E AGORA?

Minha cabeça doía como poucas vezes aconteceu, naquele momento cheguei a pensar até que tivesse rachado. Passei a mão procurando por sangue e ao perceber que não havia nada resolvi me sentar. Péssima ideia. Minha visão escureceu e por pouco não desmaiei, foi preciso me firmar na parede para conseguir me equilibrar, do contrário teria ido direto ao chão.

Mesmo sentado minha cabeça continuava a rodar, porém depois de alguns segundos com o coração batendo rápido demais, as coisas começaram a voltar ao normal. Mesmo assim, vez ou outra, o lugar ainda se inclinava para os lados e o barulho das engrenagens havia desaparecido jogando o ambiente no mais absoluto silêncio. Me levantei assim que pude, a ausência de barulho era bom para colocar os pensamentos no lugar, mas ali também indicava um problema pois, até esse momento, não tinha escutado sequer um resmungo do entregador.

Caminhei até ele, agachei ao seu lado, tateei tentando encontrar seu rosto, e me afastei num sobressalto quando me lembrei da encomenda que ele estava carregando. Estava tão atordoado que tinha até esquecido do meu celular, peguei o aparelho e com a lanterna ligada conferi se havia algum ferimento na cabeça do homem o que por sorte acabou não se confirmando. A gaiola estava ao seu lado e me pareceu que estava tudo bem. Só então que me lembrei de ligar para alguém que pudesse nos ajudar, mas quando conferi a tela inicial tive a infelicidade de ver que estávamos fora de área. Tentei andar pelos cantos na tentativa de conseguir sinal, era sempre um pé depois do outro porque não queria arriscar que aquele negócio despencasse outra vez, caso tivesse chance de isso acontecer.

O sinal que eu buscava não apareceu, mas a luz sim. O lugar voltou a ficar iluminado e aproveitei para inspecionar melhor o rapaz, mas antes que tivesse chance meus pés me puxaram para trás de forma automática quando vislumbrei a cobra saindo debaixo do corpo dele. O animal deslizou até o canto esquerdo perto da porta e lá se enrolou.

Como se estar em um elevador que acabou de despencar já não fosse motivo suficiente para acabar com qualquer autocontrole que eu tivesse, adicionar a essa situação o fato de estar tão perto de uma cobra solta com certeza só deixava tudo ainda pior. Ficar longe daquele animal era a atitude mais segura, porém não tinha como deixar o sujeito jogado tão perto dela já que o bote estava armado e poderia acontecer a qualquer momento.

Dessa vez fui deslizando contra a parede até o homem, um centímetro longe do metal significava um centímetro mais perto daquele bicho e eu não iria me arriscar. Me agachei bem devagar e não fiz nenhum movimento brusco. Felizmente o cara era magro, assim não foi difícil arrastá-lo para o outro lado.

Coloquei ele sentado e dessa vez fiz uma análise mais cuidadosa. Constatei então que não havia sangue, mas meu alívio desapareceu no momento em que suspendi sua cabeça.... e vi dois pequenos furos que estavam escondidos pela camisa, bem em cima do músculo do ombro. O local estava começando a mudar de cor e como o sujeito era branco feito leite isso ficava ainda mais evidente.

Fiquei em choque por um momento, então dei uns tapas em seu rosto, nem sei exatamente pra quê, acho que foi automático, mas é claro que nada aconteceu. Não tinha o que fazer ali, então me levantei e fui até as portas do elevador. Quando a luz voltou eu percebi que havia uma abertura pela qual dava para enxergar o exterior, isso provavelmente surgiu devido ao impacto já que aquelas portas eram velhas e faziam um barulho desagradável quando se fechavam.

Me aproximei devagar para não irritar o animal, então peguei as duas extremidades e as empurrei. Era difícil conseguir uma boa posição para firmar os dedos, mas não tinha outra escolha. Tentei algumas vezes sem sucesso e em certo ponto cheguei a pensar que finalmente estava conseguindo abrir caminho, mas não estava funcionando pois o gel que eu tinha passado no cabelo deixava meus dedos escorregadios.

Não estava vendo como aquilo poderia funcionar, então voltei para perto do sujeito, se não tinha nada que eu pudesse fazer então não iria me arriscar em ficar perto do animal.

Depois de me sentar ao lado dele fechei os olhos e suspirei para tentar me acalmar.

É uma empresa movimentada, já devem ter percebido a falha. A ajuda já deve tá vindo.

Quando estava começando a me concentrar, um barulho soou pelo cubículo.

Movimentei o corpo do entregador para ver se havia acordado mas não era ele a origem do som, sendo assim o barulho só podia ter vindo de um lugar. Levantei depressa e tentei olhar do outro lado procurando alguém, e mesmo não vendo nada acabei gritando por ajuda. Não tive resposta, mas por garantia decidi arrastar o homem mais para perto da porta mesmo que isso significasse 'mais perto do animal'. Quanto mais perto da saída, mais rápido seria o resgate e maior seriam as chances dele.

Ao pegá-lo pelos ombros senti uma sensação estranha, o corpo dele ficou mais leve, o meu também e a próxima coisa que senti foi uma dor anormal no alto da cabeça.

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