38. O guardião

AVISO: ESSE CAPÍTULO CONTÉM CENAS DE ASSÉDIO, VIOLÊNCIA FÍSICA, E USO DE ALUCINÓGENOS (DROGAS ILÍCITAS). CASO VOCÊ SEJA SENSÍVEL A ESSE TIPO DE CONTEÚDO, SUGIRO QUE PULE OS PARÁGRAFOS DESTACADOS COM (*). ⚠

OBS: As lembranças e o tempo real serão distinguidos pelo itálico nas letras, seguido de (" ") aspas para destacar as falas (quando for lembrança).

"Estou me apaixonando pelos seus olhos, mas eles ainda não me conhecem... eu serei seu guardião, você será minha dama. Eu fui feito para manter seu corpo aquecido, mas eu sou tão gelado quanto o vento que sopra. Então me envolva em seus braços... – Kiss me, Ed Sheeran."

O caminho até a casa da Christine não foi tão demorado. Apesar de passarmos para buscar o Logan, que disse que encheria a cara e não seria seguro voltar dirigindo. O que era um comportamento bem semelhante ao do seu parceiro Dylan. Acho que os dois combinavam mesmo. Agora, acabávamos de estacionar em frente a enorme mansão. Haviam carros para todos os lados. Descemos, batendo as portas, então aproveitei para arrumar a minha saia, vendo Logan e Jordan fazerem um toque.

– Falou, Lizzie! Vou ver se encontro o Dy. – Logan se despediu, eu acenei de volta – A gente se vê lá dentro.

– Até mais. – me despedi, seguindo até Jordan, que me puxou pela cintura.

– Preciso te contar uma coisa... – disse ele, olhando em meus olhos, o que me fez franzir a testa.

– O quê? – perguntei, um tanto confusa, vendo-o umedecer os lábios com a língua, em um sorrisinho sacana.

– Estou começando a achar que não vou conseguir cumprir com aquela última promessa. – suas mãos escorregaram para a minha bunda, e eu dei um tapinha em seu peitoral.

– Deixa de ser bobo. Achei que estivesse falando sério. – disse risonha, me virando, então ele me agarrou por trás, seguindo comigo em direção a casa.

A música já soava alto mesmo de fora.

– Hey! Desde quando isso não é sério? – Jordan sussurrou em meu ouvido, rimos juntos.

Ajeitei a alça da minha bolsa no ombro, antes de segurar em sua mão. Assim que subimos os degraus, vi que as portas estavam abertas. Tinha muita gente espalhada fora e dentro da casa, segurando seus copos vermelhos e azuis. A música foi ficando ainda mais alta, à medida que nos aproximávamos.

Quando cruzamos a soleira da porta para dentro, pudemos ouvir um grupo gritar "Davis, Davis, Davis!", o que nos fez rir. Acho que já estavam todos bêbados. Jordan fez um toque com alguns caras, e eu coloquei os nossos presentes em uma caixa ao lado da escada, então seguimos em direção a sala.

– Você quer beber alguma coisa, amor? – perguntou ele, em meu ouvido, me puxando para a sua frente novamente, eu assenti.

– Refrigerante! – respondi um tanto alto, por conta da música estridente que tocava, ele sorriu assentindo.

Adentramos pelo corredor, seguindo para a cozinha. Me arrepiei, quando o Jordan me apertou entre os seus braços, dando alguns beijos molhados em meu pescoço. Pousei as minhas mãos sobre as suas, e ele deu uma leve mordida em minha bochecha, o que me arrancou um largo sorriso.

Ouvi ele sussurrar "Linda!" em minha orelha e prendi meu lábio entre os dentes, respirando fundo. Adorava essas demonstrações de carinho dele, porque eram verdadeiras e me deixavam tão molinha.

– Fala, Dan! – um dos caras do time o cumprimentou, assim que chegamos à cozinha.

– Fala, Robbin! – disse Jordan de volta, fazendo um aceno de cabeça, seguindo comigo direto para o balcão – Então, qual sabor de refrigerante a minha gracinha prefere?

– Hum... limão, se tiver. – respondi, ouvindo a sua risada anasalada, quando ele me soltou caminhando para detrás do balcão.

Olhei em volta, vendo a Dafne e a Rose conversarem ali perto, elas acenaram sorridentes para mim e eu acenei de volta. Notei que haviam mais pessoas espalhadas pelo deck, dei uma risadinha ao ver o Noah tropeçar enquanto saía agarrado com a Emily, acho que já estava levemente alterado, pelo menos aparentemente sim. A julgar pela última festa, o Jordan não era de encher a cara, o que me deixava tranquila. Acordei com o chiado do refrigerante caindo no copo, e me virei em sua direção outra vez.

– Você está radical hoje? – Jordan me arrancou uma risada, me lembrando da nossa primeira festa juntos.

– Olha, um pouco. – comentei risonha, vendo-o pegar uma cerveja no barriu ao lado, antes de se direcionar a mim outra vez.

– Então, vamos descolar gelo para essa neném um pouco radical... – ele me puxou pela cintura, depositando um beijinho carinhoso em minha testa.

– JORDAAAAAAN! – ouvimos alguém chamar. Não, praticamente berrar.

Olhamos para o lado, avistando uma menina de cabelos castanhos mechados de loiro cinzento, correndo em nossa direção. Ela pulou no pescoço dele, ignorando completamente o fato de eu estar junto bem ali. Contudo, isso não foi o que mais me incomodou, mas sim o fato do Jordan ter me soltado para abraçá-la de volta calorosamente, devolvendo todo aquele entusiasmo repentino.

Me afastei um pouco, cruzando os braços. Sem que eu percebesse, já estava analisando aquela garota de cima a baixo. Ela usava um vestido tubinho, de cor vinho e tênis brancos nos pés. No momento em que a vi afundar o rosto na curvatura do pescoço do Jordan, eu fechei a cara. Acho que ele notou, porque rapidamente rompeu o abraço com ela, olhando meio receoso em minha direção.

– Ai, há quanto tempo! Nossa você está ainda mais gostoso do que da última vez que nos vimos, hein... – ela acariciou o rosto dele, que sorriu sem graça, rapidamente tirando sua mão dali – Aquilo foi uma delícia, nossa!

– Delícia? – me pronunciei em tom irônico, e ambos me encararam – O que exatamente foi uma delícia, Jordan?

Dessa vez eu não esconderia o meu desconforto. Então, a encarei de muito mau humor por sinal.

– Oh, me desculpe, eu quase não te vi aí. Suponho que deva ser a nova namoradinha do Dan, certo? – ela arqueou uma sobrancelha, me analisando com um tanto de desgosto, depois sorriu falso – Te achei uma gracinha.

Eu franzi a testa, olhando para o Jordan muito irritada.

– Ah, sim, essa é a Lizzie, minha namorada, Sophie. E Lizzie, essa é a Sophie, irmã mais velha do Chris. – Jordan nos apresentou, tentando me puxar novamente pela cintura, mas eu me esquivei.

– Eu não estou nem aí pra quem essa piranha atirada é, ou deixa de ser. – dei a mínima atenção, pegando o meu copo sobre o balcão – Mas podem continuar, já que não se veem a tanto tempo, fiquem a vontade.

Contudo, antes de me virar e seguir para o deck, notei a Ashley se esgueirando discretamente para longe do barriu de cervejas. Ótimo! Agora, além de tudo, ela também escutava a conversa alheia. Sacudi a minha cabeça para os lados, tentando não me importar muito com isso, ou com o fato de ser mal-educada com a tal da Sophie. Afinal, eu não estava errada, estava? Aquela vadia chegou do nada, se jogando para cima do meu namorado.

Mas o pior foi ele me soltar para abraçá-la de volta. Sim, isso me irritou pra caramba. Porque eu não podia nem conversar direito com outro cara, como o Scott no colégio por exemplo, que o Jordan ficava todo enciumado, só que ele podia agarrar as irmãs atiradas dos amigos dele na minha frente? Não mesmo! Eu não ia mais tolerar que ele desse tanto espaço pra outra, como fez com a vaca da Ashley na peça de natal. Abri a porta de vidro e assim que saí, pude sentir alguém me puxar pelo cotovelo.

– Hey, o que foi aquilo? – perguntou Jordan, quando me virei de frente para ele, e rolei meus olhos.

– Eu que te pergunto, já dormiu com ela também? – fui grossa, pois estava irritada, ele franziu a testa.

– Não acredito que está com ciúmes da Sophie, amor. – ele me puxou pela cintura, mas eu virei a cara.

Sim eu estava, e daí?

– Dormiu ou não? – tentei me soltar, mas Jordan segurou em meu rosto, me fazendo olhá-lo outra vez – Responde, Davis!

– Isso não importa. Ela é só uma amiga agora e nem mora mais na cidade. – ele praticamente me confirmou, e eu esquivei do seu beijo.

– É só uma amiga igual a Ashley, por acaso? Quantas amigas suas assim eu vou ter que aturar? – perguntei irritada, lhe empurrando com a minha mão livre.

– Amor, não. Nenhuma. Não fui eu que...

– Foi você sim! Jordan, você me soltou para abraçar ela de volta! Como se sentiria se eu fizesse o mesmo com você? – estava falando um tanto alto, pela música e por estar chateada também, até que notei algumas pessoas a volta nos olharem.

– Liz, para com isso. Podemos conversar em um lugar menos cheio? – Jordan pediu, dando alguns passos em minha direção, eu me afastei – Linda, não quero nada com ela.

– Então trate de deixar isso claro, Jordan! Se para ela você fosse só um amigo, primeiro teria visto que estava acompanhado, não acha? – cerrei os olhos, apertando o copo em minha mão.

– Hey, florzinha! Você veio. – ouvi a voz da Christine, e logo a vi se aproximar – Chegaram faz muito tempo?

– Não, acabamos de chegar. – Jordan respondeu no meu lugar e ela olhou em sua direção, abrindo um sorriso de canto a canto.

– Ótimo, isso quer dizer que não bebeu ainda, Davis. Preciso de alguém que dirija com o Tayler até o mercado para comprar mais aperitivos. – ela propôs.

Eu dei um longo gole em meu refrigerante, não ia pedir que o Jordan ficasse, apesar de querer que sim.

– Fala, grande Davis! – Tayler surgiu atrás dela, parecia bem alterado, os dois fizeram um toque – Você está livre, cara?

– Ah, acho que sim. Você vem, Lizzie? – Jordan perguntou meio nervoso, eu neguei com a cabeça, não queria ir ao mercado com um bêbado, muito menos após ter discutido com o meu namorado – Amor...

– Vou ficar com a Christine. Depois a gente conversa. – falei sem olhá-lo diretamente, puxando-a pelo braço.

– Aconteceu alguma coisa, darling? – perguntou Christine, e eu neguei com a cabeça, não estava a fim de falar sobre a minha crise idiota de ciúmes.

Senti uma leve tontura, e balancei a minha cabeça para os lados, tomando mais daquele refrigerante. O gosto ficava um pouco amargo no fim, acho que o Jordan nem tinha encontrado de limão como eu pedi, mas era bom mesmo assim.

– Christine! – alguém lhe chamou, e quando olhei para trás vi que era a Sophie.

– Vai lá, vou procurar a Emy. – me soltei dela, que assentiu, não estava nada a fim de encarar aquela garota idiota outra vez.

– Te vejo depois, raiozinho de sol. – Christine se despediu ao se virar.

Rolei os olhos, terminando de tomar o meu refrigerante. Suspirei, sentindo um calor estranho me percorrer, mas o ignorei. Acho que a culpa estava começando a bater na porta agora, talvez eu tivesse exagerado lá atrás, mas ao mesmo tempo... Bom, de jeito nenhum eu aturaria mais episódios como o da "Ashley", com outras... ex-peguetes, sei lá das quantas, se jogando para cima do Jordan. Me irritava o fato dele já ter sido um... Um galinha estúpido. Porque para elas era como se eu nem existisse, ou coisa do tipo, como se eu não fosse me importar com o fato de estarem se atirando para o meu namorado na minha frente.

– Ah, olha você aí. Achei que não viria. – olhei para o lado, dando de cara com ninguém mais, ninguém menos que Scott.

– Olá. – sorri meio sem graça.

Não tinha visto ele desde aquele episódio infeliz com o Jason na cantina há alguns dias.

– Você está linda. – ele sorriu simpático.

– Obrigada. Aquele dia com o Jason... Desculpa, tá? – pedi envergonhada, por não ter dito absolutamente nada para defendê-lo na hora que as coisas engrossaram lá na cantina.

– Ah, não. Aquilo? Tá tranquilo. Quer dizer, o seu cão de guarda não está por perto, né? – perguntou ele, em tom engraçado, e não sei por que, mas dei uma risada, negando com a cabeça – Menos mal. Então, chegou agora?

– Tecnicamente sim. – respondi, sentindo um incômodo me percorrer, acho que estava meio tonta mesmo, mas tentei não demonstrar.

Scott sorriu largo, correndo os seus olhos pelo meu corpo.

– Quer beber alguma coisa, gracinha? – perguntou ele, voltando a me encarar, erguendo as sobrancelhas.

– Eu não bebo, e o meu refrigerante já acabou. – virei o copo, dando risada, não sei do que estava rindo, mas conversar com Scott parecia muito engraçado agora.

– Sorte a sua. Estou só no refrigerante hoje também. Pode ficar com o meu. – ele estendeu o seu copo em minha direção, o qual eu olhei por alguns segundos.

Normalmente, eu não aceitaria, mas por algum motivo a minha língua estava amargando muito e meus pensamentos começavam a ficar meio embaralhados, fora que o chão parecia querer se mover sob os meus pés. Acabei por pegar o seu copo.

– Obrigada. – sequei as lágrimas pelas risadas, tomando um longo gole.

Esse era mais docinho que o primeiro, acho que gostei mais.

– Então, está sozinha, Liz? – perguntou ele, olhando em volta.

Eu ri, assentindo, enquanto abaixava o copo. Não sei se estava louca, mas agora podia ver dois dele em minhas mãos, ou era mão? Nunca havia notado que tinha mais de uma em meu braço.

– Sim, o estúpido do meu namorado brigou comigo e saiu. – as palavras me escaparam entre risadas.

Franzi a testa, vendo dois Scott's a minha frente. Ele também tinha um irmão gêmeo? Todo mundo tinha um? Eu tinha também? Não sei!

– Você está bem? – eles deram um passo em minha direção, quando segurei minha barriga rindo, não conseguia parar de rir, estava muito engraçado.

– Sim, eu acho. Mas quem é ele? – apontei para um dos dois, e eles se viraram.

Eram dois. Sim, eram sim.

– Ele quem? – de repente, as vozes deles saíram como uma gravação levemente distorcida, me pareciam confusos, o que me fez rir ainda mais, cambaleando um pouco para trás.

– Vocês deviam se ver. São muito parecidos. – me apoiei em uma das mesinhas ali, sentindo minha bolsa escorregar pelo braço, quase caindo ao chão.

– Lizzie, você tem certeza que não bebeu nada alcoólico? – eles tentaram segurar em meus braços, isso me irritou, então joguei o copo com o resto de refrigerante em sua direção – Hey!

– Fiquem longe de mim, porra! – falei alto, me virando apressada, tudo a minha volta parecia girar enquanto eu caminhava, era divertido – Cadê a droga do meu namorado? JORDAN!!! Eu quero transar, amor.

Não fazia a menor ideia do que estava acontecendo, mas tudo estava mais leve, todo mundo parecia mais engraçado. Podia sentir o meu corpo inteiro formigar, acho que eu estava fervendo por dentro, borbulhando, sentindo um calor me percorrer todinha. Eu precisava do Jordan, precisava que ele me fodesse agora mesmo...


Um pouco mais tarde...

* "Tira, tira, tira!" – ouvia vozes ecoarem por todos os lados, enquanto tentava desfazer o lacinho do meu top.

* A música tocava alto e tudo parecia girar sob meus pés. Eu podia enxergar um arco-íris de cores que se estendia do chão até o céu. Meu corpo estava leve, e eu sentia que era uma pena, tinha medo de voar de cima daquela mesa com o simples soprar de um vento, mas, ao mesmo tempo, a ideia me parecia extremamente atraente. Como seria voar? Eu podia voar? Acho que sim, por que só descobri agora?

* Finalmente consegui me livrar daquele top idiota. Estava muito quente para ficar vestida, ou será que o calor vinha de dentro de mim? Tinha um sol na minha barriga, é eu acho que tinha sim. Estava tão quente. Girei o top entre os dedos, enquanto meus quadris seguiam o ritmo da música que tocava. Então, senti alguma coisa apalpar meus seios, ao olhar para baixo vi que eram duas mãos.

* "Sorri pra câmera, vadia!" – uma voz estranha soou em meu ouvido, enquanto aquelas mãos continuavam apertando meus seios.

* "Mostra os peitinhos, sua vagabunda!" – senti tocarem minhas pernas, em carícias e apertões.

* Eu devia me preocupar? Quem eram aqueles caras? Não fazia a menor ideia. Mas a sensação dentro de mim era tão boa que nem me importei em saber. Uma gargalhada escapou por entre meus lábios com toda a gritaria a volta pra que eu mostrasse os peitos. Que mal faria se eu mostrasse? Queriam tanto ver...

* "Não aqui!" – o cara atrás de mim segurou minhas mãos quando toquei o fecho do sutiã – "Vamos subir, cadela. E eu te mostro o que acontece com uma vadia bêbada numa festa."

* "A gente vai transar?" – perguntei, ainda rindo, era tão bom rir – "O Dan vai estar lá? Só quero transar com ele."

* "Ah... ele vai sim. Todos nós vamos." – ele apertou meus seios outra vez, e eu ri um pouco mais, tudo estava tão engraçado...


Agora...

Abraçava os meus próprios braços, enquanto ouvia um chiado, seguido de um gotejar constante em minha cabeça. Estava frio, e eu podia sentir todo o meu corpo dolorido, como se eu tivesse caído e me machucado feio. Abri os olhos com dificuldade e, quando olhei para cima, avistei um chuveiro. Há quanto tempo estava ali embaixo? A julgar pelos meus cabelos encharcados, deviam fazer bons minutos.

Mas por que eu estava tomando banho de calcinha e sutiã? Olhei em volta, e logo constatei que aquele não era o meu banheiro. Onde eu estava? Como cheguei até aqui? Encarei meus pés por alguns segundos, tentando assimilar as poucas memórias que voltavam como rápidos flashs à minha cabeça. De repente, lágrimas surgiram em meus olhos. O que estava acontecendo comigo?

* Me permiti cair no choro, pois sentia que explodiria se não fizesse isso. Não sei bem o motivo, mas eu precisava esvaziar. Abracei os meus joelhos dentro daquela banheira, à medida que soluços pesados e carregados de angústia escapavam por entre os meus lábios, enquanto vozes perturbadoras ecoavam em minha cabeça: "Tira, tira, tira!", "Vagabunda gostosa!", "Mostra os peitos, vadia!". Quem eram aquelas pessoas?

– O que eu fiz? – minhas palavras soaram baixinho, entre os soluços.

E permaneci ali por mais alguns minutos, me forçando a lembrar o que tinha acontecido, mas as curtas cenas que me vinham a cabeça eram umas piores que as outras. Eu não podia ter feito aquilo, não era eu. Não me reconhecia mais. Sentia como se meu corpo tivesse sido violado por outra Lizzie, uma muito má por sinal. Ao estremecer de frio, me pus a secar minhas lágrimas e desliguei o registro. Precisava sair daquela banheira, e descobrir o que eu tinha feito.

Foi difícil me erguer, já que a minha cabeça parecia estar dentro de um furacão, dando voltas e mais voltas. Então, lembrei da sensação... Tudo girava ao meu redor ou eu havia sonhado? Agora não parecia real. Avistei a minha saia jogada no chão, e fiquei alguns segundos encarando aquele pedaço de pano florido. Era a roupa que eu tinha usado para ir pra festa com o Jordan. Não me lembrava de tê-la tirado, então quem...

"Jason," – chamei, encarando o vaso cheio de vômito a minha frente, antes de limpar meus lábios com as costas da mão – "acho que vou desmaiar..."

"Não, você só está meio tonta, vai se sentir melhor daqui a pouco." – ele me arrastou até a pia, onde me pôs sentada.

"O que você fez comigo?" – perguntei confusa, e rapidamente o vi negar com a cabeça, se afastando um pouco para apertar a descarga.

"Fiz você vomitar. Esse efeito duraria horas, mas agora vai passar logo." – Jason tornou a se aproximar, e se abaixou a minha frente.

"O que vai passar logo?" – perguntei, ajeitando a alça do meu sutiã, pois estava retorcida.

"Você foi drogada, Lizzie!" – respondeu ele, soltando os tênis dos meus pés.

Num piscar de olhos, eu estava sozinha de novo naquele banheiro. O Jason havia me trazido até aqui? Por que alguém me drogaria? Não sabia responder nenhuma das perguntas. Soltei a minha respiração com força, e olhei em direção à pia. Havia uma toalha ali em cima, a qual eu peguei e apenas prendi em volta do meu corpo, pois estava muito tonta para me secar.

Me apoiei nas paredes, e consegui  chegar até a porta do banheiro. Lá estava ele, parado no meio do quarto, de costas para mim, segurando sua jaqueta de couro. Acho que assistia algo no celular, mas eu não consegui discernir o que era, por conta do barulho e risadas que vinham de fora daquele cômodo. Ainda estávamos na casa da Christine?

Senti minhas pernas falharem e tombei contra a porta do banheiro, o que causou um estardalhar, tal qual fez Jason rapidamente se virar em minha direção. Seus olhos caramelados pareciam assustados e ao mesmo tempo envergonhados ao me ver, mas não foi nisso que me concentrei, e sim no fato dele estar segurando o celular do Jordan. O que estava fazendo com o celular do irmão?

– Vem, deixa que eu te ajudo. – Jason bloqueou o aparelho, metendo-o para dentro de um dos bolsos de sua calça.

O vi soltar sua jaqueta sobre uma das mesinhas naquele cômodo, e em dois passos senti as suas mãos tocarem minha cintura. Os pelos da minha nuca eriçaram quando Jason me puxou para junto de si, seu corpo era tão quentinho, e eu estava com tanto frio. Não pensei muito quando encostei meu rosto em seu peitoral, pousando minhas mãos em seus ombros.

– E-eu est-tou com frio! – falei com certa dificuldade pelo bater de dentes, como uma criancinha.

– Precisa se secar e se livrar das roupas molhadas. – ele me ajudou a caminhar até a cama.

– O-o que eu v-vou vestir? – senti minhas bochechas esquentarem, enquanto tentava cobrir meu corpo o máximo que dava com aquela toalha.

– Pode ficar com a minha camisa quando se secar. – disse Jason, eu assenti, e me sentei na cama.

Então o vi puxar sua camisa para cima, retirando-a. E, sem dizer mais nada, a estendeu em minha direção. Contudo, ao alcançá-la meus olhos correram pelo seu braço direito, o qual estava todo tomado por tatuagens agora. Dentre elas, a que mais me chamou atenção foi o tigre desenhado bem em cima do lugar onde ficaria uma cicatriz pelo tiro que ele tomou.

Pelo visto, Jason queria mesmo esconder aquilo. Continuei seguindo com o olhar, praticamente trilhando um caminho pelo seu corpo, até ver mais duas tatuagens em seu peitoral. Abaixo da data em números romanos tinha um urso, e a coroa agora estava acima da juba de um leão. Meus olhos esmiuçaram aquele abdome definido, até se arregalarem ao ver a arma entre o cós da sua calça.

* "Rebola, putinha!" – uma voz sussurrou em tom malicioso no meu ouvido, enquanto duas mãos apertavam meus seios – "Olha bem pra câmera, vai ficar famosa agora."

* Eu não parava de rir, não conseguia parar. Rebolava sentindo ser arrastada pelo ritmo da música que tocava. Mal percebi quando outra pessoa saltou sobre a mesa, aquele círculo parecia ser tão pequeno, como cabiam três pessoas ali em cima? Minha resposta não veio, e eu quase caí quando o cara atrás de mim foi puxado com brutalidade pela gola da camisa.

* Por um instante os gritos ao redor cessaram. Cerrei os olhos e vi Jason desferir dois socos na boca do cara que queria transar comigo. Ele era tão brigão, sempre arrumando confusão. Qual seria o motivo dessa vez? Não sei, mas não conseguia controlar minhas risadas, enquanto ele batia e batia, sem parar.

Minha mente começou a questionar se ele também me daria umas palmadinhas. Ui! Talvez eu quisesse tomar umas, e Jason era tão forte, tão sexy... Sim, ele tinha cara de quem sabia foder gostoso, talvez melhor que Jordan. O vi empurrar o cara para fora da mesa, e o agarrei pela cintura.

"Olha só... vai tirar a roupa também é, Jay?" – mordi o lóbulo de sua orelha, e ele logo passou seu olhar a mim.

Estava surpreso? Acho que sim. Mas não foi essa a expressão que perdurou em sua face, e senti um arrepio me percorrer inteira ao ver seu maxilar travar. Estava zangado. Muito zangado.

"SAI DAÍ, IDIOTA! DEIXA ESSA GOSTOSA TIRAR A ROUPA!" – um dos caras gritou ao meu lado, e vi Jason cerrar os punhos, antes de acertar o queixo dele com um chute tão forte que o fez tombar para o lado, caindo ao chão.

"PORRA, MOSTRA OS PEITINHOS, VADIA SAFADA!" – minhas risadas eram incontroláveis ao ouvir aquela pequena multidão em volta a mesa.

"O SHOW ACABOU, VAZA TODO MUNDO!" – Jason gritou furioso, tentando se soltar de mim.

"DEIXA A GAROTA, CARALHO! EU QUERO VER UNS PEITOS!" – um dos caras gritou de volta, e eu soltei Jason, apertando minha barriga outra vez.

Estava doendo de tanto rir.

"QUEREM VER UNS PEITOS NO INFERNO, SEUS FILHOS DA PUTA?" – ele gritou extremamente irritado.

E, ao olhar para frente, o vi subir um pouco a camisa, mostrando a arma entre o cós da calça, o que fez todos o encararem assustados...

Acordei de minhas lembranças ao ouvir a respiração de Jason soar com força, enquanto o via retirar cuidadosamente sua arma dali.

– Fica tranquila, não vou atirar em você, só... Eu vou deixar bem aqui. – disse ele, calmamente, colocando aquele objeto sobre a cômoda ao lado da cama – Agora anda, se seca logo.

– V-você pode...

– Tá! – o vi rolar os olhos ao me interromper e, antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, deu as costas para mim, cruzando seus braços.

Sorri agradecida, e me levantei com cuidado, tirando a toalha que cobria o meu corpo, a qual usei para secar meus cabelos e pele. Ao abrir o fecho do meu sutiã, acabei derrubando a toalha, cambaleando um pouco para frente, então me apoiei com a destra no ombro do Jason. Pelo reflexo do espelho ao lado, vi que ele deu uma rápida olhada para trás, tornando a encarar o teto quase no mesmo segundo.

Segurei um leve sorrisinho ao vê-lo apertar os braços com força. Estava nervoso? Acho que sim. Sacudi minha cabeça para os lados, e logo terminei de me despir. Alcancei sua camisa sobre a cama, automaticamente trazendo-a até o meu nariz. Talvez pelo costume, já que sempre fazia isso com as do Jordan, mas também porque algo dentro de mim ansiava por sentir o perfume do Jason agora.

Não sei bem explicar o motivo. Meus pensamentos estavam tão embaralhados em minha cabeça, e meus sentimentos confusos dentro do peito. Mas aquela suave fragrância de licor e pimenta negra, de alguma forma, foi capaz de me fazer relaxar por ora. Vesti sua camisa, que media quase na metade das minhas coxas, e passei meu olhar para ele outra vez.

– Pronto, pode virar. – minha voz soou baixo, e Jason assentiu algumas vezes antes de voltar sua atenção a mim.

Seus olhos mediram discretamente meu corpo, e senti minhas bochechas queimarem quando ele encarou os meus. O vi respirar fundo, negando com a cabeça, como se respondesse algo em pensamento. Não faço a menor ideia do que poderia ser.

– Você... precisa dormir um pouco. – disse ele, assim que abracei meus próprios braços.

– Tá. – ainda estava confusa quando me sentei na cama, vi Jason dar um passo para trás, e rapidamente segurei em seu braço – Fica?

– Não vou sair do quarto, Lizzie. – ele cerrou os olhos, e eu o puxei para perto de mim.

– Deita comigo? Estou com medo e com frio, Jason. Tem algo estranho acontecendo dentro de mim. – minha voz soou embargada, junto às lágrimas que se acumulavam em meus olhos.

Jason me encarou por um ou dois segundos, então assentiu.

– Tá bom. Afasta pro lado. – ele mandou, subindo de joelhos na cama, e um leve sorrisinho se formou em meus lábios ao obedecê-lo – Nada de provocações, ou saio e te deixo aqui sozinha.

– Você... Não quero que vá embora, Jay. – disse baixinho, quando ele se deitou ao meu lado.

E, rapidamente o abracei, repousando a minha cabeça em seu peito. O seu corpo estava tão quentinho e aconchegante que era quase impossível querer soltá-lo. Vi quando ele se esticou um pouco, puxando as cobertas. Depois disso, senti os seus braços se entrelaçarem a minha volta, me trazendo para mais perto, enquanto me apertavam, como se ele quisesse me dizer que estava tudo bem agora. Eu sentia que estava.

– Jay? – olhei para cima, fitando seu rosto, e seus olhos recaíram sobre mim.

– O que é? – perguntou Jason, um tanto impaciente, mas assim que seus olhos mergulharam nos meus, a expressão em seu rosto suavizou.

Sorri, sentindo as minhas bochechas esquentarem, e a sua destra afastou uma mecha de cabelo para trás da minha orelha, acariciando o meu rosto delicadamente.

– Eu... gosto muito de você. – encarava seus olhos fixamente a essa altura.

O vi franzir a testa, interrompendo o carinho que fazia em mim, e senti o meu rosto inteiro esquentar. Então rapidamente fugi do seu campo de visão, afundando o meu rosto entre a curvatura do seu pescoço. Meus batimentos estavam acelerados dentro do peito, mas o Jason não disse nada, nem mesmo fez piada com aquilo, só ficou em silêncio, completamente quieto.

Não sei bem por que eu falei isso, mas era verdade. Eu nunca mentiria para ele, e acho que queria poder saber o que ele pensava a respeito. Provavelmente eu nunca saberia. Talvez fosse melhor assim, não é? Fechei meus olhos, contendo as lágrimas que se acumulavam ali. Me sentia tão idiota, tão estupidamente confusa.

De repente, seus dedos se meteram por entre os fios úmidos dos meus cabelos, iniciando suaves carícias em minha nuca. Tornei a abrir os olhos, sentindo todos os pelos do meu corpo eriçarem, e sorri. Aquela era a sua maneira de me responder, algo dentro de mim sabia disso. Ficamos quietos, em silêncio. Era confortável tê-lo ali. Me sentia segura. Totalmente segura.

Seus dedos fizeram uma curta pausa entre os meus cabelos, e vi os pelos dos seus braços se arrepiarem quando comecei a deslizar as pontinhas dos meus dedos pelo seu abdome, desenhando espirais. Achei que o Jason fosse mandar eu parar, mas tudo o que fez foi voltar a acariciar a minha nuca. Depois de um tempo, meus olhos começaram a pesar, e um bocejo me fugiu por entre os lábios.

– Obrigada, Jay. – minha voz soou pesada pelo sono, e meus olhos foram se fechando lentamente, até que mergulhei no mais profundo dos sonhos...

[...]

💋. E aí, o que acharam? Liz pegou pesado com o Jordan ou estava com razão de ficar brava??

💋. Quem será que drogou a Liz? Alguma suspeita?? 👀

💋. Chegou a hora, escolham seu favorito: team Jason ou team Jordan?? Minhas lindas leitoras já deram até nome para os shipps JorLiz (Jordan + Liz) e JayLiz (Jason + Liz) um amor, né?? 😍😍

💋. Sintam-se a vontade para comentar, meus beberes ❤ e caso tenham gostado do capítulo, não esqueçam de votar na ⭐, que eu volto rapidinho, até o próximoooo 😘

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