48. Nosso pequeno segredo

"Sua pele... Oh, sim, sua pele e ossos, transformaram-se em algo bonito. Você sabe? Eu atravessei o oceano, eu superei barreiras por você... – Yellow, versão Orange Stick."

– Por isso eu falei que podemos fingir. – Jason pareceu inalar o perfume em meus cabelos, o que automaticamente me fez sentir o farfalhar das asas de várias borboletas em minha barriga – Você me prometeu uma dança, mas como eu não vou a bailes, quero agora. Quero a sua primeira dança, Lizzie.

– Tudo bem. – senti minhas bochechas esquentarem, assim que seus olhos caramelados mergulharam nos meus.

– Então vem comigo... – ele deu um passo para trás, me puxando junto.

Em seguida, nos viramos em direção ao galpão onde haviam algumas pessoas amontoadas na porta, e Jason rapidamente me agarrou pelos quadris, me arrastando para a sua frente. Sorri leve ao olhá-lo por cima do ombro, pousando as minhas mãos sobre as suas antes de voltar a minha atenção para o caminho que seguíamos. Nem preciso dizer que não tivemos que aguardar na fila como os demais, pois o segurança liberou a nossa entrada quase imediatamente, após cumprimentar o temido "Sr. McClain", um tanto nervoso.

Confesso que, apesar de saber que o Jason levava uma vida muito perigosa, era mesmo excitante estar com ele e talvez ser a única pessoa ali que não se aterrorizava com a sua presença. Ao adentrarmos o galpão, olhei em volta a fim de me atentar aos detalhes daquele lugar, o que era quase impossível com a luz baixa e os refletores azuis que giravam no teto, isso sem contar a quantidade de pessoas na pista de dança mais abaixo. Não demorou, até que senti as mãos grandes do Jason apertarem mais firme os meus quadris, colando o meu corpo ao seu.

Diferente dos outros, ao invés de descermos, ele me conduziu para as escadas que davam acesso a um tipo de área vip na parte superior. Por sorte, lá em cima estava bem mais vago. Tinham algumas poucas mesas quase vazias, e uns quatro ou cinco casais que dançavam praticamente colados na grade. Ri fraco, sacudindo a cabeça para os lados ao me dar conta de que aquilo era um tipo de boate clandestina. Estaríamos muito ferrados se a polícia resolvesse aparecer hoje.

– Do que está rindo, Lizzie? – senti todos os pelos do meu corpo eriçarem quando aquela voz rouca soou ao pé do meu ouvido.

– Nada, só... É que eu nunca estive num lugar assim antes. – tentei disfarçar, ao olhá-lo por cima do ombro novamente.

– Parece que você ainda não fez muitas coisas... – Jason riu fraco – Mas relaxa, vai ser um prazer te ensinar a se divertir de verdade.

Assenti, sorrindo leve enquanto nos aproximávamos da grade, e um dos casais logo se afastou, o que nos deu ainda mais espaço. Dali de cima, dava para ver toda a movimentação na pista de dança, a música tocava alto embalando algumas pessoas num ritmo quase frenético, enquanto outras conversavam, fumavam ou simplesmente se pegavam no meio da multidão eufórica. Estremeci quando, delicadamente, o Jason afastou uma mecha de cabelo para trás do meu ombro esquerdo, e me apressei a virar de frente para ele.

– O que foi? Você está nervosa? – suas mãos grandes tornaram a pousar em meus quadris, à medida que o seu corpo se aproximava do meu.

– Não, eu... – fiz uma curta pausa, antes de tocar as minhas mãos em seu peitoral – Está tudo bem.

– É? – seus olhos recaíram aos meus lábios por alguns segundos, e apertei o tecido da sua camisa entre os dedos – Então você está curtindo, Lizzie?

– Acho que sim. – senti as minhas bochechas esquentarem, enquanto deslizava as minhas mãos até os seus ombros.

Sem dizer mais nada, Jason arrastou o meu quadril em direção ao seu, tornando a encarar os meus olhos com certa intensidade quando a música trocou. Sorri ao ver as suas sobrancelhas arquearem quase como se me cobrassem a tal dança que eu estava lhe devendo, e assenti em resposta. Ao som de "Ayo" do Chris Brown, entrelacei os meus braços em volta do seu pescoço, e os nossos corpos não tardaram a se moverem lentamente, mas sem sair do lugar, apenas seguindo o ritmo da batida contagiante.

A certa altura, o seu rosto se aproximou ainda mais do meu, e passei a acariciar os pelinhos da sua nuca com as pontas dos dedos, me permitindo apreciar o momento com ele ali. Éramos só nós dois e, por algum motivo, eu acho que isso me soava agradável. A música mudou algumas vezes, e seguimos dançando. Eu adorava dançar. Em determinado momento, o Jason pediu bebidas pra gente, fiquei só no refrigerante com energético, enquanto ele tomava o seu whisky e me agarrava por trás ao som de "Best Friends" do The Weeknd.

Meus quadris se moviam sem pressa, rebolando no ritmo da melodia, quase como se tivessem vida própria, assim bem como o largo sorriso em meus lábios. Sentia o meu corpo inteiro queimar pela excitação do momento, e cada vez mais pessoas se acumulavam ao nosso redor. Para ser sincera, a área vip já estava praticamente lotada agora. Apertei a grade, levantando o meu copo quando "Private Landing" do Don Toliver com o Justin Bieber começou a tocar, e olhei animada para o Jason por cima do ombro, que apenas sorriu leve assentindo.

Tornei a me virar pra frente e, antes que eu percebesse, em meio a toda aquela empolgação acabei esbarrando o meu traseiro contra o seu quadril. Nosso contato direto me causou uma espécie de choque instantâneo, que fez eriçar todos os pelos do meu corpo numa onda de energia intensa. Por um um instante, perdi até mesmo o ritmo das reboladas, apertando a grade de ferro com força. Pensei em me afastar, mas o Jason se precipitou a me manter no lugar, segurando firme em minha cintura com a destra.

– Não precisa ficar nervosa, só estamos dançando, hum? – ele afastou uma mecha de cabelo por cima do meu ombro com a mesma mão que segurava o seu copo de whisky, e eu assenti – Então volte a rebolar, pequena.

Seu quadril se esfregou no meu traseiro algumas vezes, enquanto o seu corpo se colava ao meu, me empurrando sutilmente contra a grade numa doce provocação. Sacudi a cabeça para os lados, tentando me convencer de que o Jason tinha mesmo razão, nós só estávamos dançando, certo? Era só isso, uma dança. Voltei a rebolar seguindo a batida sensual da música, a fim de curtir o momento sem pensar em mais nada, mal podia acreditar que estava mesmo em uma balada antes dos meus 21 anos, isso era tão insano. Não me lembro de já ter sentido tanta adrenalina assim.

As músicas iam passando, e continuávamos dançando como se nada mais importasse. Nossas risadas se misturavam, ao passo que os nossos corpos suados se esfregavam cada vez mais, seguindo o ritmo contagiante das batidas. Perdi completamente a noção do tempo até que, num movimento rápido, Jason me virou de frente para si outra vez. Apoiei as minhas mãos em seus ombros, e logo voltamos a nos mover lentamente, de um lado para o outro. Aquilo podia me causar tantos problemas com o Jordan...

Mas entrelacei meus braços em volta do seu pescoço, deixando-o me conduzir. No momento seguinte, uma música mais lenta começou a tocar, a qual eu logo reconheci, era a versão de "Yellow" por Orange Stick. Uma melodia calma e profunda. Sorri largo, encostando a cabeça em seu peitoral, escutando a letra se misturar com os seus batimentos apressados, os quais foram se acalmando devagarinho.

Fechei os olhos, inalando seu delicioso perfume com notas fortes de pimenta negra. Posso dizer que, pela primeira vez durante aquela estranha e extensa noite, me senti completamente tranquila. Enquanto o calor do seu corpo se misturava ao meu, tive certeza de que ter vindo com o Jason foi a coisa certa a se fazer. Eu gostava dele, não tanto quanto do Jordan, acho que nunca seria igual com mais ninguém, mesmo assim, era um sentimento genuíno.

– Obrigada, Jay. – falei baixinho, acariciando sua nuca com as pontinhas dos dedos.

– Por roubar o seu dinheiro ilegal? – perguntou ele, num tom risonho, que me arrancou um sorriso.

– É... por isso também. – respondi, e Jason também riu.

A essa altura, nós dois só nos balançávamos de um lado ao outro, sem mover os pés, sem sair do lugar, não era preciso. Eu finalmente estava contente com Jason e, agora, acreditava que podíamos sim ser bons amigos. Afinal, ele estava sendo um fofo comigo. Claro que, do seu jeito meio torto, mas estava e não era algo típico dele.

Inclusive, eu gostaria de prolongar aquele momento, mas a música cessou de repente, em seguida ouvimos o barulho de sirenes de polícia se aproximando. As pessoas a volta começaram a correr para todos os lados. Rapidamente abri os olhos, desencostando minha cabeça do peitoral de Jason, um tanto assustada.

O encarei nervosa, mas ele apenas negou com a cabeça, depositando um leve beijo carinhoso em minha testa, como forma de agradecimento, eu acho. Sorri, sentindo meu rosto inteirinho se aquecer, provavelmente ficando muito vermelha. Ele apertou minha cintura e, por fim, alcançou uma das minhas mãos.

– Hora de vazar, Lizzie. Vem comigo! – Jason se virou apressado, me puxando em direção a uma porta discreta e estreita nos fundos daquele galpão.

Ao sairmos dali, descemos rapidamente por uma escadaria e logo fizemos a volta em direção ao seu carro que não estava estacionado muito longe. Enquanto corríamos, eu olhava em volta a fim de conferir se a Alice e o Joel ainda estavam nas redondezas, mas não consegui encontrá-los em meio a multidão e carros de polícia. Provavelmente haviam ido embora com a moto do Jason. Adentramos o seu carro apressados, e ele logo tratou de girar a chave na ignição.

Me adiantei a pôr o cinto de segurança e, em poucos segundos, o vi fazer a manobra para sairmos da vaga. Mais à frente, pude ver duas viaturas fecharem a saída dos carros, e senti a minha vida por um fio. Sim, os meus pais com certeza me matariam depois de me buscarem na cadeia. No entanto, Jason não pareceu nem um pouco nervoso, e pisou fundo no acelerador, me fazendo arregalar os olhos em espanto.

– Tá maluco? O que vai fazer? – perguntei nervosa, e o vi dar um curto sorrisinho.

– Só confia em mim, Lizzie! – ele soltou a embreagem, seguindo a toda velocidade em linha reta.

Parecia loucura arriscar passagem entre duas viaturas da polícia, mas foi exatamente o que Jason fez e, por um segundo, achei que fossemos bater, mas ele calculou bem o espaçamento, fazendo os dois carros parecerem borrões pelas janelas. Ao passarmos, olhei para trás, completamente incrédula, ouvindo a risada dele ao meu lado.

– Relaxa! Não vão nos alcançar! – Jason mudou de marcha, fazendo o carro deslizar na terra, levantando poeira quando fez a curva.

Em menos de um minuto as docas sumiram completamente de vista. O único barulho de sirene foi ficando cada vez mais distante, até se tornar inaudível. Contudo, Jason seguiu a toda velocidade, e só reduziu quando alcançamos a rodovia principal. Facilmente nos misturamos entre os carros que circulavam por ali. Eu soltei minha respiração com força, voltando a olhar para frente, enquanto me esparramava no confortável banco de couro.

– Achei que fossemos ser presos, seu idiota! – rimos juntos, e dei um leve tapinha em seu ombro.

– Você não confia mesmo em mim, não é? – Jason me deu uma curta olhadinha, eu neguei com a cabeça.

– Nem um pouquinho sequer. – respondi risonha, o que fez ele rir ainda mais – Mas não posso negar que isso foi divertido.

– Viu só? Eu avisei que ia gostar. – disse ele, um tanto convencido.

– É... mas bem que podia ter sido assim desde o início. – ao me ouvir, rapidamente seu olhar se dirigiu a mim – Digo, por que foi tão estúpido comigo na lanchonete?

– Já pedi desculpas. – Jason desviou sua atenção para o trânsito novamente.

– Sei disso... mas, por que me disse aquelas coisas? – arqueei uma sobrancelha, vendo-o apertar o volante.

– Não encana com isso. Eu só estava puto, a culpa não foi sua. – explicou ele, sem me dar uma justificativa em si.

– Por que estava puto? – continuei encarando-o, curiosa, e ouvi quando sua respiração soou pesada – Tem relação a sua briga com o Scott?

– O quê? – Jason me encarou de volta no mesmo segundo – Então quer dizer que você percebeu...

Ele riu anasalado quando eu assenti, voltando sua atenção para o trânsito, ao mesmo tempo que fazia uma ultrapassagem.

– Sua mão está machucada, e o rosto dele não estava nas melhores condições. – justifiquei minha percepção – Você não bateu nele por conta do leilão, né?

– Não. – respondeu Jason, em tom grosso e apressado – Nós temos negócios, mas eu não quero falar disso.

– Você nunca me fala sobre os seus "amigos"... – rolei os olhos, me acomodando melhor no banco, enquanto cruzava os braços.

– Eles não são meus amigos, e não tem nada de interessante para eu te contar. – justificou Jason, o que me fez bufar o ar pelo nariz.

Era muito difícil tentar manter um diálogo com alguém que nunca fala de si mesmo, do que gosta ou daquilo que faz. Dali por diante um silêncio irritante preencheu todo o carro, como se um muro se estendesse outra vez entre nós dois. Mas não era exatamente o que eu queria que acontecesse, e como num passe de mágica, meus olhos recaíram sobre as tatuagens em seus braços.

– Como conseguiu fazer tantas em tão pouco tempo? – interrompi o silêncio, e Jason franziu a testa, um tanto confuso.

– Tantas o q... – ele se interrompeu quando percebeu ao que eu me referia – Ah. Bom, depois que se toma um tiro, você começa a fazer as coisas que quer.

– Por falar nisso... o tigre foi só para cobrir a cicatriz? – questionei curiosa.

– Mais ou menos. – explicou ele – Mas como sabe que tem um tigre tatuado no meu braço?

– É que eu lembro de ter visto no final de semana passado. – respondi apressada, sentindo minhas bochechas esquentarem sob seu olhar intimidador.

– Ah... – o vi trocar a marcha, seguindo uma rota diferente da que estávamos tomando – Então, quer dizer que, você está se lembrando daquele final de semana?

– Não de tudo, eu acho. – respondi – Só tenho alguns flashs rápidos na memória, sabe?

– Entendi. – notei os músculos dos seus braços enrijecerem quando ele apertou o volante um pouco mais forte.

– Tem alguma coisa que eu fiz e deveria lembrar? – franzi a testa.

– Não sei, mas se tivesse, eu aposto que você se lembraria. – tive a impressão de que o seu tom de voz soou um tanto incomodado, talvez estivesse ficando chateado com aquele assunto.

– É, você deve ter razão. – assenti para mim mesma, decidindo mudar o rumo da conversa mais uma vez – Mas então... Você conseguiu encontrar o cara que estava te perseguin...

– Já resolvi. Fica tranquila. – Jason interrompeu minha pergunta a cerca de Jace, o tal homem que estava lhe perseguindo semanas atrás.

– Como assim resolveu? – franzi a testa, confusa.

Afinal, depois daquele tiroteio em frente a sua casa, e toda aquela cena assustadora em sua boate, aquele não me parecia ser um assunto tão fácil de resolver.

– Quer mesmo saber o que aconteceu aquela noite depois que Jordan te levou pra casa? – sua pergunta me soou num tom de frieza assustadora.

– Não. Acho que não. – me encolhi um pouco no banco, vendo-o dar um leve aceno de cabeça.

Depois disso, me virei em direção a janela, observando a paisagem construída por enormes prédios e luzes brilhantes lá fora. Já se fazia um bom tempo desde que, tecnicamente, fugimos da polícia. Para descontrair o clima pesado que havia se estabelecido dentro do carro, eu resolvi falar sobre o racha. Nesse meio tempo, Jason me garantiu que o dinheiro do prêmio não era roubado, mas também confirmou que vinha da venda de drogas.

A certo ponto, notei que não seguíamos caminho para a minha casa. Na verdade, demos várias voltas pela não tão chuvosa – embora fosse bem raro – Shadowtown, até que percebi a velocidade do carro reduzir. As janelas desceram, permitindo que a brisa gélida que soprava, se chocasse contra o meu rosto, bagunçando meus cabelos ao mesmo tempo em que trazia consigo o cheiro salgado do mar.

– Vamos à praia? – me virei em direção a Jason, com um sorriso doce desenhado nos lábios.

– Qual é? Às vezes você até parece uma criança travessa, daquelas que não dão uma trégua sequer. – ele deu uma risada, fazendo minhas bochechas esquentarem violentamente.

– Que bom que eu te divirto. – retorci o nariz para o lado – Mas então, estamos indo à praia a essa hora?

– Ué, mas tem hora pra isso agora? – questionou Jason, estacionando próximo ao calçadão – Se você me disser que sim, eu vou te falar que essa é a melhor hora de vir à praia. Olhe bem, está vazia.

– Ah, mas assim eu vou achar que você é meio antissocial, Jay. – ironizei, enquanto tirávamos os cintos de segurança.

– Logo eu, Lizzie? – prosseguiu ele, se pondo como vítima na frase – Droga! Não acredito nisso...

– Como você é idiota! – rolei os olhos, numa risadinha antes de descermos do carro.

Assim que bati a porta, percebi Jason vir em minha direção, enquanto travava o veículo. Ele fez um suave aceno de cabeça, apontando para o mar, eu assenti, seguindo-o pela areia. As ondas calmas se estendiam do horizonte até a praia, produzindo um chiado convidativo. A lua cheia brilhava intensamente no céu, refletindo no vasto mar a nossa frente. Era mesmo uma paisagem encantadora de se ver.

Durante o caminho que trilhávamos, Jason sugeriu nos livrarmos dos nossos sapatos, e eu concordei de imediato. O vi tirar suas botas, e logo me ajudou a tirar as minhas. O contato dos meus pés com a areia macia e quentinha, fez meu corpo inteiro relaxar. Era uma delícia. Seguimos até a parte onde as ondas tocavam a areia, ali os ventos arrastavam consigo respingos de água salgada.

– Não vai me dizer que ainda está com frio? – as sobrancelhas do Jason arquearam quando me agarrei ao seu braço.

– Não, a sua jaqueta é bem quentinha. Mas já que eu quem estou usando, acredito que deve estar frio para você... – expliquei, e ele riu anasalado, então apertei um pouco mais o seu braço.

– E o que eu posso fazer se a mocinha tonta aqui esqueceu o casaco em casa? – Jason deu de ombros, mas não tentou me afastar.

– Desculpa. – minhas bochechas esquentaram feito brasas numa fogueira.

Afinal, ele estava certo. Fui mesmo tonta de esquecer uma peça fundamental em casa.

– Não encana com isso, estou bem. – garantiu ele, passando a observar as ondas do mar, eu apenas assenti sem largá-lo.

Paramos de caminhar, ficando em completo silêncio por alguns minutos. O único som que ouvíamos, era o chiado produzido pelas ondas do mar, enquanto a água morna tocava as pontas dos dedos dos nossos pés. Foi quando tive uma ideia, a qual me arrancou uma leve risada. No mesmo instante, Jason me encarou.

– Do que está rindo? – perguntou ele, confuso, o que me fez rir ainda mais.

Precisei soltá-lo para segurar a minha barriga. Sacudi a minha cabeça algumas vezes, afim de me conter, mas era meio difícil sob o olhar perplexo do Jason. Me afastei alguns passos, vendo-o franzir a testa, ainda sem entender nada.

– Lizzie...

– Toma isso, seu grandalhão! – chutei a água em direção ao seu corpo, mas chegou a respingar até mesmo no rosto de Jason.

Ele paralisou completamente nos primeiros segundos, e eu deslanchei em risadas altas, me afastando enquanto chutava a água mais vezes. Então, Jason pareceu acordar de seu curto transe, se esquivando dos respingos, ao mesmo tempo que soltava nossos calçados na areia.

– Ah, quer dizer que é assim? – um sorriso malicioso se formou em seus lábios, fazendo um arrepio intenso percorrer por todo o meu corpo.

– Não, você não quer fazer isso! – tentei conter minhas risadas outra vez, enquanto me forçava a caminhar para trás.

– Não? – ele arqueou as sobrancelhas, dando um passo a frente.

Aquilo foi o suficiente para que todas as células em meu corpo gritassem em alerta. Então, rapidamente me virei, me forçando a correr para longe enquanto ria sem controle. Logo atrás, ouvia os passos apressados do Jason se aproximando. Eu sabia o que aconteceria se ele me alcançasse, facilmente me arremessaria no mar, contudo, aquilo não era uma opção para mim, por isso corria cada vez mais.

Nossas risadas ecoavam pela praia deserta, misturando-se ao som brando das ondas que se quebravam contra a areia. Minha respiração já estava pesada, e meus batimentos extremamente acelerados dentro do peito, quando senti mãos me puxarem pela cintura. Tropecei em meus próprios pés, caindo para frente, ao tempo em que arrastava Jason junto comigo. Consegui amortecer minha queda com as mãos, mas pelo susto, tive minhas risadas cortadas ao meio.

– Lizzie! Você está bem? – a voz aflita de Jason soou às minhas costas, e percebi seus braços fincados na areia a minha volta.

Ri anasalado, enquanto assentia, me virando de frente para ele, que permanecia em cima de mim. Ambos estávamos ofegantes pela corrida, tanto que sua respiração quente se chocava contra o meu rosto, misturando-se a minha. Ficamos em silêncio, numa tentativa de recuperar o fôlego e, quase automaticamente, meus olhos esquadrinharam todo o seu rosto, até encontrarem-se aos seus.

Ao constatar que não havia um único arranhão sequer em minha pele, sua expressão suavizou. Nesse momento, pude notar um brilho incomum surgir em seus olhos caramelados, o qual me remetia a felicidade. Era absurdamente incontestável o quanto ele ficava ainda mais lindo sorrindo. Minhas bochechas esquentaram ao perceber que eu o encarava feito boba, ainda mais de tão perto.

Em resposta, Jason tencionou os braços, correndo seus olhos aos meus lábios, à medida que se aproximava um pouco mais de mim. Meu peito oscilava em respirações cada vez mais pesadas, enquanto o friozinho em minha barriga crescia gradualmente. Fechei os olhos com força, completamente nervosa, o que estávamos prestes a fazer? Eu deixaria que ele me beijasse? Não! Isso era errado.

– Tem certeza de que não se machucou? – a voz rouca do Jason me fez encará-lo novamente, percebendo que ele se afastava de mim.

– Ah... – engoli em seco. Por um segundo achei que ele me beijaria, e o pior nisso foi não ter nem tentado impedi-lo – Sim.

Me sentei ao seu lado, extremamente envergonhada. A essa altura, agradecia internamente por seu olhar estar voltado ao mar, e não direcionado a mim. Não sei mesmo o que me deu, mas, por sorte, Jason não seguiu com aquela loucura. Abracei minhas pernas, apoiando meu queixo em meus joelhos, enquanto passava a encarar as ondas, numa tentativa de acalmar os sentimentos em meu peito.

Ficamos ali por alguns minutos, um ao lado do outro, sem trocar uma palavra sequer. Não sei dizer se Jason estava bravo comigo, ou tão constrangido quanto eu, mas também não quis arriscar perguntando nada. Percebi apenas quando ele se inclinou em minha direção, passando um dos seus braços por cima dos meus ombros, me puxando delicadamente para junto de si.

– Está mais calma agora? – ele perguntou baixinho, e quando o olhei, notei que me encarava sem nenhuma cobrança.

– Acho que sim. – forcei um sorriso, ainda confusa pelo que quase havia acontecido minutos atrás.

– Você até que corre rápido, hein... me fez cansar. – ouvi sua risadinha, e percebi que ele se referia a nossa brincadeira.

Isso me fez entender que Jason não tinha notado o quanto fiquei confusa em relação a beijá-lo. Era melhor assim, pois ele era apenas meu cunhado. Eu namorava Jordan e o amava, não tinha dúvidas. Essa situação... foi só pelo calor do momento, mas não tornaria a se repetir nunca mais.

Começamos a conversar sobre minha "ousadia" de chutar água nele, o que me arrancou algumas risadas. Mas, no fim, Jason concordou comigo que agora estávamos quites pelo ocorrido na lanchonete. Convenhamos que ele merecia muito mais que isso por suas grosserias, apesar de ter se desculpado.

A certo ponto, acabamos nos deitando sobre a areia. Eu apoiei a minha cabeça em sua barriga, e ele passou os seus braços por trás da nuca. Ouvindo o barulho das ondas. Admirávamos o céu estrelado acima das nossas cabeças, o qual estava quase limpo de nuvens hoje.

– Aquela é a constelação de escorpião. – identifiquei, fazendo um pequeno desenho da calda, como Jordan havia me ensinado anteriormente.

Jason acompanhou o movimento dos meus dedos.

– Ah, sim. Conhece a história dela? – perguntou ele, apoiando seus cotovelos sobre a areia quentinha para me encarar melhor.

Aquela calma estampada em seu rosto era tão suave e agradável. Eu gostava dele assim, sem nenhuma preocupação, ou malícia.

– Sim, o Jordan me contou sobre Órion, Scorpius e a deusa Ártemis. – respondi, e Jason sorriu fraco, assentindo.

– Costumava ser melhor quando o Martin contava. – disse ele, ficando sério de repente.

– Seu pai? – arqueei as sobrancelhas, um tanto curiosa.

Não sei se o Jason gostava muito de falar sobre ele, até o Jordan ficava um pouco tenso. Acredito que ainda fosse difícil para eles aceitarem a morte do pai. Não consigo nem imaginar o quanto devia ser doloroso.

– É. Jordan pegou isso dele, junto com o esporte. E eu fiquei com o lance da caça e boxe. – respondeu ele, e eu logo assenti.

– Seu pai era um homem e tanto. O Dan me disse que vocês tinham muito orgulho dele. Acho que entendo o motivo... – me sentei ao seu lado outra vez, mas ele desviou o olhar.

– Ele está morto agora, não quero falar disso. – disse Jason, em tom meio grosseiro.

Confirmei com a cabeça, apanhando um gravetinho ali perto, o qual passei a usar para desenhar linhas na areia.

– Eu me orgulho do meu tio. Ele também é um bom policial. Mesmo correndo risco de vida quase sempre. – soltei um suspiro pesado, ao me lembrar da forma que ele foi embora da minha casa.

– Está falando do Henry? – Jason se ajeitou na areia, e eu assenti – É meio difícil encontrar bons policiais hoje em dia, já que a maioria se vende fácil por propina.

– Isso é lamentável. Mas tenho certeza que tio Henry não é assim. – respirei fundo, me sentindo culpada pela discussão dele com a minha mãe semanas atrás.

– Sim, o seu tio parece mesmo ser um bom tira. – concordou Jason – Digo, ele nem se importou se podia tomar um tiro aquele dia, só foi para cima e salvou as nossas vidas.

– É o jeito dele cuidar das coisas. – dei de ombros – Mas achei que você tivesse ficado chateado aquele dia.

– Tá brincando? Descobrir que havia um tira na minha casa foi a melhor coisa que me ocorreu nos últimos meses. – Jason ironizou, e eu joguei o graveto nele, dando uma risadinha.

– Desculpa... eu não quis te causar problemas. – fui sincera, e ele assentiu.

– Eu sei. Mas aquilo foi meio tenso. Acho que o mais perto que um policial chegou de descobrir quem eu sou. – explicou ele, sendo totalmente sincero – Sorte que o cara tomou a responsabilidade por aquele ataque.

– Acho que o tio Henry pensa que foi culpa dele até hoje. – falei, e Jason cerrou os olhos.

– Eu só não entendi porque ele pensaria isso. – vi uma das suas sobrancelhas arquear, e respirei fundo novamente.

– Bom, eu não entendo muito o trabalho dele. Mas não é do tipo de policial que anda fardado e tem uma viatura. – comecei a explicar – Na verdade, minha mãe já me disse que ele viaja muito a trabalho e, por isso, às vezes passa meses sem nos visitar.

– Está dizendo que o seu tio é tipo do FBI? Aqueles caras infiltrados? – perguntou Jason, parecendo me entender rapidamente.

– Acho que sim. Mas deve ser de uma unidade especial, porque é segredo. Ele nunca explica pra gente. Só sei que prende pessoas muito ruins e perigosas. – abracei os meus joelhos, numa tentativa de engolir a culpa que crescia dentro de mim.

– Acho que entendi. – disse Jason, antes de se pôr de pé, o que me fez encará-lo – Não o leve nunca mais lá em casa, Lizzie.

– Ele foi embora naquele mesmo dia. Não tem com o que se preocupar. O meu tio não sabe nada de você. Ele nem desconfia. – garanti quando o vi estender uma mão para mim – Para ser sincera, tio Henry foi mais com a sua cara do que com a do Jordan.

– Sabe que isso soa meio sarcástico, porque nós dois temos a mesma cara, né? – Jason deu uma risadinha, me puxando para cima, assim que alcancei sua mão.

– Você é um idiota! – dei um leve tapinha em seu ombro, então rimos juntos – Entendeu ao que me referi.

– Sim, eu entendi. Até o seu tio está no meu time, Lizzie. – rolei os olhos ao sentir o seu braço passar por cima dos meus ombros, me puxando para perto enquanto caminhávamos – Agora só falta você dar um pé no mané do Jordan, e cair logo na minha cama.

– Jason! Você nunca para com essas piadinhas indecentes? – franzi a testa, ele negou com a cabeça.

– Por que eu pararia? É engraçado. – vi um sorrisinho sacana surgir em seus lábios, o que fez todo o meu rosto se aquecer de vergonha – Mas já está ficando meio tarde, o que acha de eu te levar para casa agora?

– Acho uma ótima ideia, Jay. Estou realmente cansada. – fui sincera, e ele assentiu.

No caminho de volta para o carro, apanhamos nossos sapatos jogados na areia, Jason resmungou algumas vezes enquanto calçava a sua bota, na qual havia entrado um pouco d'água. Isso me arrancou algumas risadas. Assim que adentramos no veículo, eu olhei em direção a praia outra vez, essa tinha sido uma noite divertida apesar de tudo. Então, ouvi o ronco do motor, e me apressei a colocar o cinto de segurança.

O percurso para casa não foi tão longo, confesso que eu já estava meio tonta de sono, e Jason parecia cansado também, ou meio triste, não consegui discernir. Mas não houve muita conversa. Acho que o assunto de seu pai, seguido de lembrarmos do episódio com o meu tio, tinha sido meio pesado. Lhe perguntei sobre ele continuar indo ao colégio na semana seguinte, o que me confirmou, nada animado.

Assim que adentramos pela minha rua, notei que ele tomou uma postura mais rígida, como se voltasse a si. Eu gostava mais quando parecia relaxado, suspirei baixinho, olhando pela janela. Estacionamos em frente a minha casa, olhei para cima, rezando para que os meus pais não tivessem levantado no meio da noite e visto que eu não estava na cama. Não saberia como explicá-los sobre o meu sumiço.

– Está entregue. – Jason cortou o silêncio, e eu assenti.

– Obrigada, Jay. – destravei o cinto de segurança, e notei o seu olhar recair sobre mim, enquanto eu tirava a sua jaqueta.

– Espero que tenha sido um bom encontro não regado a álcool e sexo porque, olha, eu me esforcei. – ele deu uma risadinha, e eu rolei os olhos, jogando sua jaqueta no banco de trás.

– Digamos que na segunda parte você se saiu muito bem. – me inclinei para abraçá-lo, e ele rapidamente retribuiu o ato – Mas não quero que o Jordan saiba... – falei ao rompermos, me sentando no banco outra vez – Digo, sobre o racha, ou a fuga da polícia. Ele ia...

– Ia ficar muito puto! – Jason riu – Relaxa, eu não contaria nada mesmo. Essa noite fica só entre nós dois.

– Obrigada. – agradeci outra vez, e ele apenas assentiu.

– Boa noite, Lizzie. – Jason forçou um sorriso quando eu abri a porta.

– Boa noite, Jay. – me despedi, descendo do seu carro.

Ao me virar, segui apressada para dentro do cercadinho e, em passos largos, logo alcancei a pequena varanda. Pegava as minhas chaves no bolso da calça, tratando de segurar a maçaneta, quando ouvi o seu veículo avançar pela rua. Então, tratei logo de entrar em casa, constatando que tudo estava do mesmo jeito de quando eu saí. Subi as escadas, sem fazer barulho, soltando a respiração com força ao chegar em meu quarto e trancar a porta.

Era um grande alívio não ter sido pega em minha primeira aventura noturna. Notei as cortinas se balançarem, e me apressei em fechar a janela, já estava bem frio dentro do meu quarto. Olhei em volta, optando por tomar um banho antes de cair na cama. Seria o tempo do cômodo esquentar um pouco.

A água quentinha relaxava meus músculos, à medida em que eu me lembrava cada parte dessa noite com o Jason. Eu nunca tinha vivido nada nem parecido com isso, foi assustador e emocionante. Fiz minhas higienes, e me olhei no espelho por alguns segundos, não gostava nada da ideia de mentir para o Jordan. Mas se contasse a verdade para ele, provavelmente, ficaria muito bravo e decepcionado comigo.

Saí do banheiro, seguindo até o meu closet, onde vesti meu pijama, quentinho e confortável. O sono já estava fazendo meus olhos pesarem. Mas decidi verificar o meu celular. Haviam muitas mensagens das meninas, e algumas do Jordan, fora duas ligações perdidas dele a quase uma hora atrás. Já passava das duas da manhã agora.

Me xinguei mentalmente por ter esquecido o celular em casa, e decidi ligar para ele, mesmo correndo o risco de acordá-lo. Contudo, só chamou até cair na caixa de mensagens. Liguei de novo, mas ele não me atendeu, então deixei a seguinte mensagem:

"Amor, só vi agora que você ligou, me perdoe. Nos falamos quando acordar. Eu te amo!"

Após enviar, bloqueei meu celular, colocando-o sobre a mesinha de cabeceira. Então me joguei na cama, puxando as cobertas. Precisava tirar um bom sono, para ir as compras com a Emily pela manhã. Assim como havíamos combinado durante o almoço...

[...]

💕. Finalmente, capítulo todo desses dois haha Liz danadinha, será se ia mesmo beijar o Jason? 👀🙈

💕. E aí, o que acharam? Deixem seus comentários, e não esqueçam de apertar a ⭐. Até o próximooooo 😘😘

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