56. Desespero
"Oh, espero que algum dia eu consiga sair daqui. Mesmo que demore a noite toda ou cem anos... Preciso de um lugar para me esconder, mas não consigo encontrar nenhum por perto. – Lovely, Billie Eilish feat. Khalid."
– O Jason está em casa. Então não quero você andando por aí. – disse Jordan, todo seco, encarando o teto, o que me fez franzir a testa um pouco confusa.
– Eu nunca fico andando por aí. – rebati, ao vê-lo se sentar.
– Até parece... – resmungou impaciente – De uns tempos pra cá, basta eu mudar o foco por um instante, que você já fica toda cheia de risinho com aquele desgraçado.
– Isso não é verdade. – neguei com a cabeça, e ele rapidamente se levantou, caminhando em passos largos na minha direção.
– Ah, não? – o vi cerrar os olhos – Acha que eu não percebo? – engoli em seco, no instante que parou poucos centímetros a minha frente – Por acaso, eu tenho cara de otário?
– O que quer dizer com isso? – me obriguei a não se afastar quando sua mão esquerda alcançou o meu rosto.
– Quero que entenda que você é minha agora. – percebi a fúria alarmante em seus olhos, e senti as minhas pernas fraquejarem – É toda minha, Lizzie!
– Eu não sou um objeto, e você não é o meu dono. – afastei sua mão, mas ele me agarrou pelos quadris, me empurrando contra a porta do banheiro.
– Foda-se! Não quero nenhum outro cara perto do que é meu. – seu rosto se emparelhou ao meu – Então se afasta do Jason, antes que eu perca a cabeça.
– Você... está me ameaçando? – franzi o cenho, completamente incrédula – Estamos falando do seu irmão, eu só quero ser amiga dele, qual o problema nisso?
– Como exatamente quer ser amiga daquele desgraçado? Dançando agarrada com ele dentro da porra de uma cabine, por acaso? – Jordan continuava me encarando irritado – O Jason não quer ser seu amigo, vê se para de fantasiar e entende, caralho!
– Como você...
– Adivinha? – ele me interrompeu, alteando o tom de voz – O seu amiguinho me contou. Então é assim que funciona? Eu sou o palhaço que tem que aturar a namorada se dar ao desfrute com o meu irmão pelas minhas costas?
– Você está me ofendendo. – tentei empurrá-lo, mas o seu corpo nem sequer se moveu – Eu não sei por que está agindo assim, avisei que tiramos fotos ontem. O Jason não queria dançar comigo na frente de todo mundo, então dançamos na cabine mesmo.
– Foi só isso? – suas sobrancelhas arquearam, e senti o suor frio surgir nas palmas das minhas mãos.
Acontece que eu não sabia até onde o Jason tinha lhe contado sobre ontem naquela cabine, mas alisando a expressão do Jordan, não parecia que soubesse sobre o colar. Ao mesmo tempo, eu não tinha certeza disso. Não fazia ideia de como explicaria para ele o fato de ter ganho um presente tão caro assim do seu irmão. Na verdade, eu só não consegui dizer um não depois que o Jason me falou que mandou fazer especialmente para mim.
– Como assim "foi só isso"? O que quer que eu diga? – foi a minha vez de cerrar os olhos – Eu não sou nenhuma vadia, e não vou aceitar que me trate como uma só porque me deitei com você ontem.
– Eu não estou...
– Está sim! – lhe interrompi – Me magoa profundamente quando você tenta me dizer o que fazer ou não, como se mandasse em mim.
– Não estou mandando em você, estou tentando proteger você. – Jordan soltou a respiração com força, como se estivesse cansado.
– Me proteger do que exatamente? – perguntei confusa.
– Dele, Liz! – sua resposta veio quase de imediato – O meu irmão não é uma boa companhia pra você.
– O Jason nunca me fez mal algum, e eu sei me cuidar sozinha. – percebi seus ombros relaxarem – Pode não parecer, mas eu consigo decidir quem é bom ou não pra se ter como amigo.
– Eu só não quero perder você, linda. – Jordan encostou sua testa na minha, me olhando agora como se eu fosse a coisa mais valiosa e importante para ele.
Isso me causou um intenso arrepio pelo corpo inteiro. Senti algumas lágrimas se acumularem em meus olhos, e um largo sorriso se desenhou em meus lábios quando pousei minhas mãos delicadamente em seu peitoral.
– Nada, nem ninguém pode ser capaz de mudar o que eu sinto por você, Davis. – fui o mais sincera possível, encarando aquele mar de mel que eram os seus olhos – Eu te amo.
Toquei o seu rosto carinhosamente, e aquele enevoado conturbado em suas feições se desfez por completo. Lá estava o meu loirinho outra vez. Um leve sorriso me escapou quando suas mãos grandes arrastaram meu quadril em direção ao seu, e não demorou até os seus lábios macios se esfregarem nos meus. Fechei os olhos ao ouvi-lo sussurrar um "Eu te amo!". Jordan era tão intenso e perfeito, que às vezes me arrancava o ar sem o menor esforço.
Sem dizer mais nada, ele selou os meus lábios bem devagar, e repetiu isso algumas vezes seguidas até finalmente iniciarmos um beijo lento e envolvente. Minhas mãos apertaram os seus ombros largos, quando sua língua pediu passagem, e logo cedi. Adorava me deliciar no doce sabor refrescante de menta que a sua boca carregava, mas rompemos aquele contato abruptamente no instante que Jordan me tomou em seus braços ao me dar um curto impulso para cima.
Entrelacei minhas pernas em volta da sua cintura, e voltei a beijar os seus lábios, à medida que ele se virava comigo em direção a sua cama. A essa altura, meus dedos se afundavam entre os fios dourados dos seus cabelos, enquanto nossas línguas dançavam em nossas bocas, acendendo a chama que esquentava os nossos corpos. Apertei os seus ombros com força ao sentir minhas costas tocarem o edredom macio da sua cama, e lembranças da nossa noite de amor começaram a ressurgir em meus pensamentos.
Jordan estendeu seus beijos pelo meu pescoço, depois tomou os meus lábios outra vez, parecendo disposto a domá-los agora. Enquanto isso, sua mão livre apalpava uma das minhas coxas, e o seu quadril se encaixava perfeitamente entre as minhas pernas. O calor da sua pele inebriava os meus sentidos, estimulando o meu prazer. Contudo, não tivemos tempo suficiente para esquentar o clima, pois logo ouvimos o toque estridente do meu celular ecoar pelo quarto.
– Eu faço o que você quiser, se não atender... – propôs Jordan, fazendo graça ao rompermos o beijo, e eu lhe roubei um selinho antes de empurrá-lo para o lado.
Em seguida, me levantei apressada, ajeitando a toalha em volta do meu corpo.
– Deve ser a minha mãe. Que horas nós vamos para casa? – perguntei seguindo até a escrivaninha, e notei Jordan se jogar na cama.
– Já estamos em casa, baby. – ele deu uma risadinha, e eu rolei os olhos.
– Eu quis dizer a minha casa, Davis. – sorri para ele, que continuava me olhando com um sorrisão gostoso nos lábios.
– Passa o dia comigo? Por favor? Te levo a noite, pode ser? – perguntou ele, e eu assenti.
Ao pegar o celular, constatei que era mesmo a dona Elisa ligando, provavelmente só tinha visto agora as mensagens que lhe mandei pela madrugada. Ri anasalado e logo tratei de atendê-la, já até imaginava qual seria o assunto.
– Bom dia, mãezinha! – atendi temerosa, afinal, tinha uma pequena porcentagem de chance de tomar uma bronca.
– Bom dia, minha bebezinha. Acabei de ver suas mensagens, filha. – ela confirmou o que eu já imaginava – Então, ocorreu tudo bem ontem?
– Ah, sim. Foi tudo perfeito, mãe. – olhei rápido em direção a Jordan que me mandou um selinho no ar, o que me arrancou um sorrisinho bobo – Estou com o Dan agora, ele pediu que eu passasse o dia aqui hoje. Tem algum problema?
– Não, querida. Não tem nenhum problema, mas espero que não tenha esquecido do aniversário de seu pai. – arregalei os olhos ao ouvi-la e rapidamente afastei o celular do ouvido para conferir a data.
– Meu Deus! – exclamei ao perceber que sim, eu havia esquecido – Mãe, é hoje, eu ainda não comprei nada para o papai.
– O que tem hoje? – questionou Jordan, em tom baixo, e eu fiz um rápido sinal de silêncio que ele pareceu entender.
– Eu imaginei. Estava com a cabeça nas nuvens por conta do baile. – ouvi a risadinha de dona Elisa do outro lado da linha – Mas não se preocupe, minha pequena, eu já organizei tudo. Só quero que faça uma coisa, pode ser?
– Ah, mãe! Você não existe. – sorri aliviada – O que preciso fazer?
– Bom, é bem simples. – pelo seu tom de voz, acredito que ela estava checando se meu pai não ouviria – Eu mesma faria, mas acontece que o Louis perceberia se eu saísse de casa para buscar o bolo na confeitaria...
– Já entendi. – dei uma risadinha, caminhando pelo quarto – Eu faço isso. Jordan disse que me leva para casa a noite, então é só mandar o endereço e nós passamos na confeitaria pelo caminho.
– Certo. É mesmo caminho de casa, vou te mandar o endereço, me avise quando estiverem chegando. – pediu ela, mais aliviada – Ah, e quero saber tudo sobre sua noite ontem, mocinha. Estou numa curiosidade só.
– Eu imagino. – senti minhas bochechas esquentarem, estava mesmo louca para lhe contar sobre a minha primeira vez e como tudo foi tão perfeito.
– Certo, querida. Tenha um bom dia com Jordan, um beijo. – ela se despediu toda fofinha como sempre.
– Obrigada, um beijo, mãe. – ao dizer isso, encerrei a ligação, segurando o celular com as duas mãos rente ao meu peito.
Então, me aproximei um pouco mais da janela, observando o céu lá fora. Algumas nuvens escuras e pesadas pela chuva que logo cairia, tratavam de encobrir o sol. Me sentia tão feliz, mas uma pergunta pairava sobre minha cabeça: "Como fui esquecer o aniversário do papai?", não era difícil de lembrar já que indicava aproximadamente um mês para as férias de verão, mesmo assim aquilo me fugiu completamente, e se não fosse pela mamãe...
– Posso saber no que está pensando? – a voz rouca de Jordan ao pé do ouvido me fez arrepiar, e logo senti suas mãos tocarem minha cintura.
– Ah, não é nada. – sorri, virando de frente para ele que me recebeu com um selinho – Quer dizer, acredita que esqueci o aniversário do meu pai? Não sei onde estava com a cabeça.
– Sério? É hoje? – suas sobrancelhas arquearam e eu assenti em confirmação.
– Não se incomoda em buscarmos o bolo no caminho para casa, né? – fiz uma leve careta, e suas mãos grandes me apertaram – Minha mãe pediu e eu disse que podíamos fazer isso.
– Tudo bem, linda, não tem nenhum problema. Quem sabe assim eu não ganho mais uns pontinhos com o meu sogrão? – Jordan sorriu antes de me roubar mais um selinho – Mas por ora, o que acha de tomarmos nosso café da manhã?
– Eu acho uma ótima ideia, sr. Davis. – entrelacei meus braços em seu pescoço, e num único impulso ele me pegou no colo.
– Você tem noção do quanto soa sexy me chamar assim, Lizzie? – ele sussurrou quente em meu ouvido, e eu apertei seus ombros sentindo os pelinhos de minha nuca eriçarem.
Antes que eu pudesse respondê-lo, seus lábios macios tocaram meu pescoço em beijinhos suaves e carinhosos, enquanto caminhava comigo de volta para cama, eu apenas sorri arranhando suavemente sua nuca com as pontinhas das unhas. Depois de alguns carinhos e afagos, Jordan e eu nos sentamos para tomar café, estava uma delícia à propósito, ele mandava mesmo bem na cozinha.
Ao terminarmos, o ajudei a juntar tudo, então descemos para a cozinha onde lavamos os pratos. Nesse meio tempo, Susana ligou avisando que uma das enfermeiras no hospital precisou de substituição e que por isso faria um plantão mais extenso hoje, mas também pediu que Jordan não se preocupasse com isso e que preparasse ou pedisse algo para o almoço.
– Nossa, você tá muito gata assim! – exclamou Jordan, de repente, enquanto eu conferia o livro de receitas da família Davis, e mexia o molho da nossa macarronada.
Resolvemos cozinhar para passar o tempo, era divertido e prático.
– Vê se corta as cenouras direito, seu bebê chorão. – o olhei por cima do ombro, prendendo a risada, e ele me fez uma careta.
– Qual é? Eu não tenho experiência em cortar cebolas, e aquele treco fez meus olhos arderem pra caralho. – Jordan se defendeu, me arrancando mais uma boa gargalhada.
– Bebê chorão! – lhe dei a língua só por implicância, e ele soltou a respiração com força, tornando a me encarar outra vez.
– Não era assim que me chamava na cama ontem, Lizzie. – Jordan cruzou os braços, sorrindo malicioso, o que fez minhas bochechas esquentarem.
– Para de graça. – rolei os olhos, voltando minha atenção à panela – E também, ontem eu ainda não tinha te visto cortar uma cebola.
Tornei a rir, era impossível esquecer de Jordan instantes atrás com a cabeça dentro da pia, lavando os olhos quase em desespero. Foi uma cena e tanto. Sacudi minha cabeça, e senti os pelos da nuca eriçarem ao toque de suas mãos grandes em minha cintura, não percebi quando se levantou da mesa, mas agora seu corpo estava praticamente colado ao meu.
– Então você tira piada de um pobre homem indefeso, moça? – Jordan se abaixou um pouco, depositando um suave beijinho em minha nuca, o qual me fez segurar mais firme a colher entre os dedos.
– Se fosse um filme se chamaria "Jordan vs Cebola", ou "Cebola esmaga Jordan?" – senti minha barriga doer pelas risadas, e ele também riu.
– Essa foi boa. – ele teve de concordar – Adoro te fazer rir, linda. É gostoso demais.
– Olha aqui, mocinho, eu espero que não esteja tentando me enro... – minha fala foi interrompida, quando uma brisa trouxe respingos de chuva para dentro de casa.
– Vou fechar as janelas. – Jordan logo se prontificou, fechando a janela da cozinha – Ah, e as cenouras já estão cortadas, amor.
– Tá legal. – disse ao vê-lo sumir cozinha a fora, então sacudi a cabeça.
O molho já estava quase pronto, coloquei todos os ingredientes que mandava na receita da vovó Diane, e o cheirinho estava uma delícia. Então, tratei logo de abaixar o fogo no fogão, e me dirigi à mesa para pegar as cenouras que Jordan havia picado. Após despejá-las na panela, misturei um pouquinho mais e desliguei o fogão. Agora era só despejar por cima do macarrão que já estava na tigela.
– E pronto, está tudo fechado. – Jordan adentrou a cozinha outra vez.
– Ótimo, você é o meu herói. – falei em tom risonho ao senti-lo me abraçar por trás, enquanto eu ia derramando o molho sobre o macarrão – Agora vá chamar o seu irmão para almoçarmos.
– O quê? – seu tom de voz mudou drasticamente, e seus braços folgaram a minha volta – Nem a pau o Jason vai comer com a gente.
– Ele está em casa, então por qual motivo não iria almoçar com a gente? – passei por Jordan, colocando a panela, agora vazia, dentro da pia.
– Qual é? O Jason não deve nem...
– Eu não devo nem o quê, maninho? – aquela voz rouca recheada de sarcasmo invadiu a cozinha – Sabiam que é muito feio falar dos outros pelas costas?
Um sorriso cínico surgiu em seus lábios assim que seus olhos encontraram os meus, e ele rapidamente alcançou uma maçã na fruteira sobre a mesa, limpando-a em sua própria camisa antes de dar a primeira mordida. Rapidamente notei que os nós dos seus dedos estavam feridos, e havia um suave hematoma em seu rosto, bem próximo ao corte em seu lábio superior.
Ele havia se metido numa briga outra vez? Bom, aparentemente sim, e isso não me deixava nada tranquila. Jason devia ter mais cuidado, digo... A vida que ele levava era tão perigosa que chegava a me dar calafrios. Acordei de meus pensamentos ao vê-lo sorrir estranho, bagunçando os cabelos úmidos, o que indicava que havia tomado banho há pouco.
– Hum... quer dizer que os pombinhos prepararam o rango? – uma de suas sobrancelhas arqueou, e eu rapidamente assenti, então seu olhar veio em minha direção – Ótimo, porque eu tô cheio de fome, Lizzie.
Pude perceber um duplo sentido em sua fala quando mordeu a maçã outra vez e um certo sorriso zombeteiro se estendeu em seus lábios ao tempo em que mastigava encarando fixamente minhas coxas desnudas. No mesmo segundo, senti minhas bochechas esquentarem e discretamente tentei puxar a barra da camisa um pouco mais para baixo, de imediato Jordan passou à minha frente numa tentativa de interromper aquele contato visual constrangedor entre nós.
– Então coloca a porra da comida no seu prato e vaza! – o vi cerrar os punhos, e me adiantei a segurá-lo pelo braço.
– Isso não são modos, Jordan. – o repreendi seriamente, mas em tom baixo, e ele me olhou por cima do ombro – Jason é muito bem-vindo à mesa, então por favor, não comece uma discussão boba.
– Mas, Lizzie...
– Você ouviu a moça, Jordanzinho. Eu sou bem-vindo. – Jason nos lançou uma piscadela, e senti os músculos de Jordan enrijecerem – E a todo caso, eu ainda moro aqui, é bom que se lembre disso.
Ele deu um passo a frente, e eu percebi o ódio estampado em seus olhares ao se cruzarem. Posso dizer que ambos se encaravam como se estivessem a um fio de agredir um ao outro, isso me deixou ainda mais nervosa. Não entendia qual era o problema entre aqueles dois, quer dizer... Desde que os conheci, não eram como se fossem os melhores irmãos, só que agora a relação deles parecia estar bem pior.
– O engraçado é que só lembra disso quando bem quer não é, Jason? – Jordan rangeu os dentes, e precisei segurar mais forte em seu braço.
– Ah, o que foi? Não vai me dizer que ainda tá bravo? – Jason sorria prazeroso à medida em que Jordan ficava mais irritado com suas provocações – Relaxa, maninho, foi só uma dança. E a gente dançou bem coladinho, conta pra ele, Liz.
– Seu desgraçado! – Jordan se soltou de mim, empurrando Jason contra a parede – Se tocar nela de novo...
– Vai fazer o quê, babaca? Acabar comigo? – Jason parecia se divertir com a situação – Você e mais quantos? Só tenta, Jordan.
– CHEGA! – berrei em alto e bom som, puxando Jordan pela camisa antes de me meter entre os dois – Você me fez cozinhar a droga de uma manhã inteira, então agora vai sentar naquela porra de mesa e vai comer, entendeu?
Ele arqueou as sobrancelhas ao me ouvir, aposto que estava tão surpreso, quanto eu comigo mesma. Mas acontece que vê-los se engalfinharem feito cão e gato me dava muita raiva, e a minha paciência para lidar com tudo de forma tranquila estava beirando o fim.
– Uhuhu... – ouvi Jason provocar atrás de mim, então me virei para encará-lo.
– E você tá rindo de quê, seu idiota colossal? Isso vale pra você também. Eu trabalhei duro aqui, pra fazer algo legal pros dois, mas se estragarem isso, eu juro que mato vocês! – rangi os dentes, cerrando os punhos com força.
– Uau! Ela é assustadora. – Jason olhou para Jordan – Você sabia que ela era assustadora?
– Tô descobrindo agora também. – a resposta veio em tom risonho, e senti o clima entre os dois amenizar.
– Então... Agora a gente faz o quê? – Jason arqueou as sobrancelhas, e eu toquei em minha testa, pedindo paciência aos céus.
– Sentem na droga da mesa, eu vou pegar os pratos e servir o almoço. – respirei fundo, era preciso muito controle emocional para lidar com aqueles dois.
Vi quando ambos assentiram quase mecanicamente, me olhando como se eu fosse de outro planeta. Às vezes eu achava que eles só faziam certas coisas para me irritar, bom... Essa era uma das vezes, mas ignorei aquilo, me apressando até os armários, onde peguei os pratos e talheres. Ao retornar, os dois já se sentavam à mesa, em lados opostos, mas calados, o que já era uma grande coisa por ora.
– Você fez tudo... sozinha? – perguntou Jason, assim que servi o seu prato, e mesmo sentindo seu olhar sobre mim, não olhei de volta em sua direção.
– Não. Jordan chorou enquanto cortava a cebola. – deixei um leve sorrisinho escapar ao me lembrar daquele detalhe, mas ainda estava brava.
– Você não vai esquecer disso, né? – ele arqueou as sobrancelhas ao me ver se aproximar.
– Pode ficar tranquilo, porque eu não vou. – respondi com um sorriso zombeteiro nos lábios – Seu irmão quase se afogou debaixo da pia hoje, Jason.
Alcancei o prato de Jordan, e então comecei a servi-lo, mas ouvi quando Jason riu anasalado. Ele sacudiu a cabeça e alcançou os talheres sem dizer mais nada. Nesse instante, ouvi o toque de meu celular no andar de cima, Jordan havia me emprestado o carregador, por isso deixei em seu quarto. Suspirei baixinho, devolvendo a tigela à mesa.
– Por favor, não briguem. Eu realmente quero ter um almoço tranquilo hoje. – pedi pacientemente dessa vez, e ambos me olharam.
– Relaxa. – foi tudo o que Jason disse, antes de dar a primeira garfada.
– Pode ir tranquila, amor. Ainda estaremos aqui quando voltar. – Jordan garantiu, e senti sinceridade em suas palavras.
– Tá legal. Eu volto num instante. – me despedi, se apressando em deixar a cozinha.
Meu celular ainda tocava quando subi as escadas, mas assim que alcancei o andar de cima ouvi ele parar e respirei fundo, reduzindo o passo. Ao olhar de lado, a porta entreaberta do quarto de Jason me chamou atenção. Olhei em direção às escadas, e não havia nem sinal deles, por algum motivo estava curiosa para dar uma espiadinha e aquilo era mais forte do que eu.
Me aproximei cuidadosamente dali, e empurrei um pouco mais a porta. Apesar do quase breu naquele cômodo pude ver tudo revirado. Havia alguns itens quebrados pelo chão, a porta de sua cômoda se encontrava do outro lado do quarto e parecia ter sido arremessada contra o abajur agora estraçalhado. As cobertas também estavam para fora da cama e até seu saco de box, ainda pendurado, havia sido brutalmente estourado.
Aquilo me assustou um pouco, e me peguei se questionando como Jordan e eu não escutamos toda aquela bagunça? Mas a resposta veio logo em sequência, não dava para ele ter feito aquilo tudo hoje. No entanto, olhando bem aquela zona, acho que Jason devia estar mesmo muito zangado no dia em questão, mas o que seria capaz de lhe tirar do sério assim? O toque estridente de meu celular me fez dar um salto assustada para trás.
– Droga! – trouxe uma mão ao peito, tentando me acalmar, e logo segui caminho para o quarto de Jordan.
Na chamada era a minha mãe, ela queria saber se eu já tinha almoçado, e também aproveitou para me passar o endereço da confeitaria, o qual eu prontamente anotei num bloquinho de Jordan que estava sobre a escrivaninha. Depois disso, tratei de voltar lá para baixo, mas ao chegar à cozinha, somente Jordan estava sentado à mesa.
– Cadê o seu irmão? – franzi a testa, vendo o prato de Jason intacto.
Até mesmo o macarrão que ele estava enrolando no garfo antes de eu deixá-los sozinhos, ainda estava ali. Então, passei minha atenção a Jordan, que me olhou por cima do ombro.
– Não sei. O celular dele tocou e ele saiu apressado. – ele deu de ombros, como se aquilo não lhe incomodasse nenhum pouco sequer – Sabe como o Jason é... Ele nunca para em casa.
– Bom, talvez esteja com problemas. – cruzei os braços, me lembrando de que ontem foi igualzinho quando dançávamos.
– Não se preocupe com isso. O meu irmão está sempre com problemas, mas ele sabe se virar. – Jordan sorriu despreocupado, e eu acabei por assentir.
Ele tinha mesmo razão, Jason sempre dava um jeito nas coisas e dessa vez não seria diferente, eu não tinha com o que me preocupar. Assim que me sentei à mesa, Jordan abriu a coca e nos servimos, o assunto sobre o aniversário do meu pai acabou surgindo naturalmente. Demos boas risadas durante o almoço que, modéstia a parte, estava uma delícia.
Depois disso, subimos para o seu quarto outra vez, onde nos deitamos agarradinhos para assistir um filme. Entre beijinhos e carícias, eu acabei pegando no sono, ainda estava um pouco cansada da noite anterior, mas Jordan foi bem compreensivo comigo. Quando acordamos o céu já estava começando a escurecer, então concordamos em ir para casa. Àquela altura a chuva caía forte, com trovões estrondosos e relâmpagos que cortavam o céu de um lado ao outro.
Talvez fosse mais prudente termos ficado, mas eu me comprometi a buscar o bolo e não queria perder o aniversário do papai de jeito nenhum. Por isso, decidimos que iríamos para a minha casa e Jordan dormiria por lá essa noite. Já estávamos próximo ao endereço da confeitaria que minha mãe mandou, quando ele avisou que precisava abastecer seu carro.
– É uma sorte ter um posto de gasolina bem aqui em frente. – retirei o cinto de segurança assim que estacionamos.
– Verdade. Enquanto você pega o bolo, eu encho o tanque, não vamos demorar. – Jordan acariciou minha coxa, e eu me aproximei lhe dando um selinho rápido – Pega minha jaqueta no banco de trás, está frio lá fora, linda.
Ele indicou, e eu assenti me apressando a alcançá-la. Estava tão ansiosa com a reação que meu pai teria quando chegássemos em casa, que quase me esqueci da chuva que caía.
– Obrigada, bebê. – agradeci com um doce sorriso.
– Por nada, amor. Passo aqui de frente pra te pegar, não saia antes disso, está chovendo forte. – mencionou Jordan, como se eu fosse uma criancinha travessa.
– Pode deixar, seu bobo, não vou estragar o bolo. – abri a porta, ouvindo o som gostoso de sua risada.
– Mas eu não estou preocupado com o bolo. – ele me fez rolar os olhos num sorrisinho.
Ao descer do carro, me apressei para dentro da loja, a chuva parecia aumentar e estava mesmo frio. O soar da sineta da porta quase foi abafado pelo estrondo de um trovão quando entrei, ainda terminando de vestir a jaqueta quentinha de Jordan e, quando as luzes piscaram, imediatamente olhei para trás. Ele já estacionava em frente a uma das bombas do posto a frente.
– No que posso ajudar? – perguntou o senhor barbado atrás do balcão.
Ele era bem gordo, tanto que apoiava o balde com uma porção extra grande de costelas sobre a barriga, enquanto assistia a um jogo de futebol na mini TV bem ao seu lado. Sorri de forma simpática quando me olhou, e logo segui até o balcão.
– Ah, boa noite. – tentei soar simpática, mas não sei se funcionou – Minha mãe encomendou um bolo aqui, ela pediu que eu viesse buscar.
– Qual o nome? – ele alcançou os guardanapos para limpar os dedos engordurados pelo molho das costelas que comia.
– O que disse? – estremeci com o clarão de um raio que iluminou todas as janelas da loja.
– O nome dela, qual é o nome da sua mãe? – o senhor a minha frente me soou um tanto impaciente.
Então me apressei a dar o nome dela e ele verificou o pedido nas fichas, lendo em voz alta para mim, que apenas confirmei, era o sabor favorito do papai. Depois disso, o velho senhor pediu que eu aguardasse e saiu para pegar o bolo nos fundos da loja. Enquanto ele não voltava eu caminhei entre as prateleiras, e acabei encontrando m&m's, Jordan adorava, por isso resolvi levar junto.
– São $23,47. – disse o homem, sem um pingo de animação.
Suspeito que estava de mal humor por perder parte do jogo para me atender.
– Aqui, senhor! – lhe entreguei uma nota de cinquenta dólares, não havia dinheiro trocado na minha bolsa.
No instante em que ele abriu a caixa registradora, outro trovão reverberou alto e mais um raio chamou minha atenção para fora da loja. Olhei em direção a porta de vidro da entrada e, com um pouco de dificuldade, vi três homens estranhos se aproximando de Jordan lá fora, enquanto ele estava de costas abastecendo o carro.
Os três indivíduos vestiam roupas pretas, jaquetas de couro e estavam encapuzados com gorros. Era um assalto? Meu Deus! Meu coração disparou dentro do peito quando empurraram Jordan contra o carro. Olhei nervosa para o caixa que me entregava o troco de volta e arregalei os olhos, apontando para o lado de fora.
– Senhor, liga para a polícia, por favor? – pedi me afastando do balcão, e ele assentiu ao ver do que eu estava falando.
– Moça, hey! É mais seguro... – não escutei o resto da frase porque saí as pressas, vendo um dos caras puxar Jordan para trás, prendendo os seus braços.
– SOLTEM ELE! – gritei em desespero, atravessando a rua em meio a chuva forte que caía.
Talvez não tivesse sido a decisão mais sábia, mas todos ali me olharam, e paralisei no meio do caminho sentindo o ardor das lágrimas ao alcançarem meus olhos, enquanto as gotas de chuva escorriam pelo meu rosto.
– VOLTA PRA DENTRO, LIZZIE! – Jordan gritou de volta, e eu neguei rápido com a cabeça.
– EU MANDEI SOLTAREM ELE! – gritei mais alto ainda, pisando forte entre as poças d'água enquanto me aproximava.
– É a sua vadia, McClain? – perguntou um dos brutamontes, e Jordan o encarou com ódio, tentando se soltar, mas acabou levando um soco – A gente vai se divertir com ela, depois de acabar com você.
– NÃO TOCA NELE! – arremessei minha bolsa na cabeça do cara que bateu em Jordan, e ele me olhou furioso.
– Segura ela, porra! – esbravejou ele para o outro ao lado, e Jordan chutou entre as suas pernas, o que o fez cambalear para trás, tombando contra o carro – FILHO DA PUTA!
– DEIXEM ELA EM PAZ! – Jordan gritou possesso de ódio – VOLTA PRA DENTRO, LI...
Sua fala foi interrompida, quando o cara que estava lhe segurando o arremessou contra as bombas de gasolina. Antes que eu pudesse me aproximar para fazer algo, me puxaram pela cintura. Por um momento eu tinha esquecido que eram três. Vi Jordan tomar outro soco, mas ele reagiu dessa vez, partindo para cima do cara, derrubando-o ao chão. A briga poderia estar equivalente se o outro não tivesse se recuperado.
Ele o puxou para trás, batendo sua cabeça contra o metal da bomba várias vezes seguidas, deixando-o atordoado, o que deu tempo o suficiente para continuarem a bater nele, sem dar espaço para que se defendesse, ou ao menos falasse algo. Eu gritava desesperada para que parassem, para que alguém ajudasse, mas a minha voz era abafada pelo som alto da chuva forte que caía.
As lágrimas rolavam quentes e pesadas pelo meu rosto. Me doía mais que tudo ver Jordan sendo machucado daquela forma, ele não merecia nada disso, e era a pior coisa do mundo para mim. Comecei a me debater, tentando me soltar de todo jeito, mas aquilo parecia ser completamente em vão, o cara que me segurava apenas dava risada as minhas custas, me apertando cada vez mais...
[...]
💋. Prontas para a virada no jogo? Esse foi só o início do desespero... Agora é só ladeira a baixo kkkkk 👀
💋. Se gostaram do capítulo, deixem seus comentários, e não esqueçam de deixar a ⭐, eu agradeço imensamente. Até o próximo capítulo 😘
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