45. Encontro de aluguel
"Nada no mundo te prepara para isso. Eu não sou uma pecadora, ele não era o cara certo... Eu só pensei que fosse ser divertido. Eles dizem: Todos os garotos bons vão para o céu, mas os garotos maus trazem o céu até você... – Heaven, Julia Michaels"
– Está se vendendo agora, Christine? – aquela voz rouca e forte ecoou pelo corredor, nos fazendo se virar, e rapidamente avistamos Jason ali – Sempre soube que você era uma vadia, mas não achei que fosse desse tipo. O que aconteceu? Seu papaizinho faliu?
Ironizou ele, fechando o seu armário, e Christine cerrou os punhos, suspeito que a ruiva esganiçada estava a ponto de explodir no meio daquele corredor. Já a Emily, postada bem ao meu lado, segurava o riso, enquanto o Dylan sustentava uma expressão de horror em sua face, quase como se o loiro sarcástico a nossa frente tivesse invadido uma igreja e ateado fogo no altar. Quanto a mim, precisei respirar fundo para manter o equilíbrio e não cair numa gargalhada, mas não consegui evitar que um leve sorriso discreto escapasse por entre meus lábios.
A todo caso, eu estava contente por saber que o Jason havia regressado da sua súbita viagem misteriosa para fora do estado, e acho que me sentia mais aliviada por ele estar bem. Afinal, nosso último "encontro" na sua casa, antes que partisse apressado sem dar explicações, até que não tinha sido dos mais desagradáveis, apesar de eu ter achado o seu jeito um pouco estranho. Não sei explicar, mas naquele dia tive a impressão de que ele não estava bem, me pareceu triste e abatido, ou talvez só estivesse cansado mesmo. Bom, seja lá o que fosse, agora o Jason estava muito melhor.
– É um leilão seu troglodita desinformado. – Christine apontou furiosa para um cartaz colado na parede, o qual Jason pareceu ler rapidamente.
Ele assentiu para si mesmo, e tornou a encará-la, com um sorriso ainda mais debochado nos lábios. Suspeito que estava se divertindo por implicar, já que conseguiu irritar a "abelha rainha".
– E desde quando isso é diferente de se vender? – ele arqueou as sobrancelhas, assumindo um tom extremamente sarcástico.
– Desde quando elas não vão dormir com os caras. – Dylan se prontificou ao lado da Christine, e Jason franziu a testa – Não vai rolar nenhum tipo de sexo, apenas uma noite agradável de conversas com as garotas mais populares do colégio. É um leilão de muito respeito, se você quer saber, JayJay.
– Como assim elas? Você não está metida nessa palhaçada está, Lizzie? – vi seu sorriso se desfazer ao perguntar isso, e encolhi um pouco os ombros sob seu olhar severo.
– Sim, ela é uma Lioness, então está nessa até o pescoço. – Christine respondeu por mim, tratando de me agarrar pelo braço logo em seguida – Vem, Liz, vamos almoçar.
– Espera aí! – Jason me segurou pelo outro braço, antes que passássemos por ele – Você vai sair com o Jordan, não é?
– Não. Ele não pode participar, e não está no colégio. – respondi baixinho, e seus olhos encararam os meus com uma certa preocupação.
– Ela vai aceitar o Scott, projetinho de gangster. Ele deu um lance de cinquenta dólares nela. O maior na tabelinha da Liz até agora. – vociferou Christine, o que fez a expressão no rosto dele se fechar ainda mais, se tornando um tanto sombria enquanto voltava a encará-la.
– Vai uma porra! Eu não vou deixar. – ele apertou o meu braço, me puxando com certa brutalidade para junto de si, quase arrastando a Christine também, mas ela me largou – Quanto você quer pra liberar a Lizzie dessa merda? É só dar um valor e eu te pago.
– Sinto muito, filhote de Al Capone, mas não funciona assim. – ela deu um passo a frente – Se quer dar o seu lance e ter um encontro com a little darling aqui, faça pelo aplicativo, e torça para ninguém cobrir a sua oferta, porque hoje ela vai sair com quem pagar o maior valor.
– Eu não quero porra de encontro nenhum! Mas ela também não vai sair com o desgraçado do Scott, ou qualquer filho da puta que seja. – rosnou ele, em tom grosseiro, encarando a Christine extremamente furioso – Então, é melhor falar a porra do seu preço, vadia!
– Helooo! Você é burro ou o quê? As regras são claras, bebê, todas nós temos que sair com um cara, não importa quem seja! E a Lizzie vai sair com o Scott, a não ser que alguém dê um lance mais alto nela. – Christine praticamente desenhou para ele.
Suponho que fosse um pouco louca de fazer isso, geralmente as pessoas tinham medo do Jason.
– Escuta aqui, sua...
– Jason, para! – me soltei dele, passando entre os dois, na tentativa de evitar um desastre – É um encontro idiota na Candy's. Jordan já está sabendo, então relaxa! E Christine, eu não vou sair com quem pagar mais, vou sair com um cara que eu achar legal, então chega também!
– Ah, você que sabe, my dear. – ela rolou os olhos, dando as costas e seguindo com o Dylan pelo corredor.
Entretanto, a Emily só os acompanhou depois que eu assenti numa forma de lhe dizer que estava tudo bem, mas ao retornar a minha atenção para o Jason, não sei exatamente se tinha certeza disso. Engoli em seco sob o seu olhar duro, e também notei que ele mantinha o maxilar e os punhos cerrados, indicando o quanto estava difícil se conter ali. Abri a minha boca, a fim de dizer mais alguma coisa para acalmá-lo, porém desisti ao vê-lo sacudir a cabeça para os lados em negação.
Em seguida, a sua destra alcançou o meu braço outra vez, se precipitando a me arrastar pelo corredor, sem dizer mais uma única palavra sequer. Tentei me soltar, um tanto assustada com o seu movimento brusco e repentino, mas isso só lhe fez apertar mais forte a região a qual segurava. Então, decidi que seria melhor não resistir, e apenas o segui até uma área menos movimentada. Acredito que, apesar do seu mau jeito, ele só estava preocupado e queria conversar para entender melhor o tal do leilão.
– Qual é o seu problema, Lizzie? – ele me encurralou contra uma parede, após sairmos de vista – Por que diabos sempre se mete nessas merdas? Parece até que gosta de correr perigo!
– Do que você está falando? – cerrei os olhos, completamente confusa – Eu não estou correndo nenhum perigo, isso já é exagero.
– Essa merda de leilão parece uma boa ideia pra você, por acaso? – suas sobrancelhas arquearam, e eu neguei com a cabeça – Então por que está nisso?
– Pra sua informação, não ocorreu uma votação de "quem quer participar?". – fiz aspas para enfatizar melhor – Eu não coloquei o meu nome num potinho para entrar. A Christine quem organizou tudo.
– Então você vai mesmo sair com esse Scott? – seu tom de voz soou preocupado.
– Eu não vou sair com ele. – neguei com a cabeça – Quer dizer, ainda nem olhei os lances que deram em mim hoje. Só sei que o dele foi o maior porque me disseram agora.
– Não quero que saia com ele, Lizzie. Eu... – Jason fez uma curta pausa, como se tentasse se acalmar – Não quero que faça parte disso.
– Por que não? – franzi o cenho – Você conhece o Scott? É isso?
– Não é da sua conta! – ele rangeu os dentes, de muito mau humor.
– Bom, parece que é sim. – cruzei os braços, já um tanto chateada.
– Só me promete que não vai ficar perto desse filho da puta? – seu olhar mergulhou no meu, quase como se me implorasse aquilo.
– Eu não vou mentir, fui grosseira com ele no aniversário do Chris e estou pensando em aceitar sairmos hoje como forma de me redimir. – expliquei.
– Se redimir uma porra! – estremeci da cabeça aos pés, quando o seu punho acertou o armário ao meu lado num soco, causando o maior estardalhar.
– Jason! – arregalei os olhos.
– Que droga! Por que você nunca me escuta? – o vi recuar, empurrando os cabelos para trás com a destra.
– Talvez eu escutasse, se você falasse direito comigo. – descruzei os braços, dando dois passos à frente, e ele respirou fundo – O que acha de me dizer o que está acontecendo?
– Eu já disse, não quero que faça isso. – repetiu Jason, sem olhar em minha direção.
– Bom, não tem como fugir agora, mas... – dei mais um passo a frente – Você ficaria mais tranquilo se eu aceitasse sair com outro cara sem ser o Scott?
Ao questionar isso, o seu olhar rapidamente recaiu sobre mim outra vez, tão intenso e profundo que fez os pelos da minha nuca eriçarem com força. Naquele instante, paralisei por completo com a estranha sensação de ter cruzado o caminho de um animal faminto, um terrível predador impiedoso que analisava atentamente a sua caça favorita antes de dar o bote. Cerrei os punhos, numa medida de despertar daquele transe, mas o Jason foi mais rápido ao me agarrar pelos quadris, me empurrando novamente contra a parede.
– Você quer a verdade? – seu rosto se aproximou do meu, e senti um friozinho surgir em minha barriga.
– Quero. – foi tudo o que eu consegui responder.
– A verdade é que... – seu olhar se dirigiu aos meus lábios – Eu nunca vou ficar tranquilo te vendo com outro.
– Por quê? – minha voz soou trêmula, indicando o quanto eu estava nervosa agora.
– Porque eu só te imagino com um cara, Lizzie. – senti as minhas pernas ficarem um tanto bambas quando o seu rosto passou ao lado do meu – Só um...
– Ja-Jason... – fechei os meus olhos com força, enquanto ele parecia inalar o perfume dos meus cabelos.
No entanto, ao som estridente do toque do seu celular, Jason soltou a respiração com força, e eu tornei a abrir os meus olhos, bem a tempo de vê-lo assentir para si mesmo enquanto se forçava a me largar e dar alguns passos para trás.
– Eu tenho que ir. – disse ele, como se tentasse se convencer daquilo primeiro.
– Espera aí, pra onde... – senti minhas bochechas esquentarem quando nossos olhares se cruzaram – Pra onde você vai?
– Não encana com isso. – ele negou com a cabeça, ao mesmo tempo que ajeitava melhor a alça da mochila em seu ombro – Só vê se toma juízo e não faz nenhuma idiotice.
– Jason! – chamei ao vê-lo se virar, mas ele apenas apressou o passo, e não demorou até que sumisse pelo corredor.
Respirei fundo, sacudindo sutilmente a minha cabeça para os lados, não fazia ideia do que havia acabado de acontecer ali, ou por qual motivo aquela droga de leilão tinha lhe deixado tão nervoso. Quer dizer, desde quando o Jason se importava tanto assim com os meus assuntos? Sei que ele cuidou de mim durante o aniversário do Christian, mas essa conversa de hoje não tinha feito o menor sentido, pelo menos não vindo dele.
Tentei não pensar muito nisso, e logo segui caminho para a cantina, visto que era horário de almoço agora. Ao chegar, tratei de pedir o mesmo de sempre e, enquanto aguardava, automaticamente corri meus olhos pelo ambiente, em busca de um rosto amigo. No entanto, Dylan e Rose estavam na mesa das líderes de torcida junto com a Christine que, provavelmente, devia estar botando pilha em todo mundo ao seu redor. Bom, definitivamente não era disso que eu estava precisando agora.
– Lizzie, aqui! – chamou Emily, assim que passei para a área externa da cantina.
Por sorte, ela estava sozinha numa mesa mais à frente. Aposto que, assim como eu, também já devia estar cheia com todo aquele assunto idiota do leilão. Sorri doce ao vê-la acenar em minha direção, e assenti me dirigindo para lá. Por um momento, achei que teria de almoçar sozinha hoje, mas estava aliviada por ter encontrado uma companhia tranquila.
– E aí, como foi a conversa com o Jason? – questionou ela, assim que me sentei ao seu lado – Ele pareceu bem irritado lá no corredor.
– Acho que ele só não vai muito com a cara do Scott. – dei de ombros, fingindo não me importar – O Dan também não vai.
– É, temos que concordar que o Scott faz um tipo meio esquisito. – Emily riu fraco, e eu concordei com um leve aceno de cabeça – E se quer saber, você fez muito bem por não entrar no joguinho da Christine. Deixa ELA sair com quem pagar mais.
– Bom, para ser sincera, estou pensando em aceitar o encontro com o Scott, mas não pelo dinheiro. – expliquei – Eu não sei, mas ele foi gentil comigo desde que chegou no colégio, apesar dos meninos implicarem. Não acho que seja má pessoa, sabe? E, depois de eu ter jogado refrigerante no coitado na festa do Chris... Acho que estou lhe devendo desculpas apropriadas.
– Faça o que achar melhor, só não deixe a Christine te controlar. – Emily disse por fim, eu confirmei com a cabeça – Mas e aí, já falou com o Davis?
Respondi que sim, e logo passei a lhe mostrar as mensagens que trocamos. Ela sorriu largo ao ver o Noah no fundo da foto que o Jordan havia anexado na conversa, e também disse ter falado com o seu "tigerzinho" quase no mesmo momento. Assim que me perguntou onde eu estive durante o primeiro horário, não resisti guardar segredo sobre o café da manhã no parquinho hoje mais cedo. Claro que tirei a parte mais quente da história, isso pertencia só a mim e ao Jordan.
Nesse clima leve, falando apaixonadamente dos nossos namorados que nos faziam derreter de amor, o almoço acabou passando bem depressa. Contudo, nos despedimos apenas depois de combinarmos ir juntas ao shopping no sábado, para dar uma olhada nos vestidos para o baile. Sei que ainda faltava um tempo, mas acho que estávamos mesmo ansiosas. Não vi mais o Jason antes de seguir para a oficina de artes, talvez ele tivesse ido embora, era bem comum já que nunca ficava para as aulas da tarde. Bem, foi o que eu achei.
"Oi, bebê. Sei que está na aula agora, mas acabamos de chegar ao hotel. Como estão as coisas com o leilão?"
Li a mensagem do Jordan e pensei um pouco sobre o que responder. A verdade é que eu tinha me desligado do leilão outra vez. Sei que disse que iria aceitar alguém na hora do almoço, mas com a quase discussão entre o Jason e a Christine, resolvi nem abrir o aplicativo.
"Oi, amor! Que bom, fico mais aliviada."
"Bom, quanto ao leilão... Ainda está acontecendo. Scott fez um bom lance em mim, mas estou pensando e acho que vou aceitar por conta da minha grosseria com ele na festa do Chris."
Resolvi falar logo, não faria nada pelas costas dele. E, se eu fosse mesmo sair com o Scott, queria que Jordan fosse o primeiro a saber. Bloqueei o meu celular voltando minha atenção ao vaso de flores que enfeitava. Depois de uns quinze minutos sem respostas, comecei a pensar que o Dan tinha ficado chateado, isso me entristeceu um pouco, mas tentei me concentrar na aula, esquecendo o celular.
As horas passaram correndo até o sinal da saída bater, suspirei pesado ao conferir que ainda não havia nenhuma mensagem. Guardei minhas coisas, me questionando se eu deveria ou não mandar outra mensagem para Jordan. Fui uma das últimas a sair da sala, e arqueei as sobrancelhas ao ver aquela figura mórbida encostada na porta a frente.
– Jason?! – chamei, e ele rapidamente me encarou – O que está fazendo aqui?
– Admirando a paisagem... O que acha? Estava te esperando. – ele desencostou da porta, dando alguns passos em minha direção – Vamos?
– Vamos pra onde? – perguntei confusa, o que lhe fez achar graça.
– Vou te levar pra casa hoje, Lizzie. – Jason respondeu com tanta naturalidade, que quem o ouvisse acharia que aquilo era típico entre nós dois.
O vi se adiantar pelo corredor, então me apressei em segui-lo.
– Como assim? – perguntei mais confusa que antes, e ele me olhou outra vez, enquanto caminhávamos – Por que, Jason?
– Acreditaria se eu dissesse que o mala do meu irmãozinho pediu para eu ficar de olho em você? – questionou ele, me fazendo franzir a testa.
Aquilo, simplesmente, não parecia se encaixar.
– Não, o Jordan não fez isso! – parei de caminhar, e Jason também parou, rolando os olhos.
– É, ele não fez mesmo. Mas quero que aceite o meu lance. – ele finalmente respondeu, um tanto impaciente, o que me pegou de surpresa.
Afinal, antes do almoço, ele havia deixado bem claro que não tinha interesse nenhum de participar daquele leilão idiota para ir ao encontro comigo na Candy's. Então, a pergunta que restava era, o que diabos havia mudado de lá pra cá?
– O quê? – franzi a testa, vendo-o respirar fundo, como se estivesse se controlando.
Aposto que estava mesmo. Era típico dele quando se sentia obrigado a fazer algo, não era? Ainda me lembro muito bem de quando almoçamos juntos. Contudo, eu não pedi para ninguém dar lance nenhum em mim para aquele encontro idiota.
– Você disse que sairia com um cara legal. Posso ser um... se eu quiser. – Jason estava muito estranho, mas eu podia imaginar o motivo.
– Isso é só para eu não sair com o Scott? – me aproximei um pouco, e ele fechou a cara sem dizer nada, o que automaticamente me confirmava – Qual é o seu problema com ele? Eu podia escolher qualquer um numa lista de mais de cinquenta caras, mas a sua implicância é com o Scott, não é?
– Não é da sua conta, garota! – ele falou em tom grosseiro, e eu abri a boca, mas desisti de retrucar. Apenas passei por ele, seguindo para a saída sem dizer mais nada – Lizzie?!
Jason estava muito enganado se achava que podia ser legal. Ele não era nem perto disso, e nunca seria. Eu não aceitaria sair com ele só para cumprir os seus caprichos idiotas. Pelo pouco que lhe conhecia, sabia que nem ia aparecer na Candy's, porque não queria mesmo sair comigo.
Não sei por que aquele garoto idiota era tão esquisito, e não estava com paciência para tentar entender. Saí do colégio, sentindo-o no meu encalço e, assim que alcancei os degraus, ele me segurou pelo braço, me fazendo olhá-lo.
– Eu ofertei duzentas pratas em você! – disse ele.
Se eu não lhe conhecesse, diria que estava frustrado, mas não era isso, então puxei o meu braço, me livrando de seu toque.
– Não vou sair com você! – falei firme, o que o fez fechar a cara outra vez.
– Por quê? – sua voz se alteou, chamando a atenção de algumas pessoas que estavam em volta – Está dizendo que prefere sair com aquele idiota, do que comigo?
– Não se trata de quem eu prefiro... – também me exaltei um pouco, e ele franziu a testa.
– Do que se trata então? Dinheiro? Eu posso dar um lance maior, quanto você quer? – Jason deu um passo em minha direção, e eu afastei algumas mechas de cabelo para trás da orelha, cruzando os braços em seguida.
– Não é dinheiro, seu... – respirei fundo, me controlando – Por acaso, você quer mesmo fazer isso? Quer... Você quer sair comigo?
Encarava os seus olhos diretamente agora, enquanto sentia o fiozinho de esperança morrer lentamente em meu peito, à medida que o seu semblante alterava de extremamente surpreso para muito irritado.
– Que diferença isso faz? O aplicativo não é "quem quer sair" é "quem paga". Eu tenho grana. – ele gesticulou com as mãos, e eu apertei meus braços, contendo a vontade de empurrá-lo.
– Você é... Argh! Idiota! – senti meus olhos arderem, sempre que tinha muita raiva as malditas lágrimas chegavam, mas respirei fundo outra vez, controlando-as – Você não quer sair comigo! Só quer que eu não saia com o Scott. Não vou participar do seu... joguinho doentio com ele! Você mesmo disse que não é da minha conta se os dois tem algum problema, então não me envolva nisso!
Me virei, descendo mais alguns degraus, e ele me agarrou pelo braço outra vez.
– Não vai sair com ele de jeito nenhum! – Jason rosnou entredentes, apertando meu pulso.
Num solavanco, me soltei novamente, esbarrando as costas contra o corrimão.
– Me deixa em paz! – ajeitei a mochila em meu ombro, e terminei de descer a escadaria, apressando meu passo.
– Porra, eu quero! – ele berrou vindo atrás de mim e me virei em sua direção – Quero muito sair com você, Liz!
Pisquei meus olhos algumas vezes, na tentativa de discernir se eu tinha mesmo escutado bem. Jason havia praticamente gritado na frente de todo mundo que queria sair comigo? Não, acho que eu tinha ouvido errado.
Dei um curto passo a frente e ele me olhou assustado quando franzi a testa. Aparentemente, nem o próprio acreditava em suas palavras. Mas agora todo mundo em volta nos observava com uma expressão de espanto e incredulidade nos rostos.
– O que... o que disse? – perguntei ainda confusa, vendo-o ranger os dentes, enquanto se aproximava.
– Está surda por acaso? – Jason alcançou o meu braço outra vez, me arrastando em direção a sua moto – Eu disse que quero sair com você. Agora anda logo, porque eu não vou repetir isso de novo.
A informação demorou alguns segundos para ser processada e digerida, mas assim que retomei os meus movimentos, tratei de soltar do seu toque, o que fez com que ele fechasse ainda mais a sua cara. Entretanto, ao notar que eu não recuaria dessa vez, Jason sacudiu a cabeça para os lados e continuou o seu caminho, enquanto eu o seguia em silêncio até a moto estacionada um pouco mais a frente. Era um modelo Ducati 848, em maior parte preta, com alguns detalhes em vermelho, como o aro dos rodões por exemplo.
– Toma. Coloca isso. – ele me entregou um dos capacetes, e eu franzi a testa.
– Eu não vou subir aí, estou de saia, Jason! – falei assim que o vi subir na moto, acho que ele não tinha se atentado a esse detalhe.
Nesse momento, ele interrompeu o movimento de colocar o capacete, e seus olhos rapidamente me esquadrinharam sem nenhum tipo de discrição. Não tardou até que, um sorriso sacana surgiu em seus lábios, enquanto os seus olhos mediam as minhas coxas na maior cara de pau. Então, rapidamente passei o capacete a frente delas, pigarreando para chamar a sua atenção um pouco mais para cima. Senti as minhas bochechas esquentarem ao vê-lo umedecer os lábios com a língua, num tom extremamente malicioso.
– Como o Jordan deixa você andar assim por aí? Esse pedaço de pano... isso nem é roupa! – ele deu uma risadinha em deboche.
– Jordan não tem que deixar nada. E ele sabe disso. – falei um tanto irritada pelo seu comentário machista – Agora me admira muito uma coisa dessas vindo logo de você. Já que os peitos da sua namoradinha quase saltavam daquele micro vestido rosa.
Me referia a tal Shely no final de semana passado. Não sei se os dois eram mesmo namorados, mas acho que sim, já que a todo tempo ela me pareceu estar com ciúmes dele.
– Hey! Calma aí, pequena Liz! Eu só estava brincando. Adoro apreciar o que é bonito, e o meu irmãozinho também, até onde eu sei. – Jason riu um pouco mais, o que me fez rolar os olhos – Não precisa ficar irritada. Por mim você andava até com menos que isso.
– Então para de ser idiota e me provocar! – apertei o capacete em mãos, sentindo minhas bochechas esquentarem quando seus olhos caramelados se encontraram aos meus.
– Você adora quando eu provoco. Fica toda vermelhinha! – Jason riu anasalado – E eu gosto disso. É engraçado quando me rebate.
– Isso não tem graça nenhuma! – rolei os olhos, um tanto impaciente.
– Ah, tem sim, como tem... mas esquece. Vem cá, deixa eu te ajudar... – Jason me puxou delicadamente pela cintura – Pode sentar de lado, eu prometo que vou bem devagarinho, Liz.
Não sei explicar muito bem, mas percebi um duplo sentido em seu tom de voz, o que fez os pelinhos em minha nuca eriçarem. Desviei meu olhar do seu, e assenti, confiaria nele dessa vez. Jason apoiou seu capacete no tanque de gasolina e me virou de costas, antes de me dar impulso para me ajudar a sentar na garupa.
Assim que me ajeitei melhor ali, notei que era bem alto em relação ao chão, o que fez um friozinho de nervoso percorrer minha barriga. O vi colocar seu capacete, e me apressei a fazer o mesmo, passando as alças da minha mochila pelos ombros. Ao som do motor ligando, eu me agarrei a cintura do Jason, que deu uma risadinha.
– Sem risinho, seu idiota! Se você correr, eu juro que te aperto até te matar! – falei ranzinza, e ele riu um pouco mais.
– Relaxa. Eu disse que posso ser um cara legal pra você... hoje. – Jason apertou o acelerador, tratando de sair da vaga.
Mesmo assim, fechei os olhos com força, lhe apertando um pouco mais. Notei que logo o barulho dos cochichos e risadas ficaram para trás. Jason foi fiel ao que me prometeu, e realmente não acelerou muito. Depois de uns cinco minutinhos em sua garupa, consegui me sentir confiante o suficiente para relaxar e abrir os olhos outra vez.
A essa altura já estávamos em meio ao movimentado trânsito de Shadowtown. A viseira do meu capacete estava aberta, o que me proporcionava sentir a suave brisa que tocava as maçãs do meu rosto, e bagunçava as mechas do meu cabelo. Eu não estava mais com medo, mas também não folguei meus braços nem um pouquinho sequer na cintura do Jason. Ele não reclamou, então estava tudo bem.
O céu já começava a escurecer quando finalmente chegamos à rua da minha casa. Expliquei meu endereço a Jason em um dos sinais que paramos, e ele acertou sem muita dificuldade. Estacionamos bem em frente a minha casa. O vi tirar o capacete e se virar para me ajudar a descer. Agradeci internamente quando os meus pés tocaram o chão, minhas pernas estavam meio bambas, mas era bom finalmente sentir o chão embaixo de mim.
– Viu só? Nem doeu, Lizzie. – disse Jason, ao retirar meu capacete.
– Parece que você costuma cumprir com o que promete. – sorri leve, e ele riu anasalado, assentindo algumas vezes.
– Então... vai aceitar sair comigo? – vi uma de suas sobrancelhas arquear, e respirei fundo.
– Você quer mesmo sair comigo, ou disse aquilo só para eu aceitar o seu lance? – perguntei diretamente, e ele rolou os olhos, antes de desligar a moto.
– O que precisa que eu faça para acreditar em mim? Pintar uma faixa e pendurar num avião, ou expor um outdoor na estrada tá de bom tamanho pra você? – perguntou Jason, mal humorado, o que me arrancou uma discreta risadinha.
– Não é isso. Só... como posso ter certeza que se eu aceitar o seu lance você não vai me deixar plantada que nem uma idiota na Candy's? – fui o mais direta possível, e ele cerrou os olhos.
– Sua preocupação é essa? Eu fiz a porra de um lance de duzentos dólares para sair com você, e acha que eu te daria um cano? – Jason passou o seu olhar a mim outra vez, realmente não sei se ele estava sendo irônico ou não, mas provavelmente sim.
– É exatamente o que eu acho! – respondi, e ele ficou quieto por alguns segundos, então deu uma curta risadinha.
– Conta pra mim, Lizzie, você também quer sair comigo, não quer? – Jason não estava mais olhando para mim quando perguntou isso, mas senti minhas bochechas esquentarem.
– Só não quero fazer papel de boba e ser a única sem par. – desviei da sua pergunta, pois apesar de que também queria muito sair com ele, não dava para responder isso, ou sei que entenderia errado.
Gostaria de ser sua amiga, conversar com ele, dar risadas, como fizemos no outro dia em sua casa. Mas admitir isso poderia fazê-lo achar que eu era como as outras garotas que "saíam" com Jordan e com ele simultaneamente, mas não era mesmo isso o que eu tinha em mente.
– Não vai ser. Estarei lá. – Jason garantiu, tornando a me encarar, mas eu ainda estava desconfiada – Te prometo.
– Tá. Mas se vamos fazer isso, tenho algumas condições. – falei, e ele rolou os olhos pela milésima vez.
– Ah, lá vem você... não vou arrumar confusão. Aceita logo essa merda? – ele parecia inquieto, como se dependesse da minha confirmação.
– Não, Jason! Estou falando sério, não quero confusões, grosserias, nem piadinhas constrangedoras, entendeu? – eu disse em tom bem sério, e ele umedeceu os lábios num sorrisinho sarcástico.
– Como assim? Vou pagar uma grana e não posso nem tirar uma casquinha, Lizzie? – sua ironia me fez bufar o ar pelo nariz – Relaxa, vou me comportar.
– É bom mesmo. – peguei o meu celular na mochila, sentindo uma leve pontada no peito por ainda não ter nenhuma mensagem do Jordan, mas ignorei isso e abri o aplicativo – Vamos estar cercados de pessoas do colégio, então tente de verdade.
– Tá! – Jason resmungou ao lado, e eu passei os lances, até encontrar o seu. Hesitei por um segundo, mas aceitei.
– Está feito. Espero não me decepcionar essa noite. – falei em tom baixo, e bloqueei meu celular outra vez.
– Se você fosse cair na minha cama, eu te garantia que não ia se decepcionar, mas... – ele deu um sorriso vitorioso, quando a notificação chegou em seu celular – Eu prometo que vou tentar.
Assenti, e Jason me pareceu bem mais confortável quando percebeu que eu não tinha mais nada a falar. Na verdade eu até tinha, mas estava insegura com a minha escolha, e preocupada com a falta de respostas do Jordan até então.
No entanto, como se alguém lá em cima me ouvisse, meu celular começou a tocar. Um sorriso se acendeu em meus lábios ao ler "Amor" no identificador. Olhei de lado antes de prosseguir, e Jason apenas fingiu não prestar atenção. Não me importei muito, e logo tratei de atender.
– Lizzie, que história é essa de Scott? – Jordan perguntou apressado, e parecia nervoso.
– Bom, eu ia aceitar ele por ter sido ma...
– Uma porra! Não quero você com esse cara, sabe disso. Por que não aceitou outro? – ele me interrompeu, estava bem zangado.
Acho que Jason escutou, porque deu uma risadinha.
– Olha aqui, não grita comigo! – tomei uma postura mais firme.
– Desculpa! Não estou gritando, mas aquele babaca não é uma opção, ele dá em cima de você. – Jordan reduziu um pouco seu tom, mas ainda estava bravo.
– Se você me deixasse falar, eu já teria dito que não aceitei o Scott. – falei chateada, não gostava nada quando ele se alterava comigo.
– Não? – sua voz me soou aliviada e, pelo seu tom, sei que estava sorrindo – Então quem foi, amor?
Respirei fundo, não ia mentir para ele, mas talvez sua reação também não fosse lá das melhores ao saber que eu teria um encontro com o seu irmão gêmeo. Era uma situação meio embaraçosa para mim. Principalmente sabendo como as coisas funcionavam para os dois e as garotas antes. Fora o fato de que Jason já havia tentado me agarrar duas vezes.
Se Jordan soubesse disso, encararia como uma opção ainda pior que Scott. Mas ele não sabia, porque eu não era louca, e conseguia imaginar as proporções de uma confusão das grandes. Contudo, tirando aquela noite, e o episódio no banheiro a mais de dois meses atrás... sóbrio, Jason nunca tentou nada realmente comigo, só algumas piadinhas idiotas e seu total desprezo por respeito, mas nada além disso.
– Aceitei o seu irmão. – falei de uma vez, sentindo o olhar de Jason em minha direção.
Houve alguns segundos de silêncio do outro lado da linha.
– O Jason? Ele fez um lance em você? – sua voz indicava que ele estava tão surpreso quanto eu.
– É, aparentemente fez. – respondi, ainda chateada pela forma que me tratou quando atendi a ligação.
– Bom, não sei o que dizer... Você conhece o Jason, sabe que ele pode nem aparecer, ou ser um idiota, não sabe? – Jordan questionou preocupado do outro lado da linha, e eu assenti para mim mesma.
– Sei. Mas decidi arriscar mesmo assim. Considerando que ele cuidou de mim na festa do Chris, aparecer na Candy's hoje vai ser moleza. – falei isso mais para o Jason do que para o Jordan, e vi aquele idiota presunçoso rir.
– É, isso é. Mas, não passe da Candy's com ele. Quero você bem longe daquela boate, ou de lugares semelhantes. – Jordan já não estava mais zangado, mas também não estava muito feliz.
– Não vou, e ele já sabe. É só um milkshake, depois volto pra casa. – eu disse, e Jason sacudiu a cabeça para os lados – Preciso desligar agora, acabei de chegar em casa, e quero tomar um bom banho.
– Amor, desculpa pelo meu tom grosseiro... Eu te amo e estou preocupado com você. Não quis te magoar. – Jordan falou entristecido do outro lado da linha.
Senti meu coração amolecer um pouco, mas precisa ser firme com ele. De jeito nenhum permitiria aquele tipo de tratamento.
– Você nunca quer não é, Jordan? Já disse que não gosto nada quando fala assim comigo, mas eu também te amo, sabe disso. – desviei o olhar de Jason, que me encarava como se estivesse assistindo um jogo muito interessante – Preciso mesmo desligar.
– Tá, tudo bem. Só promete que liga assim que puder? Queria estar aí. – Jordan continuava triste, e isso me quebrava de um jeito.
– Claro. Eu ligo sim. Também queria muito que estivesse. Fica bem, tá? Um beijo. – fui mais doce dessa vez, não estava mais tão zangada.
– Você também, se cuida. Um beijo enorme nessa boquinha deliciosa! – pude sentir um resquício de um sorrisinho em sua voz, e também sorri antes de desligar.
Jason continuava quieto, me observando, e isso me incomodava um pouco, mas sei que era o que ele queria. Provavelmente estava pensando em como me atingir com uma de suas piadas idiotas, então resolvi não demonstrar minha ligeira irritação, forçando um sorriso.
– Que horas venho te buscar? – perguntou ele, quebrando o silêncio.
– Não vem. A gente se encontra na Candy's, são as regras. – respondi, e ele cerrou os olhos, depois negou com a cabeça.
– Não gosto delas. São 5pm agora, então passo aqui às 7pm. – disse ele, e eu franzi a testa.
– Não pode...
– Você tem duas horas, Lizzie. É bom não se atrasar. – ele voltou a ligar sua moto – Ah, e vista uma calça pra ficar mais confortável. Pela noite a brisa é bem gelada...
[...]
💋. Agora sim haha finalmente a Liz aceitou o Jason. O que será que vem por aí, hein?? 👀❤
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