39. Droga, Lizzie!
"Noite após noite você adormece encostada em mim, estou rezando para não voltar a ser quem eu era, eu sinto que não mereço você esta noite... eu não quero ser meu passado. Oh, quando nos beijamos eu estou vivo, e me sinto totalmente novo. Não há nada que eu queira mais do que nós! – Deserve you, Justin Bieber."
"Jay, eu quero." – minha voz soou manhosa, enquanto entrelaçava meus braços em seu pescoço.
Seu rosto estava tão perto do meu, que eu podia sentir sua respiração quente se chocar contra a minha pele, fazendo os pelinhos da minha nuca eriçarem. Seus olhos se mantinham fechados, e o vi ranger os dentes, antes de negar com a cabeça.
"Quer porra nenhuma. Vê se sossega!" – Jason se soltou do meu toque, mas rapidamente o puxei pela gola da camisa.
"O que foi? Está com medinho agora? Tô dizendo que quero, quero muito, Jay!" – tornei a pedir e seus olhos caramelados recaíram aos meus lábios.
Nesse instante, notei tristeza neles, tão profunda e afiada como uma faca atravessando meu peito. Por que ele estava tão triste? Era minha culpa?
"Você nem vai lembrar disso, Lizzie." – as palavras que saíam por entre seus lábios pareciam tão pesadas... como se fosse extremamente difícil dizê-las.
O que podia ser tão difícil assim para ele?
...
Agora...
Abri os olhos com dificuldade, pelas pontadas de dor em minha cabeça. Minha vista estava um tanto turva e, por isso, pisquei meus olhos algumas vezes seguidas, numa tentativa de avistar alguma coisa que me indicasse onde eu estava. Então me lembrei dos afagos e carinhos do Jason em minha nuca, e uma coisa puxou a outra.
No entanto, ele não estava mais na cama comigo. Havia me deixado sozinha naquele quarto? Tentei me mover para o lado, mas senti a minha cabeça latejar de dor, o que me fez soltar um grunhido baixinho. Fechei os olhos novamente, apertando-os com força, contendo as lágrimas que chegavam, o que estava acontecendo comigo?
Apertei as cobertas entre os dedos, puxando as pernas um pouco para cima, me forçando a lembrar tudo o que havia acontecido, mas as pontadas pesadas na minha cabeça me fizeram desistir. Fiquei um tempo quieta, sozinha, pelo menos eu achava que estava, até ouvir um estalo de algo caindo ao chão. Então, abri os olhos novamente e me forcei a virar na cama, deixando algumas lágrimas escaparem.
Avistei o que, a princípio, me pareceu ser apenas uma sombra acomodada em uma poltrona ao canto da janela. Não consegui identificar quem era logo de cara, por conta da pouca luz no ambiente. O céu ainda começava a ficar claro lá fora. Senti o medo me percorrer. No entanto, assim que a minha visão foi se acostumando, se adaptando ao breu daquele cômodo, meu coração se acalmou dentro do peito.
Era o Jordan, e ele parecia estar dormindo sentado, o que provavelmente não era uma posição nada confortável. Me questionava por que ele não estava comigo na cama, quando vi uma de suas mãos se mover sobre o braço da poltrona, despencando para o lado. Acompanhei o movimento, notando que os nós dos seus dedos estavam feridos, havia sangue seco neles.
Nesse instante, senti minha respiração pesar, tornando a observar o seu rosto. Sua boca estava rasgada no cantinho esquerdo e havia um hematoma próximo ao seu olho, daquele mesmo lado. Meu Deus, o que aconteceu? Jordan se envolveu em uma briga? Por quê? Engoli em seco, franzindo a testa. Precisava lembrar o que tinha acontecido.
"Você nem vai lembrar disso, Lizzie.", aquela voz carregada de tristeza foi a única coisa que soou em meus pensamentos, e mais algumas lágrimas rolaram pelo meu rosto. Do que eu não lembraria? Por que Jason me diria algo assim? Olhei para a cômoda ao lado, onde ele havia deixado sua arma antes, mas, agora, tinha apenas um abajur ali. Devagarinho, fui lembrando dele se deitar comigo, do que eu lhe disse...
Meu Deus! Será que ele e o Jordan brigaram por minha culpa? "Droga, Lizzie!", minha consciência gritou. Por que deitei com o Jason? Por isso o Jordan estava na poltrona agora? Ele estava com raiva de mim? O que eu fiz? Solucei baixinho entre o choro, e ouvi o seu corpo se mexer na poltrona, suas mãos feridas passaram pelos olhos, coçando-os e tentei secar as minhas lágrimas, enquanto ele se inclinava para frente, me encarando de volta.
– Acordei você? – sua voz soou preocupada, e o vi se levantar, apanhando algo no chão – Droga, desculpa, Lizzie! Não queria fazer barulho.
– Não. – fiz uma careta de dor ao tentar falar, vendo-o se aproximar da cama rapidamente.
– O que está sentindo, amor? – ele se sentou ao meu lado, tocando meu rosto delicadamente, enquanto afastava algumas mechas de cabelo dali – É a sua cabeça? Está sentindo dor?
Seus olhos me encaravam com um desespero nítido, eu assenti devagarinho.
– Consegue se sentar para tomar um analgésico? – ele segurou em uma das minhas mãos, fazendo uma suave carícia com o polegar.
– Acho... que sim. – sussurrei tão baixinho que pensei que ele não pudesse me ouvir, mas logo o vi assentir.
– Tudo bem, vou te ajudar, vamos devagarinho. – ele passou uma mão por baixo da minha cabeça, enquanto seu outro braço envolvia a minha cintura.
Em seguida, me puxou com cuidado para cima, me ajeitando contra a cabeceira.
– Jordan, – segurei em seu braço, antes que se afastasse, e seus olhos mergulharam cheios de preocupação nos meus – o que... aconteceu?
Senti mais lágrimas rolarem, e ele negou com a cabeça, tratando de secá-las.
– Não quero que pense nisso agora, amor. – Jordan deu um beijinho suave em minha testa, colocando a cartela de comprimidos em minha mão.
Nesse instante, entendi que havia sido isso que ele tinha derrubado enquanto dormia.
– Vou colocar água. – Jordan se levantou, me dando as costas.
Acompanhei os seus movimentos com os olhos, e o vi pegar uma jarra d'água, junto de um copo, onde serviu um pouco. Sequei as lágrimas, que tornaram a rolar, e logo coloquei um dos comprimidos na boca.
Jordan se aproximou outra vez, com um copo d'água, o qual ele estendeu para mim. O peguei, tratando de dar um pequeno gole, apenas para engolir o comprimido que desceu com uma certa dificuldade pela minha garganta seca, o que me fez tomar o resto da água no copo, com uma certa pressa.
– Isso! Você precisa tomar bastante água hoje, meu amor. – disse ele, assim que eu o entreguei o copo agora vazio.
Apenas assenti, vendo-o colocar tudo sobre a pequena cômoda ao lado. Seu olhar ainda estava tomado de preocupação quando ele tornou a se sentar na cama, eu estava muito envergonhada pelo pouco que lembrava ter feito.
– Não se culpe pelo que aconteceu ontem. A culpa é minha por ter deixado você sozinha. – sua voz rouca soou um tanto trêmula, e encarei os seus olhos.
– Por favor, me diz o que aconteceu? Com quem você brigou, foi com o Jason? Ele só ficou comigo porque... porque eu pedi. Estava assustada e pedi para ele ficar. – eu não me lembrava de quase nada, mas tinha certeza disso.
– Eu sei. – Jordan desviou o olhar, ele me parecia tão triste – O Jason... Ele cuidou de você pela noite, enquanto eu estava fora. Me perdoa por te deixar sozinha? Não sabia o que...
Antes que ele terminasse, eu o abracei com força.
– Só me diz o que eu fiz? Não me lembro muito, mas tenho medo do que acho que fiz. – minha voz soou embargada, e solucei baixinho, afundando meu rosto contra o seu peito.
– Enquanto... – senti um de seus braços a minha volta e sua outra mão se afundou entre os meus cabelos – Enquanto eu estava fora, alguém se aproveitou para te drogar, Liz. Nada, absolutamente nada do que aconteceu essa noite foi sua culpa.
Ele me apertou mais, acariciando minha nuca suavemente com as pontinhas dos dedos. Não consegui controlar o choro. Agora todas aquelas lembranças distorcidas começavam a fazer sentido. Meu Deus, que vergonha! Como eu encararia todo mundo depois disso? Só queria poder sumir.
Solucei entre o choro e o Jordan beijou o topo da minha cabeça, me puxando para o seu colo, onde me sentei com uma perna para cada lado. Em seguida, afundei o meu rosto na curvatura do seu pescoço, enquanto o agarrava com o máximo de força que podia. Queria me esconder em seu abraço para sempre, o único lugar onde me sentia completamente segura, agora mais do que nunca.
– Me perdoa, amor? Mas estou aqui agora, e ninguém... Não vou deixar ninguém te fazer nenhum mal. – ele sussurrou rouco em meu ouvido, dando outro beijinho em minha cabeça.
– Eu falei coisas... Tenho a impressão de que tirei a roupa na frente de todo mundo, Jordan. Como vai ser no colégio agora? – minha voz soou pesada pelo choro, e ele soltou a respiração com força.
– Já cuidei disso. Não precisa se preocupar. – ao ouvi-lo, rapidamente desencostei minha cabeça do seu ombro, franzindo a testa, enquanto as lágrimas rolavam feito cascata pelo meu rosto.
– Como diz para não me preocupar? Não sabe o que fizeram comigo por conta de um boato idiota? E agora... – o soluço interrompeu a minha fala, e Jordan pousou as duas mãos em meu rosto, tentando secar algumas lágrimas.
– Não... Por favor, não chora, amor? Isso me quebra. – pediu ele, depositando um beijo em minha testa – Confia em mim, ninguém vai te fazer nada, eu não vou deixar.
– Mas, Jordan...
– Por favor, Lizzie? Confia em mim? – ele olhou profundamente em meus olhos, e segurei em suas mãos, assentindo.
– Com quem... – funguei com o nariz, encostando minha testa na sua, tocando delicadamente o seu rosto – Com quem você brigou? Por que está machucado assim?
– Não agora, bebê. Você precisa descansar, tá bom? – sua voz soou quase em uma súplica para que eu não insistisse, então assenti.
– Não sei se consigo dormir de novo. Estou com medo. – falei baixinho, e ele concordou com a cabeça.
– Não vou sair do seu lado, eu prometo. – disse ele, se deitando na cama, comigo por cima.
Pousei a minha cabeça em seu peitoral, ouvindo as batidas aceleradas do seu coração. Derramei mais algumas lágrimas, molhando a sua camisa, á medida que seus dedos acariciavam a minha nuca. Não sei o que ele tinha feito, ou faria, mas confiava nele e aquilo já bastava para mim.
Fechei os olhos, ouvindo-o sussurrar "Eu te amo!", o que me fez respirar fundo, dando um leve sorriso, me aconchegando melhor sobre o seu corpo. Ficamos em total silêncio, apenas trocando carinhos. Achei que aquele sentimento ruim dentro de mim passaria uma hora ou outra, mas não foi bem assim. O tempo ia correndo, mas a insegurança e o medo persistiam, mesmo com o Jordan ao meu lado.
Contudo, tentei não demonstrar, pois sabia que ele estava se sentindo culpado por ter me deixado ontem. E, em algum momento da minha noite, eu lhe odiei por ter ido embora com o Tayler, mas não tinha como ninguém adivinhar o que viria depois. Fui distraída, e nem me lembrava com quantas pessoas falei, o que bebi, não fazia ideia de como ou quem me drogou.
– Eu quero ir pra casa. – falei baixinho, ao sentir minhas lágrimas cessarem – Por favor, me leva pra casa, Jordan?
– Tudo bem. Eu levo sim. – respondeu ele, no mesmo tom baixo que eu.
– Obrigada. – agradeci, e logo Jordan me ajudou a se levantar.
Eu estava me sentindo tão desconfortável comigo mesma... Sei que talvez fosse melhor não me lembrar de tudo, pois com o pouco que tinha já não me reconhecia. Eu não era daquele jeito, foi como deixar outra pessoa assumir o controle do meu corpo, e essa ideia era assustadora para mim.
– Christine trouxe umas roupas limpas, caso você prefira... – Jordan apontou para uma pequena pilha de roupas sobre uma das poltronas no quarto.
– Sim, eu... vou me vestir. – forcei um sorriso, enquanto corria meus olhos por aquelas peças, até que encontrei uma calça preta em meio aos vestidos.
– Precisa de ajuda, amor? – as mãos do Jordan pousaram em meus ombros, e eu estremeci, rapidamente me esquivando – Desculpa...
– Não, eu... – senti um ardor subindo por minha garganta, e me apressei a pegar a calça entre aquelas roupas – Quero fazer isso sozinha.
– Tudo bem. Eu te espero aqui fora. – disse Jordan, um pouco antes de eu me meter para dentro do banheiro, batendo a porta com força.
Me encostei ali, soltando a respiração de uma só vez. Não era culpa do Jordan. Eu não estava com medo dele, tinha certeza disso. Eu só... Acho que estava com muita vergonha de mim. Respirei fundo, espantando as lágrimas, e avistei minha saia ainda jogada no chão, meus olhos se fixaram naquele pedaço de pano florido, e algumas cenas da noite passada pareceram voltar a minha mente.
"Eu vi dois Scott's. Joguei um copo de refrigerante neles." – falei risonha, enquanto balançava os meus pés, finalmente livres daqueles tênis – "Ele também tem um irmão gêmeo?"
"Esse filho da puta te deu algo para beber?" – Jason perguntou irritado, tornando a se erguer.
"Não lembro. Acho que sim." – dei de ombros – "Só sei que prefiro você e o Jordan, são mais sexys."
"Para de falar bobagem." – ele me puxou para o chão outra vez.
Por algum motivo, achei que fosse me abraçar, mas Jason só desceu o zíper da minha saia, e suspirei triste. Eu queria tanto um abraço dele, que apenas encostei minha cabeça em seu peitoral, enquanto ele empurrava aquela peça de roupa para baixo, a qual logo escorregou por minhas pernas até tocar o chão.
"Por que o Jordan saiu quando briguei com ele? Eu não queria que ele fosse." – meus pensamentos estavam embaralhados, e agarrei sua cintura, num abraço apertado.
"Não sei. Vai pro chuveiro." – Jason tentou romper o abraço, mas eu não queria soltá-lo, então o apertei um pouco mais, afundando o meu rosto na curvatura do seu pescoço.
"Eu queria que ele ficasse, Jay, como você. Gritei com você e mesmo assim ficou." – minha voz soou um tanto embargada, e o ouvi soltar a respiração com força quando seus braços se entrelaçaram a minha volta.
"Olha, o mané do Jordan vai chegar daqui a pouco. Mas você precisa ir pro chuveiro agora." – seu tom de voz era doce e calmo, mas algumas lágrimas me escaparam, molhando o tecido da sua camisa.
"Não quero! Não quero que ele venha mais. Manda ele ir embora?" – pedi, deixando que alguns soluços escapassem.
"Tá, vou mandar. Fica tranquila." – Jason rompeu o abraço, secando minhas lágrimas, antes de abrir o box – "Agora vai pro chuveiro."
...
Sequei as lágrimas dos cantos dos meus olhos e caminhei até a saia caída no chão, a qual rapidamente apanhei. Ao levantar, tive um susto do meu próprio reflexo no espelho, pois meus cabelos estavam desgrenhados e os olhos avermelhados. Isso sem falar no rímel que escorreu, piorando minhas olheiras. Soltei minha respiração com força, negando com a cabeça, precisava dar um jeito naquilo.
Me apressei a vestir a calça preta jeans da Christine. Depois, achei uma caixa de ligas coloridas no armário abaixo da pia, as quais usei para prender os meus cabelos num rabo de cavalo. Lavei o meu rosto duas vezes, me livrando de todos os resíduos de maquiagem que usei na noite passada. Fiz minhas higienes matinais, e ao me olhar no espelho de novo, suspirei um pouco mais aliviada.
Dobrei as mangas da camisa do Jason, e passei um pedaço para dentro da calça. Sabia que ela era enorme para mim, mas acontece que eu ainda não queria tirá-la. Tinha o seu perfume, e isso me lembrava dele cuidando de mim na noite anterior, eu não conseguia me recordar de tudo, mas ele foi gentil comigo, sei que foi. E me fez se sentir segura, mesmo com toda aquela confusão em minha cabeça.
Ao sair do banheiro, vi as cortinas balançando pela brisa suave que soprava nas janelas abertas. Dei alguns passos pelo cômodo, e notei que o Jordan estava lá fora na sacada, falando com alguém no celular. Mas, assim que ele me viu, se apressou em encerrar a chamada e guardar o aparelho no bolso, voltando para dentro do quarto.
– Já está pronta, amor? – ele deu um leve sorriso, se aproximando de mim, e eu assenti – Então... vamos?
– Com quem estava falando? – perguntei, abraçando um dos meus braços.
– Ah, não... Não era ninguém, só um dos caras do time. – ele mentiu, pude ver em seus olhos que não estava sendo sincero comigo.
– Tem a ver com o que eu fiz ontem? – minha voz soou meio falha, e passei a encarar meus pés.
Estremeci quando Jordan tocou uma mão em minha cintura, enquanto com a outra puxava delicadamente meu queixo para cima.
– Amor, eu já disse que não precisa se preocupar com isso, está tudo bem agora. – ele beijou carinhosamente a minha testa – Vamos tomar café na Candy's... Quer vestir a minha jaqueta? Está um pouco frio lá fora.
Ele propôs, se afastando um pouco quando eu assenti, e então tirou a jaqueta, rapidamente passando-a por cima dos meus ombros. Era quentinha, mas dava para sentir o seu delicioso perfume amadeirado inebriando as minhas narinas. Agradecia internamente por Jordan estar comigo, mas eu gostaria que ele fosse sincero e me contasse o que estava acontecendo. Acho que eu tinha o direito de saber se ele estava ou não com problemas por minha culpa.
Vi sua mão se estender em minha direção, e a segurei firme, caminhando com ele para fora do quarto. O corredor estava vazio, mas haviam copos e lixo espalhados pelo chão, os sinais incontestáveis da festa de ontem. Ouvimos passos subindo as escadas, e Jordan apertou minha mão, passando seu olhar a mim quando eu me agarrei em seu braço, escondendo o meu rosto ali, não queria ver ou falar com ninguém.
– Calma, amor... São só os empregados da Christine. – Jordan sussurrou para mim, e deu um beijinho no topo da minha cabeça.
Respirei fundo, ouvindo-o cumprimentar quem quer que fosse, e me soltei do seu braço, ainda segurando firme em sua mão, sentindo os meus batimentos se tranquilizarem. Descemos as escadas e, em poucos segundos, já estávamos do lado de fora. Estava mesmo frio, então tratei de vestir adequadamente a jaqueta, era enorme para mim, mas eu gostava disso.
Seguimos para o carro, estacionado um pouco mais à frente. Havia lixo para todo lado no jardim, mas não foi o que me chamou atenção. Notei que a grama parecia ter sido arrancada a uma certa distância considerável do carro do Jordan, e estava amassada pelos lados, tinham alguns vasos de flores quebrados e a pequena estátua de anjo na fonte havia sido rompida ao meio.
Olhei para frente, e notei sua camisa suja de lama, então... a briga foi ali? Senti um nó se formando na minha garganta, enquanto ele destravava o carro. O vi abrir a porta para mim, e parei de caminhar por alguns segundos, sentindo-o me analisar um tanto apreensivo, mas antes que pudesse me chamar eu entrei no carro, precisava que ele respondesse as minhas perguntas.
Encolhi os ombros ao ouvir a porta bater e me repreendi mentalmente por estar tão amedrontada, então me apressei a colocar o cinto de segurança, ao mesmo tempo em que pensava num jeito de fazê-lo falar para mim o que havia acontecido. Jordan logo entrou no carro, e girou a chave na ignição. Eu tomei um fôlego de coragem para iniciar aquela conversa, pois acredito que nós dois estávamos nervosos.
– Com quem você brigou ontem, Jordan? – perguntei, assim que ele deu ré, saindo da vaga.
Confesso que, por um lado, eu temia ouvir sua resposta, porque não me perdoaria se tivesse feito ele e Jason brigarem, mas a verdade é que eu precisava saber.
– Ah... não importa, amor. Não esquenta com isso. – ele disse um tanto nervoso, enquanto seguia para os portões da propriedade.
– Foi com o Jason? Me responde o que aconteceu, por que está machucado? – pedi, um tanto chateada, sentindo meus olhos arderem.
Jordan sorriu amarelo, ainda sem me encarar diretamente.
– Lizzie, esquece isso! Estou bem, não foi nada. – pediu ele, e eu franzi a testa.
Esquecer? De jeito nenhum! Eu já tinha esquecido muita coisa, não? Rapidamente neguei com a cabeça, cruzando os braços.
– Quero ver o Jason! – falei firme pela primeira vez aquela manhã, e Jordan me encarou, cerrando os olhos.
– O que disse? – perguntou ele, em tom confuso, mas levemente chateado, e confesso que pensei em desistir, porém, apertei os meus braços com força.
– Me leva para ver o Jason! Ele quem cuidou de mim, não foi? Quero ver ele agora! – continuei firme, eu precisava saber o que aconteceu.
Ouvi Jordan ranger os dentes ao meu lado, tornando sua atenção para a rua a frente. Ele não disse mais nada, apenas seguiu caminho, o que conseguiu me irritar muito mais. Qual era o problema dele? Por que não queria me explicar nada? Eu tinha o direito de saber, não tinha? Bufei o ar com força pelo nariz, me acomodando no banco do passageiro, passando a observar a paisagem pela janela ao lado.
Estava furiosa, realmente furiosa com o Jordan, mas ele não disse uma só palavra, estabelecendo um silêncio estúpido entre nós dois, enquanto dirigia. Quando paramos no sinal, me forcei a não olhá-lo, tentando conter o choro preso em minha garganta. Era tão difícil, mas consegui. Depois de um tempo, notei pegarmos a via expressa, e ouvi o batucar dos seus dedos no volante.
– Para onde estamos indo? – perguntei, completamente sem ânimo, estava exausta daquela guerrinha idiota de silêncio.
Então, notei o carro reduzir a velocidade, à medida que o Jordan puxava para o acostamento. Foi exatamente onde estacionamos.
– Não vai mesmo falar nad...
– Não briguei com o Jason. – Jordan me interrompeu, finalmente respondendo minha pergunta, e passei a encará-lo.
– Então, por que está mentindo para mim? – minha voz soou baixinho, e logo seu olhar se encontrou ao meu.
– Não estou mentindo, Lizzie. – ele suspirou baixo ao concluir a frase.
– Certo. Se não foi com ele, então com quem foi? – perguntei, já impaciente, e o vi assentir algumas vezes.
– Foi com o Ethan, não teve nada a ver com você. – disse ele, e não parecia estar mentindo dessa vez – Tivemos um desentendimento há um tempo atrás, e quando cheguei do mercado ontem, ele quis acertar as contas. Foi só isso.
Franzi a testa, cerrando os olhos, enquanto tentava me lembrar quem era Ethan. Aquele nome não me era estranho. "Jason surrou o Ethan até ele quase entrar em coma há uns meses...", meus olhos se arregalaram ao ouvir a voz da Christine ecoar em minha cabeça. Seria o mesmo Ethan?
– Está falando sobre aquilo no banheiro no dia em que o Jason voltou para o colégio? – perguntei, um tanto confusa, e logo vi o Jordan assentir – Por que não me disse antes?
– É que eu... eu não queria te preocupar com essa bobagem. – seus olhos desviaram dos meus, mas ele segurou em minha mão, acariciando-a delicadamente com o polegar, antes de depositar um beijinho ali.
– Sinto muito, Dan. Fiquei tão preocupada quando te vi machucado, eu... – toquei em seu rosto, fazendo uma suave carícia em sua bochecha – Eu te amo tanto, que me parte o coração pensar em alguém machucando você.
– Mas estou bem agora, amor. Não precisa se preocupar com isso. – o vi soltar o cinto de segurança, para logo em seguida se aproximar um pouco mais de mim.
– Me perdoa pelo que fiz? – minha voz soou um tanto embargada, e Jordan negou com a cabeça, tocando em meu rosto, enquanto seus olhos cor de mel mergulhavam profundamente nos meus.
– Hey! Não. Não, amor. Você não teve culpa, Liz. – ele rapidamente secou uma lágrima que rolou pelo meu rosto, depois selou meus lábios carinhosamente – Eu te amo! Eu te amo muito, vai ficar tudo bem, tá bom?
– Mas, Jordan...
– Não, Lizzie! Nós vamos esquecer isso, e vai ficar tudo bem, eu prometo. – seus lábios se uniram em minha testa, e ele me puxou para um abraço apertado.
Retribuí aquele gesto quase no mesmo segundo, sentindo o calor do seu corpo se misturar ao meu. Era tão seguro estar entre os seus braços, que se eu pudesse nunca mais sairia dali. Jordan depositou dois beijinhos em minha cabeça, e respirei fundo, inalando seu delicioso perfume amadeirado. Ele me fazia tão bem...
– Não quero... – falei ao rompermos o abraço, e senti minhas bochechas esquentarem – Não quero que fique chateado comigo, mas ainda preciso ver o Jason.
O ouvi suspirar pesado, enquanto tornava a se acomodar em seu banco, olhando fixamente para uma placa a frente.
– Não dá. – disse ele, sem ânimo – Não faço a menor ideia de onde o Jason esteja agora e, provavelmente, não está em casa. Faz dias que ele não dá as caras por lá.
– Talvez... – falei tão baixinho que pensei que ele não tinha ouvido, mas eu soube que sim quando o seu olhar pousou sobre mim – Bom, talvez a gente possa checar naquela boate.
– Quê? – Jordan franziu a testa, confuso a primeiro instante, mas logo se tocou do que eu estava falando, e arregalou os olhos – De jeito nenhum! Esquece, Lizzie. Não vou te levar naquele lugar de novo.
– Mas é que... – abaixei o olhar ao sentir as lágrimas chegarem, apertando os dedos uns contra os outros, numa tentativa de me conter.
No entanto, uma lágrima me escapou, e ouvi Jordan respirar fundo ao meu lado.
– Tá. É o que você quer? Então vamos. – disse ele, e girou a chave na ignição quando tornei a encará-lo.
– Dan...
– Vou entrar com você, não vai sair de perto de mim. E se o Jason não estiver lá, nós vamos embora. – ele me interrompeu sem ao menos me olhar – Nem me peça para ir a outro lugar, porque não iremos, certo?
– Tudo... tudo bem. – respondi, me apressando a secar as lágrimas nos cantos dos olhos.
Jordan colocou o cinto de segurança outra vez, e logo deu partida. Não falamos muito dali em diante, e em parte eu sabia que ele tinha razão por estar chateado. Afinal, não tínhamos boas recordações daquela boate. Sei que ele não queria me levar até lá, mas, mesmo assim, me levaria só para que eu me sentisse melhor. Isso tornava ainda mais nítido para mim porque eu o amava tanto.
Estava nervosa e pedia a Deus que Jason estivesse naquela boate idiota. Não demorou muito, e já estacionávamos em frente ao prédio que, a luz do dia, me parecia menos assustador do que da última vez. Não havia música tocando lá dentro agora, o que queria dizer que não haveriam caras bêbados. Mas, também podia significar que Jason não estivesse. Descemos do carro e Jordan o travou, apressando o passo até mim.
– Já sabe, não é? – ele estendeu sua mão em minha direção, e eu agarrei o seu braço, enquanto atravessávamos a rua – Se o Jason não estiver aqui, nós iremos para casa.
– Tá. – concordei, pois não o forçaria a dirigir ainda mais.
Jordan assentiu algumas vezes, acredito que mais para si mesmo do que para mim. Nos apressamos em subir os degraus e sua mão apertou a minha antes dele empurrar a porta para dentro. Corri meus olhos pelo ambiente, sentindo meus pelos eriçarem ao me lembrar daquela noite assustadora, mas as mesas estavam vazias e as cadeiras viradas sobre elas.
Caminhamos mais para dentro, avistando duas moças varrendo o chão, enquanto outras três conversavam sentadas em um dos palcos. Haviam mais algumas recostadas ao balcão no bar.
Engoli em seco ao sentir seus olhares em nossa direção, pois toda a conversa pareceu ser interrompida abruptamente. Notei uma presença atrás de nós, o que me fez virar rápido, dando de cara com o segurança que me recebeu com o Jason da última vez.
– Quem foram os desgraçados, chefia? – ele cerrou os punhos, visivelmente irritado ao olhar para o Jordan.
– Sossega, Joel! Ele não é o McClain! – uma das moças se aproximou risonha, deixando o cara a nossa frente extremamente confuso.
– Como assim, Alice? – ele questionou olhando dela para Jordan e de novo para ela.
Lhe reconheci de cara. Era a mesma moça dos lábios vermelhos com quem Jason falou, antes de seguirmos pelo corredor escuro, aquela noite.
– Sou o irmão dele. Quero saber se o Jason está aqui. – Jordan se apressou a responder, um tanto impaciente, e ambos o olharam.
– Quê? – Joel arqueou as sobrancelhas em total confusão, e a tal Alice deu uma risada.
– Volta ao trabalho, Joel, eu cuido disso. – Alice deu um tapinha em seu ombro, antes de segurar a outra mão do Jordan, nos puxando pela boate – O seu irmão está lá dentro, garotão, mas eu aconselho não entrarem.
– Ele vai demorar muito? – perguntou Jordan, se soltando dela ao pararmos de caminhar.
– Não sei. Aceitam uma bebida enquanto esperam? – ela perguntou risonha, parecia feliz até demais, como se estivesse drogada ou algo do tipo – Shely, traz uma garrafa de whisky, vadia!
– Não queremos bebida. – Jordan falou irritado, e ela arqueou uma sobrancelha ao nos encarar, mas sorriu outra vez.
– Sorte a sua, porque o whisky é para mim. – disse Alice, tirando algumas cadeiras de cima de uma mesa – Sentem aí, o McClain deve sair logo. Teve entrega agora pela manhã, por isso os caras estão com ele lá nos fundos.
– Caras? – Jordan franziu a testa, e avistei a tal Shely se aproximar com uma garrafa de whisky em uma mão e um copo de vidro em outra.
– Está aqui, Alice. – ela me soou enjoada, colocando as coisas sobre a mesa.
Diferente da Alice, que aparentava ter mais de vinte anos, a tal Shely parecia ter a mesma idade que eu. Acredito que ela era quase da minha altura também, mas ficava bem mais alta usando aqueles saltos escandalosos. Seu vestido era um tubinho rosa que quase não cobria o que deveria ser coberto, de tão curto e justo que era. Ela não usava sutiã, porque fora os seios quase saltando pelo decote, ainda dava para ver as marcas dos seus mamilos rígidos, o que me fez corar envergonhada.
A primeira vista, ela me pareceu ser uma garota bem mal humorada, se comparada a Alice, claro. A vi franzir a testa ao encarar o Jordan, que não lhe deu muita atenção. Logo em seguida, passou o seu olhar à mim, me observando dos pés a cabeça, de uma forma nada discreta ou agradável. Dava para sentir sua repulsa ou talvez fosse raiva, não sei por que, mas naquele instante eu achei que fosse os dois.
Seus olhos se fixaram em nossas mãos dadas e ela cruzou os braços irritada, fazendo seus seios se espremerem ainda mais um contra o outro. Achei até que fossem saltar para fora. Shely virou o rosto, fazendo seus cabelos loiros mechados de rosa caírem pelo seu ombro, e voltou a encarar Jordan muito zangada, por sinal.
– Por acaso essa daí é a tal vadiazinha da Lizzie? – perguntou ela, empregando um certo nojo em sua voz ao falar o meu nome.
Realmente não sei como, ou de onde me conhecia. Então, sua forma grosseira de se referir a mim, conseguiu me deixar completamente confusa. Afinal, por que aquela garota estaria chateada comigo? Jordan a encarou furioso, e eu apertei sua mão, encostando meu rosto em seu braço. Não queria que ele dissesse nada que pudesse provocar uma discussão ali.
– É melhor você ficar na sua, Shely, esse daqui não é o McClain. – Alice passou entre os dois para pegar a garrafa sobre a mesa, e eu agradeci internamente por isso.
– Como assim? – Shely ignorou o olhar de reprovação do Jordan, dando um passo para o lado, na busca pela atenção da Alice.
– Mas o que porra estão fazendo aqui? – ouviu-se um estardalhar alto, seguido daquela voz rouca, pesada e furiosa...
[...]
💋. Tadinha da Liz, não consegue lembrar de nadinha 🥺🥺
💋. Será que o Jordan contou a verdade sobre essa tal briga? O que vocês acham? 👀
💋. E essa Shely, como será que ela conhece a Liz? E por que tanto desprezo assim? 👀
💋. Deixem seus comentários, e não esqueçam de votar na ⭐. Até loguinhooo 😘
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