57. Esperança

"O mundo pode ser um lugar desagradável. Você sabe disso, eu sei disso, yeah... Nós não temos que cair em desgraça, abaixe as armas com as quais você luta... – Kill 'Em With Kindness, Selena Gomez."

Não importava o quanto eu gritasse ou tentasse me soltar, aqueles monstros continuavam batendo e batendo em Jordan sem parar. Ele estava caído no chão, e eles davam chutes em seu corpo repetidas vezes. Minha voz já não saía mais de tanto que eu gritei entre o choro, desferindo pancadas contra os braços do cara que me segurava.

Um trovão estrondou nos céus e a luz fraca do poste, que iluminava aquela rua deserta, falhou por uns segundos. Ouvimos então um barulho familiar a sirenes abafadas pela distância e pelo chiado alto da chuva. Me lembrei de que havia pedido para aquele senhor da loja de conveniência ligar para a polícia, antes de sair gritando feito uma louca.

– Sujou, cara! – eles cessaram os chutes, se entreolhando amedrontados.

– Larguem a garota! – disse o cara que parecia dar as ordens, pois o barulho das sirenes se aproximava cada vez mais.

Eu ainda tentava me soltar quando fui brutalmente empurrada na direção onde Jordan estava caído no chão. Desabei de joelhos ao seu lado, soluçando entre o choro. A verdade é que eu chorava tanto que nem vi quando os três agressores sumiram noite a dentro. Não dei a mínima atenção para qual direção seguiram, meus olhos mantinham-se arregalados e fixos em Jordan. Seus braços agarravam sua própria cabeça numa tentativa de se proteger, e o seu rosto estava ensanguentado por alguns cortes.

Um soluço carregado de desespero me escapou, junto as lágrimas quentes que se emendavam em meu queixo, pingando em meu colo. Mais um raio irrompeu no céu seguido de um estrondoso trovão. Jordan tossiu, virando o rosto de lado para me olhar, mas acabou cuspindo sangue no chão, o qual respingou em minhas coxas e vestido. Meu coração estava completamente despedaçado por vê-lo assim.

– Me... perdoa? – sua voz soou baixinho pela dificuldade de produzir som ao falar.

Eu sequei minhas lágrimas rapidamente, negando com a cabeça.

– Ah, Dan... Eu que não consegui... – outro soluço ecoou, interrompendo minha fala. Acariciei o seu rosto, minhas mãos estavam trêmulas – Não consegui fazer nada!

Jordan fechou os olhos, segurando em minha mão, arrastando-a até a sua boca, que estava cortada de lado. Ele deu um beijinho carinhoso nela, e eu precisei me segurar para não desabar num choro profundo e dolorido. Me inclinei um pouco sobre ele, deixando um beijo demorado em sua testa. Ouvi os carros de polícia estacionarem em frente ao posto de gasolina, mas não olhei para trás, simplesmente porque não conseguia.

– Hey, vocês... – um dos policiais nos chamou ao sair da viatura, escutei seus passos por entre as poças de água da chuva na rua – O que aconteceu aqui?

– Os assaltantes foram para aquele lado, policial. – o velhinho da loja falou apontando em uma direção.

Eu não tirei meus olhos de Jordan nem por um segundo, estava completamente paralisada. Mas notei quando o policial fez um sinal para a segunda viatura, que seguiu rua a dentro. A mão de Jordan escorregou da minha, tombando contra o seu peito, eu apertei o seu rosto, sentindo o sangue quente envolver os meus dedos, mas seus olhos não tornaram a abrir.

– Jordan? – chamei seu nome com voz embargada, na tentativa de acordá-lo, mas ele não respondeu – Jordan, por favor, meu amor...

– Estamos no posto do Benson. Sim. Dois garotos, um está muito ferido e desacordado. Mandem uma ambulância. – ouvi o policial falar pelo rádio, e o desespero dentro de mim se multiplicou.

Jordan não tornava a reagir. Segurei sua mão, apertando-a, estava tão fria. Meu coração pareceu paralisar por uns segundos, e inclinei rapidamente a minha cabeça sobre o seu peito, ouvindo as batidas aceleradas de seu coração. Tornei a olhar em seu rosto e beijei seus lábios, sentindo minhas lágrimas se misturarem com o seu sangue. A essa altura eu chorava implorando para ele acordar.

– Não pode mexer nele até os médicos chegarem, moça. Seu namorado vai ficar bem. – o policial me deu um leve puxãozinho para trás, mas me soltei de seu toque, não sairia de perto do Jordan de jeito nenhum.

Tirei o casaco o qual ele havia me emprestado, cobrindo o seu corpo que ficava cada vez mais gélido pelos ventos que sopravam os respingos da chuva em nossa direção. Então voltei a me reclinar sobre ele, encostando minha testa na sua, chorando sem parar, sem fazer barulho, minha voz simplesmente não saía. Fiquei ali, ao seu lado, implorando internamente para que ele acordasse, para que voltasse a falar comigo.

Estava tão alheia ao que acontecia a nossa volta que ao menos percebi quando a ambulância chegou, não sabia nem quanto tempo havia se passado desde que o policial solicitou socorro, mas cedi espaço para que os paramédicos cuidassem de Jordan. Eles acabaram permitindo que eu o acompanhasse na ambulância, e eu só conseguia pedir para que Deus cuidasse dele.

Durante todo o caminho até o hospital, Jordan não tornou a abrir os olhos, e os médicos pareciam preocupados com isso, os sinais dele não estavam nada bons. Sabia disso pelos aparelhos, não pude me aproximar nem mesmo segurar em sua mão, o que me corroía ainda mais por dentro. A culpa era toda minha, eu não consegui fazer nada para ajudá-lo.

– Não pode entrar, moça. – disse um dos enfermeiros, me segurando pelos ombros – Precisa ficar aqui.

Foi tudo o que ele disse, antes de seguir pelo corredor com os outros. Havia sangue seco embalado em meus dedos, respingos em minhas coxas, vestido, e até mesmo pelo casaco o qual eu segurava debaixo do braço. Era o sangue dele. Nenhuma palavra escapava por entre os meus lábios, estava em choque, paralisada, sozinha naquele corredor extenso e impecavelmente branco. Nunca me senti tão angustiada, sufocada e desolada, quanto nesse exato momento.

Fomos separados. Os médicos o levaram para uma sala onde não pude entrar, minhas lágrimas já haviam secado àquela altura, e mesmo assim o tormento continuava presente dentro de mim. Aquela maldita impotência... Não pude fazer nada. Não importava o quanto eu gritasse ou tentasse me soltar, aqueles monstros continuavam batendo e batendo nele. Respirei falhado, tentando espantar aquelas lembranças assustadoras de minha cabeça.

– É sua? – alguém chamou a minha atenção, era o policial que nos ajudou.

Nesse instante, foi como se o som a volta tivesse sido ligado de novo. Minha cabeça latejou com as vozes e o barulho dos telefones, vindos da recepção. Estava tão nervosa, que de alguma forma consegui abafar tudo aquilo por um certo tempo. Mas o policial a minha frente continuava me encarando.

Ele era um homem alto, negro, careca e um tanto forte. Seu uniforme ficava bem marcado em seu corpo. Logo percebi que se referia a minha bolsa, a qual segurava em sua mão direita, apontando-a em minha direção. Eu apenas assenti, não conseguia dizer nada, minha garganta estava ardendo e completamente seca. Ele sorriu leve e a entregou para mim.

– Me chamo, Jimmy. – se apresentou de forma cuidadosa, acho que era notável o quão frágil eu me encontrava – Preciso saber de umas coisinhas. Será que você pode me responder uma ou duas perguntas enquanto ela faz uns curativos nos seus joelhos?

Ele se referiu a enfermeira que estava bem ao seu lado. Uma mulher baixinha, de cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo, ela sorria gentil, com as mãos enfiadas nos bolsos do seu jaleco impecavelmente branco.

Não consegui retribuir a gentileza, nem mesmo se me esforçasse conseguiria sorrir enquanto não recebesse a confirmação de que Jordan estava bem. Olhei para baixo, encarando os meus joelhos, ainda não havia percebido que sangravam. Acho que ralei quando desabei ao lado de Jordan naquele posto.

– Venha, querida, vamos cuidar desses machucados? – ela segurou em meu braço e foi como se eu tomasse um choque.

A imagem daquele homem me segurando invadiu a minha mente. Me soltei em um solavanco, fazendo ambos me olharem com espanto.

– Não vou sair daqui! – minha voz finalmente saiu, firme, mas completamente rouca.

Olhei para a porta onde entraram com Jordan e cerrei os punhos com força. Nunca seria capaz de deixá-lo sozinho. Meu nariz ardeu indicando as lágrimas novamente e notei aqueles dois se entreolharem.

– Tudo bem. Se puder sentar naquele banquinho, faço seus curativos aqui mesmo. – a enfermeira falou doce, apontando para o banco um pouco mais a frente, eu sequei as lágrimas e assenti – Ótimo, venha?

Ela estendeu a mão para mim e eu lhe acompanhei. Me sentei no banquinho, deixando minha bolsa de lado, e respirei falhado, notando aquela moça se ajoelhar a minha frente, ela segurava uma maleta de primeiros socorros. Eu realmente não me importava nem um pouco com aqueles arranhões idiotas. Me sentia tão culpada por não ter conseguido ajudar o Dan. Não fiz nada além de chorar e gritar feito uma garotinha patética. Ele não merecia aquilo.

– Tome um pouco. Vai se sentir melhor. – Jimmy me entregou um copo d'água.

Minhas mãos ainda tremiam quando peguei aquilo. Bebi de pouquinho, minha garganta doía com o líquido insipido e gelado que descia. De repente, minha cabeça estava tão pesada que achei se tratar de duas ao invés de uma. Jimmy se postou ao meu lado, ainda de pé, e a moça continuou a limpar os meus ferimentos.

– Você consegue me responder algumas perguntas? – ele questionou novamente, e a enfermeira praticamente o fuzilou com o olhar.

– Acho... Eu acho que sim. – respondi baixo, não conseguiria altear minha voz.

– São bem curtas. Preciso saber se levaram alguma coisa de valor. – disse ele, passando o olhar à minha bolsa.

– Não, senhor. – fui sincera, não precisava nem checar nada, me lembrava de tudo como se eu ainda estivesse lá.

– Certo. O dono da loja de conveniência já nos adiantou que os homens estavam encapuzados. Mas você conseguiu ouvir ou ver algo que lhe chamou atenção? – ele perguntou e cerrei meus punhos.

Aqueles homens chamaram Jordan de "McClain", mas eu não podia contar isso, certo? Talvez causasse problemas para o Jason. No momento, era melhor a polícia pensar que se tratava de um assalto mal sucedido. Mas em contrapartida, vi uma coisa na mão direita do cara que me segurava, uma tatuagem para ser mais exata. Não acho que aquilo serviria de muita coisa, só que era tudo o que eu podia contar agora.

– Tinha um pássaro desenhado na mão direita de um deles. – respondi, e Jimmy arqueou uma sobrancelha.

– Você poderia... me ajudar a refazer o desenho? – ele questionou paciente, e eu assenti – Certo. Vou buscar algo para desenharmos. Mas antes, preciso do contato dos seus responsáveis.

– Sim, senhor. – confirmei, e o vi pegar o celular no bolso.

Meus pais provavelmente surtariam quando soubessem de tudo isso, mas não era algo que dava para esconder deles, não com a polícia envolvida. Eu passei o contato e Jimmy seguiu pelo corredor fazendo a ligação. A moça terminou de limpar os ferimentos em meus joelhos e se despediu educadamente, depois de confirmar que eu estava "bem".

Fiquei sozinha outra vez naquele corredor, encarando fixamente a porta da sala onde Jordan estava. Me peguei pedindo mentalmente de novo, para que ele ficasse bem, era tudo o que eu desejava naquele momento. Suspirei pesado e passei meu olhar para a bolsa ao meu lado, a qual logo trouxe até o meu colo. Abri e peguei as fotos lá dentro, de um dia atrás. Passei as minhas com Jordan uma por uma, estávamos tão felizes no baile, nossa noite ontem foi tão perfeita e romântica.

Jamais imaginaríamos que uma coisa assim, completamente oposta, aconteceria no dia seguinte. Abracei aquelas fotos, fechando meus olhos com força, uma lágrima me escapou, tratei de limpá-la e já estava quase guardando as fotos outra vez, quando uma delas escorregou pelo meio, caindo ao chão. Era uma minha com o Jason, que tiramos após ele colocar a gargantilha em mim. Fiz menção de pegá-la, mas Jimmy foi mais rápido, ele deu uma boa olhada antes de me lançar um leve sorriso.

– É o seu namorado, não é? – perguntou ele, sentando ao meu lado, e eu neguei com a cabeça.

– Não. Esse é o irmão gêmeo dele. – respondi, pegando a foto de volta. Jimmy arqueou as sobrancelhas.

Não prestei muita atenção nele, pois encarava o rosto de Jason naquela foto. Talvez eu entendesse agora o motivo do seu mau humor quase que constante. Não sei o que aqueles homens eram, mas acho que queriam ele ao invés do Jordan, o que me levava a se perguntar: quantas situações assim Jason tinha que enfrentar? Por quanto ele já não tinha passado? Isso era tão angustiante.

– Muito bem, você pode começar descrevendo o que se lembra da tatuagem? – a voz de Jimmy me despertou outra vez.

– Claro. – guardei as fotos, e tentei me concentrar no desenho.

Eu vi aquela tatuagem em flashs rápidos, quando intercalava olhando para baixo e na direção de Jordan novamente, mas acho que era uma águia. Sim, parecia bastante uma, com asas bem longas e pontiagudas. À medida que eu ia descrevendo para Jimmy, isso pareceu se tornar uma informação importante. Ele disse que a águia, em específico as asas dela eram o símbolo de integrantes de uma gangue da cidade.

– São membros da Black Wings, BW para encurtar. Esses caras são perigosos. – Jimmy olhava o desenho no bloquinho, um tanto intrigado – Todos eles tem um pássaro, seja uma águia ou algo parecido com isso numa parte do corpo.

"Black Wings" não me era um nome estranho, mas eu realmente não conseguia me lembrar onde já havia ouvido, ou se realmente já tinha ouvido.

– É comum que eles sejam pagos para atacar pessoas de alto escalão, ou viciados que não pagam. Sabe me dizer se o seu namorado usa drogas? – Jimmy encostou o lápis no bloquinho onde desenhou a águia, e finalmente me encarou.

– Quê? Não! Jordan não usa drogas. Ele é um atleta do colégio. – respondi incrédula, vendo-o arquear as sobrancelhas.

– Atletas as vezes burlam as leis, moça. – Jimmy parecia convencido agora, mas não tinha a mínima condição do meu Dan ter dívida com gangue nenhuma.

Se ele soubesse do Jason... Se pelo menos imaginasse as coisas podres em que ele estava metido, entenderia que Jordan só estava naquela droga de sala porque foi confundido com o irmão. Tive vontade de gritar com Jimmy só por ele cogitar manchar a imagem do meu Dan, mas mesmo que eu tivesse começado, teria sido interrompida logo a seguir.

– Lizzie! – minha mãe chamou nervosa, apontando no início do corredor.

Ela se apressou em minha direção e vi que logo atrás vinham o meu pai, o tio Henry e a Susana. Todos com semblantes recheados de preocupação. Me levantei num sobressalto, sendo golpeada por um abraço extremamente apertado da minha mãe. Precisei dar dois leves tapinhas no braço dela para que folgasse um pouco, ou eu não conseguiria respirar.

– Meu amor, como você está? – ela segurou o meu rosto entre as duas mãos, parecendo analisar cada detalhe ali.

– Querida, o que aconteceu? – a voz da Susana soou um tanto embargada, acho que ela estava prendendo o choro.

– Me chamo Johnson, Jimmy Johnson. Sou o responsável por chamá-los aqui. – notei que Jimmy se apresentava ao meu pai e tio, e me questionei mentalmente como e por que ele estava na cidade outra vez.

Mas antes que pudesse formular a pergunta em voz alta, meus olhos se arregalaram ao ver a porta da sala de Jordan se abrir. Nesse instante, nada importava mais que ter notícias dele. Me soltei da minha mãe sem dizer uma só palavra, passando entre ela e Susana tão apressada que as derrubaria se tentassem me impedir. Parei ao ver o médico sair, ele era um senhor alto de cabelos brancos e barba falhada. Ajeitou os óculos, enquanto lia algo na prancheta a qual segurava, então olhou para frente, me encarando de volta.

– Algum acompanhante legal do sr. Jordan Davis? – sua voz soou forte, e ele desviou seu olhar para o lado, foi quando notei que Susana já estava ali.

– Bem aqui, doutor. Sou a mãe dele. Como o meu filho está? – vi lágrimas se acumularem nos olhos dela e segurei em seu braço, numa tentativa de lhe transmitir força, mesmo que eu também precisasse.

Ela me deu um leve sorriso e eu assenti.

– O quadro do seu filho é estável. Ele teve uma costela fraturada, múltiplas escoriações na região do abdome e um corte sério no lado direito da cabeça, o qual acarretou numa considerável perca de sangue. – o médico explicava e meu coração ia ficando pequenininho, me doía tanto o Dan estar machucado – Acredito que a perca de sangue tenha sido o motivo para que ele perdesse os sentidos antes mesmo do socorro ser prestado, mas tranquilize-se, pois já conseguimos conter.

– E qual o tempo de recuperação, doutor? – perguntou Susana, e ouvi os passos de minha mãe bem atrás de mim.

– Estimo que com repouso absoluto, e tomando os anti-inflamatórios que irei receitar, dentro de duas ou três semanas ele estará completamente saudável outra vez. – o médico respondeu, me fazendo respirar um pouco mais leve.

Finalmente a notícia de que Jordan ficaria bem. Eu precisava tanto ouvir aquilo, mas ainda tinha uma coisa que eu queria muito.

– Posso... Eu posso vê-lo? – minha voz soou baixinho, mas todos me olharam.

– Irão levá-lo para um quarto no andar de cima. As visitas serão liberadas, mas apenas uma pessoa pode dormir no hospital com ele. – o velho senhor respondeu educadamente, ajeitando os óculos outra vez.

Nesse instante eu não consegui esconder meu contentamento, e um sorriso escapou por entre meus lábios. Eu o veria, tudo bem se não pudesse dormir com ele, mas o veria e, por Deus, Jordan ficaria bem. Era tudo o que realmente importava agora.

O médico seguiu lendo o prontuário com todos os procedimentos que foram realizados e os exames que deveriam ser prestados logo pela manhã, nos deixando a par de exatamente tudo, mas no fim, novamente garantiu que Jordan estava fora de risco.

– Tome um pouco d'água, querida. – disse meu pai, logo após sermos encaminhados para a sala de espera.

– Obrigada. – forcei um sorriso ao alcançar o copo, e minha atenção foi direcionada ao meu tio que ainda conversava com o policial – O que ele está fazendo aqui, pai?

– Ah, seu tio? – questionou ele, e eu assenti, tomando um gole d'água – Bom, ele nunca foi embora, querida.

– O quê? – franzi a testa, um tanto confusa.

– Ele não explicou direito, mas acredito que ainda esteja trabalhando naquele incidente que houve na casa dos Davis. – explicou meu pai – Aquilo foi um ataque direto a um federal do governo. Eles precisam saber de onde veio.

– Ah, claro. – senti um calafrio subir pela espinha. Jason estava metido naquilo, e se meu tio investigasse demais... – Mas como ele sabia de hoje?

– Bom, parece que sua mãe o convidou para o meu aniversário. Ele estava lá em casa quando recebemos a ligação do policial Jimmy. – meu pai forçou um sorriso.

Bom, pelo menos agora aquilo fazia sentido.

– Entendi. A propósito, feliz aniversário pai, e desculpa por ter estragado tudo. – senti o ardor das lágrimas subindo por minha garganta.

– Não foi sua culpa, filha. – ele rapidamente me puxou para um abraço confortável – Muito menos de Jordan. A polícia vai prender quem fez isso, fique tranquila agora.

– Obrigada, pai. – suspirei, abraçando-o de volta.

E ficamos assim por um bom tempo, era bom ser a garotinha do papai. Quando eu era pequena, só conseguia me acalmar em seus braços, e agora eu me sentia pequenininha de novo. O abraço dele ainda era tão bom quanto eu me lembrava naquela época, e a sensação de estar protegida era tudo o que eu precisava nesse momento.

Quando Susana e a minha mãe voltaram do estacionamento, já traziam a mochila com as roupas do Jordan que estava no porta-malas, parece que a polícia havia trazido o carro dele, mas somente sua mãe podia recebê-lo. Passaram-se longos e dolorosos minutos de espera, até que uma das enfermeiras nos chamou. Susana foi a primeira a entrar no quarto para vê-lo, e eu andava de um lado para o outro esperando minha vez.

– Podemos conversar, Lizzie? – a voz de meu tio soou atrás de mim, e rapidamente me virei em sua direção.

– A-ah... Claro. – forcei um sorriso, e ele logo se aproximou.

– Poderia me dizer se o que o policial Jimmy registrou está correto? – uma de suas sobrancelhas arqueou, e eu apenas assenti – Você e Jordan foram atacados por membros de uma gangue chamada Black Wings?

– Eu não sei exatamente. Só contei para ele que vi uma tatuagem de águia na mão de um deles. Daí ele juntou as peças. – respondi, um tanto nervosa, e o vi confirmar com um aceno de cabeça.

– E você ou Jordan tem relação com gangues? – sua pergunta me fez franzir a testa.

– O quê? Não! O que o policial falou sobre a possibilidade de Jordan usar drogas é mentira. Eu sei o namorado que tenho. – falei firme, cerrando os punhos com força.

– Então conhecem alguém que tenha ligação com gangues? – a calma empregada naquela pergunta me fez estremecer, então senti a saliva descer rasgando por minha garganta.

– Não. – as lágrimas rapidamente se acumularam em meus olhos, sabia que estava mentindo – Não tivemos culpa, e não sei explicar a porra que aconteceu hoje, mas o Dan está lá dentro por conta disso. E como se não bastasse o quão difícil as coisas estão, eu ainda tenho que responder perguntas estúpidas?

– Lizzie! – minha mãe se aproximou rápido ao perceber o quão exaltada eu estava – O que pensa que está fazendo, Henry? Ela já respondeu o que tinha de responder, agora deixe-a em paz!

– Certo. Me desculpem. – ele pediu no mesmo segundo em que os braços da minha mãe me puxaram para um abraço.

Fechei os olhos com força, permitindo que algumas lágrimas rolassem. Era muito difícil ter de lidar com tudo ao mesmo tempo. Jordan, Jason... Eu não me perdoaria se qualquer coisa acontecesse a eles, eram importantes demais para mim. Ao ver Susana apontar pelo corredor, me apressei em secar as lágrimas, rompendo o abraço com a minha mãe.

– Eu posso... – antes que eu conseguisse completar a pergunta, ela assentiu, sorrindo doce para mim.

– Podem vir, já está tudo em ordem. Só peço que façam silêncio, Jordan ainda não acordou. – disse ela em tom calmo, e um leve sorriso se fez em meus lábios.

– Obrigada. – sequei minhas lágrimas outra vez antes de segui-la pelo corredor.

Meu tio foi o único que não veio, ele disse que iria à delegacia com Jimmy, e eu acho que preferia assim. Pelo menos por ora, era menos um problema para lidar. A cada passo, eu podia sentir as batidas do meu coração subindo pela garganta, e quando Susana parou em frente ao quarto, minhas pernas travaram por alguns segundos, mas ao olhar para a minha mãe ela conseguiu me transmitir confiança, então assenti. Cerrei os punhos com força, e vi a porta ser aberta.

Todos os pares de olhos vieram em minha direção, eu sabia que devia ser a primeira a entrar, então assim eu fiz, avistando uma enfermeira dentro do quarto. Ela checava o soro ligado ao braço de Jordan, mas logo se virou em minha direção, me lançando um sorriso amigável, o qual não consegui corresponder. Detive minha total atenção nele, que parecia dormir tranquilo agora. Uma lágrima rolou pelo meu rosto, e me apressei a secá-la.

– Jordan está bem agora, querida. – Susana segurou delicadamente em meus ombros – Pode se aproximar, sei que ele vai gostar de sentir sua presença.

– Claro, eu... – funguei com o nariz, e ela me soltou, sorrindo doce – Obrigada.

Me virei novamente em direção a Jordan, tomando força para caminhar até sua cama. Sua cabeça havia sido raspada e por isso o cabelo estava bem ralo, o médico disse que foi necessário para conter o sangramento e fechar o corte. Havia um enorme curativo do lado direito, e outros menores espalhados pelo seu rosto. Todo o sangue havia sido limpo e as feridas fechadas. Ele precisou levar quatro pontos acima do supercílio e havia um enorme hematoma em seu olho esquerdo.

Sem contar que seu abdome e peitoral estavam quase que completamente enfaixados, junto ao braço direito, no qual teve uma pequena contusão. Estendi minha mão para tocá-lo, mas recuei um pouco ao lembrar do toque quente de seu sangue entre meus dedos da última vez que acariciei seu rosto. Mordi o cantinho do lábio, contendo as lágrimas que chegavam com força, eu sabia que Jordan ficaria bem, mas era tão difícil vê-lo machucado assim.

Cuidadosamente acariciei sua testa, e curtos flashs do ocorrido no posto invadiram meus pensamentos, trazendo consigo todo o desespero e angustia de volta. Não lembro de já ter sentido tanto medo antes, como senti de perdê-lo hoje, eu não sei o que faria sem o meu Dan. Num impulso, me inclinei um pouco para frente, tocando seus lábios macios em um selinho demorado. Ainda o olhava bem de pertinho quando ouvi nossos pais conversarem baixinho com a enfermeira.

Logo depois minha mãe se aproximou, tocando meus ombros carinhosamente, então tornei a me erguer. Não foi preciso ela dizer uma só palavra para que eu entendesse que deveríamos ir embora. Acontece que já não era mais horário de visitas, o médico fez uma pequena exceção apenas para que nós víssemos Jordan, que ele estava bem. Eu respirei fundo, e assenti. Não queria deixá-lo, mas também não podia pedir a Susana para ficar em seu lugar, ela era a mãe dele.

– Nós voltaremos amanhã bem cedinho, filha. – garantiu minha mãe, tentando me fazer se sentir melhor – Assim que o horário de visitas abrir, vai poder vê-lo de novo. Até lá, Jordan já terá acordado.

– Tudo bem. – me forcei a responder, ainda olhando fixamente para Jordan deitado naquela cama.

– Eu te agradeço, querida, por ter ficado e cuidado do meu menino. Imagino o quanto passar por isso foi horrível para vocês dois. – disse Susana ao se aproximar de nós duas, haviam lágrimas em seus olhos.

– Não precisa agradecer, dona Susana. Eu... – olhei para Jordan outra vez – Não fiz muita coisa.

– Mas é claro que fez, querida. Os médicos disseram que não o deixou sozinho nem por um segundo. – ela acariciou o meu rosto com delicadeza, e eu forcei um sorriso.

– Era o mínimo que eu podia fazer depois de tudo. – fui sincera, gostaria de ter feito mais.

Se eu pudesse, teria.

– O que precisar, Susana, estaremos a disposição. – disse minha mãe, em tom solidário – Mas agora vamos deixá-los descansar um pouco.

– Claro. Boa noite, dona Susana! – me despedi, lançando um último olhar para Jordan, antes de me virar.

– Boa noite, e muito obrigada pelo apoio. – Susana sorriu doce, enquanto meu pai abria a porta para nós.

– Lizzie! – ao ouvir aquela voz rouca soar pelo quarto, paralisei completamente – Não, Lizzie!

Me virei rápido, avistando Jordan se contorcer na cama. Ele ainda estava de olhos fechados, mas com a testa franzida, chamando o meu nome como se sentisse que eu estava indo embora. Olhei para a minha mãe, que assentiu junto a Susana, então me apressei a se aproximar da cama outra vez. Jordan não parava de me chamar, se contorcendo e bagunçando as cobertas na cama. Sem pensar duas vezes, o abracei cuidadosamente, para não machucá-lo, sei que estava dormindo, mas de forma alguma queria que sentisse dor.

– Hey, estou aqui. – sussurrei em seu ouvido, numa tentativa de acalmá-lo – Estou aqui, amor, está tudo bem agora. Eu não vou deixar você.

Continuei falando baixinho, até que o seu corpo foi relaxando. Duas lágrimas me escaparam, molhando o seu ombro esquerdo, Jordan não queria que eu fosse embora, e ter que fazer aquilo me destroçava por dentro. Fechei meus olhos com força, fungando baixinho, enquanto escondia o meu rosto na curvatura do seu pescoço. Dei dois beijinhos ali assim que ele finalmente se tranquilizou. Então me levantei, puxando as cobertas outra vez, para deixá-lo o mais confortável possível.

– O que acha de ficar hoje, querida? – sugeriu Susana, no segundo em que passei minha atenção a ela – Se estiver cansada, não tem problema, pode ir e eu...

– Sim. – me apressei a responder, vendo o leve sorrisinho da minha mãe – Se não for problema, eu fico sim.

– Problema nenhum, meu amor. Jordan também quer que fique. – ela se aproximou do filho, segurando uma de suas mãos – Retornamos pela manhã, e qualquer problema é só apertar aquele botãozinho que um enfermeiro vai chegar bem rápido.

– Certo, eu... Agradeço muito, muito mesmo. – alcancei as mãos dela, segurando-as bem firme.

Em seguida, Susana e meus pais me deram algumas instruções, para que eu me acomodasse bem no quarto. Avisaram também que eu devia tomar um banho para relaxar, e que podia até mesmo usar uma das camisas de Jordan que estava na mochila sobre a poltrona, para dormir de forma mais confortável. E, somente depois de me lembrarem que estariam de volta logo bem cedo, os três foram embora.

Respirei fundo, olhando em volta, havia uma poltrona confortável, de cor preta, bem ao lado da cama, mas eu realmente não conseguiria dormir agora. Então, voltei a ficar ao lado de Jordan, acariciando o seu rostinho, como era bom estar pertinho dele outra vez... Faria o meu melhor para cuidar dele, até que estivesse bom de novo. Sorri leve, e deixei um beijinho carinhoso em sua testa.

– Eu amo você mais que tudo. Nunca, nunca me deixe, tá? – sussurrei, segurando em sua mão, entrelaçando nossos dedos, e o senti apertar a minha de volta, o que me fez sorrir largo...


[...]

💋. E aí, o que acharam do capítulo? Deixem seus comentários, não esqueçam de votar na ⭐, e até o próximoooo 😘

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top