BOA NOTÍCIA...?

Não dava tempo de parar para presenciar o ato ou me perguntar pela milésima vez se aquilo era real, me joguei contra a porta e voltei a enfiar os dedos pela abertura.

As partes não se mexiam, enquanto isso o barulho se tornava cada vez mais presente e vi que a cobra estava retornando também. O sujeito como esperado continuava imóvel, ou quase. Às vezes ele se mexia gemendo de dor e aí voltava a fazer silêncio. Quando pensei que acabaria morrendo ali dentro, um solavanco leve me trouxe um pouco mais de esperança, consegui afastar a porta esquerda alguns centímetros e com isso pude ver que estávamos entre dois andares. A parte de cima, porém, era a única pela qual existia a possibilidade de passar.

O desespero aumentou quando escutei um barulho externo, mas ninguém parecia estar vindo naquela direção.

Independente disso, o que importa é que tinha alguém ali e essa pessoa poderia ser a nossa salvação. Gritei pelo menos umas quatro vezes, mas ninguém veio, em contrapartida as paredes do elevador já estavam bem mais visíveis do que antes.

Depois de mais uma rodada de força extrema consegui com que as portas se afastassem o suficiente para que eu conseguisse atravessar de lado, iria ser bastante apertado mas não tinha outro jeito. O andar de cima estava à uma certa altura que exigia que eu subisse até ele, segurei com uma das mãos a porta do elevador e com a outra me firmei no piso superior. Dei o impulso uma vez mas não foi suficiente, daí repeti o movimento e então consegui me levantar com sucesso apesar de não ter conseguido atingir meu objetivo.

Num segundo eu estava de pé me impulsionando para cima, no outro estava caído no chão, com a visão turva e encharcado de sangue.

Achei que não fosse conseguir me levantar, mas como não tinha escolha acabei o fazendo. Uma coisa que nunca me aconteceu antes foi ter a súbita vontade de vomitar, assim, de repente, mas como aquele dia estava apresentando várias coisas novas, não foi uma reação incomum ou exagerada, ainda mais se parasse pra pensar que eu estava olhando exatamente para o lugar onde deveria estar minha mão esquerda.

Só quando o choque passou e meu cérebro assimilou a situação é que a dor veio, e veio como nunca antes na vida, se espalhando por todo meu braço sem distinção. As lágrimas surgiram tão rápido que só percebi que estava chorando quando elas começaram a molhar o piso abaixo de mim. O elevador balançava... ou era minha consciência? Não sabia ao certo.

Me forcei contra o piso para conseguir me sentar, quando levantei a cabeça quase desmaiei tamanha foi a fisgada que senti na nuca. Praticamente sem reação só segui a gravidade e deixei minha cabeça tombar para baixo, ao fazer isso minha boca se abriu e observei, ainda de forma turva, dois dos meus dentes despencando sob meus pés.

Se chorar fosse evitar que eu morresse esmagado naquela droga de elevador então eu imitaria a criança mais pirracenta desse planeta, mas como não é assim que as coisas funcionam tratei de tomar uma atitude. Assim que a fisgada cessou, me inclinei para frente e puxei a gaiola até mim. Com um pouco de dificuldade retirei o laço que a cobria e, com mais dificuldade ainda, porque fazer isso com uma mão só é uma merda, comecei a enrolar a fita ao redor do punho usando meu pé como apoio para que no fim conseguisse apertar o máximo possível.

Quando puxei o nó pela última vez, a descarga de dor foi tanta que só não desmaiei porque, ao despencar, o impacto do meu rosto contra o chão me fez reagir novamente.

As paredes se moviam devagar e esse era o único motivo pelo qual ainda não tínhamos morrido. Olhei para a porta novamente e para nossa sorte a abertura ainda continuava lá, não tinha se fechado com o baque da queda.

O homem continuava imóvel e, ao que parecia, mais branco do que antes, mas não havia tempo para especular se seu coração estava batendo na velocidade certa. Puxei o colarinho dele aos tropeços até nos aproximarmos da porta. Assim que o fiz acabei desabando, estava exausto, tudo doía, nada parecia dar certo, já estava sem muitas forças então meu corpo simplesmente caiu para o lado. O lugar estava repleto de manchas de sangue, minha camisa grudava nas costas devido ao suor e quase toda a parte frontal estava manchada de vermelho. Meu cabelo estava pior do que normalmente fica em uma manhã qualquer ao sair da cama, lutava para tentar deixar meus olhos abertos enquanto o som das paredes se fechando parecia cada vez mais alto. Parecia terapêutico, como o som de água correndo que a gente coloca para dormir. Aliás, estava com sono. Era pesado, e no momento eu estava tranquilo, minha cabeça não doía, nem minha mão, nem meus dentes arrancados, o brilho da parede parecia tão forte daquela distância... talvez eu estivesse exagerando sobre ser esmagado, me ajeitei numa posição mais aconchegante, respirei profundamente... e odiei ser lembrado de coisas como a dor horrível ou nossa morte iminente mas foi o que aconteceu no momento em que um som afiado tomou conta do ambiente, resultado da gaiola ter se espatifado em frente ao meu rosto depois de ser pressionada entre a parede e o corpo do entregador.

Levantar não foi fácil mas como tinha ficado alguns segundos descansando consegui recobrar um pouco de energia e com uma descarga de adrenalina consegui me mexer e alcançar a porta. A abertura tinha desaparecido e fui forçado a refazer tudo com uma mão apenas, felizmente estava bambo e não foi complicado conseguir a primeira greta porque daí foi só usar o pé como apoio e empurrar na direção contrária.

Olhei para cima ao me afastar por um segundo e percebi que estávamos no andar dezesseis, e novamente estávamos parados entre um andar e outro e precisaríamos tentar sair pelo de cima.

Suspirei aliviado já que iríamos subir uma altura menor que a anterior, mas por pouco todo meu esforço não teria sido em vão, quando me virei o sujeito estava sendo prensado entre as duas paredes e se demorasse mais dez segundos para pegá-lo, seu pescoço teria sido quebrado. Coloquei seu corpo em linha reta com a porta, me agachei e com muita dificuldade passei meu braço em volta do peito dele. Não estava sendo nada prático usar uma única mão para aquilo. O espaço pequeno era incômodo, a falta do outro membro era incômodo, a dor não ia embora e o cansaço potencializava tudo isso de um jeito exagerado.

Meu rosto assumiu uma expressão ridícula quando fiz força para me levantar, o homem era mais pesado do que achei que fosse. Devagar, dei um passo para trás, e então dei outro. Por fim senti minha perna esbarrando na quina do piso e com isso me escorei por um momento para recobrar as energias.

Olhei para trás, parecia um andar como qualquer outro, inclusive, tão deserto quanto o anterior. Mas tinha salas ali e para não dizer que não tentei, gritei novamente. Infelizmente ninguém apareceu, mas eu não tinha tempo para pensar sobre isso. Me apressei passando por cima do homem, então peguei em volta do seu peito e o levantei, em seguida o sentei no piso superior e o empurrei para trás. Assim que ele caiu tratei de juntar suas pernas e as empurrar usando o ombro, mas isso não estava ajudando, então apoiei os joelhos dele em minhas costas e continuei a fazer esforço, o carpete do piso era feito com um material grosso e portanto dificultava o processo.

Quando restavam apenas as pernas do lado de dentro minhas forças sumiram e eu desabei para o lado. A parede esquerda tocou meu ombro devagar me empurrando, não iria conseguir sair, e o homem talvez perdesse suas pernas, mas aí ele morreria de hemorragia então no fim nada que eu fiz teria o efeito planejado. Minha mente já flutuava há uns bons segundos quando um grito de pavor me fez reagir, uma mulher estava parada em frente ao corpo do homem e prontamente pegou seu ombro e começou a puxá-lo.

De repente surgiram mais gritos e telefones sendo discados, nisso me levantei e me forcei para frente. Um rapaz engravatado apareceu e puxou minha mão, assim que atingi o piso superior tratei de dizer que ele estava envenenado, assim poderiam tomar as medidas o mais rápido possível. O sujeito me soltou ao se virar para anunciar o novo fato, foi quando me desequilibrei e tentei me firmar na parede ao lado, mas minha mão ensanguentada não permitiu e acabei caindo. Tudo que vi antes de a escuridão surgir foi o elevador descendo em direção ao meu rosto.

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