Epílogo
Nas semanas seguintes, muito se discutiu na Arcádia o que aconteceu naquele dia. As pessoas que compareceram à execução tinham a mesma lembrança: num instante, Apolônio descia a espada contra o pescoço de Têmis, sob protestos dos arcadianos; no outro, não havia mais Apolônio, e a lâmina jazia ao chão. Era como se o herói, não resistindo ao clamor popular, tivesse no derradeiro momento resolvido deixá-los. Os soldados e carrascos, atônitos com a evaporação de seu líder, nada fizeram para impedir o pastorzinho de libertar Têmis, nem a população de fazer o mesmo com o restante dos prisioneiros.
A princípio, parte do povo – incluindo os rebeldes quase mortos – voltou-se contra os patrulheiros que tinham permanecido fiéis a Apolônio. Aprisionaram-nos e clamaram por suas cabeças. Mas, num Conselho presidido por Têmis, em que se fez presentes representantes de todos os arcadianos, ficou decidido que seria concedido perdão aos que se arrependessem; e, aos que insistissem nas ideias de Apolônio, restaria o autoexílio.
– Não nos esqueçamos o que afugentou Apolônio – disse Têmis, no discurso em que advogou essa solução: – Foi nossa recusa em tornar a morte um espetáculo, em tirar tão facilmente a vida de nossos irmãos! Se nos mantivermos assim, regimes como o dele nunca mais voltarão.
Os arcadianos concordaram efusivamente.
Poucos foram os soldados que escolheram o exílio; sem seu líder, para lhes suprir convicção, a dureza de seus corações se abalou, e preferiram se reintegrar à sociedade a abandoná-la.
Com a Arcádia sem rei, Têmis se tornou a figura central do governo. Em vez de proclamar-se rainha, contudo, instituiu uma assembleia com representantes do povo. Estabeleceu-se, assim, que todas as decisões do governo passariam pelo crivo da assembleia, não havendo mais concentração de poder na mão de uma única figura.
Quanto a Milo, nenhum nome foi mais pronunciado na Arcádia, por aquela época, do que o do jovem pastor. Comentavam, com admiração, a postura que ele tivera durante a execução, atribuindo às suas ideias e à sua influência a derrocada de Apolônio. Talvez por isso, as pessoas tentavam agora se lembrar de tudo que ele alguma vez lhes dissera, seja particularmente, seja nas rodinhas das praças e das esquinas. Eram palavras de valor, que tinham orgulho em passar para frente.
Ora, cerca de um mês após estes ocorridos, Milo anunciou que precisava partir, por ter parentes longe da Arcádia para os quais devia voltar. A notícia pegou muitos de surpresa, pois tinham a impressão de que Milo sempre vivera entre eles, sem raízes fora da província. Mas, no fim, louvaram o rapaz por cumprir seus deveres familiares e o despediram com abraços.
E foi assim que Milo deixou a Arcádia.
Apolo voltou ao Olimpo, depois de quase um ano na Terra, com o coração transbordando de esperança. Estava ansioso para dialogar com os outros deuses, apontar a transformação que acabara de conquistar na Arcádia, ver se os olimpianos estavam instigados a fazer o mesmo.
Ele provara que é possível ser uma boa inspiração. Bastava aos deuses desejarem.
E era crucial que desejassem. Pois Apolo soube, em seu íntimo, que a subsistência daquela Era dependeria disso.
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É isso, pessoal!
Muito obrigado pela leitura!
Abraços!
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