimentos, ainda mais agora que tudo acabou assim. Tento me recompor e após algum tempo pego a próxima carta.

Caro N.

O natal está chegando e apesar do clima bom e de parecer tudo tranquilo… sinto que parece tranquilo demais. Sinto que algo está prestes a acontecer e eu não sei o que fazer. Alguns dias eu tremo, pensando na morte que parece cada vez mais próxima de mim. Eu não deveria temer a morte, não aqui, mas é inevitável… eu ainda tenho tanta coisa para viver e fazer…

Hoje sai para comprar um presente para o Andrei, comprei um relógio para ele. Ele sempre fica triste nessas datas e isso me deixa um pouco triste também, o irmão dele não parece se importar com ele… e por mais que ele diga que não liga, no fundo, eu sei que ele se importa, sim, com essas coisas. Sei que ele espera tanto quanto qualquer um que chegue uma carta do irmão, ao menos dizendo que está vivo e bem. 

Não sei se comprei o relógio para suprir um pouco disso… ou apenas porque gosto tanto dele que queria impressioná-lo… talvez um pouco de ambos, mas o importante é que vi alguém do alto escalão quando estava voltando e... foi estranho… ele apertou os lábios ao me ver e fez uma expressão que não era boa… talvez eu precise passar um tempo sem escrever.

Abraços, M.

Leio as outras cartas, com o coração cada vez mais pesado. Sinto a agonia se inflamar dentro de mim, a cada trecho, a cada palavra. A cada letra. Tudo o que parecia adormecido em mim acordou, com força total e eu me sinto… caindo num abismo sem fim.

Termino de ler tudo, até chegar na penúltima carta, sequer sei se tenho forças para mais uma.

A carta de Mark, era simples e quase parecia um bilhete ao invés de uma carta, apenas uma frase, sequer havia uma saudação “Tome cuidado e fique esperto. Me descobriram” em seguida olho para a carta seguinte, e percebo rapidamente que ela era escrita por uma pessoa diferente.

Caro agente M.

Tudo aconteceu mais rápido do que imaginávamos. O cerco fechou, a essa altura já deve saber: Mark foi morto.

Estou te mandando isso para que se apresse, não temos mais tempo e você tem o destino do mundo em suas mãos. A bomba que está criando vai mudar o futuro do mundo inteiro, os russos mataram os próprios homens para colocar as mãos nas suas anotações. Você tinha razão sobre Romanov.

Ele “autorizou” — se é que podemos chamar assim — homens que foram sentenciados por pequenas infrações a vestir como o exército inimigo e invadir o próprio acampamento. Até onde sei, ele ameaçou as famílias dos homens para isso.

Foi uma chacina, Mark morreu como era o esperado e seu irmão também foi atingido, como você esperava. Espero que consiga dar um jeito nessa bagunça Nikkolai. Detesto colocar esse peso em seus ombros, mas, tudo depende de você. 

A carta que não tinha uma assinatura cai no chão e eu me afasto dela. Nikkolai… tinha razão, eles mataram Mark… eles mataram todo mundo apenas para matar o Mark e me fazer… seguir suas ordens.

Me sinto mais usado do que nunca, uma ferida viva crescendo cada vez mais em meu peito. Não consigo esperar, nada pode me parar nesse momento. 

Junto todos os documentos, as cartas e os papéis que o exército tanto quer e guardo comigo. 

Sigo o caminho pelas árvores o mais rápido que posso até chegar no carro. Afundo o pé no acelerador e guio o carro até a residência do general, sei que ele vai me receber, independente do horário, pois tenho o que ele tanto quer, o que ele me usou de tal maneira para conseguir.

Dirijo tão rápido que estou sem fôlego quando chego ao local, a casa bonita e bem acabada do homem maldito que destruiu a vida de todos que amei é em tons claros com uma decoração moderna que deve ter custado muito do dinheiro que ele ganhou as custas da vida de muitas pessoas.

Pego o telefone e disco seu número, ainda dentro do carro, após o terceiro toque posso ouvir sua voz do outro lado da linha, num cumprimento simples, o ódio me sobe apenas por ouvir o tom de voz do homem maldito, então pressiono com força os dedos na minha perna, não posso estragar tudo agora. Não posso estragar tudo mais uma vez.

— Consegui o que o senhor pediu general — digo o mais calmamente que consigo, ainda assim posso ouvir o frio cortante por trás de cada sílaba. — Estou aqui na sua porta para entregar os documentos, voltei o mais rápido que pude.

— Você voltou mais rápido do que eu esperava. Parabéns, sempre soube que você era um ótimo soldado. Entre Andrei.

Seguro os papéis em minha mão, tentando evitar que meus dedos tremam ou apertem os pepeis com força demais. Saio do carro e caminho em direção à porta ampla que adorna a entrada de sua casa. Logo o homem abre a porta, usando roupa social, como sempre ele me encara por um segundo, observa os papeis em minhas mãos e abre o mesmo sorriso que vi em seus lábios da primeira vez.

— Você é realmente um ótimo soldado Pasternak. Nunca deveria ter sequer duvidado de sua capacidade…

Antes que ele possa sequer respirar encosto minha arma em sua testa.

— Por que você fez isso comigo? 

— Eu não fiz nada com você — ele diz e estala a língua, como se eu estivesse falando bobagem.

— Você me fez matar meu irmão… você… matou o Mark.

— Você decidiu sozinho matar o Nikkolai, não estava ao seu lado. Ninguém estava te obrigando a puxar o gatilho, Pasternak. Foi sua escolha, única e exclusivamente sua. Quanto ao Ivanov… ele teve sorte de ser útil, deveria ter morrido como um maldito traidorzinho, e não como um mártir… queria eu mesmo ter matado aquele demônio com…

POW

O som se espalha pelo ambiente, o corpo, agora sem vida do general cai em minha frente manchando o piso laminado branco com seu sangue e seus miolos. 

Aponto mais uma vez a arma para ele e dou mais três tiros. Antes de virar as costas e sair. Com os papéis ainda em minhas mãos, os olhos frios e o rosto manchado com as lágrimas que sou fraco demais para segurar. 

O corpo carbonizado encontrado numa área florestal parece pertencer a Andrei Pasternak. Pasternak foi acusado por diversos assassinatos até meados de 2018 e desde então encontrava-se desaparecido. O governo russo soltou uma nota afirmando que enfim todas as vítimas da crueldade do homem poderão descansar em paz. O exército russo celebrou a situação com uma homenagem à última vítima do homem conhecido como o fantasma russo, o general do exército Gustav Romanov, que faleceu com 4 tiros em sua própria residência. Andrei…”

Desligo a televisão com um suspiro, tudo parece estar finalmente se encaminhando, mas tenho certeza que isso ainda não acabou. 

Depois da morte do general virei um assassino procurado de todos os lados, fiz o que pude para fugir… até chegar ao momento em que precisei de ajuda. Não foi fácil é claro, nenhuma ajuda vem fácil, mesmo quando descobriram que eu era irmão do Nikkolai, todos ainda suspeitaram muito de mim. Não os culpo, é claro, não quando fui o grande responsável pela morte do meu próprio irmão. 

Fui testado de diversas formas e fiz tudo o que pude até ganhar a confiança das pessoas para quem Nikkolai trabalhava. Até que, de algum modo, consegui que eles confiassem em mim a ponto de me matar — ou pelo menos fingir que haviam me matado — para eles foi fácil fabricar uma morte, quase todo mundo tem um preço e um cadáver é apenas isso, um cadáver. Um pouco de dinheiro nas mãos das pessoas certas e tudo muda, quando o corpo morto deixa de ser apenas um indigente qualquer e se torna eu.

Depois disso foi apenas preciso mudar de identidade e de país outra vez, para ter uma vida quase normal.

Coloco algumas camadas extras de casaco e me preparo para sair, o frio sempre me incomodou, mas parece especialmente incomodo no dia de hoje. Pego minha mochila, dou uma olhada no relógio preso ao meu pulso, ganhado há muito tempo atrás, sinto meu peito disparar quando me forço a lembrar, os motivos que me fazem estar aqui, só então sigo rumo ao campus da faculdade.

Física, quem diria que eu seguiria os mesmos rumos do irmão que eu mesmo matei, quem diria que eu o faria pelos mesmos motivos que ele, esperando não ter o mesmo fim que ele. Não enquanto eu não pagar por cada um dos meus pecados. A morte não me assusta, porém, não quero deixar de cumprir meus objetivos. Preciso disso.

Caminho até chegar a faculdade e olho para o grande prédio bonito de sua própria maneira. Um ruído perto de mim me faz dar uma olhada rápida, uma olhada de um fugitivo, treinado para olhar a cada pequeno barulho, obrigado a perceber tudo a sua volta — felizmente se trata apenas de um pequeno esquilo. Chacoalho a cabeça para retirar os pensamentos ruins, mas não consigo voltar totalmente minha atenção. E é essa falta de atenção que me faz cometer o erro de esbarrar em alguém, em um homem.

— Me desculpe, eu estava distraído — digo apressado, no meu inglês carregado com sotaque russo.

Ergo os olhos, e encaro o homem magro na minha frente, poucos centímetros mais baixo que eu.

Meu coração ameaça sair pela boca quando encaro seus olhos… os mesmos olhos que me acompanham em meus sonhos todas as noites. 

Dou uma segunda olhada para o rapaz, e posso ver várias semelhanças entre eles. Mal consigo tirar meus olhos dele, ele é como um reflexo da pessoa que conheci, nunca vi ninguém tão parecido com ele antes, mesmo que haja algumas diferenças claras, como a altura e o formato do rosto… ele se parece demais…

— Não se preocupe com isso. — Ele dá um meio sorriso, contido, sua voz também tem um pouco de sotaque, ainda que diferente do meu — Sou Kristoffer Brevik, qual o seu nome?

— Mark, meu nome é Mark — respondo olhando para ele.

Quero em primeiro lugar perguntar o que acharam do capítulo? Esse é o último capítulo oficialmente, porém teremos um Epílogo.

Sobre o Epílogo, estava muito dividida entre escrever ou não. Acho que terminar desse jeito meio em aberto combinaria com a história, porém meu lado qie necessita de um final feliz chora com finais abertos, então optei pelo Epílogo....

No entanto... ele não foi escrito por mim, então deem muito amor para minha amiga qie escreveu o Epílogo para nós.

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