𝗖𝗮𝗽𝗶́𝘁𝘂𝗹𝗼 𝗜𝗫 - 𝖮 𝖢𝖺𝗌𝗍𝖾𝗅𝗈 𝖽𝖾 𝖢𝗋𝗂𝗌𝗍𝖺𝗅
Eveline apertava com firmeza as plumas de Aurora. Ela preferia evitar utilizá-la como meio de transporte, pois a altitude não lhe agradava muito. Mas, para sua alegria, algo chamou sua atenção, desviando seu pensamento do voo.
O castelo era extraordinariamente belo. Completamente composto por cristais opacos, destacava-se entre as montanhas. Era surpreendente que ninguém tivesse ficado cego ao se aproximar já que seu brilho ofuscante. Eveline mantinha seu olhar fixo nele.
Os grifos pousaram numa espécie de salão. Muitas pessoas esperavam por aqueles dois, o que deixou a garota sem reação, querendo esconder-se nas penas do animal que agarrava.
Leander, novamente, foi o primeiro a desmontar e se aproximar de Eveline para ajudá-la a descer, quando todos se silenciaram.
Um jovem entrou no salão. Seus cabelos eram loiros-escuros, seus olhos eram belos castanhos e sua boca fina, mas bem desenhada.
Os orbes chocolates analisaram Eveline. Avaliaram-na como uma obra de artes feita pelo melhor pintor de todos os tempos. Eles piscaram, e a boca tornou-se um sorriso estonteantemente charmoso.
Ouviu-se suspiros por todo o salão.
— Tão bela como anos atrás... — Murmurou, o jovem. — Então, é você, a violinista que todos falam?
Eveline olhou Leander atônita.
O jovem estava á apenas alguns passos dos dois.
— Exatamente. — Leander se posicionou na frente da garota — O nome dela é Eveline.
— Oh, Eveline... — Seu dedo indicador roçou os próprios lábios. — Tão parecido com Nathaline — Ele olhou para a paisagem atrás deles — E vocês tem a mesma aparência.
— Afinal de contas, quem é essa Nathaline? — a garota empurrou Leander para enfrentar o jovem — você é a segunda pessoa que me diz isso!
— Nathaline? Você não sabe? — Ele inclinou a cabeça, sereno — Ela foi...
— Alguém que morreu a muito tempo atrás para precisarmos recordar. — Leander estava aparentemente irritado.
— Por que o nervosismo, Leander? — O jovem sorriu de forma divertida — Até parece que não se acostumou com a morte dela.
— Cala a boca, Harmonarcas! — Leander deu um passo à frente antes de Eveline segura seu pulso.
— Você é o Harmonarcas? — Questionou ela.
O jovem desviou o olhar do homem para encarar a garota, e o olhava em dúvida e receio. Ela sentiu seu rosto esquentar, nunca viu alguém tão bonito a encará-la por tanto tempo assim, a não ser o Leander.
— Sinto que a impressionei, Eveline.
— Esperava que fosse mais velho.
Harmonarcas gargalhou, sendo seguido de algumas poucas risadas do público.
— Pois bem, minha cara, eu sou muitíssimo mais velho do que aparento— Ele se aproximou — Mas isso não é sobre mim, mas sim sobre você — Ele girou olhando todo o salão — Curta essa festa, seu amigo parece não gostar de mim, então, mais tarde, lhe mostrarei o que precisa saber sobre sua Missão — ele piscou e andou entre as pessoas que abriam caminho para ele passar.
Eveline estava perdida em meio a tanta informação e olhares. Nem mesmo percebeu quando toda a festança voltou ao normal com músicas e conversas se sobrepondo.
Leander pegou em sua mão tentando a tranquilizar.
— Já passou.
— O que passou? — Ela o olhou — Minhas dúvidas que não foram.
— Line...
— Pare de me chamar assim, você não tem intimidade comigo!
Eveline se infiltrou na multidão, que mal percebeu sua presença.
Ela se sentia burra, todos estavam escondendo muitas coisas. Não era Eveline a violinista que salvaria o mundo? Então, por que a tratavam como uma ajudante que não precisa saber de tudo?
Ela se sentou numa mesa vazia. Era redonda com um pano verde-água a cobrindo, um vaso era disposto no centro e, assim que Eveline se apoiou na mesa, algumas comidas apareceram. Bufando, pegou dois bolinhos de lua e mordeu.
— Pelas asas do cupido, Bob, isso aconteceu semana passada, dá para me deixar em paz! — Uma moça de asas escuras se aproximava marchando em direção a mesa de Eveline.
Com a boca cheia ela apenas observou a situação em silêncio, tentando relaxar um pouco a sua raiva.
— Já faz uma semana? — Um garoto surgiu atrás da moça.
Ele vestia uma roupa quadriculada com as cores dourada e verde-esmeralda, usava um chapéu esquisito, com uma ave de cristal no topo. Eveline o seguiu com os olhos.
— ...para mim, parece que foi ontem! — Sua risada era escandalosa — A lava quase derreteu a fonte preferida do rei, tem noção, Freya?
— Tanta noção que fiquei de organizar esse salão sozinha! — Ela cruzou os braços se sentando a mesa de Eveline, que ainda observava tudo.
— A cara do Harmo, foi hilária! — O garoto olhou para Eveline, notando-a pela primeira vez. — Loirinha, você tinha que ver, o belo rosto do homem ficou tão vermelho quanto o rubi do Sóis Ardentes, os olhos esbugalharam como um sapo sendo esmagado...
— Bob! Cale a boca, o rei pode estar por aqui! — A moça olhou para Eveline — Desculpe o Bob, ele é sem noção. A propósito, chamo-me Freya...
— A desajeitada! — Novamente Bob caiu na risada.
Foi o suficiente para a delicada, mas atlética, Freya, dar um tapa na nuca do jovem. Ela respirou fundo desviando o olhar por um breve segundo.
— Ele é Bobo, O bobo da corte, mas pode chamá-lo de Bob, acho menos ofensivo.
— Desnecessário! Eu sou Bobo, Chame-me de Bobo! Ao contrário dessa desastrada, que quase botou fogo no palácio mês passado, eu aceito meu título de bobo da corte!
— É que seu título não é "O desastrado"!
— Ingrata, foi o próprio rei que te aceitou aqui, o mínimo é aceitar seu nome!
Um se erguia para cima do outro para tentarem amedrontar-se. Eveline se levantou.
— Acalmem-se vocês dois! — Ela vociferou, fazendo o dois aquietarem. — Todo mundo está brigando hoje, caramba!
— Vejo que conheceu Freya e Bobo — O timbre alegre de Leander surgiu atrás do grupo.
Eveline se virou para ele quase lentamente, apenas para repreendê-lo em pensamento e, por pouco, não cuspir em seu rosto.
— Você não consegue me deixar sozinha por uma hora?!
— Sabendo que você não está em Ithelwood? Óbvio que não.
— Ithelwood? Onde fica isso? — Freya encarou Leander com a curiosidade brilhando nos olhos.
Bobo colocou as mãos nos bolsos, como se procurasse algo, e olhou para Freya sério.
— Aqui!
Todos o encararam, Leander parecia abismado.
— Que não é! — Novamente sua risada preencheu o salão barulhento.
O trio bufou irritado com o jeito infantil de Bobo, mas sem demora as garotas olharam para Leander.
— Sr. Alaric, onde fica Ithel...
— Um lugar longe demais para saber, — Interrompeu-a. — Muito além dos mares de Luminova!
— Ah, ela é a mulher que você disse que viria para salvar Arkan do Despedaçador?
Eveline estava de cenho franzido e uma feição nada feliz, mas todos estavam mais concentrados em Leander, no que nela, para notar. No entanto, o próprio homem não deixou de prestar atenção em seu semblante.
— Exatamente... — O olhar parou em um ponto atrás dos três.
— O que aconteceu, Caroline? — Bobo, inclinou a cabeça e Freya prestou atenção na moça — Ih, foi essa cara que o Harmo fez naquele dia, Freya corre, acho que você derreteu a fonte favorita dela...
— Eveline, meu nome é Eveline — ela deu um passo para trás — Acho que não fiz uma boa digestão do café da manhã... Freya poderia me acompanhar?
A de asas olhou-a assustada, mas Bobo não riu, ele ajoelhou na frente de Eveline e juntou as mãos.
— Oh, Milady, não sei o que Freya fez, mas não a mate! — Havia lagrimas em seus olhos — Ela é muito desastrada para morrer, provavelmente vai pegar o barco errado e vai acabar indo para a boa eternidade!
Freya o olhou com descrença, e cruzou os braços. Eveline desentendida encarou Leander que segurava o sorriso.
— Você, por acaso, acha que tem chance de ir, seu Bobão?! — Freya gritou e virou-se — Vamos, Eveline!
A garota ainda analisava o cenho do bobo da corte quando sentiu Freya agarrar seu braço e puxá-la para longe.
— Haam, claro!
Eveline foi guiada por todo salão, até que perderam de vista a dupla de homens.
A de asas olhou Eveline e suspirou tentando acalmar-se, então riu fraco.
— Desculpe, a ceninha do Bob foi... Desnecessária.
De lábios crispados, Eveline, ajeitou a saia do vestido e depois de ver a feição triste da companheira deu batidinhas em suas mãos.
— Ele é o bobo da corte, — Começou — acredito que isso seja seu trabalho, digo, brincar com as situações sérias...
— Bob leva muito a finco isso de títulos e funções — ela suspirou — Nunca o vi em uma situação que estivesse sério ou não aborrecendo as pessoas.
Eveline tentou acalmá-la com um carinho na mão que estava em seu braço. Nunca teve que acolher ninguém em sua vida, mas Freya parecia precisar daquilo.
— E você? Realmente é desastrada ou só se faz?
— Quando o Rei impõe um título a alguém, automaticamente, toda vez que o público focar na pessoa, esse título pesará na pessoa e ela fará coisas que o nome determina, como eu que toda vez em público acabo sendo desastrada.
— Isso é horrível!
— SIM, mas o Bob não percebe! — Seus olhos fecharam — Talvez ele seja desse jeito até fora do trabalho...
Quando passaram por toda multidão, até um dos corredores vazios ao redor do salão. Freya ficou de frente para Eveline, e tentou sorrir descontraidamente.
—Mas falando do que realmente importa — Pegou as mãos da garota — Leander agiu como um assassino te observando em todos os lugares que ia, não é? Digo, antes de virem para cá.
— Ele faz isso até agora. — Sua risada pareceu mais um grunhido — Mas como você sabe?
— Digamos que a cada vinte-e-quatro anos isso acontece, o príncipe Alaric sai em busca da próxima prometida a derrotar o Despedaçador — Ela entrelaçou os próprios dedos.
— Então não sou tão especial assim afinal. — Eveline mostrou decepção em seu tom.
— Você é especial, todos são, na verdade — Freya parecia pensativa — Mas o caso é que o príncipe não é bom com as palavras e ações, você não é a primeira a ficar perdida e sabendo de tudo apenas por cima.
Ela queria rir e se jogar da sacada do salão. Por que logo ela tinha que ser essa tal escolhida? Eveline tinha absoluta certeza de que havia pessoas muito melhores que ela.
— Não sei se me tranquilizo, ou me sinto estranha.
— Não faça nada, isso é o melhor! — Freya segurou os braços dela, sorrindo — Mas então de que reino você veio? A última foi de Luminova.
— Ithelia, um reino velho...
— ITHELIA? A VELHA ITHELIA? — Seu questionamento saiu alto, então olhou ao redor — Mas como entrou aqui? Mostre-me sua marca!
— Que marca...?
— A marca... — Sua voz foi sumindo até que seus olhos arregalaram.
Talvez aquilo que deve ter acontecido com Harmonarcas. Os olhos esbugalhados.
— VOCÊ É humana? — Olhou ao redor novamente. — Alguém deve estar nos observando...
— Não deverias ser humana?
— Sabendo que todas as prometidas tinham poderes... NÃO, não deveria! — Freya cruzou os braços se concentrando na garota— Como pode ser você? Uma humana?
Sua feição era um misto de desespero e... Eveline não conseguia identificar o que mais. Ela trocou o peso de perna.
— O que a de errado nisso, céus?!
— TUDO! Como você vai lutar sem poderes? — ela segurou o rosto de Eveline — Você pelo menos toca algum instrumento? Todas tocavam algum.
— Toco violino... — Suas mãos caçaram a bolsa de braço do braço, mas tudo que acertou foi o ar.
Eveline sentiu seu interior congelar. O ar fugiu de seus pulmões no mesmo segundo.
— PELAS PROSTITUTAS DO LEÃO RUBRO! Eu a esqueci na hospedaria!
— Ah não, meu santo cupido! Vamos, temos que achá-lo, ele é a sua única arma?
— Como assim arma?
Freya bufou e pegou na mão dela.
— Só anda, Eveline!
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