ESPERANÇA
Atrasado. Não que eu tivesse planejado isso, foi só um acaso infeliz, afinal não iria escolher me arriscar assim logo no primeiro dia do novo emprego.
O mercado não estava muito favorável ultimamente então acabei à deriva por meses sem nenhuma esperança. Enquanto isso os boletos ficavam lá, acumulando, me lembrando a todo momento que estava chegando a hora em que teria que voltar a morar com minha mãe.
Até cheguei a encaixotar algumas roupas para adiantar porque sabia que o dinheiro guardado não duraria muito. Minha sorte é não ser um consumista crônico porque, do contrário, já teria sido expulso pelo dono do apartamento, aquele velho não gosta de mim por algum motivo e com certeza não perderia essa chance de me mandar embora.
Cansei de andar por aí e olhar em sites de emprego. Me candidatei a várias possíveis vagas, às vezes contra minha vontade, pois tinha que considerar todas as opções, mas por motivos diferentes nada acabou rolando. Minha esperança se agarrava à tampa do ralo para não despencar na escuridão infinita quando uma luz se acendeu, não a do banheiro metafórico, era só a tela do notebook mesmo.
Minha atenção foi imediatamente puxada para o aparelho que brilhava sozinho na escuridão da cozinha. Parei a caminhada em direção à geladeira e notei uma notificação flutuante do logo de site de empregos que piscava em intervalos programados para chamar atenção. A mensagem dizia "É A SUA CHANCE! VAGA DISPONÍVEL! SAIBA MAIS!". Um simples artifício da tecnologia para criar uma espécie de conexão entre o usuário e o site, um mero truque, mas que renovou minha esperança e me fez agradecer mentalmente quem inventou esse negócio.
Abri o mais rápido que pude e conferi todos os dados e requisitos. De acordo com o que vi parecia favorável e as chances eram boas já que poucas pessoas tinham se candidatado.
Duas para ser mais exato. E o salário era bom. Fiz a inscrição e fui dormir até mais esperançoso.
Dois dias depois recebi a confirmação de que tinha sido selecionado para a entrevista. No momento da euforia, nem me passou pela cabeça, só quando faltava meia hora para a videochamada é que me dei conta de para qual empresa estava me candidatando. Não que eu não soubesse qual era a companhia, o que eu tinha me esquecido era da fama do lugar. A dúvida bateu na mesma hora e se minha situação financeira não fosse urgente eu provavelmente teria pensado melhor a respeito.
Me concentrei bastante já que pretendia passar uma boa primeira impressão e procurei o local mais silencioso possível para que nada me atrapalhasse. Considerando que meu entrevistador era o próprio dono da empresa e que esse fato duplicou a pressão da coisa, até que tudo ocorreu melhor do que o esperado. No final ele comentou de forma bem automática que eu receberia uma resposta em algumas horas. No início estranhei, mas como eram apenas três candidatos, e já que parecia que havia uma pressa em relação a essa nova contratação, acabou que tudo fez sentido.
Durante o período de espera me veio novamente a ideia de desistir, que claro, foi espantada o mais rápido possível.
Medo não paga boleto Alan, dinheiro SIM.
Depois de oito horas de agonia meu notebook sinalizou a chegada de um e-mail do remetente responsável pelo meu futuro. Estava sentado no sofá e demorei um momento até ter coragem de me inclinar e abrir a mensagem. Quando fiz, cheguei a soltar o ar que nem sabia que estava segurando. Pronto, estava feito. A partir daquele dia eu era o mais novo funcionário de um dos mais antigos escritórios de advocacia da cidade.
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