MÁ NOTÍCIA

O ar quente da minha respiração já formava manchas de umidade no piso do elevador há alguns segundos, minha nuca e meu rosto doíam de um jeito insuportável. Não era assim que eu esperava ser recebido no trabalho, mas pelo menos ainda não tinha quebrado nada.

Minha cabeça latejava em um nível que nunca vi antes, o que só piorou quando tentei me sentar. Tanta coisa dando errado assim só me fez pensar se o que minha mãe falou não era verdade, talvez esse lugar fosse mesmo assombrado. Talvez.... não, não tem nada disso Alan, acorda. É só essa porcaria de elevador que é velho demais!

Todo esse assunto de empresa fantasma que escutei nos últimos dias só serviu para deixar minha ansiedade ainda pior, quando decidi checar e perguntei à minha mãe de onde tinha vindo essas histórias ela naturalmente só reproduziu o que tinha escutado antes.

- Bem... você sabe.... Todo mundo sabe das coisa que acontece lá... uns barulho estranho... luz piscando, assim, de uns jeito suspeito, sabe?! Frio sem explicação, essas coisa né.

Depois de mais de dez minutos ali dentro o único evento anormal que eu percebi acontecer foi a velocidade de crescimento do meu azar.

Parei de pensar um momento e respirei fundo. Parecia que a cada minuto surgia um problema novo, percebi que minha ansiedade já estava ficando tão preocupante que meus pés começaram a tremer dado à adrenalina de toda a situação. Por estar com o rosto virado para cima, o clarão da lâmpada projetava uma mancha vermelha sob meus olhos fechados. Com o tempo consegui enfim espantar o desespero e voltar a ser prático, conferi o animal, depois o sujeito e por fim a porta. Nesse momento algo chamou minha atenção. Ainda que eu tivesse me acalmado, meus pés continuavam tremendo, e o mais estranho disso era que o tremor não vinha de mim. Levantei o pé esquerdo a uma altura suficiente para confirmar minha teoria e constatei que havia uma vibração estranha vindo do piso do elevador, era fraca e constante. Me foquei tanto nesse novo fato, e o silêncio ambiente era tão absurdo que dei um salto de susto quando o corpo do entregador escorregou para o lado e acertou o chão.

Me aproximei dele para puxá-lo e nessa hora minha esperança renasceu quando o ouvi soltar um leve gemido, me inclinei sobre o corpo mas ao contrário do que esperava ele não tinha acordado. Mal constatei esse fato e minha atenção foi atraída para outro lugar. Minha mão que estava apoiada na parede próxima começou a gelar em uma velocidade assustadora e sem explicação, ao virar meu rosto precisei piscar três vezes antes de tomar uma atitude pois meu cérebro não conseguia processar que o membro estava literalmente entrando dentro da parede de metal, assim como acontece quando se enfia a mão dentro de um balde de água, a diferença é que era mais espesso e não grudou nos meus dedos quando puxei o braço e caí para trás.

Fiquei uns bons quinze segundos encarando minha mão tentando entender o que tinha acabado de acontecer, não estava molhada, nem suja, nem queimada, estava... intacta. Uma vibração diferente chamou minha atenção e logo levantei o rosto encarando a parede à minha frente, de onde minha mão estava se espalhou uma espécie de onda de impacto circular que correu por toda a superfície do lugar. A ação foi muito rápida e quase não deu tempo de perceber, por causa disso pensei ter imaginado o acontecido já que tudo tinha voltado ao normal e não havia indício de nada incomum por ali. Apesar de imaginar ter sido uma alucinação ser o melhor caminho naquele momento, não pude me agarrar a essa ideia, do contrário teria que admitir que estava realmente enlouquecendo se aceitasse que imaginei o que aconteceu a seguir.

O elevador vibrou subitamente, achei que fosse cair, e então... mudou... isso... MUDOU... era a palavra que consegui usar para descrever o fato de as paredes laterais terem se afastado em uma velocidade tão absurda que nem tive tempo de perceber acontecendo, foi rápido e silencioso, fiquei ali, estático, segurando o corpo do homem e sem saber como agir.

Olhei em todas as direções e tudo que dava para ver era escuridão, coloquei a mão sobre as sobrancelhas para tapar a luz e talvez ver melhor mas de nada adiantou. Um arrepio na coluna surgiu ao pensar até onde aquilo ia e o que poderia estar lá, e essa dúvida me lembrou de verificar outra coisa: onde a cobra estava. Inicialmente vi que o lugar estava vazio, então ao frisar os olhos a enxerguei indo em direção a escuridão, quase sumindo. Pelo menos estava longe de mim.

Aproveitando a oportunidade me levantei e fui tentar novamente abrir a brecha que tinha surgido, como estava emperrado e era uma construção velha acabou sendo mais complicado do que eu esperava. Um som arrastado, parecido com o dos cabos que erguem o elevador, surgiu ao longe me deixando receoso. Ainda não dava para ver nada, mas com certeza não passava uma sensação boa. O barulho se tornou mais presente com o passar dos segundos e um brilho surgiu ao fundo em meio à escuridão, e aos poucos foi ficando mais e mais forte, mais e mais definido, até que enfim pude perceber do que se tratava.

As paredes do elevador... estavam retornando.

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