29. Não me olhe assim
"Oh oh, tão certo como as estrelas no céu, eu preciso de você para me mostrar a luz... – All that matters, Justin Bieber."
Seus lábios ardentes se pressionaram contra os meus. A princípio, fiquei paralisada, totalmente inerte aos seus toques, pelo susto de ser pega de surpresa. Contudo, seus lábios continuaram se movendo contra os meus, distribuindo selinhos molhados ali e, sua língua deslizou pelos meus lábios, numa tentativa de que eu permitisse a sua passagem, e retribuísse o beijo.
Então, finalmente retomei meus movimentos, empurrando-o para longe. No mesmo instante, senti meus olhos arderem pelas lágrimas, encarando-o totalmente incrédula. Mas, no momento em que entreabri os lábios para repreendê-lo, Jason me puxou pela nuca, socando sua língua em minha boca. O gosto amargo do whisky conseguiu ficar ainda mais forte quando sua língua tocou na minha, e no mesmo segundo o empurrei outra vez, acertando um tapa com força em seu rosto.
Nesse instante, Jason cambaleou para trás, acariciando o seu maxilar, e eu tapei a minha própria boca ainda nervosa pelo que tinha acabado de acontecer. A verdade é que eu não esperava que aquele idiota tentasse me beijar a força, apesar das suas investidas e comentários indevidos. Acho que tentei acreditar que era só o álcool falando, mas agora...
– Porra, Lizzie! Por que você não me beija? – ele tentou se aproximar, mas eu me afastei.
– Sai de perto de mim, Jason! – minha voz soou trêmula, enquanto eu tentava não encará-lo.
– Não! – percebi quando ele voltou a se aproximar, então me afastei mais – Caralho! Por que insiste que seja só ele? Por que não posso te tocar também?
– Porque eu amo o seu irmão! – berrei em sua direção, vendo suas sobrancelhas arquearem.
– E daí? Pode continuar amando ele, mesmo se trepar comigo agora! Mas eu só quero que me beije! – Jason deu mais alguns passos, e eu esbarrei contra a parede.
– Não! Eu não sou assim! – falei nervosa, vendo-o parar a alguns centímetros de mim, completamente confuso.
– Como não? Eu quero que seja, porra! – seus olhos pareciam desesperados. Tentei esquivar, mas ele agarrou a minha cintura – Eu quero... preciso beijar você! Estou ficando louco, Lizzie!
Sua mão esquerda tocou em minha coxa, deslizando lentamente por baixo da camisa a qual eu vestia, me fazendo estremecer ao apertar o meu traseiro com força. De repente, tudo o que a Ashley me contou, veio a minha cabeça. Pude sentir o meu coração disparar dentro do peito, junto a minha respiração que começou a pesar. Não consegui conter as lágrimas quentes que rolaram pelo meu rosto. Pela primeira vez, eu acho que estava mesmo com medo dele, e só queria que ficasse bem longe de mim.
– Me larga, Jason! Agora! – minha voz soou embargada pelo choro, e ele rangeu os dentes ao me soltar, dando alguns passos para trás – Tentei ser legal com você, mas... termine sozinho!
Limpei as minhas lágrimas, passando apressada por ele. Meus batimentos estavam tão acelerados que eu podia sentir meu coração em minha garganta. Quem, ou melhor, o que ele achava que eu era? Assim que saí do quarto, desabei num choro dolorido e completamente silencioso.
– Hey! Não. Lizzie, espera? – ouvi sua voz rouca soar pelo corredor, e percebi que estava vindo atrás de mim.
Me apressei a entrar no quarto do Jordan, trancando a porta com a chave, antes de me escorar contra a madeira gélida. Fechei os olhos com força. Ainda não conseguia acreditar que o Jason tinha mesmo me agarrado daquele jeito, e me beijado sem minha permissão. Ele... Achei que não fosse capaz de me forçar a nada, mas a culpa era minha por ser tão estúpida. Meus pensamentos foram interrompidos por batidas fortes na porta, e meu corpo estremeceu, o que me fez se afastar rapidamente dali, olhando nervosa naquela direção.
– Desculpa, por favor? Eu não quis fazer isso. – sua voz rouca soou pesada do outro lado, me causando um arrepio.
– Vai embora, Jason! – sequei as lágrimas que pude.
– Lizzie, eu... Por favor? Abre essa porta? – ele me soou arrependido, e quase dei um passo a frente, mas rapidamente me impedi – Eu não sou esse desgraçado de merda que você está achando, me odeio quando te faço chorar. Você não pode me olhar desse jeito, eu não quero... Droga! Eu não quero que também sinta medo de mim. Não você.
Aquelas palavras saíram quase como um pedido desesperado de ajuda e, automaticamente, meus pés se moveram em direção a porta. Cerrei os punhos com força, enquanto encarava a tranca, mas meu cérebro recomendava que eu não abrisse.
– Ainda quer saber por que eu bebi? Foi para aliviar a maldita culpa dentro de mim, mas essa merda nunca some! – Jason continuou, mesmo com o meu silêncio – Às vezes eu só consigo dormir se estiver completamente bêbado ou chapado, mas acontece que o efeito não dura tanto quanto eu gostaria. A droga da culpa sempre volta para me atormentar, Lizzie!
Jason parecia realmente triste lá fora. A cada palavra sua, eu podia sentir meu coração diminuir dentro do peito. Eu não sabia o que devia fazer. Balancei minha cabeça para os lados, pousando minha destra sobre a madeira da porta.
– Mas você... – Jason pareceu um tanto temeroso em prosseguir – Às vezes, só olhar pra você faz tudo sumir. Eu não sei explicar, acho que me sinto melhor quando você está por perto, mesmo quando nem fala nada comigo.
– Isso não é verdade, você é sempre grosseiro comigo, não se importa em me ofender ou constranger com as suas piadinhas idiotas. Então não minta, Jason! – mordi meu lábio inferior com força, como uma auto repreensão pelo que falei.
– Acontece... Olha, eu não estou mentindo. Não agora. – sua voz estava carregada de dor, e eu não podia ignorar isso – Posso não saber como agir direito quando estou ao seu lado, mas eu nunca minto pra você.
– Eu só... – me interrompi por um segundo, respirando fundo – Se eu abrir essa porta, você tem que me prometer que não vai mais tentar me agarrar ou beijar de novo.
– Fica tranquila, isso não vai se repetir, te dou a minha palavra. Só preciso... Eu sinto que preciso ficar perto de você um pouco mais de tempo. Por favor? – pediu ele, me parecendo mesmo sincero.
Então, minhas mãos correram até a tranca, girando a chave na fechadura. Assim que abri a porta, Jason me encarou, pude ver uma tristeza profunda em seus olhos. Ele não estava mentindo ao falar aquelas coisas, e precisava mesmo de ajuda. Me afastei um pouco, dando espaço para que entrasse, e logo o vi passar por mim para dentro do quarto. Pensei em fechar a porta, mas decidi deixá-la aberta, seria estranho se Jordan chegasse e eu estivesse trancada com o Jason bêbado no quarto dele. Assim que me virei, vi aquele idiota, presunçoso e arrogante, completamente desarmado. Ele estava de costas para mim, mas seus ombros estavam baixos enquanto encarava o chão.
– Me desculpa, eu sou... um grande idiota. – pediu Jason, cabisbaixo – Deixei a porra dó álcool falar mais alto, e misturei as coisas. Você não é assim, não tem culpa de nada. A culpa é minha, eu não tinha esse direito.
– Jason...
– Me promete que nunca mais vai me olhar daquele jeito? – ele me interrompeu – Aceito o seu ódio, eu até sei que mereço, mas não sou capaz de lidar com o seu medo, Lizzie.
– Eu não odeio você. – falei em tom baixo, e o seu olhar meio perdido se encontrou ao meu – Só não consigo te entender, você bagunça a minha cabeça.
– Você também me confunde às vezes, se quer saber. – aquele idiota virou a cara, e me pareceu um tanto envergonhado pelo que me disse.
– Ah, agora eu confundo você? – cerrei os olhos – Como exatamente eu faço isso?
– Eu não sei. – ele deu de ombros.
– Tá legal. – me aproximei com cuidado, mas ele não se moveu – Pelo menos me conta o que aconteceu com você? Preciso que me explique o que, de tão grave, te faz se sentir culpado?
– Tem um cara na cidade querendo a minha cabeça, pelos velhos tempos... – ele se interrompeu, parecia pesado demais prosseguir – Ele está machucando as pessoas que eu conheço, e não sei quando essa merda toda vai parar. Nada do que eu fiz até aqui parece ter adiantado, isso é tão frustrante.
Jason estava profundamente magoado e, num impulso, eu segurei em sua mão esquerda, o que lhe fez olhar em minha direção.
– Sobre o que está falando? – perguntei baixinho.
– Eu sou um monstro, Lizzie! – sua voz me soou cansada, como se ele tivesse desistido de si mesmo bem no interior do seu coração,
– Não, não é. – me apressei em dizer, mas o vi negar rapidamente com a cabeça.
– Você não sabe... Nem imagina as coisas horríveis que eu já fiz, que deixei acontecerem, dá no mesmo. – Jason se desvencilhou do meu toque – E pra quê?
Engoli em seco, ao vê-lo cerrar os punhos.
– As vozes delas ainda... Eu ainda posso ouvir, bem aqui! – o vi apontar para a própria cabeça, e franzi a testa completamente confusa.
– De quem você está falando? – perguntei, mas ele se afastou assim que pensei em me aproximar.
– Das garotas que vinham trabalhar nas boates de prostituição daquele filho da puta do Gobain. – Jason rangeu os dentes – Tinha uma casa onde elas ficavam. Eu fui um dos guardas por um tempo. O cara responsável por impedir que rolasse uma fuga...
– Está me dizendo que elas ficavam presas lá? – perguntei incrédula, e arregalei os olhos ao vê-lo assentir.
– Eram todas traficadas. – a voz do Jason soava em pura amargura – Aqueles filhos da puta tratavam as meninas como bichos. Eram só mercadorias. Elas até eram torturadas física e psicologicamente todos os dias.
– O que... aconteceu com elas? – perguntei, em tom baixo, e seu olhar carregado de culpa recaiu sobre mim.
– Depois que eu botei aquela porra abaixo, algumas fugiram. – ele respondeu, completamente desanimado – Eu não sei... Nunca me importei o suficiente para saber.
– Nunca pensou em denunciar esse esquema de tráfico humano? – perguntei na minha mais boba ingenuidade, e o ouvi rir sem ânimo pelo nariz.
– Acha mesmo que a polícia faria alguma coisa? – sua pergunta praticamente se respondia sozinha, apenas pelo seu tom de voz – Mas isso não importa, agora já era.
– Por que diz isso, Jason? – cerrei os punhos, temendo sua resposta.
– Não é óbvio? Eu podia ter feito algo para ajudar aquelas mulheres, mas não fiz. Isso... não era parte do plano. – Jason me parecia tão amargurado.
– Que plano? – minha voz soou ainda mais baixo do que das outras vezes.
– Destruir o império dos Darks, e acabar com a vida do filho da puta que matou o meu pai. – ele respondeu com um tom de ódio explícito em sua voz – Os fins justificam os meios. Era assim que eu pensava, mas não é verdade. Não é mesmo?
Eu não sabia o que lhe dizer. Jason estava sofrendo com suas lembranças amarguradas, imerso em caos e arrependimento. Naquele momento, eu queria muito abraçá-lo, mas não achava que essa fosse a melhor das opções agora. Então, me calei.
– Eu só queria que parasse. Queria esquecer toda essa merda, mas não consigo. – achei que ele fosse socar a parede, mas não o fez – Às vezes ainda escuto os gritos delas... Era agonizante ficar naquele lugar, fazer o que eu fazia, e trabalhar para filhos da puta como o Jace.
– Quem é... – pensei um pouco antes de prosseguir – Quem é esse tal de Jace?
– Um verme nojento, que se divertia em machucar as garotas recém chegadas, em especial as mais novas e frágeis. – ele me olhou com uma culpa estampada em seu rosto – Quando ele levava alguma das meninas para o quarto... Aquele filho da puta dizia que era pra amaciar a carne.
– Está dizendo...
– É, ele estuprava elas, batia, feria... Quando passava da conta, na manhã seguinte, era eu quem cavava a cova. – por um segundo pensei ter visto lágrimas em seus olhos – Isso acontecia às vezes...
– Por que você... Por que fazia esse tipo de coisas, Jason? – cerrei o cenho.
– Porque eu precisava ganhar a confiança daqueles merdas. Eu precisava alcançar o topo da organização para ter acesso a todos os esquemas. – explicou ele – Agora eu me pergunto, será que valeu a pena? Quando encontro desgraçados como o Jace vivos por aí, não parece que valeu de nada.
– Foi esse cara que machucou você? – perguntei, sentindo uma pontada em meu peito.
– Não, mas eu gostaria que tivesse vindo pessoalmente dessa vez... – sua resposta me confirmou o que eu temia. Aquele Jace era perigoso, e estava atrás dele.
– Você... não pode dizer isso. – lhe repreendi sem pensar duas vezes – Não pode ficar esperando que esse filho da puta te encontre, Jason.
– Acontece que esse desgraçado vai continuar ferindo pessoas inocentes, pessoas que não tem culpa do que eu fiz. – engoli em seco, e ele passou por mim, sentando-se sobre a cama – Esse é o preço, Lizzie. É o preço de me ter por perto.
Então essa era a razão. O motivo pelo qual Jason estava sempre sendo um completo idiota, destratando e afastando as pessoas da sua vida. Ele acreditava que o preço de suas escolhas era a infeliz solidão. Isso era tão... triste.
– Não sei... Eu não faço ideia de quem é esse cara. – sequei as lágrimas nos cantos dos olhos, me virando em sua direção, e seguindo até a cama, onde me sentei ao seu lado – Mas ele não tem o direito de te fazer mal. E o Jason que eu conheço, é um estúpido arrogante que nunca se daria por vencido, então nem pense em fazer isso agora.
– Eu não disse...
– Aposto que você é mais inteligente do que isso. – dei um leve soquinho em seu braço, e vi seus olhos se arregalarem ao me encarar – Deve ser só essa febre que não está te deixando pensar direito. Você é o responsável por destruir um império do crime.
– Ao mesmo tempo que ajudava a erguer outro. – o vi rolar os olhos, e assenti.
– Sim. É, mas o que seriam deles sem você, hum? Esse tal de Jace não sei das quantas... Aposto que está com o rabo entre as pernas só por imaginar dar de cara com você. – lhe dei uma leve sacodida, a fim de animá-lo um pouco – Não se deixe abalar, porque eu acho que é o que ele quer.
– Por que tá me ajudando? – ele fixou seu olhar ao meu.
– Bom, porque você já me ajudou e porque... me importo com você, Jason. – respondi, e ele se afastou um pouco.
– Não deveria. – seu olhar me parecia tão perdido – Eu não sou melhor do que esses vermes, Lizzie. Provavelmente, até vamos dividir o mesmo quarto no inferno. Foda-se, eu não ligo.
– Não é isso que eu acho de você. – me aproximei outra vez, tocando em seu rosto, fazendo-o me encarar novamente – Talvez tenha cometido erros, mas tenho certeza de que se arrepende deles. Na verdade, eu posso ver isso em seus olhos agora. Você... tem um bom coração, Jason.
– Por que... por que você é tão... – sua fala foi interrompida, quando automaticamente me afastei, ao perceber que estávamos próximos demais outra vez – Desculpa.
– Não, tudo bem. – forcei um sorriso ao me levantar, sentindo o seu olhar confuso recair sobre mim – Mas agora, preciso tirar a sua camisa para que tome banho, certo?
– Ah, claro. – respondeu Jason, em tom baixo, dando um leve sorriso.
O silêncio se instalou entre nós, e rapidamente retirei suas correntes, eram um pouco pesadas, talhadas a ouro e diamantes. As coloquei sobre a mesinha de cabeceira. Então tornei a me aproximar, novamente tendo a impressão de que ele procurava algo em meu rosto, o que mais uma vez ignorei. Cuidadosamente, puxei sua camisa para cima, esticando a manga, para que o Jason retirasse seu braço esquerdo primeiro. Em sequência, afastei bem a gola e ele soltou um murmúrio de dor quando puxei a camisa para o lado, mas confirmou que eu podia continuar, então segui, tirando-a por sua cabeça.
Nesse instante, notei que em seu peitoral haviam duas tatuagens, do lado esquerdo uma data em números romanos, enquanto que do lado direito tinha uma coroa. Aquilo me pegou de surpresa, porque como o Jason sempre usava camisa e muitas vezes até sua típica jaqueta de couro, eu praticamente só havia visto os desenhos no seu braço durante o treino de futebol na aula de educação física alguns dias atrás, mas pelo visto, existiam mais.
Ao ver seu curativo ensanguentado, senti um aperto no peito. Não me agradava imaginar alguém machucando ele, mas após o banho, eu daria um jeito naquilo. Não era acostumada com isso, mas tive algumas aulas de primeiros socorros no ano passado, e até que dava para me virar muito bem com elas. Porém, antes que eu conseguisse me afastar, senti seus dedos tocarem delicadamente os meus, me causando um leve arrepio, o que, por sua vez, me fez tornar a encará-lo no mesmo instante.
– Só... É... Bom, obrigado. – Jason virou o rosto para o lado, franzindo a testa, como se tivesse falado algo muito feio.
Não consegui conter o sorrisinho que me escapou, apertando sua mão de volta.
– Por nada. Agora vá tomar o seu banho, que eu vou descer e tentar preparar um chá para você. – falei no tom mais carinhoso que podia, e ele voltou a me encarar.
– Por que vai fazer um chá? – ele questionou, extremamente confuso, e eu respirei fundo, sorrindo gentilmente.
– Porque você está com febre, e não vai conseguir fazer isso sozinho, vai? Fora que não sei quando a Susana e o Jordan vão chegar. – respondi com voz doce, vendo-o se pôr de pé, enquanto assentia.
– Certo. Será que eu posso... Sabe? Eu posso usar o banheiro do Jordan? – ele pediu se enrolando um pouco nas palavras – É que...
– Tudo bem! Pode tomar banho aqui. – toquei seu ombro esquerdo em um gesto carinhoso, e ele olhou fixamente em meus olhos antes de assentir novamente.
– Tá. – Jason disse por fim, e logo passou para o banheiro.
Escutei a porta se fechar, então balancei minha cabeça para os lados em uma leve risada anasalada. Bem que ele podia ser assim, calmo o tempo todo. Passei a dobrar a sua camisa em mãos, mas num impulso involuntário, a trouxe até o nariz, sentindo o seu perfume espalhado no tecido. Não sei porque fiz isso, e confesso que foi bem estranho, mas é que o Jason conhecia o meu cheiro, e eu nunca nem tinha parado para perceber o dele que, a propósito, era muito gostoso.
Consegui identificar um toque suave de licor e pimenta negra, com agradáveis notas de cedro, uma fragrância sedutora. No entanto, eu ainda preferia o perfume inebriante do Jordan, com toque deliciosamente amadeirado. Era o meu cheiro favorito dentre todos os outros aromas, porque era o cheirinho dele. O barulho do box abrindo me fez estremecer, acordei dos meus pensamentos, tratando de colocar a sua camisa sobre a poltrona, ouvindo o chiado do chuveiro ao ligar. Me apressei a sair do quarto.
Desci as escadas, seguindo direto para a cozinha, e praticamente abri todos os armários até encontrar uma caixinha de chá. Fervi a água e coloquei tudo numa xícara. Quando voltei para o quarto, Jason ainda não havia saído do banho, então deixei o chá sobre a escrivaninha, e me pus a procurar um kit de primeiros socorros. Não foi muito difícil de achar, estava no armário sob a pia no banheiro do corredor. Encontrei também uns analgésicos para dor e febre, os quais li a bula direitinho para ver se eram adequados. Por sorte, sim.
– O que foi? – dei de cara com o Jason ao retornar para o quarto.
Ele acabava de sair do banheiro, secando os cabelos com uma toalha, enquanto havia outra presa em volta da sua cintura.
– Nada. – sorri, desviando o olhar, enquanto seguia até a cama, sentindo minhas bochechas esquentarem – Está... se sentindo melhor?
– É. – ele me respondeu num tom curioso – O que está fazendo com isso?
– Bom, preciso trocar esse curativo aí no seu braço. – respondi, abrindo o kit de primeiros socorros sobre a cama – Vem, deixa eu dar uma olhadinha?
– Tá, mas... – ele se aproximou um tanto temeroso – Você sabe fazer isso?
– Não me diga que está com medinho, Jason? – dei uma risadinha ao encará-lo, e o vi ranger os dentes, sentando na cama com raiva.
– Só faz o que tem que fazer. – foi tudo o que disse, antes de me ceder o seu braço com o curativo encharcado.
Precisei me esforçar para conter uma risada, me concentrando em fazer aquilo antes que ele desistisse. Ao retirar a bandagem, notei que aquele não era um simples ferimento qualquer. Pela espessura e quantidade de pontos...
– Por que o espanto, Lizzie? – sua voz rouca me fez encará-lo assustada – A bala já foi removida.
Ao ouvir aquilo, senti minhas mãos gelarem. Jason tinha mesmo tomado um tiro. Engoli em seco ao assentir, fiz aquilo mais para mim mesma, buscando me concentrar em limpar a região e conter o sangramento. Não foi muito difícil, mas receio que se eu não o fizesse, pela manhã aquilo estaria perigosamente infeccionado.
– Para que hospital você foi? – perguntei, repondo uma nova bandagem limpa.
– Hospital? – Jason deu uma risada, balançando a cabeça em negação.
– Sim. Qual a graça? É para onde vamos quando... sei lá... quando tomamos um tiro. – apertei a bandagem, e o vi fazer uma leve careta de dor.
– Qual é, Lizzie? Folga um pouco? – Jason praticamente suplicou, e assim eu fiz – O que acha que eu ia dizer se fosse a um hospital? Ferimento de caça? Os médicos sabem a diferença.
– Você é um idiota, e podia perder esse braço por ser tão irresponsável! – praticamente joguei tudo dentro da maleta, sentindo uma raiva incontrolável – Estava infeccionando, e aposto que era o motivo da febre, seu...
– Hey, por que está tão brava? – seu olhar recaiu sobre mim, e suspirei pesado – Não tenho culpa se a enfermeira que cuidou de mim, não era tão boa quanto você.
– Não é isso... – respirei fundo, numa tentativa de me acalmar – Toma os analgésicos que separei, e o seu chá.
– Tudo bem. Só... relaxa, tá legal? – seus dedos acariciaram os meus com suavidade, e finalmente o encarei – Obrigado.
Seus olhos caramelados transpassavam mesmo gratidão. Eu assenti, e ouvimos o barulho da porta ao se abrir no andar de baixo. Jason soltou minha mão, e praticamente saltou da cama.
– Preciso que prometa que não vai contar nada do que eu falei. – seus olhos carregavam preocupação agora, enquanto ouvíamos vozes vindo lá de baixo – Promete?
– Com uma condição... – impus, e ele assentiu apressado, ao som de passos pesados subindo a escada – Você vai tomar mais cuidado daqui pra frente?
– Lizzie?! – a voz rouca de Jordan soou ofegante na porta, mas só o olhei depois que Jason assentiu – Amor, o que aconteceu? Você... você está bem?
– Ah, sim, eu... – mal consegui formular a resposta na cabeça, e Jordan já estava postado a minha frente, extremamente nervoso – Está tudo bem.
– Jason?! – Susana também apontou na porta do quarto, e o Dan pareceu notar seu irmão só então – Meu Deus, está ferido?
– Não se preocupe, mãe. A Liz... – ele fez uma pausa para tomar os antibióticos que mandei, aproveitando o chá para engolir melhor – Ela cuidou muito bem de mim. Não foi, cunhadinha?
Senti sarcasmo em seu tom de voz, e franzi a testa. Mas antes que eu pudesse respondê-lo, Jordan tomou a frente, bastante irritado. Então dei por conta que esse era o objetivo do Jason, tirar o irmão do sério.
– Se você encostou nela... – tive que segurar Jordan pelo braço, para que ele não tomasse nenhuma atitude precipitada – Eu juro que te mato!
– Calma aí, maninho. Acha que eu machucaria uma belezinha dessas? – Jason umedeceu os lábios com a língua, disparando um sorriso repleto de malícia – Claro, a não ser pela exceção dela cair na minha cama e fazermos sexo selvagem.
– Ora, seu...
– Chega! Não permito brigas debaixo desse teto! – agradeci mentalmente quando Susana se pôs entre os dois.
– Então tire esse imbecil do meu quarto. – Jordan estava visivelmente tentando se controlar.
– Mas eu já estava mesmo de saída, maninho. – Jason deu alguns passos em direção a porta, mas ao sair do quarto, se virou novamente de frente para nós – Ah, Liz, eu não costumo trancar a minha porta, se ficar preocupada, ou entediada pode passar lá a qualquer hora.
Jordan rangeu os dentes, dando um passo a frente, mas se interrompeu quando Susana saiu batendo a porta. Pude ouvir parte da bronca que ela dava em Jason do lado de fora, só que não foi nisso que me concentrei.
– Não aconteceu nada demais. – falei, um tanto receosa do Jason ter causado uma má impressão pelas besteiras que disse – Sabe disso, não é?
Toquei sutilmente o ombro de Jordan, que estava de costas para mim agora. Ele soltou a respiração com força, assentindo logo em seguida, antes de tornar a se virar de frente para mim.
– Não estou preocupado com isso, Liz. Eu confio em você. Mas... – sua destra pousou em minha cintura, enquanto a sua outra mão tocava delicadamente o meu rosto – Quase enlouqueci ao ver a bagunça lá embaixo. O Jason... Ele machucou você?
– Não. Ele só... foi um pouco assustador. – abaixei o olhar, ao lembrar de como senti medo em certos momentos essa noite.
– Me perdoa... – Jordan me puxou para um abraço acolhedor, o qual retribuí no mesmo segundo. Estava mesmo precisando dele – Eu tinha que estar aqui, com você.
– Não foi sua culpa, Dan. – fechei os olhos com força, me impedindo de desabar num choro outra vez – Sua mãe precisou da sua ajuda, e eu cuidei do Jason. Não tem que se desculpar por isso.
Tentei parecer forte. Chorar agora, só faria com que Jordan me enchesse de perguntas as quais eu provavelmente não poderia responder. Nesse momento, decidi que seria melhor manter a maior parte dessa noite em segredo. Causaria menos transtornos assim. Ao rompermos o abraço, nos sentamos na cama. Eu expliquei quase tudo ao Jordan, pelo menos o que podia e era importante. Escondi o beijo e tudo o que Jason me contou, mas fui sincera em relação a ajudá-lo tirar a roupa, já que ele estava ferido.
– Esse desgraçado... era só ter jogado ele embaixo do chuveiro, Lizzie. – Jordan me pareceu irritado.
– Hey! Dan, não. – toquei seu rosto, numa tentativa de acalmá-lo – Ele é seu irmão, e eu sei que se importa. Não teve nada além disso.
Menti, mesmo que não me agradasse.
– Foi só para a febre dele abaixar, e deu certo. – sorri leve, e ele desviou o olhar.
– Eu sei, mas o Jason... Você nem imagina as coisas sujas que devem ter passado na cabeça daquele filho da... – interrompi a fala do Jordan ao unir meus lábios aos seus num selinho demorado.
– Eu amo você. – falei ao rompermos o contato, encarando seus olhos com ternura – Ajudei o Jason porque ele já me ajudou. Você sabe disso.
– É. Mas eu também conheço o idiota do meu irmão, e tenho certeza de que se aproveitou da situação. – Jordan me puxou para o seu colo, onde me sentei com uma perna para cada lado – Então daqui por diante, você só desabotoa a calça de um cara, se for eu que estiver vestido nela, certo?
– Eu não acredito que você tá com ciúmes de uma situação assim. – empurrei seus ombros, contendo uma risadinha.
– Não tô com ciúmes, Liz. – suas mãos grandes pousaram em minhas coxas, me arrancando um arrepio delicioso – É só... cuidado.
Seus lábios tocaram os meus em outro selinho, e senti suas mãos deslizarem para baixo de minha camisa, o que fez uma onda de eletricidade me percorrer inteirinha. Então, entrelacei meus braços em seu pescoço...
[...]
❄. Jason ainda não entendeu que a Liz ama o Jordan, na cabeça dele é super normal ela estar com os dois, porém, não é assim que a banda toca, querido! 😌🤣
❄. O que acharam da cena dele abrindo o coraçãozinho pra Liz? O que a bebida não faz? Kkkkkkk
❄. Liz toda cuidadosa com o Jason, foi a coisa mais fofa, né? 😍
❄. E esse final? Jason sabe pôr lenha na fogueira kkkkk e o Jordan com ciúmes? Meu pai! 👀
❄. Se gostaram do capítulo, cliquem na ⭐ que eu volto mais rápido que o flash 😘❤
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