4. Um milkshake
"Você deveria saber que é linda do jeito que é, e que você não tem que mudar nada... – Scars To Your Beautiful, Alessia Cara."
Abri os olhos com certa dificuldade, praticamente o quarto inteiro ainda estava escuro, apenas alguns turvos raios de sol perpassavam pelas cortinas. Sorri, espreguiçando os braços para os lados, e logo me sentei na cama, precisava de alguns minutos para carregar e realmente me levantar. Ouvi o barulhinho de uma mensagem ao chegar em meu celular, e só então me lembrei da noite anterior. Confesso que custei a dormir, pensando no toque macio dos lábios de Jordan nos meus.
Parecia tão bobo da minha parte, eu sabia que para ele talvez aquele selinho acidental não tivesse significado nada, mas preferia ignorar isso. Acho que imaginei uns cinquenta cenários românticos de livros diferentes para a noite de ontem. Não que eu estivesse apaixonada, mas digo... Encantada, ou talvez inebriada pelo seu jeito único de ser. Acho que tivemos um bom começo ontem, ele era gentil e atencioso, essas são qualidades muito raras nos garotos de hoje, e eu sabia por experiência própria.
– Querida, já está acordada? – duas batidas na porta, seguidas pela voz da minha mãe, me fizeram acordar de meus devaneios.
Ontem eu precisei apelar para o lado sentimental dos meus pais, eles estavam uma fera comigo, mas parece que consegui amolecê-los quando pedi desculpas e justifiquei minha pequena "rebeldia" com o fato de que nós havíamos acabado de se mudar, e que por isso eu estava tentando fazer novos amigos. Bom, não era nenhuma mentira.
– Sim, mamãe. – respondi extremamente contente, saltando da cama num só segundo.
– Ótimo. Eu vou comprar o nosso café, tem algum pedido especial? – seu tom de voz era leve, e ela logo abriu a porta.
– Sim, eu quero um beijinho. – sorri, me aproximando dela que rolou os olhos risonha.
Minha mãe era uma mulher bem séria, mas extremamente carinhosa. Costumávamos ser melhores amigas, ela dizia que confiança é a base de tudo, e estava mesmo certa. De aparência, era um pouco mais alta que eu, seus cabelos também eram castanhos e encaracolados, mas seus olhos eram num tom castanho bem escuro, ela dizia que minhas "duas esmeraldas" tinham vindo do papai. Mas sem dúvidas, eu me parecia mais com ela do que com ele.
– Pronto, mocinha. – disse ela, ao depositar um beijinho carinhoso em minha testa – Posso saber de onde veio todo esse bom humor repentino?
– Está dizendo que sua filha costuma parecer infeliz, dona Elisa? – despistei sua pergunta com outra, enquanto me dirigia ao banheiro.
– Não bote palavras em minha boca, Lizzie. Eu não disse isso. – ela refutou de imediato – Eu apenas notei que está mais radiante que de costume, querida. Aconteceu algo de especial naquela festa de ontem?
– Especial? – não consegui conter o sorriso ao lembrar-me de Jordan – Eu não usaria essa palavra ainda. Mas, talvez, eu tenha descoberto que a mudança veio a ser melhor do que eu imaginava que seria.
– Oh, eu... Fico muito feliz, minha bonequinha. É bom saber que esteja fazendo novos amigos assim tão cedo. – ela se aproximou da porta do banheiro para poder me ver.
– Eles são... incríveis, e tão divertidos. Não é como se eu abandonasse a May por gostar deles, mas acho que estou feliz mesmo, por tê-los conhecido. – sequei o rosto após lavá-lo, e olhei meu reflexo no espelho logo em seguida.
– Sim, eu posso ver, pequena. – minha mãe também parecia muito contente – Acho que agora estou mais tranquila. Talvez o seu pai mereça uma fatia de pudim por ter acertado na mudança, o que acha?
– Sim. Ah, ele merece o pudim inteirinho. – nós duas rimos juntas.
O papai realmente amava pudim, mas não podia exagerar por conta da glicose. Mamãe e eu conversamos mais um pouco, enquanto eu fazia minhas higienes matinais. Quando ela saiu, eu me apressei em tomar um banho, cheguei tão cansada ontem que só troquei de roupa e caí na cama. Na verdade, eu acho que estava apressada em sonhar com o Jordan, porque não dormi tão fácil, ele ficou perambulando em meus pensamentos até o sono realmente chegar.
Ao sair do banheiro, fui direto para o closet, ainda precisava arrumar todas aquelas caixas, tive dificuldade para encontrar uma camisa e um shortinho. Bom, hoje eu terminaria de arrumar a bagunça, ou segunda não teria roupa descente para ir à escola. Notei que minha mãe ainda não havia voltado com o café, então me joguei na cama, alcançando meu celular sobre a mesa de cabeceira. Antes mesmo de desbloquear, vi que havia algumas mensagens de um número desconhecido, as quais eu rapidamente tratei de ler.
"Bom dia, Liz." – 08:01am
"Aqui é o Jordan, do colégio." – 08:02am
Sorri largo ao ler o seu nome. Em algum momento antes de dormir ontem, eu pensei que talvez ele não mandasse nenhuma mensagem, pelo menos não assim tão cedo. O celular vibrou em minhas mãos, e eu rapidamente me sentei na cama.
"Espero que tenha dormido bem. Peço desculpas se te assustei, não era minha intenção." – 08:37am
Respirei fundo, mordendo o meu lábio inferior com força. Jordan não estava zangado por eu não tê-lo correspondido, mas preocupado se sua atitude havia me magoado. Isso era mesmo fofo e muito honrado de sua parte. Era bom me sentir respeitada por um garoto, eu nem me lembrava de quando tinha sido a última vez que isso havia acontecido. Vi que seu status ainda estava online na conversa, então resolvi respondê-lo.
"Bom dia, Dan. Vou salvar o seu número, e sim... eu dormi muito bem ontem. Fique tranquilo, pois não fez nada de errado. Para ser sincera, foi agradável conversar com você ontem. Agradeço novamente pela gentileza de me trazer em casa. Estou grata." – 08: 39am
Praticamente no mesmo instante que eu enviei, ele começou a digitar outra vez.
"Você tirou um peso das minhas costas agora. Eu estava mesmo preocupado de ter avançado o sinal com você antes da hora. Você sabe, quando tentei te beijar... Não pareceu que gostou. Fiquei pensativo depois que te deixei em casa." – 08:40am
Sorri novamente, fazendo uma leve negação de cabeça para mim mesma. A cada palavra, ele me fazia se derreter um pouquinho mais.
– Lizzie, venha tomar seu café, querida. – ouvi a voz da minha mãe no andar de baixo – Ainda temos muita bagunça para arrumar hoje.
– Sim, mãe, já estou descendo. – confirmei, me apressando em se despedir de Jordan por ora.
"Fique tranquilo, eu realmente gostei de tudo ontem. Agora preciso ir, tenho que ajudar os meus pais com algumas coisas da mudança. Nos falamos depois. XoXo." – 08:41am
Assim que o respondi, também bloqueei o celular, deixando-o sobre a mesinha de cabeceira, era proibido trocar mensagens durante as refeições, meus pais eram bem firmes com as regras. Quando desci, os dois já estavam sentados à mesa, meu pai fez a oração agradecendo o alimento, e durante o café eles me perguntaram sobre a escola nova, também falamos sobre a nova empresa na qual estavam trabalhando. Nossas refeições eram sempre bem animadas.
Depois disso, eu subi novamente para o meu quarto, me senti tentada a conferir o celular, mas sabia que se o fizesse, acabaria procrastinando a arrumação do meu quarto, então me contive. Deveres primeiro, lazer só depois, era a regra mais importante da vovó. Passei quase uma manhã inteira arrumando tudo, mas antes do almoço meu quarto já estava pronto. Lindo e organizado como sempre foi.
– Ah, como eu sou orgulhosa da minha bebê. – disse minha mãe ao entrar no quarto, e me ver colocar o último livro na prateleira.
Haviam seis, uma abaixo da outra, todas lotadas de livros, dentre eles romances e fantasia. Eram os meus gêneros favoritos para uma boa e prazerosa leitura. Às vezes eu virava um dia inteiro perdida entre as páginas de um livro, não me cansava de suspirar pelos mocinhos nas histórias, eles eram apaixonantes. Sorri satisfeita olhando em volta.
O closet já estava bem dividido entre roupas, bolsas e sapatos. Na penteadeira, tudo o que era maquiagem estava devidamente guardado, e os livros do colégio junto a todo o material escolar, ficavam sobre a escrivaninha. Há pouco troquei as cobertas da cama, e agora havia finalizado com a minha pequena "biblioteca" particular. Mas em compensação estava mortinha de cansaço.
– Agora só falta o papai instalar a TV. – juntei a última caixa vazia dentro das outras.
– Claro, ele vai passar aqui depois do almoço. Deixe as caixas aí, querida, seu pai leva depois que instalar a TV. – ela chamou, provavelmente o almoço já estava pronto.
– Temos pizza congelada de novo? – dei uma risadinha, alcançando meu celular sobre a cama.
– Você não reclamava quando estávamos em Seatlle. – minha mãe sorriu, enquanto eu conferia as mensagens em meu celular.
– É, porque não era a única coisa que tinha na geladeira. – rebati, cerrando os olhos ao ver uma mensagem da Emily me convidando para uma tal de Candy's hoje.
– Vamos resolver o problema do mercado logo, mas hoje não dá, mocinha. Ainda tenho que ajudar o seu pai com uma planilha, precisamos impressionar os chefões. – disse ela, em sua defesa.
– Ah, tudo bem. – sorri doce – A propósito, eu não estou de castigo por ontem, né?
– O que está querendo, Lizzie? – vi uma das suas sobrancelhas arquear.
– É que a Emily, aquela garota que eu te falei ontem, acabou de me chamar para irmos a uma lanchonete. Eu posso ir? – fiz um biquinho para enfatizar que queria muito sair hoje de novo.
– Tudo bem, se não estiver muito cansada, pode sim. – respondeu ela, e rapidamente foi golpeada por um de meus abraços.
– Obrigada, mãezinha. Eu já disse o quanto te amo hoje? – ela rolou os olhos numa breve risada.
– Tá, agora vamos almoçar, e já sabe, tem horário para estar em casa. – dona Elisa lembrou desse detalhe, e eu apenas assenti.
Após responder Emily positivamente, eu também respondi a May, que estava louca para saber como tinha sido a festa ontem, acabei remarcando nosso ensaio para a noite, ela não pareceu se incomodar, na verdade, estava super animada por mim. Jordan também havia mandado mensagem perguntando se eu tinha planos para hoje, tive que responder que sim. Apenas soltei meu celular quando me sentei à mesa com os meus pais.
Meu almoço foi bem rápido, estava animada e precisava tomar um bom banho, e me arrumar para estar devidamente pronta quando Emily chegasse. Não faltava muito pra isso. Para nossa tarde na Candy's, eu escolhi uma saia branca de pinças, e uma blusa canelada de cor rosa, com mangas e botões. Ao descer, logo ouvi o som da buzina de seu carro soar pela rua, me despedi de meus pais e então saí.
– Nossa, eles fazem a linha durões, né? – questionou ela, ainda os vendo pelo retrovisor.
– Não. Eles não são assim. – sorri, sentindo minhas bochechas esquentarem – Só estão preocupados porque acabamos de nos mudar, e os noticiários falam que a cidade é... movimentada.
– Ah, entendi. – ela me deu uma rápida olhada – Tem medo das gangues, não é?
– É, eu acho que sim. – respondi, me apressando a conferir se havia colocado minha mesada dentro da bolsa – O Dylan também vai?
– Eu não sei. Chamei ele, mas não me respondeu. Acredita que aquele idiota bebeu tanto que teve de ser carregado pelo Noah? Ele não conseguia nem andar. – ela deu uma risada, e eu franzi a testa, imaginando a cena.
Tive que me conter para não explodir em risadas também, deve ter sido uma cena e tanto, mas aquilo não soava estranho vindo do Dylan. Aposto que se eu tivesse visto isso, teria dado umas boas gargalhadas antes de ajudá-lo.
– Ele é bem maluquinho. – comentei, e a vi assentir.
– Põe maluco nisso. Mas e você, com quem foi embora ontem? – questionou ela, arqueando uma de suas sobrancelhas – A última vez que te vi, estava com o Jordan...
– Bom, nós tivemos uma conversa legal ontem. Daí ele me trouxe em casa. – apertei a bolsa sobre o meu colo. Precisava contar aquilo para alguém, ou acabaria explodindo – Nós... quase nos beijamos ontem.
– Uau! Você deve ser a primeira garota que não transou com ele na primeira noite. – Emily sacudiu a cabeça levemente – Mas me conta, como foi isso de quase beijo?
À medida que eu ia lhe contando os detalhes da noite com Jordan, sentia todo o meu rosto esquentar, mas Emily me pareceu tão animada quanto eu. Ela até me deu uns conselhos sobre ele, disse que Jordan não era o que pintavam dele no colégio, apesar de já ter saído com muitas garotas há um tempo. Parece que Noah e ele eram amigos de infância, então geralmente estavam juntos. Emily conhecia um Jordan que as pessoas não conheciam, foi mais ou menos isso que eu entendi.
Talvez eu também quisesse conhecê-lo assim. Sorri dos meus pensamentos bobos, mal percebi e já estacionávamos em frente à Candy's, aparentemente a melhor lanchonete da cidade. Logo de cara, notei que o estacionamento estava praticamente vazio. Ao descermos do carro, a primeira coisa que vi foi o letreiro em uma seta vermelha e azul bem acima de nossas cabeças. A faixada da lanchonete era pintada de rosa com linhas brancas, e dividida com vários janelões.
Assim que cruzamos a soleira para dentro, o sininho da porta de entrada soou. A atendente atrás do balcão nos cumprimentou com um sorriso doce, enquanto nos aproximávamos eu dava uma olhada na decoração. Haviam mesas vermelhas ao centro de pequenos sofás estofados de cor preta, quadros de comidas desenhados nas paredes, e apesar de transmitir um ar acolhedor, estava praticamente vazio. Emily e eu fizemos nossos pedidos e nos direcionamos a uma das mesas.
– Eu aposto que você nunca provou um milkshake tão saboroso, quanto o daqui. – Emily colocou sua bolsa sobre a mesa – É o melhor.
– Bom, eu acredito em você. – sorri, me sentando de frente para ela, e a sineta da porta tornou a soar.
Ao olhar para frente, tive o desprazer de vê-lo adentrar o ambiente, com suas botas sujas de lama manchando o assoalho. Jason olhou em minha direção, enquanto seguia até o balcão, eu sabia que era ele porque ainda usava a mesma roupa da noite anterior, calça e camisa preta sem estampa, com uma jaqueta de couro da mesma cor por cima.
– No que posso ajudá-lo? – perguntou a moça atrás do balcão, e eu rapidamente desviei o olhar.
– Não acredito que esse cara está aqui. – resmungou Emily, tornando a me encarar – Ah, desculpa por não ter avisado, mas eu esqueci que Jordan tem...
– Um irmão gêmeo. – completei sua frase, nada satisfeita.
– Hey, como sabe disso? Ele te falou? – ela arqueou as sobrancelhas.
– Sim e não. Eu tive o azar de dar de cara com esse idiota ontem. Achei que fosse o Dan, mas... – interrompi minha fala ao perceber que ele caminhava em nossa direção.
– Sinto muito. – Emily olhou para cima quando ele passou por nós, seguindo para uma das mesas nos fundos da lanchonete.
– Tudo bem. Não foi nada. – forcei um sorriso, e brevemente olhei para trás, por cima do ombro.
– Deve tomar cuidado com ele, Liz. – a voz de Emily me fez estremecer, então voltei a encará-la – O Jason não é como o Jordan. Pelo que eu sei, ele é bem perigoso.
– Eu acho que percebi ontem. – avistei uma garçonete trazer nossos pedidos.
Não queria falar, ou saber daquele estúpido sem educação, nada do que ele fizesse era de meu interesse. Então, não custamos a mudar de assunto. A propósito, Emily estava certa, o milkshake da Candy's era uma delícia. A certo ponto, Dylan também acabou chegando, mas ainda estava ressacado da noite de ontem, ele disse que não lembrava de quase nada do que havia acontecido, mas não era preciso, Emily lembrava de cada detalhe.
Dávamos risadas enquanto ela contava tim-tim por tim-tim do que ele tinha aprontado na festa, desde encher a cara, até beijar uma de suas amigas. Ele ficava cada vez mais envergonhado, e aquilo chegava a ser fofo. Acabei me sujando com o milkshake, então tive que me levantar para ir ao banheiro. No trajeto até os fundos, notei que Jason não estava mais em sua mesa, não sei dizer quando foi embora, mas era melhor assim.
– Hey, o que está fazendo? – tive um susto ao esbarrar de cara em alguém.
– Ah, e-eu... – ao olhar para cima, vi que se tratava de Jason deixando o banheiro, franzi a testa olhando a placa acima da porta.
– Não sabe ler, por acaso? – ele arqueou as sobrancelhas, e eu fechei a cara – O banheiro feminino fica pra lá.
– Hum! – resmunguei ao me virar, não queria lhe dirigir a palavra, mesmo que o erro fosse meu.
– Por nada, estressadinha. – cerrei os punhos ao ouvi-lo, mas não disse absolutamente uma palavra.
Soltei a respiração com força ao entrar no banheiro certo dessa vez, apertando a alça da minha bolsa. Eu tinha que esbarrar justo com aquele idiota hoje? Rolei os olhos, seguindo em direção a pia, onde tentei limpar a pequena mancha em minha blusa, por sorte, não ficou tão visível. Aproveitei para retocar o batom, passando um pouco de gloss nos lábios. Amassei os cabelos com as mãos, e finalmente saí.
– Você não é daqui, certo? – estremeci ao ver a figura alta encostada ao lado da porta.
– Não tenho nada pra falar com você. – tentei passar, mas o garoto sombrio se pôs em meu caminho.
– Eu te fiz uma pergunta, Lizzie... – insistiu Jason, bloqueando completamente a minha passagem – Mas acho que já tenho a minha resposta.
– O que você quer? – franzi a testa.
– De você? – seu olhar recaiu brevemente ao meu decote, e um discreto sorriso surgiu no canto dos seus lábios – Nada. Só acho melhor tomar cuidado com quem você fala por aqui, e principalmente como fala. Sabe, para o seu próprio bem.
– Está me ameaçando? – questionei, um tanto confusa.
– Ah, não, isso é só um recado. – ele riu, sacudindo a cabeça para os lados – Quando eu te ameaçar, vai saber que é uma ameaça.
– Ótimo, estou morrendo de medo. – desdenhei, sem demonstrar muito interesse – Será que eu posso voltar pra minha mesa agora, ou você tem outro desses excepcionais recados?
– Mas eu não estou te impedindo de seguir, basta pedir licença. – disse ele, parecendo se divertir com a situação – Vamos lá, sua mãe te deu educação, não deu?
– Sai logo da minha frente! – apertei minha bolsa entre os dedos.
– Isso não foi nada educado, Lizzie. – Jason desfez o sorriso, me encarando sério agora.
– Eu mandei você sair da minha frente, garoto! – rangi os dentes, e o empurrei com força para trás – Não temos nada pra conversar, entendeu?
Cerrei os olhos irritada, enquanto suas sobrancelhas arqueavam atribuindo certo tom perplexo as suas feições, e antes que aquele idiota pudesse dizer mais alguma coisa, me virei apressada seguindo de volta para a minha mesa. Apesar de bancar a durona, podia sentir meus batimentos subirem pela garganta a cada passo que dava, mas por sorte Jason não veio atrás de mim, acho que eu tinha sido clara o suficiente quanto a não querer nenhum tipo de conversa com ele. Afinal, quem pensava que era pra me ameaçar assim de graça? Não fiz nada com aquele retardado estúpido, muito pelo contrário, ele quem me insultou e foi extremamente desrespeitoso comigo na festa ontem.
Tornei a me juntar a Dylan e Emily, que continuavam conversando em risadas na mesa, e tentei esquecer o momento embaraçoso lá atrás, não queria estragar o meu dia por conta daquilo. No entanto, confesso que senti o suor frio surgir nas palmas das minhas mãos, quando de canto de olho vi o cretino do Jason passar por nossa mesa em passos pesados até o balcão, onde praticamente jogou alguns dólares antes de sair de muito mau humor por sinal. E só então consegui respirar mais aliviada, me concentrando de volta na conversa com os meus amigos. Pouco tempo depois, a sineta da porta tornou a soar, mas dessa vez, um sorriso involuntário se formou em meus lábios.
– Você não me disse que iam sair de casal, sua vaca. – Dylan rolou os olhos, e Emily olhou rápido para trás.
– Fala, minha preta gostosa! – Noah se aproximou rápido, lhe roubando um selinho – O que estão fazendo aqui?
– Viu, Dylan, eu não chamei ele. – ela se virou de volta para nós dois, dando a língua pra ele que fez uma careta.
– Oi, Liz. – Jordan se aproximou um tanto sem jeito.
Ele estava lindo, como sempre. Vestia uma calça jeans de lavagem clarinha e uma camisa dos Lakers bem folgada, acompanhada de uma jaqueta e sua costumeira e discreta correntinha de ouro. Era um charme na minha opinião.
– Oi pra você também, Jordan. Não tem só a Liz aqui não, para a sua informação, tá? – Dylan retorceu o nariz, fingindo estar ofendido, o que nos arrancou uma risadinha.
– Aí, foi mal. – ele cumprimentou todos dessa vez, mas seu olhar fixou-se em mim.
– Ah, tudo bem, Dan. Querem se juntar? – arqueei minhas sobrancelhas, esperançosa.
– Seria ótimo, mas nós só viemos buscar uns lanches que o Tayler encomendou. Tem jogo hoje e já fizemos nossas apostas. – Noah respondeu por ele, e vi a Emy rolar os olhos.
– Espero que não perca dinheiro outra vez. – ela mexeu o milkshake com o canudinho, e Jordan riu anasalado.
– Pode deixar, dessa vez esse idiota apostou no time certo. – ele garantiu, numa tentativa de tranquilizá-la.
– Valeu, Dan. Vê se bota juízo na cabecinha desse retardado. – Emily novamente nos arrancou risadas.
– Hey, eu sou o idiota retardado? – Noah arqueou as sobrancelhas.
– E a gente ainda precisa responder? – Dylan usou de sarcasmo, e senti minha barriga doer de tanto rir.
– Os seus pedidos para a viagem já estão prontos, rapazes. – disse a atendente, chamando a nossa atenção.
– Ah, certo. A gente já tá indo. Nos vemos no colégio amanhã. – Jordan se despediu, ainda olhando em minha direção, senti minhas bochechas esquentarem.
– É, a gente se vê. – sorri envergonhada, e ele assentiu.
Ouvi quando o Noah se despediu da Emily, e sorri ao vê-lo empurrar o Jordan. Os dois seguiram até o balcão para pagar os lanches, senti minhas bochechas esquentarem quando ele me olhou por cima do ombro antes de sair. Então, tentei voltar ao assunto na mesa.
– Me atualizem, foi impressão minha, ou tá mesmo rolando um clima entre a Liz e o Jordan? – Dylan chamou minha atenção outra vez – Lembro vagamente de ver vocês dois agarrados ontem. Meu Deus, não me diz que ela deu pra ele no andar de cima?
– DYLAN! – Emily se exaltou ao repreendê-lo.
– O que foi, surtada? – ele cerrou os olhos, sem ao menos perceber o quão sem graça havia me deixado.
Tomei um gole de meu milkshake e ouvi o barulhinho de mensagem ecoar no celular dentro da minha bolsa, o qual me apressei em pegar. Pela barra de notificações, vi que era do Jordan, e novamente um sorriso involuntário se fez em meus lábios ao ler o que dizia.
"Você tá muito linda hoje." – 04:15pm
No mesmo instante, olhei para o janelão ao lado, bem a tempo de vê-lo guardar o celular no bolso, antes de entrar com Noah em seu carro. Sacudi a cabeça sutilmente para os lados, me apressando em agradecê-lo. Assim que enviei a mensagem, as vozes de Emily e Dylan me fizeram despertar para a conversa que se dava ali outra vez.
– Então, Liz, fala logo... O que rolou com o Davis? – insistiu Dylan, quando guardei meu celular na bolsa novamente.
– Nós só conversamos. – me apressei em explicar – Não rolou nada além disso.
– Sério? Nossa, você deve ser a primeira garota que não transou com ele na primeira noite. – ele disse exatamente a mesma coisa que Emily, e soltei o ar pelo nariz numa leve risada.
– Foi o que eu disse pra ela. – Emily falou em voz alta – Agora conta pra ele sobre o quase beijo, Liz.
– Emy... – arregalei os olhos, e ela paralisou o movimento da taça até a boca.
– O quê? Era segredo? Desculpa. – pediu ela, um tanto nervosa.
– Não. Quer dizer, tudo bem contar para o Dylan, mas fica só entre nós três, pode ser? – pedi em tom doce, e ambos assentiram.
– Prometo que pode me contar qualquer coisa, minha boca é um túmulo. – ele fez uma cruz nos dedos, a qual beijou duas vezes.
Aquilo me arrancou uma risadinha, mas assenti, e logo comecei a contar tudo outra vez...
[...]
⁜ Essa Liz é rancorosa ou não é? kkkkk
⁜ Deixem seus comentários e votem no capítulo, é muito importante, meus amores. Até loguinhooo ❤❤
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