6. Lioness

"Eu deveria ser uma vadia triste, quem diria que, ao invés disso, me tornaria feroz? Prefiro estar presa por algemas do que por condições... – 7 rings, Ariana Grande."

As coisas no colégio estavam meio estranhas. Bom, talvez fosse porque Emily ainda estava brigada com o Noah, e eu vinha acompanhando o seu dilema bem de pertinho. Ora ela estava triste, ora irritada, mas nunca falava com ele, e isso já fazia dois dias. Não sei exato como eu me sentia em relação a Jordan, achei que fosse me explicar sobre o que aconteceu, qual o motivo de ter se envolvido em uma briga, sei lá... qualquer coisa, mas não foi o que fez.

Na verdade, ontem ele faltou aula e não mandou uma única mensagem para mim. Não que devesse, pois não tinha obrigação nenhuma em me dar satisfação de nada, mas pensei que faria. Estava enganada. Hoje eu achei melhor evitar cruzar com ele algumas vezes. Por mensagem também conversamos bem pouco porque eu estava na aula, e sempre inventava que tinha algo para fazer. Era melhor assim. Não me agradava nada a ideia de que Jordan e seus amigos eram um bando de brigões.

– Vamos? – perguntou Rose, assim que terminamos de retocar a maquiagem no banheiro.

Ela era uma das novas Lioness, assim como eu. Fomos aprovadas para a equipe praticamente juntas. Ainda me lembrava muito bem do quanto fiquei chateada com a forma a qual Christine se referiu ao peso dela durante o teste, pois ninguém tinha o direito de apontar um padrão para as outras pessoas, e Rose era linda por dentro e por fora, sem contar no quanto dançava. Acho que nos demos bem logo de cara, pois o seu jeito doce e paciente era mesmo muito agradável.

– Sim. Elas já devem estar no ginásio. – sorri leve ao guardar meu gloss dentro da mochila.

– Você também está empolgada para o treino de hoje? Porque nossa, eu tô muito. – ela sorriu largo, parecia estar tão feliz.

– Ah, estou sim. Mas os passos dão um friozinho na barriga. – fui sincera e demos risadas, enquanto verificávamos uma última vez nosso uniforme no espelho.

Era uma blusa branca com mangas verdes, e um shortinho preto bem curto colado às coxas. Já era quase hora do nosso primeiro ensaio em grupo, havíamos treinado com a Christine ontem só para pegar os passos, mas hoje seria para valer.

– Sua outra equipe não era assim? – perguntou Rose, um tanto curiosa ao recolhermos as mochilas, seguindo para fora do banheiro.

Eu apenas neguei com a cabeça. Para ser sincera, a coreografia da Christine era quase profissional se comparada as vikings. Acho que precisava concordar que as Lioness estavam realmente em outro nível, porém, isso não impedia que eu ficasse envergonhada de dançar daquele jeito na frente de todo mundo. Ainda precisava me acostumar.

Contudo, assim que dei o primeiro passo para fora do banheiro, avistei Jordan no início do corredor, ele e Christian brincavam de empurrar um ao outro, enquanto davam risadas e se aproximavam pelo corredor. De repente seu olhar veio em minha direção e senti minhas pernas bambearem, então voltei para dentro do banheiro bem rápido, esbarrando em Rose.

– Ai! – ela se reclamou por pisar em seu pé e eu me virei assustada – Liz, o que deu em você?

– Desculpa? – pedi, tentando remediar – Acho que preciso usar o banheiro antes de sair, você me espera?

– Claro. – Rose sorriu doce.

Me apressei a entrar em um dos box, meus batimentos estavam disparados dentro do peito. Meu Deus, será que ele tinha notado? Balancei minha cabeça para os lados, tentando espantar a vergonha que me circundava agora. Respirei fundo apertando a alça da minha mochila, enquanto contava uma sequência de números em voz baixa, era um bom exercício para acalmar. No fim, puxei a descarga e saí. Rose ainda me esperava, como disse, ela era muito legal, e deixei que saísse do banheiro primeiro dessa vez. Quando passei para fora, em seu encalço, notei que o corredor já estava vazio, o que me fez respirar mais leve.

– Eu ainda nem acredito que sou oficialmente uma Lioness. – Rose bateu palminhas, super animada, enquanto seguíamos para o ginásio – Esse foi o meu terceiro teste, só fiz porque minha irmãzinha pediu muito.

– Você tem uma irmãzinha? – arqueei as sobrancelhas.

– Sim. Se chama Destiny. Ela só tem 8 anos, mas às vezes me motiva a fazer coisas. – explicou Rose, dava para ver um brilho em seus olhos, estava mesmo empolgada.

– Acho que eu queria ter uma irmãzinha também. – sorri leve, imaginando a possibilidade.

– Vai por mim, você não queria. – Rose deu uma risada – Irmãs mais novas te deixam louca.

Ri daquilo, balançando a cabeça para os lados.

– Hey, vadias, me esperem! – uma voz soou atrás de nós e assim que nos viramos, avistamos Christine, com um sorriso estampado nos lábios vermelhos – Já estão se sentindo poderosas?

Ela brincou nos abraçando pelos ombros. Rimos juntas adentrando o ginásio. As outras meninas já estavam todas reunidas ali, e nos cumprimentaram com acenos. Contudo, acho que a primeira coisa que notei foi o garoto mórbido sentado na última fileira de baixo na arquibancada. Ele segurava um cigarro entre os dedos, o qual tragava sem dar muita atenção ao que acontecia a sua volta. Sabendo que quase tinha esbarrado com o Jordan instantes atrás, sem dúvidas aquele era o Jason.

– Já pegaram todos os equipamentos? – Christine perguntou para as meninas, que logo confirmaram – Ótimo, então vamos...

– Tem alguém na arquibancada. – cochichei para ela, que não tardou a olhar exatamente na direção dele.

– O que está fazendo aqui, projeto de marginal? – Christine franziu a testa e todas olharam para Jason, parecendo percebê-lo só agora.

– Estava entediado, então vim escolher uma vadia pra me pagar um boquete gostoso, está interessada? – sua resposta grosseira me fez cerrar os punhos, que menino mais irritante.

– Cai fora, vagabundo! – Christine cruzou os braços, e ele deu uma risada um tanto sarcástica.

– Se mudar de ideia, é só falar... – Jason parecia disposto a bater de frente com ela, que agora o fuzilava com o olhar.

– Nem em sonho, seu brutamontes. – Christine jogou os cabelos vermelhos para o lado, virando de costas para ele.

– Por acaso, o frouxo do seu namorado sabe que você deixou o resto do short em casa? – questionou Jason, e ela voltou a encará-lo incrédula – Não que eu esteja reclamando, claro.

– Gostou da vista, filhote de Freddy Krueger? Pena que não é pra sua laia! – ela revidou, passando sua atenção às meninas novamente.

Rangi os dentes ao vê-lo sorrir malicioso, tornando a se recostar na arquibancada enquanto encaixava o cigarro entre os lábios novamente. Parecia estar bastante confortável ali, o que me incomodava de verdade, não acredito que aquele garoto estúpido ficaria mesmo para assistir nosso ensaio. No entanto, tentei prestar atenção no que as meninas diziam, estavam montando a formação e isso era bem importante. Mas, vez ou outra, meio que automaticamente, acabava olhando para Jason esparramado na arquibancada, com os pés apoiados na grade que separava aquele espaço do resto da quadra. Ele seguia fumando e soprando a fumaça para cima.

– Lizzie, você vai fazer as estrelinhas com a Emily e a Ashley na coreografia original. Quando montarmos a pirâmide, eu ficarei no topo. – Christine explicava animada.

– Tudo bem, eu consigo. – forcei um sorriso, pois estava meio nervosa.

– Ótimo! Emily, coloca a música. Vou mostrar os passos para as novatas mais uma vez. – Christine deu a ordem, mas Emily olhou para Jason, amedrontada.

– Mas...

– Ele? – Christine voltou a encará-lo irritada – Deixa o filhotinho de cruz credo olhar, quem sabe ele não tem um infarto de tão admirado e morre. Anda, coloca a música.

– Tudo bem. – respondeu Emily por fim, seguindo rapidamente até as caixas de som.

Christine me chamou, junto de Rose e mais três garotas. Assim que as outras puxaram os colchões, se afastando logo em seguida, percebi que Jason sorriu malicioso. Minhas bochechas começaram a esquentar, enquanto tomávamos nossas posições, dançar aquela coreografia com ele nos olhando seria um desafio e tanto, mas tentei me acalmar, afinal, na próxima sexta a noite teria jogo e dançaríamos para um público bem maior.

– Cinco, seis, sete, oito. – Christine contou e começou a tocar "7rings" da Ariana Grande.

Rebolamos para a direita, passando as mãos pela nuca, e deslizamos para a esquerda, impulsionando o corpo para frente duas vezes. Descemos até o chão, onde quicamos apoiando as mãos nos joelhos. Tornamos a subir novamente e trocamos de posição, se virando de frente para Jason, demos três passos em sua direção, antes de estendermos as mãos para frente, rebolando para os lados. Ele mordeu o lábio, sorrindo safado, desencostando os pés da grade, e inclinando a coluna para frente, a fim de apreciar melhor nossa coreografia.

– Isso. Agora para o lado, meninas! – Christine falou e viramos de lado, se enfileirando uma atrás da outra.

Tocamos os ombros das que estavam a frente, empinando bem as bundas para trás, enquanto simulávamos tapinhas nos traseiros umas das outras, rebolando sensualmente até o chão outra vez, passando uma perna para o lado, enquanto subíamos novamente, olhando para o lado, depois para frente.

– E separa! – Christine falou em alto e bom som, e abrimos espaço, então outras duas empurraram os colchões para o centro.

Christine pegou impulso e deu dois saltos giratórios, parando perfeitamente no colchão a direita, com os braços para cima. Outra garota fez duas estrelinhas, parando com as mãos para cima também. Olhei rápido para Jason, enquanto pegava impulso, percebendo que ele me encarava com certa implicância, como se duvidasse que eu era mesmo capaz. Respirei fundo, me concentrando, e saltei nas mãos de Rose, que me empurrou para o alto, abri os braços e girei no ar, mas ao tocar os pés no chão dei uma estrelinha. Então as outras bateram palmas animadas e juntaram um círculo nos abraçando.

– Muito bem! Estou orgulhosa das minhas novas Lioness. – ouvi Christine falar um tanto emocionada, mas acabei olhando para Jason novamente, que agora estava de pé, conversando algo no celular.

Não sei quem era, ou sobre o que se tratava, mas ele parecia muito irritado. Não consegui parar de olhá-lo, estava sorrindo a instantes, se divertindo as nossas custas e agora... Todas nos assustamos quando ele desferiu um soco com toda força em uma das cadeiras da arquibancada, em completo descontrole. Qual era o problema daquele garoto idiota?

– Sai agora daqui! – Christine berrou enfurecida, e ele se virou nos encarando extremamente irritado.

Por um segundo, pensei que Jason pudesse ser uma pessoa normal, apesar do seu jeito irritante, e que eu o conheci num dia ruim, mas aquilo... Ele simplesmente ficou cheio de ódio do nada. O vi pegar sua mochila, e logo depois sair às pressas do ginásio, deixando a Christine falando sozinha.

– Quem esse brutamontes estúpido pensa que é para interromper o nosso treino? Ai que ódio! – ela bateu o pé com força no chão, muito irritada.

– Christy... ele já foi, mas as meninas estão um pouco assustadas. – Emily chamou sua ateção para nós.

– Ai, meus bebês... não, não, não. Vamos fazer uma pausa para meditar e acalmar. – Christine forçou um sorriso para nos tranquilizar.

Depois disso, todas sentamos em círculos nos tatames, e ela começou a ensinar um mantra para relaxar. Contudo, eu não consegui me concentrar muito bem naquilo, queria ir atrás daquele garoto estúpido e cuspir umas verdades na cara dele, mas me contive em permanecer ali, com todas as outras meninas, era o mais seguro, certo?

Quando os ânimos finalmente se acalmaram, o treino seguiu normalmente e sem mais interrupções. Acho que repetimos a coreografia pelo menos umas quinze vezes, e notei que a Christine estava se esforçando para ser paciente com as meninas que erravam, pois pelo que Emily disse, ela costumava ser uma tirana nos ensaios. Não hoje, pelo menos.

– E por hoje é só, meus raiozinhos de sol. – disse Christine, ao acabarmos de guardar os materiais.

– Pelo visto, chegamos bem na hora. – alguém falou, ao abrir a porta do ginásio.

No mesmo instante, olhei para trás, vendo Tayler, Jordan e Noah se aproximando. Isso me deixou um tanto nervosa, pois com aquela cena vergonhosa no banheiro, não sei o que Davis estava pensando de mim.

– O que vieram fazer aqui? – Christine sorriu largo, seguindo até eles.

A vi abraçar o Tayler, toda felizinha, não era para menos, eles formavam um lindo casal. Desviei minha atenção ao portão da sala de equipamentos, o qual fechava com três cadeados grandes de ferro, mas percebi que Jordan se aproximava. Tentei controlar a minha respiração, pois meus batimentos dispararam dentro do peito.

– Precisa de ajuda? – sua voz rouca ecoou bem ao meu lado, me causando um arrepio.

Olhei para ele, que estava muito perto de mim e, sem querer, deixei um dos cadeados caírem. Antes que eu pudesse responder, nos abaixamos juntos para apanhá-lo e nossos olhares se cruzaram no mesmo instante, o que me fez sentir meu rosto inteiro aquecer. Jordan pegou o cadeado para mim, e sorriu gentil ao me entregar.

– Ah, obrigada. – forcei um sorriso, batendo aquela peça em uma das mãos – Eu sou muito desastrada.

– Não foi nada, Lizzie. – Jordan enfiou as mãos dentro dos bolsos da calça, eu assenti, voltando à última tranca da porta – Estava pensando, podíamos tomar um milkshake hoje, o que acha?

Senti minhas mãos suarem frio e ouvimos o "click" do cadeado ao fechar.

– Milkshake? – perguntei baixinho, o olhando outra vez.

– Ai, eu achei uma ótima ideia. – Christine se aproximava com o Tayler, sorrindo largo – O que melhor do que um encontrinho para aproximar amigas?

– É, Liz. Minha ruivinha está louca para marcarmos algo em conjunto. O que diz? – Tayler deu uma risadinha.

– A-ah, eu... – as palavras pareciam me fugir quando sentia tantos olhares sobre mim.

Eu não sabia se queria ir, mas que desculpa inventar? Fui pega de surpresa com aquele convite. Olhei rápido para o lado, a tempo de ver Emily negar diretamente para Noah, e arrastar uma das meninas com ela para dentro do vestiário. Respirei devagar e assenti para mim mesma. "Não dá para fugir agora, Lizzie", minha consciência me alertava.

– Vai ser legal, dear. Eu prometo, aceita? – Christine sorriu doce, chamando minha atenção outra vez.

– Se você não quiser, tudo bem. – disse Jordan, um tanto entristecido e cerrei os punhos.

Com toda certeza, não queria magoá-lo, afinal, ele foi muito fofo comigo. Fora que eu não estava em posição de negar nada para a Christine, não é mesmo?

– Tá. Acho que posso. – respondi apressada, vendo um sorrisão surgir nos lábios vermelhos da Christine.

– Ah, que bom. Fez a escolha certa, amiga. – ela soltou o braço de Tayler e agarrou o meu – Vamos nos arrumar. E vocês dois, esperem uns minutinhos.

– Todo tempo que precisar, minha deusa. – Tayler soltou um beijinho para ela, enquanto seguíamos para o vestiário.

Antes de adentrarmos, também vi Jordan sorrir, e isso me deixou contente. Christine, por sua vez, só parou de falar quando fomos para o chuveiro. A água estava quentinha, o que fez meus músculos relaxarem rápido, enquanto pensava mil formas de como aquele encontro seria, ou melhor, no quanto queria beijar o Dan. Me peguei sorrindo que nem uma boba, só por lembrar do sorrisinho dele antes de entrarmos no vestiário. Não sei o que dava em mim quando ele estava por perto, porém, era automático, e eu só me perguntava se ele sentia o mesmo em relação a mim... Acho que não.

Afinal, Jordan era tão... popular entre as garotas, que parecia idiota da minha parte pensar algo assim. Demorei um pouquinho mais que o esperado no banho. Quando saí, algumas meninas já haviam ido embora, mas recebi um olhar muito irritado da Ashley, que se vestia um pouco perto de meu armário. Não sei por que, pois pelo que a Emily disse, ela e Jordan tinham terminado a um bom tempo. Talvez só não fosse muito com a minha cara.

Tentei não me importar com ela, e logo vesti minha roupa, uma saia azul bebê curta com preguinhas que deixavam ela rodada, e uma blusa branca com detalhes folgadinhos nos ombros. Vi que Cristine já se maquiava, então me apressei a fazer alguma coisa em meu rosto também, apesar de nunca usar muita maquiagem, sempre gostava de estar devidamente apresentável.

– O que foi, Liz? Põe um sorrisinho nesse rosto, vai? – disse Christine ao guardar o seu batom dentro da mochila, eu forcei um sorriso – Aconteceu alguma coisa? Pensei que você e o Davis estivessem juntos agora.

– A gente está se conhecendo. – expliquei, e ela deu um sorrisinho, terminando de fechar a mochila.

– Então, não quer sair com ele? – ela se levantou do banco, e eu rapidamente neguei com a cabeça.

– Não é isso. – olhei para o lado, bem a tempo de ver Ashley desviar o olhar. Não sei mesmo qual era o problema dela comigo – É que ele e o Noah se envolveram numa briga essa semana, e ele não me contou nada sobre isso.

– Você perguntou a ele, my darling? – Christine arqueou uma sobrancelha, parando ao meu lado assim que fechei o meu armário.

– Não. – respondi envergonhada, vendo-a cruzar os braços.

– Assim fica difícil né, raiozinho de sol? – ela me arrancou um curto sorriso – Mas olha, se te acalenta o coraçãozinho, fiquei sabendo disso. Tayler me contou tudinho. Jordan estava defendendo aquele irmão marginal dele.

– Emily me contou isso. – falei e ela rolou os olhos.

– É, só que a briga estava meio desigual para o filhote de gângster. Ethan e mais dois brutamontes iam acabar com ele se os meninos não tivessem chegado. – explicou ela, e arqueei as minhas sobrancelhas.

Dylan havia me falado sobre esse Ethan. Era o tal cara do time que o Jason espancou meses atrás. Bom, ele também não era boa bisca, pelo que fiquei sabendo, tinha uma conduta violenta, praticava bullying com as pessoas e assediava garotas. E estranhamente o desentendimento dos dois se deu após vazarem um vídeo de Ethan espancando um garoto amarrado.

Pelo que Dylan contou, Jason quebrou os braços dele e lhe bateu tanto que o deixou em coma por duas semanas. Quando Ethan voltou ao colégio, foi expulso dos Tigers, e Jason recebeu uma suspensão de três semanas, a qual, aparentemente, ele resolveu estender pelo resto do semestre.

– Espera, não foi o Jason que começou? – perguntei confusa, ouvindo ela respirar fundo.

– Me dói tanto você ser tão lentinha. – disse Christine, em um suspiro – Por acaso não soube que o Jason surrou o Ethan até ele entrar em coma há uns meses?

– Ah, sim. Dylan me contou. – franzi a testa, ainda tentando juntar as peças.

– Então já deve saber que depois disso o Ethan foi expulso do time, porque era um machão metido a forte que espancava as pessoas e todo mundo ficou sabendo. – disse ela, e eu assenti  – Bom, agora ele quis acertar as contas com o Jason.

– Acho que entendi. Mas aí ele não foi sozinho e o Jordan teve que se meter. – concluí, e Christine sorriu largo.

– Isso mesmo. Você devia conversar mais com o seu gatinho, my dear. – ela tocou a ponta do seu dedo indicador no meu nariz e sorri assentindo.

Bem, ainda não gostava da ideia de Jordan ter se metido numa briga, mas ele não deixaria o irmão ser massacrado sem chance de se defender, não é mesmo? Eu não podia continuar julgando isso ao meu ponto de vista, e também, bom, acho que eu estava morrendo de saudades daquele sorriso gostoso que ele tinha.

– Vamos? – Christine chamou e eu assenti, me desencostando dos armários.

– Nós vamos à Candy's? – perguntei um pouco mais animada, pegando a minha mochila no banco. Vi quando a Christine assentiu, apanhando a sua bolsa também.

– Claro, florzinha. É a única lanchonete que presta nessa cidade. – ela respondeu, caminhando comigo para fora do vestiário – Mas nem pense em pedir aquela afronta ao corpo humano que a Emily pede.

Eu arqueei uma sobrancelha e forcei um sorriso, assentindo. Acho que ela se referia ao milkshake extra de chocolate, com calda de chocolate e cobertura de chantilly que a Emily pediu quando saímos com o Dylan no domingo. Eu ri daquilo, ela parecia adorar. Entramos no ginásio outra vez e os meninos estavam jogando basquete numa sequência de dois. Jordan marcou cesta e Tayler lamentou, o que me fez rir.

– Hum-hum! – pigarreou Christine, e eles olharam em nossa direção – Estamos prontas, vamos?

– Ah, minha deusa ruiva, sempre tão linda! – Tayler correu na direção dela, agarrando-a pela cintura, lhe suspendendo no ar.

Ouvi os risinhos da Christine e vi Jordan guardar a bola no cesto. Ele pegou a sua jaqueta no chão, logo se virando para mim. Um sorriso largo se formou em seus lábios, enquanto se aproximava. Mordi o cantinho do meu lábio inferior em um sorriso tímido e ele apressou o passo, dando uma curta corridinha.

– Achei que fosse fugir de mim outra vez. – ele me agarrou pela cintura e neguei com a cabeça.

– Eu não estava fugindo. – menti claramente, pousando as minhas mãos em seu peitoral.

– Ah, não? – vi uma de suas sobrancelhas arquear, e senti as minhas bochechas esquentarem – Porque achei mesmo que não aceitaria.

– Eu só... – engoli em seco, me lembrando que quase recusei mesmo.

– Vamos logo, pombinhos. – Christine nos chamou, seguindo com Tayler mais na frente.

– Tá bom, tá bom. – concordou Jordan, passando um de seus braços por cima dos meus ombros.

Agradeci a Deus por Christine ter interrompido aquela conversa, não saberia o que contar para ele, afinal, estava mesmo certo, fugi quase o dia inteiro. Ajeitei minha mochila no ombro, enquanto caminhávamos, e Jordan me puxou para perto, depositando um beijinho carinhoso na minha cabeça.

– Hoje você não me escapa, linda. – ele falou baixinho, pegando a minha mochila e apoiando-a em seu ombro.

– Você não precisa carregar. – falei, e ele riu anasalado, voltando a me puxar para perto.

Seguimos pelos corredores, conversando com Tayler e Christine, que iam um pouco mais a frente. Assim que saímos do colégio, um vento gélido nos golpeou, me fazendo se encolher um pouco contra Jordan, me lembrando de que eu deveria ter trazido um casaco. E, como quem lê meus pensamentos, ele me entregou a sua jaqueta. Sorri, tímida e agradeci, tratando logo de vestir, era bem grande para mim, mas tinha o cheirinho amadeirado de seu perfume e me senti muito confortável.

– Eu tô sem carro hoje, então... Não tem problema se formos com o Tayler, né? – Jordan me perguntou baixinho, enquanto seguíamos pelo estacionamento.

– Não, por mim tudo bem. – sorri leve, aquilo não era nenhum problema.

Na verdade, seria até menos embaraçoso, pois tinha menos risco dele me perguntar sobre o episódio vergonhoso no banheiro.

– Hey, Davis... – Tayler o chamou ao destravar o carro – Tá rolando Lakers e Bulls, apostas?

– Wow... vai ser apertado como sempre, mas coloco cinquenta pratas que os Lakers levam essa, Dempsey. – Jordan parecia bem empolgado para o jogo, talvez esse fosse o seu time favorito de basquete.

– Vai perder sua grana, aposto o dobro no placar 120x115 para o Bulls, nós temos o Lavine, cara. – Tayler abriu a porta do carro para a Christine, que rolou os olhos pela conversa dos dois antes de entrar.

– A defensiva do Lavine é muito ruim. – deixei escapar em voz alta, e ambos me olharam numa mistura de confusão e admiração – O que foi? Eu assisto jogo com o meu pai.

Minha mãe sempre dizia que se não dá para vencer o inimigo, temos de nos juntar a ele. Ela odiava jogo antes de conhecer o meu pai, pois a maioria dos esportes é muito agressivo e isso não lhe agradava nada. Mas o sr. Louis sempre adorou esportes, aí ela fez um esfocinho para que começassem a assistir algumas partidas juntos, e quando eu nasci isso já era um costume dos dois, acho até que a dona Elisa entendia mais as regras que meu próprio pai agora, o que era engraçado.

– Ah, puta que pariu! Nem fodendo... Uma garota que gosta de basquete? – Tayler deu uma risada, e bateu a porta, dando a volta pela frente do carro logo em seguida.

– Não disse que gosto, disse que assisto. – respondi, um tanto envergonhada por ter me metido na conversa sem ter sido chamada, e ouvi a risada de Jordan ao abrir a porta do carro para mim – Mas é... Eu gosto.

– Então faz o favor, Liz, fala pra esse otário que eu vou levar o dinheiro dele mais fácil que tomar doce de criança. – Tayler disse assim que todos adentramos o carro, e eu precisei segurar minha risada – A defensiva do Lavine pode ser ruim, mas aquele desgraçado pontua que é uma beleza.

– Bom, meu pai prefere o Otto Porter no Bulls, ele é mais... Como posso dizer? – coloquei o cinto de segurança, enquanto pensava numa palavra que o definisse.

– Ofensivo no ataque. – Jordan completou por mim, e eu rapidamente assenti – Concordo com o seu pai. Perto do Otto o Lavine é um moleque inexperiente, mas os Lakers tem o Antony Davis e LeBron James. Então acho que quem está me dando dinheiro de presente aqui é você, Dempsey.

– Eu tenho que concordar... – falei risonha, e Tayler deu partida no carro, finalmente manobrando para fora da vaga.

– Ah, vão a merda vocês dois. – ele brincou, nos fazendo rir ainda mais.

Dali por diante, o caminho foi regado de piadinhas entre Dempsey e Davis, que me arrancavam risadas a cada segundo. Mas em certo momento percebi que Christine só resmungava, acho que ela não entendia muito, por isso mesmo devia estar achando um saco. Então, acabei mudando a rota do assunto para que ela participasse também. O trânsito estava bem calmo àquela hora, e até que foi tranquilo, não demoramos muito a chegar. Notei que, assim como no final de semana, no estacionamento da Candy's não haviam muitos carros.

– Não acredito que vocês dois pediram hambúrguer e fritas, fora o milkshake. – Christine rolou os olhos ao sentar em uma das mesas ao lado do enorme janelão.

– Ah, amor, relaxa. Nós somos atletas, precisamos de carboidratos, quanto mais, melhor. – Tayler deu uma sutil risada, sentando ao lado dela.

– Eu gosto de fritas. – sorri, assim que Jordan sentou ao meu lado.

– Quer que eu peça uma porção? – ele perguntou, e Christine me fuzilou com o olhar, mas eu queria.

– Aceito. – falei, mesmo sentindo que ela pularia em meu pescoço.

– Tá, eu volto já. – Jordan deu um beijinho em minha bochecha, o que fez meu rosto inteiro esquentar.

– Não acredito, Lizzie. – disse Christine, incrédula, assim que ele se levantou, se dirigindo ao balcão outra vez.

– Não tem problema nenhum em ter umas carninhas a mais sabia, amor? Eu ia adorar ainda mais te apertar todinha. – Tayler brincou e tomou um tapa, que me fez rir – Aow! Tá, tá, desculpa?

Olhei em direção ao balcão e Jordan já voltava para a mesa, com o seu sorriso encantador nos lábios. Ele tornou a se sentar ao meu lado, e começamos a conversar sobre o jogo da próxima sexta. Percebi que passou um de seus braços por cima do estofado traseiro, e acabei chegando um pouco mais para perto dele.

Queria deitar minha cabeça em seu ombro, assim como Christine fez com o Tayler, mas fiquei envergonhada e achei melhor não. Os pedidos não demoraram a chegar, e acho que preciso dizer o quanto as fritas com milkshake estavam deliciosas.

– Isso aqui, Seattle não tem, Liz. – Tayler brincou bem humorado, apontando para sua taça de milkshake após dar o primeiro gole.

– Não mesmo. – sorri ao concordar – Sem dúvidas, esse é o melhor milkshake que já tomei.

– Olha, se você misturar assim, – disse Jordan, em tom risonho, mergulhando uma batata em seu milkshake – fica muito melhor.

Christine fez uma careta, assim que ele comeu a batata. Eu dei uma risadinha. Não parecia ruim, apesar de ser estranho, então concordei em fazer o mesmo.

– Assim? – arqueei as sobrancelhas, provando aquela mistura, Jordan arqueou as sobrancelhas – Hum, fica bom mesmo.

– Eu sempre digo mas, – comentou ele, um tanto perplexo – você foi a primeira garota que chegou a provar mesmo.

– É sério, Davis? – Christine rolou os olhos – Uma garota diferente a cada dia, e nenhuma compartilhou das suas nojeiras?

Ela sabia mesmo deixar as pessoas desconfortáveis quando queria. Senti meu rosto esquentar e voltei a tomar meu milkshake. Não me agradava saber que, talvez, daqui uns dias, Jordan já estivesse com outra. Bom, era o que todo mundo falava sobre ele, que nunca levava ninguém a sério, e que a única garota que namorou foi a Ashley, mas ela era linda, loira dos olhos azuis, com um corpo cheio de curvas e totalmente segura de si. Eu, bem, era só eu mesma. Não acreditava que alguém tão popular como o Davis fosse, sei lá, se apaixonar por mim. Pensar isso seria uma bobagem.

– O que acha, florzinha? – acordei de meus pensamentos com a voz da Christine outra vez, e forcei um sorriso, vendo Jordan um tanto cabisbaixo ao meu lado.

– Ah, eu não ouvi, desculpa? – pedi, meio sem graça.

– Está com a cabeça nas nuvens, dear? – Christine arqueou uma sobrancelha.

– Ah, não. Não é isso, mas é que está ficando tarde. Meus pais já devem ter chegado em casa a essa hora. – desviei de qualquer pergunta constrangedora que pudesse vir da Christine.

– Nossa, é verdade. Vamos pagar a conta e ir embora. – ela disse ao olhar no relógio em seu pulso.

Nesse instante, Jordan me encarou um tanto preocupado, provavelmente pensando que eu queria ir embora pelo recente comentário indiscreto da Christine, sobre o fato dele sair com muitas garotas. Era isso também, mas estava mesmo ficando tarde, e meu celular tinha descarregado no caminho, ouvi o barulhinho que fez em minha mochila. Não consegui enviar uma única mensagem para minha mãe avisando que chegaria mais tarde hoje. Se ela já tivesse chegado do trabalho a essa hora, provavelmente devia estar preocupada.

Forcei um sorrisinho, na tentativa de acalmá-lo, não era da minha índole ser grosseira, muito menos sem motivos. Davis podia ser o galinha que fosse, mas era legal comigo e não tínhamos nada além de boas conversas, não queria fazê-lo se sentir mais desconfortável ainda. Ouvi quando Tayler falou alguma coisa para a Christine, a qual nem me esforcei para entender, depois se levantou junto ao Jordan, seguindo para o balcão.

Christine me chamou para retocarmos a maquiagem no banheiro e acabei indo com ela, mesmo um tanto receosa que fizesse outro comentário maldoso, o que por sorte não aconteceu. Acho que ela não fazia sempre por mal, talvez às vezes não percebesse que magoava as pessoas. Ao voltarmos os meninos já nos esperavam, então seguimos juntos para o carro. Jordan me pareceu um pouco mais leve, fazendo piadas pelo fato dos Lakers terem vencido o jogo, e tirando gracinhas com Tayler novamente.

Eles resolveram que me deixariam primeiro em casa, o que agradeci internamente, sabia bem os pais que tinha. Passei o endereço e estávamos seguindo caminho agora. Depois de alguns minutos entre piadas e risadas, o silêncio se estabeleceu no carro. Não era algo ruim. Jordan fazia leves carícias em minha mão, enquanto eu mantinha minha cabeça recostada sobre seu ombro. De uma forma inexplicável, me sentia tranquila ao seu lado. Percebi quando seus dedos se entrelaçaram aos meus e sorri.

– Essa é a rua da sua casa, Lizzie? – indagou Christine, olhando para nós dois.

Nesse instante, desencostei minha cabeça do ombro de Jordan para ver melhor. Faziam poucos dias desde a mudança, mas não custei a perceber que estávamos exatamente na rua da minha casa.

– Sim. – respondi, e Tayler foi reduzindo a velocidade do carro – É a casa com o cercadinho branco na frente.

Avistei a luz acesa na pequena varanda, antes mesmo de estacionarmos a frente, o que indicava que meus pais já haviam chegado. O cercado que dividia a grama verdinha de um lado, e a calçada de concreto do outro estava aberto, mas não havia carro estacionado em frente à garagem. Fiz menção de tirar a jaqueta que Jordan tinha me emprestado, mas ele sorriu leve e negou com a cabeça, então apenas assenti.

– Você... – disse ele, em tom baixo, me fazendo olhar bem no fundo dos seus olhos – Não vai mais fugir de mim, né?

– Não. – sorri leve, e apertei sua mão.

– Está devidamente entregue, florzinha. – disse Christine, nos olhando outra vez – E viu só, nem arrancou pedaço sair comigo.

– É, isso foi bem divertido. – destravei o cinto de segurança.

– Sei que foi. Nos vemos no treino de amanhã, então durma bem e descanse. – lembrou ela, assim que peguei minha mochila.

– Tudo bem. Obrigada, e até mais. – abri a porta do carro para descer, mas Jordan segurou em minha mão outra vez.

No mesmo segundo que olhei em sua direção, ele me roubou um selinho. Isso me pegou de surpresa mais uma vez, pude sentir meus batimentos acelerados dentro do peito, junto as minhas bochechas que inflamaram de vergonha ao rompemos o contato.

– Falou, Liz! – disse Tayler, nos encarando pelo espelho retrovisor.

– Tchau. – me despedi rápido, e logo saí do carro.

Um sopro de vento bagunçou meus cabelos, ouvi o barulho do motor ao ligar de novo, e ajeitei as mechas para trás da orelha, seguindo apressada para a calçada. No entanto, mais um som de porta batendo ecoou pela rua, apertei a alça da minha mochila, cerrando o punho livre com força.

– Hey, Lizzie! – a voz rouca de Jordan soou um tanto eufórica, enquanto ele se apressava em minha direção.

Franzi a testa, completamente confusa, ele sorriu largo, parando bem a minha frente. Não consegui formular a pergunta certa, apenas senti suas mãos em volta da minha cintura, e seus lábios deliciosamente atraentes, se aproximavam dos meus quando a buzina do carro de Tayler soou, antes de seguir pela rua. Jordan riu daquilo, eu também, mas de nervoso, por que ele tinha ficado? Abri minha boca para questioná-lo, mas de repente a porta da minha casa se abriu, e engoli em seco ao me virar...

[...]

Esse Jason é um danadinho, não é? haha o que acharam do capítulo, meus amores? Deixem seus comentários e não se esqueçam de votar. Até o próximo capítulo ❤❤❤

Será se essa Liz vai tomar uma bronca? 👀🤣

Ps.: A música que elas dançaram é a do vídeo lá no início ❤❤❤

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