aqui estou eu, morta e jogada na areia como um excremento de animal, largaram-me aqui e agora minha carne está se grudando com os outros ossos largados há muito tempo atrás nessa praia sombria, agora os vermes se deliciam com a minha carne fresca e totalmente doce como mel.

não consigo me mover porque já não estou mais viva, os urubus voam e cercam o meu cadáver, mas desistiram quando rasgaram parte da minha cabeça e devoraram uma parte do meu cabelo misturado com a água do mar, voaram para longe e deixaram suas penas sujas do meu sangue que já está começando a apodrecer.

meus dentes estão se balançando na minha boca, ou então é aquela hiena perdida querendo devorar meus intestinos, mas falha miseravelmente quando se machuca com um dos meus dente, fugindo apenas com a minha mão esquerda.

naturalmente partes do meu corpo estão começando a se soltar(não que eu me importe, já morri mesmo) e meu sangue começa a se misturar ao mar, levanto junto uma boa parte das minhas costelas amolecidas pela saliva de um coiote que tentou me devorar durante o macabro frio da madrugada.

meus olhos já não tem mais uma forma definida, não passam de dois globos esféricos com cheiro de carne podre misturada com desinfetante cujo o aroma é de limão siciliano.

meus pulmões começam a borbulhar e meus intestinos começam a dançar junto com meu estômago, sinto um estranho prazer ao sentir o cheiro, aquele doce cheiro, da minha carne apodrecendo na areia, talvez seja algo bizarro, talvez seja uma sensação única sentida no meu mais profundo ser.

agora finalmente minha alma se desprendeu do meu cadáver podre, olho para a cima e olho de volta para o meu corpo e contemplo o doce sabor da decomposição, talvez meus órgãos já tenham virado geleia no meio das minhas costelas e isso é maravilhoso.