22. Quermesse

"Não importa o quão longe formos, quero que o mundo todo saiba que eu quero você loucamente, e não vou aceitar que seja de outra maneira. Não importa o que as pessoas digam, sei que nunca vamos romper, porque nosso amor foi feito, feito nos EUA." Made in the USA, Demi Lovato.

Jordan foi sincero quando me pediu desculpas ontem pela noite, e eu me senti completamente segura quando finalmente fizemos as pazes. A verdade é que, não tinham motivos dele vir atrás de mim se quisesse mesmo estar com a Ashley, pois eu nunca ficaria no caminho deles dois. De certo modo, o que aconteceu foi bom, pois pude saber que o Dan não mentia para mim, e que tudo não passou de um mal entendido, assim como a vovó Dália disse.

Depois que ele desmentiu os boatos para todo mundo, senti que essa manhã as coisas no colégio amenizaram, apesar de ainda receber alguns olhares tortos pelos corredores. Mas procurei ignorar, e seguia o meu dia como se nada daquilo ontem tivesse acontecido, não era uma coisa agradável de lembrar. Claro que eu ainda gostaria de descobrir quem espalhou aquelas mentiras estúpidas ao meu respeito, e se foi a mesma pessoa quem encheu o meu armário com camisinhas, porém não fixaria todas as minhas energias nisso.

– Achei você. – senti os pelos da nuca eriçarem ao ouvir aquela voz rouca soar em meu ouvido, e logo suas mãos grandes pousaram em meus quadris.

– Jordan! – terminei de guardar os meus livros, e me virei apressada após fechar o meu armário.

– Já estava morrendo de saudades, linda. – disse ele, tornando a me agarrar, ignorando o fato de que o corredor estava cheio agora – Vamos almoçar juntos hoje?

– Sim, é claro. – senti minhas bochechas esquentarem, à medida que o seu rosto se aproximava do meu.

– Não parei de pensar em você hoje, sabia? – ele sussurrou para que só eu ouvisse – Estou louco para ficarmos a sós de novo, ainda preciso retribuir aquele carinho gostoso de ontem.

– Não fala essas coisas aqui, alguém pode ouvir. – pousei minhas mãos em seu peitoral, lhe dando um leve empurrão – Sabe o que estão pensando de mim, então...

– Certo, você tem razão... – concordou Jordan, se afastando um pouco – Desculpa, é que eu não consigo pensar direito quando fico perto de você assim.

– Então trate de começar a pensar, porque até esse boato idiota morrer por completo, a minha reputação não está das melhores aqui. – apertei sutilmente o tecido da sua camisa, e ele sorriu leve.

– Aew, Davis, tá mandando ver! – ouvimos alguém berrar pelo corredor, e encolhi os ombros envergonhada quando o Dan olhou para trás – Agora só falta me chamar para a próxima festinha com essa vadia, irmão.

– O que disse? – ele se virou enfurecido, e senti um calafrio desconfortável subir pela espinha – Repete, filho da puta!

Num piscar de olhos, Jordan atravessou o corredor para o outro lado, empurrando aquele cara estúpido com brutalidade contra os armários, antes de suspendê-lo pelo colarinho da camisa, lhe encarando de forma ameaçadora. Aquilo acabou chamando a atenção de todos a volta, e rapidamente o chiado das conversas e burburinhos foi interrompido, dando origem a um silêncio constrangedor.

– Qual é? Você já dividiu ela antes, eu só achei... – sua fala foi interrompida quando o Dan desferiu um soco com toda a força em seu estômago, e pude ver os seus olhos se arregalarem pela dor.

– Achou errado, Mike! – Jordan rangeu os dentes furioso, antes de soltá-lo deixando que caísse de joelhos ao chão, quase sem ar nos pulmões – E é melhor não ter uma próxima vez, seu arrombado de merda, ou juro que te faço se arrepender de ter nascido, fui claro?

– Si-sim! – disse o tal Mike, com dificuldade, se apoiando com uma mão no chão, enquanto apertava o próprio estômago com o outro braço – Desculpa, eu não quis...

– Não é pra mim que você vai pedir desculpa, seu merdinha infeliz! – não satisfeito, Jordan alcançou seus cabelos, forçando violentamente sua cabeça para cima – Olha bem pra ela e pede agora.

– Dan, não preci...

– Eu mandei você pedir desculpas pra ela, caralho! – ele sacudiu a cabeça daquele cara com brutalidade, o que me assustou um pouco.

– De-desculpa, Andrews. – Mike fechou os olhos com força pela dor – Eu não quis... Não quis te ofender.

– Está de bom tamanho pra você, Liz? – Jordan arqueou as sobrancelhas.

– Ah... E-eu... – gaguejei nervosa, não sabia exatamente como reagir numa situação assim, ainda mais com o Dan agindo daquela forma – Sim.

– Bom, eu ainda não me convenci... – ele negou com a cabeça, e rapidamente alcançou um dos braços daquele cara.

– AAAAAH! – arregalei os olhos com o grito desesperado de dor do Mike, quando Jordan começou a forçar o seu braço para trás.

– Aí, meu Deus, que horrível! – ouvi alguém dizer, e estremeci da cabeça aos pés, sem conseguir desviar a minha atenção daquela cena perturbadora.

– PORRA! POR FAVOR... POR FAVOR, DAVIS... – implorava o garoto, em berros de dor – AAAAAH!

Fechei os olhos com força ao ouvir o estalo alto que o osso do seu ombro produziu ao deslocar do lugar, e senti as lágrimas quentes subirem pela minha garganta. Por Deus, o que estava acontecendo? Por que eu não conseguia me mover, ou pedir para que o Jordan parasse com aquilo? Os burburinhos horrorizados não tardaram a ecoar pelo extenso corredor, e encolhi ainda mais os ombros. Não fazia ideia que aquele Jordan doce e carinhoso que eu conhecia, podia ser tão explosivo, achei que essa fosse uma característica apenas do Jason, mas estava enganada.

– Que isso sirva de lição pra você, seu arrombado desgraçado! – tornei a abrir os olhos ao ouvi-lo – Aquela é a minha garota, e eu não vou tolerar nenhum desrespeito com ela.

– O Davis é assustador quando fica irritado. – comentou alguém a volta, em tom baixo.

– O que será que deu nele dessa vez? – disse outra pessoa, ao vê-lo chutar o garoto que grunhia caído no chão.

– Dan, para já com isso! – sequei as lágrimas nos cantos dos olhos, finalmente me adiantando em sua direção – Já chega! Isso... Você enlouqueceu?

Alcancei um dos seus braços, lhe puxando com toda a força que tinha para trás, e seu olhar recaiu sobre mim.

– Esse filho da puta te ofendeu, Lizzie. – justificou ele.

– Acontece que as coisas não se resolvem assim. – neguei com a cabeça – Você quebrou o braço dele, Jordan!

– Esse arrombado merecia bem mais do que só um braço quebrado, não acha? – seu cenho franziu.

– Não, eu não acho. – cerrei os olhos incrédula – Isso foi horrível.

– Bom, horrível ou não, agora esse daí sabe que não deve desrespeitar você de novo. E falando nisso... – o vi passar a mão esquerda entre os fios bagunçados dos seus cabelos, os afastando para trás antes de olhar em volta pelo corredor, fazendo cessar mais uma vez os burburinhos – Quero que todos aqui escutem com atenção. Eu ainda não sei quem foi o filho da puta que começou com esses boatos sobre a Lizzie, mas essa merda toda é mentira. Então deixem ela em paz, ou vão se ver comigo.

– Mas o que está acontecendo aqui? – uma voz soou firme pelo corredor, e ao olhar por cima do ombro, avistei o diretor do colégio mais ao longe.

Naquele momento, os alunos começaram a se dispersar assustados, afinal ninguém queria se envolver com um problemão daqueles, com certeza resultaria em suspensão, ou pior... Tive os meus pensamentos interrompidos, quando alguém me alcançou pelo braço e, ao voltar a minha atenção para frente, vi que era o Jordan quem me puxava para longe dali, então apenas o segui apressada. Ao nos afastarmos o suficiente, ele interrompeu os passos, e me agarrou pelos quadris, me guiando para dentro de uma sala vazia, da qual logo tratou de fechar a porta.

Aquela altura, podia sentir meus batimentos tão acelerados no peito que temia cuspir o meu coração pela boca a qualquer momento. Jordan me largou, para conferir o movimento lá fora pela persiana da porta, e respirei fundo ao me encostar na parede ao lado, a fim de acalmar os nervos. Era algo bem difícil depois do que havia acabado de acontecer. Me perguntava se fugir daquele jeito tinha sido mesmo certo... Aquele garoto machucado no corredor precisava de ajuda, e o deixamos sozinho. Acho que isso havia sido ainda mais grave.

– Você está bem, linda? – Jordan me encarava preocupado.

– Está parecendo que eu estou bem? – franzi a testa, extremamente chateada – O que foi aquilo lá atrás?

– Eu só estava te defendendo. – tentou justificar.

– Não, eu não pedi pra você fazer nada assim. – cruzei os braços, fechando a cara.

– Lizzie, aquele filho da puta foi desrespeitoso com você na frente de todo mundo, se eu não fizesse nada as pessoas iam falar. – ele passou a minha frente.

– Tá, mas não precisava quebrar o braço dele. – deixei claro – Não acha que passou da conta?

– Também não gostei de fazer isso, mas todo mundo aqui sabe que tem consequências caso alguém se meta com qualquer jogador. – sua mão esquerda passou a afastar uma mecha de cabelo para trás da minha orelha – A gente não costuma deixar esse tipo de coisa passar batido.

– Está dizendo que você e os seus amigos são um bando de valentões? – apertei meus próprios braços, não estava gostando nada do rumo daquela conversa.

– Só quando é necessário, pra impor respeito. – Jordan me agarrou sutilmente pelos quadris, quase colando o seu corpo ao meu, de tão perto que ficamos.

– Respeito ou medo, Davis? – indaguei, nada contente.

– Tanto faz, o importante é que funciona. – o vi dar de ombros, parecendo não se importar muito com o que havia acabado de fazer lá fora.

– Não acho isso nada legal. – fui sincera, não ia ficar passando pano para esse tipo de comportamento – Aquilo foi tão bizarro... Você me assustou.

– Desculpa... – virei a cara ao notar o seu rosto se aproximar do meu – Qual é? Eu não sou assim, linda, sabe disso.

– Então por que...

– Porque esse é o Davis idiota que o colégio inteiro venera, e porque... – ele alcançou o meu queixo entre o polegar e o indicador, puxando delicadamente a minha atenção de volta para si – Porque eu perdi a cabeça quando aquele desgraçado te ofendeu. Eu já disse, não vou permitir que você se sinta mal de novo.

Dessa vez, ao deixar que os seus lindos olhos cor de mel mergulhassem nos meus, senti um tremor em minhas pernas, quase como se não fossem mais capazes de sustentar o meu próprio peso. Droga! Jordan sabia exatamente como me fazer amolecer, eu não conseguia ficar brava com ele por muito tempo, apesar de detestar o seu comportamento agressivo instantes atrás no corredor. Quer dizer, não dava para tirar por completo a sua razão. Ele exagerou, e disso eu sabia, mas só o fez porque aquele cara foi um escroto comigo.

– Não quero que você faça isso de novo, não gostei nada desse Davis violento e assustador. – maneirei o tom, pousando delicadamente as minhas mãos em seu peitoral.

– O importante é que eu nunca vou agir assim com você, hum? – Jordan esfregou carinhosamente a ponta do seu nariz contra o meu – Você é o meu amorzinho, e não vou medir forças pra te defender quando for preciso.

– Para, ainda estou chateada com você. – um discreto sorriso escapou sorrateiro entre os meus lábios quando lhe dei um leve empurrão.

– É, você tem toda razão. Jordan malvado, Jordan feio e muito malvado! – ele fingiu se auto repreender, o que me arrancou uma risada.

– Estou falando sério, seu idiota! – apertei o tecido da sua camisa – Isso pode dar um problemão, e se o diretor descobrir que estou envolvida... Dessa vez, ele deve mesmo chamar os meus pais.

– Relaxa, ele não vai descobrir nada. – sua destra apertou firme os meus quadris, à medida que ele se aproximava novamente.

– Como pode ter tanta certeza? – cerrei o cenho – Um monte de gente viu o que rolou no corredor.

– É, mas ninguém vai dizer nada, fica tranquila. – senti um friozinho surgir na minha barriga quando sua mão esquerda deslizou em direção a minha nuca – Agora vem cá, deixa eu me desculpar direito com você...

– Dan...

– Shh... Eu só quero me desculpar, linda. – notei um discreto sorriso sacana se formar no canto dos seus lábios.

Sem dizer mais nada, Jordan puxou o meu quadril em direção ao seu, ao mesmo tempo que emaranhava seus dedos por entre os fios dos meus cabelos, os quais puxou sutilmente para trás. Então, devagar, deslizei minhas mãos pelo seu peitoral e ombros, até entrelaçar os meus braços em volta do seu pescoço. Senti o friozinho na minha barriga crescer ao notar o seu olhar recair aos meus lábios, e arranhei a sua nuca com as pontas das unhas à medida que o seu rosto se aproximava do meu. Será que ele ao menos sabia o quanto me desconsertava tê-lo tão perto assim? Desconfio que eu já tinha a resposta para essa pergunta.

Fechei os olhos quando seus lábios se esfregaram nos meus, numa doce provocação. Pelos céus, como eu queria beijá-lo agora. Sorri leve ao me dar conta dos meus próprios pensamentos e, como se lesse a minha mente, Jordan finalmente selou os meus lábios, dando início a um beijo calmo. Cedi passagem assim que ele pediu, e puxei seus cabelos ao sentir o toque macio da sua língua na minha, me permitindo provar aquele delicioso sabor refrescante de menta que a sua boca carregava. Em resposta, sua destra me puxou contra o seu corpo, acabando com qualquer pouco espaço que ainda restava entre nós dois.

À medida que trocávamos carícias, nosso beijo foi se tornando cada vez mais intenso, estimulando o calor que se estendia do meu ventre em direção as minhas pernas. A certo ponto, o Jordan soltou minha nuca e alcançou o meu pescoço, o qual apertou enquanto sua língua parecia disposta a domar a minha em nossas bocas. "Você é uma filha da puta muito gostosa, Lizzie!", de repente, a cena com o Jason no banheiro invadiu as minhas lembranças, e senti minhas pernas ficarem bambas. O que estava acontecendo? Por que diabos eu estava pensando nisso agora? Tinha mais era que esquecer aquilo, nunca devia ter acontecido.

"Nem mesmo o frouxo do Jordan te deixou tão excitada daquele jeito... Eu fui o primeiro, hum?", aquilo me fez puxar o Davis pelos ombros, a fim de intensificar ainda mais o contato entre nós dois. Em resposta, a sua destra deslizou até a minha coxa esquerda, a qual apalpou firme antes de rompermos aquele beijo delicioso, e seus lábios macios seguirem em direção ao meu pescoço. Mordisquei o meu lábio inferior com força, à medida que os seus dedos passavam para baixo da minha saia, empurrando lentamente o tecido para cima. Ainda lembrava de quando o Jason me acariciou entre as pernas, e acho que queria ser tocada assim outra vez.

Arfei pesado ao senti-lo apertar o meu traseiro com força por baixo da roupa, enquanto os seus lábios se pressionavam contra a minha pele em beijos deliciosamente molhados. Em seguida, os seus dedos começaram a brincar com o elástico da minha calcinha e, num impulso, afastei mais as minhas pernas lhe dando permissão. Contudo, o barulho de passos pelo corredor lá fora me fez despertar, interrompendo o Jordan com um leve empurrão, e o vi assentir para si mesmo numa medida de se conter, o que não era muito fácil em vista de toda aquela pegação.

– Desculpa, mas é melhor a gente ir com calma, tá? – tentei explicar – É que aqui não é lugar pra gente ficar assim se pegando. Pode chegar alguém, ou sei lá... Eu morreria de vergonha.

– Tudo bem, você tem razão. Mas agora vai ter que aceitar o meu convite, mocinha. – Jordan prendeu o meu queixo entre o polegar e o indicador.

– Qual convite? – franzi a testa, um tanto curiosa.

– É que eu fiquei sabendo que hoje a noite vai ter uma quermesse na cidade, você quer vir comigo? – sua mão esquerda passou a acariciar delicadamente a minha bochecha.

– Tipo, com parque de diversões e tudo mais? – indaguei animada.

– É, tipo isso sim. – ele sorriu, acenando com a cabeça.

– Bom, então eu aceito, amor. – me estiquei para lhe roubar um selinho.

– Ótimo. – disse Jordan, contente – Vai ser muito divertido.

Trocamos mais um selinho até que, mesmo relutante, ele se afastou em direção a porta, mas não antes de sorrir sacana ao me medir com os olhos. Senti minhas bochechas esquentarem, então tratei logo de arrumar minha saia e cabelos, não podia sair daquela sala toda descabelada ou com a roupa amarrotada. Depois que o Jordan confirmou que o corredor estava vazio, seguimos caminho para a cantina, onde nos juntamos aos nossos amigos para o almoço. Por sorte, o assunto sobre a briga que ocorreu há pouco, nem mesmo surgiu à mesa, era como se nada tivesse acontecido.

A certo ponto, até acho que era melhor assim, pelo menos não ficamos desconfortáveis em nenhum momento. Nosso almoço até que foi bem agradável e, pelo que percebi, todos pareciam animados com a tal quermesse que o Jordan me convidou para ir, acho que seria mesmo divertido. Quando o sinal bateu, nos despedimos dos outros, e ele fez questão de me acompanhar até o clube de leitura, só depois seguiu para o campo onde teria treino de futebol. Já pegava o meu livro na mochila, quando a minha atenção se dirigiu à porta da sala que acabara de ser aberta, franzi a testa ao ver o Jason passar por ali.

Seu olhar divagou por todo o ambiente, pausando um pouco ao me encontrar, mas receio que o seu humor não estivesse dos melhores hoje e, sem dizer absolutamente nada, ele se encaminhou até a carteira mais afastada no fundo da classe. O professor chegou logo em seguida, tratando de iniciar a sua aula. Durante o decorrer da leitura proposta, eu cheguei a olhar para o Jason por cima do ombro várias vezes, mas ele parecia meio ocupado rabiscando alguma coisa em seu caderno, suspeito que nem mesmo tivesse o livro daquela aula. Me perguntava agora, desde quando estávamos na mesma turma daquele curso também? Quer dizer, eu nunca o tinha visto ali antes.

– Para a próxima aula, eu quero que formem duplas para debatermos os capítulos lidos hoje. – disse o professor, e me apressei a juntar o meu material.

Por algum motivo, queria muito falar com o garoto esquisito sentado sozinho no fundo da classe, acho que precisava agradecê-lo pela força que me deu ontem. Quando o sinal bateu, apanhei minha mochila e me levantei apressada, mas logo vi que não era necessário. Em certo momento, Jason deve ter ficado tão entediado que adormeceu sobre o seu caderno. Talvez não tivesse dormido muito bem pela noite, não quero nem imaginar o que aconteceu depois que saiu transtornado da oficina de artes ontem. Enquanto todos se dirigiam à porta, eu caminhei lentamente até a sua carteira.

– Hey, você precisa acordar. – ao tocar sutilmente o seu braço, ele se ergueu num movimento brusco, e notei que parecia assustado.

– O que... O que você quer, Lizzie? – Jason fechou o seu caderno com pressa, mas não antes que eu visse a cor amarelada das páginas.

Franzi a testa, me lembrando do desenho de ontem no meu armário, não sei se por impressão minha, mas a folha do seu caderno parecia bater. Aquilo era loucura, certo? Um cara feito o Jason não perderia o seu tempo me desenhando, isso não fazia o mínimo sentido. Então, tentei me convencer de que era apenas uma mera coincidência. Quer dizer, quantas pessoas no colégio não deviam ter um caderno com páginas amareladas? Definitivamente não tinha sido ele.

– Ah, é que o sinal bateu, achei melhor te chamar. – ajeitei minha mochila sobre o ombro, passando a encará-lo.

– Beleza. – ele assentiu e se virou jogando o caderno dentro da sua mochila – Mais alguma coisa?

– Na verdade, sim. – forcei um sorriso ao vê-lo se levantar – Queria te agradecer por ontem. Você sabe...

– Parece que não precisa mais que eu arrebente a cara de ninguém pra você. – ele também passou sua mochila pelo ombro – Fez as pazes com o Jordan... Eu vi vocês juntos hoje.

– Ah, é... A gente se acertou. – passei uma mecha de cabelo para trás da orelha.

– É, tô sabendo. – Jason indicou a direção da porta com a cabeça, e rapidamente nos encaminhamos para fora da sala – Devo desejar felicidades para o casalzinho nota 1000?

– Não seja idiota. – rolei os olhos, enquanto seguíamos pelo corredor.

– Ah, não, ou você chama o seu cão de guarda para quebrar o meu braço também, não é mesmo? – debochou ele, fazendo minhas bochechas inflamarem de vergonha.

– Vo-você viu aquilo? – gaguejei nervosa.

– Fica tranquila, o meu irmãozinho patético aprendeu comigo. – o ouvi se gabar, como se esse fosse um grande feito – Quer dizer, eu fiz o mesmo com ele uma vez quando a gente era moleque.

– Claro... – apertei a alça da minha mochila – Você devia ser um ótimo irmão.

– Eu não era dos piores. – o vi dar de ombros, como se não ligasse.

– Sei. – assenti mais para mim mesma – Agora, se não se importa, prefiro mudar de assunto.

– Ué, por quê? – suas sobrancelhas arquearam, lhe atribuindo um puro tom sarcástico – Te incomoda saber que o seu príncipe encantado, pode não ser tão perfeito, quanto parece?

– O Dan não é uma pessoa ruim! – defendi, sem pensar duas vezes – Aquilo só aconteceu, porque o cara foi um escroto comigo no meio do corredor.

– Continua repetindo isso até se convencer. – ele seguiu zombando.

– Ai, por que você tem que ser tão irritante, garoto? – franzi a testa, um tanto incomodada agora.

– Mas eu não disse nada demais, Lizzie. – notei um sorriso cínico se formar em seus lábios, e parei de caminhar.

– Que seja! – rolei os olhos outra vez – Eu só queria mesmo saber se você também vai para a quermesse hoje?

– Por que eu iria? – Jason me observava de canto de olho.

– Bom, o Jordan me convidou, e acho que vai ser legal. – comentei, como quem não quer nada.

– Pelo visto, temos definições bem diferentes do que seja "legal". – disse ele, meio ranzinza.

– Ah, qual é? Aposto que você se divertiria. – esbarrei de leve em seu braço – Ninguém fica de mau humor num parque de diversões.

– Acho que você entendeu algo errado, nós dois não somos amigos, Lizzie. – Jason parou de caminhar.

– Mas quem foi que disse que éramos? – cerrei os olhos, enquanto lhe encarava.

– Deixa eu ser mais claro, eu não quero a sua companhia. – aquela grosseria repentina me pegou de surpresa – Então vê se para de agir como se fôssemos próximos agora, porque não somos.

– Mas eu...

– Não me interessa! – rosnou irritado – Eu não quero papo com você, fim de história.

Acho que eu não esperava ouvir uma coisa tão rude assim, não depois daquele idiota ter sido tão atencioso comigo ontem, e isso realmente conseguiu me aborrecer. Não consegui pensar em nada para responder de imediato, então ele sacudiu a cabeça e voltou a caminhar, passando por mim em silêncio.

– Quer saber, eu não tenho que perder o meu tempo conversando com um imbecil feito você! – cerrei os punhos com força.

– Fico feliz que tenha percebido sozinha. – ele continuou andando, sem se importar nem um pouco com o fato de ter sido um grande babaca estúpido comigo.

Rangi os dentes, o observando se afastar por mais alguns segundos, antes de me virar e seguir apressada na direção oposta...


Pela noite...

Como o Jordan treinaria até mais tarde hoje, eu acabei pegando carona com a Emily para casa de novo. No caminho, conversamos bastante sobre as expectativas para a tal quermesse de hoje, e acabei esquecendo a conversa desagradável que tive com o idiota do Jason no fim da aula. Assim que cheguei em casa, corri apressada para o meu quarto, pois precisava tomar banho e me arrumar antes que o Jordan chegasse para me buscar. Acho que estava ansiosa. Enquanto secava os cabelos, a May me ligou e pedi a sua ajuda para escolher uma roupa legal, não sei se teria conseguido sozinha, pois estava meio indecisa.

Como combinado, às 6pm em ponto, ouvi o carro do Jordan estacionando na frente da porta da minha casa, e agradeci internamente por já ter terminado o delineado que, modéstia à parte, havia ficado um arraso na make. Ao descer as escadas, meu pai e meu tio combinavam com o Dan a hora que voltaríamos, acho que o objetivo era intimidá-lo, o que não funcionou muito já que a primeira coisa que fez ao entrarmos em seu carro foi me dar um belo amasso. Inclusive, no caminho até precisei retocar o batom. Acho que depois de ontem, as coisas estavam ficando mais quentes entre nós dois.

Ao chegarmos a quermesse, organizada pelo prefeito de Shadowtown em prol de uma causa beneficente, me assustei com a quantidade de repórteres espalhados em trailers para todos os lados, mas logo entendi o motivo. Acontece que a cidade também receberia algumas celebridades que terminavam de gravar um longa. Tinha até as áreas vips, separadas das demais por grades e um mar de seguranças muito bem armados. A música tocava bem alto, e o cheirinho amanteigado de pipoca se misturava ao doce aroma das maçãs do amor. A quantidade de barracas com jogos e guloseimas parecia infinita, o que era bem chamativo e divertido.

– Qual daqueles, amor? – Jordan perguntou ao meu lado, apontando para alguns ursinhos numa barraca.

– Hã... Eu acho... – corri os meus olhos pelas pelúcias presas nos alvos, tentando me decidir – Eu quero o coelhinho azul.

Finalmente respondi, ficando nas pontas dos pés para lhe roubar um selinho, o que fez Jordan sorrir após retribuir o carinho.

– Certo. Sou péssimo nisso, mas vou tentar o coelhinho azul. – ele me arrancou uma risadinha ao forçar uma feição séria.

Logo em seguida, o vi carregar a arma com o dardo, e uma sensação estranha me ocorreu, não sei explicar muito bem, mas tive a impressão de que estava sendo observada. Então, automaticamente me virei a fim de conferir, e percebi que algumas pessoas a nossa volta se aproximavam curiosas. Bom, devia ser isso. O barulho do dardo ao ser disparado, me fez olhar para a barraca outra vez. Jordan lamentou por quase ter acertado o alvo, e se pôs a recarregar a arma de novo. Ao fim do quinto disparo, algumas pessoas o aplaudiram pois, diferente do que disse, ele não era péssimo, e os seus dardos foram os que mais se aproximaram.

– Nossa, você quase conseguiu, rapaz! Mas ainda não foi dessa vez. Vai querer comprar mais uma ficha? – o dono da barraquinha se aproximou, e Jordan olhou para mim – Quem sabe, não leve o prêmio da moça agora...

– O que acha? – perguntou ele, e eu neguei com a cabeça.

– Podemos voltar depois, vamos na roda-gigante? Quero ver tudo lá do alto. – agarrei o seu braço, pedindo com a voz mais doce que tinha.

Acontece que, desde que chegamos, nós já havíamos ido em vários brinquedos, e agora eu queria muito experimentar a roda-gigante, aquela era a maior que eu já tinha visto na vida. Jordan sorriu assentindo, e eu quase saltei em comemoração.

– Sem problemas, linda. Vamos lá então... – seus lábios tocaram a minha testa em um beijinho carinhoso.

Jordan devolveu a arma para o cara da barraca, e o agradeceu educadamente. Depois disso, seguimos conversando em direção a roda-gigante. Eu estava animada, pois já fazia tempo que não ia em uma, mas lembrava muito bem da sensação de como era ver tudo lá de cima. Eu adorava isso. Por sorte, a fila ainda não estava muito grande, compramos os ingressos junto a dois enormes algodões-doces e logo nos encaminhamos para lá.

– Desculpa mesmo não ter conseguido o seu coelhinho azul? – Jordan me agarrou por trás, enquanto esperávamos a última rodada terminar.

– Para de se desculpar por isso, eu já disse que você foi ótimo. – dei uma leve risada, encarando-o por cima do ombro, essa era a terceira vez que ele pedia desculpa.

– Você é a coisinha mais perfeita que já existiu, sabia? – ouvi-lo falar isso baixinho em meu ouvido, me arrancou um arrepio, seguido de um enorme sorriso.

– Impossível. Esse título já é seu, Davis. – encarei seus olhos, sentindo minhas bochechas esquentarem.

– Eu só quero ser pra você, o que você merece que eu seja, Liz. – ele me deu um selinho, me apertando mais entre seus braços – Te amo.

– Aah, te amo, Dan. – me virei em sua direção, lhe roubando mais um selinho.

– Vamos, bebê? – ele arqueou as sobrancelhas, assim que os dois casais a nossa frente se encaminharam para a roda-gigante.

Eu assenti, sorrindo largo ao girar os calcanhares naquela direção. Colocamos os ingressos na máquina e seguimos para o banquinho disponível que acabava de paralisar. Jordan tirou a trava e eu me sentei ali primeiro, ele veio logo depois, tratando de travar o banco outra vez. Não demorou muito para começarmos subindo. O vento soprava espalhando os meus cabelos, e recostei minha cabeça no ombro do Dan, que me abraçou de lado. Era tão bom estar juntinho dele assim.

Tirei um pedaço do algodão doce, que estava uma delícia, eu costumava pensar que tinha gosto de infância, isso era acolhedor. Vi Jordan fazer o mesmo e sorri, estávamos tão felizes... acho que o tempo podia parar e nós nem notaríamos. A cada volta o cenário parecia ficar mais cheio. Dava para ver bastante coisa lá do alto, o que era realmente encantador, tantas cores e luzes brilhando, tudo muito lindo e bem organizado. Em uma das voltas, a roda-gigante parou, o detalhe é que estávamos no topo.

– Meu Deus, será que deu defeito? – franzi a testa, me mexendo um pouco no banco para olhar lá para baixo.

– Talvez... – Jordan parecia bem calmo, enquanto acompanhava todo o movimento – Mas devem consertar logo. Não se preocupe.

– Não estou preocupada. – sorri, voltando a recostar minha cabeça em seu ombro – A vista é linda daqui, ainda mais com o céu estrelado assim.

– Então também gosta de admirar as estrelas, Liz? – Jordan me puxou mais para perto, eu apenas assenti – Sabe identificar as constelações?

– Não muito bem. – fui sincera, e ele riu fraco pelo nariz – Você sabe?

– Digamos que é um dos meus passatempos. Olha... – Jordan apontou em uma direção, fazendo um desenho no ar com a ponta do indicador – Tá vendo a calda do escorpião? É mais fácil encontrar ela primeiro.

– Acho... – cerrei os olhos, enquanto ele desenhava outra vez, e de repente acompanhei o movimento, identificando aquele desenho nas estrelas – Sim, eu estou vendo agora.

– Ótimo. Conhece a história dela? – perguntou ele, roubando um pedacinho do meu algodão-doce, já que o seu havia acabado.

– Não. Mas gostaria muito de ouvir. – fixei meu olhar em seu rosto, Jordan era tão lindo que parecia um sonho.

– Bom, na mitologia, tudo começa com Órion. Ele era um gigante caçador que se gabava de cada presa a qual capturava, e sempre dizia que era capaz de derrotar qualquer animal. – o olhar de Jordan se encontrou com o meu, e sorri, sentindo minhas bochechas esquentarem – Mas toda essa arrogância de Órion chegou a irritar Ártemis, que para os gregos era a deusa da caça e protetora dos animais.

– E onde entra a parte do escorpião? – franzi a testa um tanto confusa.

– Aí é que está... Ártemis, enfurecida pelo desrespeito de Órion, enviou Scorpius para matá-lo. – explicou Jordan, pacientemente – E na mitologia, essa é a história da constelação de escorpião. O pequeno animal que derrotou o grande e poderoso gigante, ficou gravado nos céus.

– Nossa, eu adorei! – sorri doce, e Jordan aproximou seu rosto do meu.

As pontas dos nossos narizes se tocaram suavemente, nesse instante, algo brilhou bem lá no alto, chamando minha atenção. Eram os fogos de artifício que explodiam em cores chamativas. Meus olhos se arregalaram, admirando aquilo de tão perto, era tão belo, sem contar na emoção que crescia em meu peito por dividir esse momento ao lado do Jordan, que parecia extremamente concentrado em mim. Como se cada reação minha fosse fascinante para ele.

Quando o show de fogos acabou, a roda-gigante tornou a se mover. O que era uma pena, poderíamos passar mais alguns minutinhos lá em cima, eu não reclamaria de jeito nenhum. Ao tocarmos o chão, Jordan se apressou a me ajudar a levantar. E o cheiro deliciosamente forte de cachorro-quente, que invadiu minhas narinas, me fez perceber que já estava ficando com fome. Arranquei o último pedaço de algodão-doce, jogando os palitinhos no lixo.

– O que quer fazer agora, amor? – perguntou Jordan, e fiz sinal para que ele abrisse a boca.

Assim que o fez, coloquei o pedacinho de algodão-doce ali, e lhe roubei um selinho, entrelaçando meus braços em seu pescoço.

– A gente pode... – pensei um pouco ao olhar em direção as barracas, e foi quando avistei a Emily, sentada em uma mesinha ali perto.

Assim que seus olhos nos encontraram, ela acenou em nossa direção. Retribuí o ato no mesmo segundo, o que fez Jordan olhar para trás por cima do ombro. Emily, por sua vez, deu um cutucão em Noah que até então estava distraído assistindo um jogo em um telão, ele franziu a testa, mas ao nos ver, sorriu nos chamando.

– Vamos? – Jordan tornou a me encarar, e eu assenti.

Caminhamos ambos até lá, e o Noah rapidamente arranjou mais duas cadeiras. Não demoramos a fazer os pedidos. Os meninos começaram a conversar sobre o jogo que passava, e Emily me contou que a Christine tinha mandado mensagem avisando que chegaria de viagem amanhã, e que teríamos treino puxado quinta e sexta para compensar o seu atraso. Em meio a risadas e boa conversa, o tempo foi passando. Ele sempre se apressa a passar quando estamos nos divertindo.

– Ai, meu Deus! É o Trevor? – Emily praticamente berrou, olhando em direção ao tapete vermelho na área vip, o que assustou todos na mesa – É ele! É ele mesmo. Vem, Liz, preciso de um autógrafo.

– Quê? – franzi a testa, um tanto confusa, não fazia ideia de quem era esse tal de Trevor.

– Lembra que você tem um namorado, tá? E ele está bem aqui! – Noah usou de ironia, fingindo estar ofendido, o que me arrancou uma risadinha.

– Ai, cala a boca! Você quase surtou quando viu a Viola Johnson lá atrás. – ela rolou os olhos se pondo de pé – Vem logo, Liz!

Olhei em direção ao Jordan, que estava tão confuso quanto eu naquela situação. Ele apenas assentiu, forçando um sorriso e, assim que me levantei, fui arrastada por Emily, em direção ao batalhão de repórteres que cercavam o tapete vermelho. Nos esprememos um pouco em meio as câmeras, e conseguimos chegar até a faixa que dividia os dois lados. Emily começou a gritar pelo tal Trevor, que aparentemente estava no meio de um grupinho de famosos.

– Ai, meu Deus! Ele é tão lindo. – ela se esgueirava entre os seguranças, tentando ter uma visão privilegiada – TREVOOOR! AQUI!

De repente, ao olhar para o lado, os gritos e berros da minha amiga eufórica pareceram silenciar, assim como todo o barulho a volta, e senti minhas pernas fraquejarem ao vê-lo ali, em meio a multidão. Não podia ser. Eu estava presa em um dos meus pesadelos ou aquele era mesmo o Luke? Seu olhar pareceu encontrar o meu, e um sorriso maldoso surgiu em seus lábios, fazendo um nó se formar em minha garganta, e as palmas das minhas mãos começarem a suar frio. Antes que eu percebesse, duas lágrimas pesadas rolaram quentes pelo meu rosto, e eu me forcei a dar um passo para trás.

Nesse instante, o som a volta ressurgiu em meus ouvidos, o que me fez estremecer da cabeça aos pés. Olhei breve para trás, dando conta de que ainda estava na quermesse com os meus amigos, e assim que tornei minha atenção para frente outra vez, percebi que um garoto ruivo me encarava de cenho franzido. Aquele não era o Luke, eles nem mesmo se pareciam. A única coisa que tinham em comum eram os cabelos num tom laranja enferrujado. Então, me apressei a desviar o olhar, secando as minhas lágrimas. Não sabia qual era o meu problema, o que estava acontecendo comigo? Por que eu vi aquele cretino no lugar do garoto?

Emily, que continuava chamando o tal do Trevor, nem mesmo notou quando me desvencilhei, seguindo para longe da multidão de fãs e repórteres. Quando finalmente consegui me afastar, senti como se um peso caísse dos meus ombros. Odiava sentir tanto medo assim, mas o Luke era como o monstro preso em meu armário, só lembrar dele já me causava pânico. Cerrei os punhos com força, respirando fundo algumas vezes, a fim de pensar racionalmente. Ele não estava ali. Me forcei a caminhar em direção aos banheiros, precisava mergulhar as mãos embaixo da água fria para me acalmar. No entanto, ao empurrar a porta, tomei outro susto que me fez paralisar de vergonha.

– J-Jason? – gaguejei extremamente constrangida, e a garota ajoelhada a sua frente, se levantou rápido.

Em resposta, o vi assoprar a fumaça para cima, e sacudir a cabeça para os lados, antes de me olhar por cima do ombro nada satisfeito. Senti minhas bochechas queimarem violentamente e, apesar de saber que devia sair dali para evitar mais desconforto, minhas pernas travaram pela timidez idiota.

– Vaza daqui, Lizzie! – ele disse em tom rude, o que me fez cerrar os olhos.

– Ah, eu... preciso ir! – a garota a sua frente se levantou nervosa, limpando seus lábios com as costas da mão esquerda antes de sair apressada do banheiro.

Jason, por sua vez, fechou a cara, tratando de guardar o seu pênis para dentro da calça, e subir zíper com uma certa pressa.

– Qual é o seu problema? Eu estava quase gozando, caralho! – ele falou irritado, antes de se virar em minha direção – Não podia esperar lá fora mais um pouco?

– Você... Jason, no banheiro feminino? – indaguei, visivelmente desconsertada.

Ele deu de ombros, sem se importar com a situação em si, enquanto dava uma última tragada em seu cigarro.

– O que tem demais? – soprou a fumaça, apagando o cigarro na pia, e jogou a bituca no lixeiro – Aquela vagabunda sabe fazer um belo boquete, e eu estava excitado.

– Isso é... É muito errado! – tentei repreendê-lo, mas estava tão nervosa e envergonhada, que isso foi tudo o que consegui dizer.

Jason pareceu se divertir com a minha fala, pois deu um leve sorriso de canto, rapidamente umedecendo seus lábios com a língua, ao mesmo tempo que seus olhos mediam o meu corpo descaradamente, fazendo uma longa pausa em minhas coxas um tanto expostas pela saia curta do vestido o qual eu usava. Pigarrei, chamando sua atenção de volta ao meu rosto que se aqueceu de imediato, e ele assentiu caminhando em minha direção, até parar alguns poucos centímetros a minha frente.

– Não me diga que está... com ciúmes? – no instante que Jason chegou mais perto, pude sentir meu nariz arder pelo forte cheiro de álcool e maconha que exalava dele. Estava bêbabo? Sim, eu acho que sim – Sabe que pode continuar de onde ela parou, não sabe? Vai ser uma delícia gozar para você.

Estremeci ao esbarrar as costas contra a porta, quando ele apoiou a destra na parede ao meu lado, impedindo que eu me esquivasse, e fechei a cara. Seus lábios carregavam um sorriso extremamente malicioso, era perceptível o fato de que aquele idiota estava se divertindo por me deixar nervosa.

– Você está bêbado e drogado, sai de perto de mim! – mandei entredentes, mas ele fingiu não ouvir, se aproximando um pouco mais.

– Vamos lá, Lizzie, eu não conto para o Jordan, se você não contar... – Jason sussurrou com voz rouca em meu ouvido, o que me arrancou um arrepio, me deixando ainda mais furiosa – Me deixa foder essa sua boca gostosa? Aposto que você consegue me fazer gozar bem rápido.

– Sai, garoto! – finalmente recobrei meus movimentos e o empurrei para longe.

– Hey! Qual foi, ôh, nervosinha? Nunca nem fez um boquete antes? – perguntou ele, numa provocação estúpida, e senti a palma da minha mão arder para acertar a sua cara – Se esse for o problema, eu posso te ensinar agora que o banheiro está vazio.

– Você... Eu nunca faria isso com você! – falei extremamente irritada, o que lhe arrancou uma risada anasalada.

– E nem com o Jordan, pelo visto. – rebateu ele, com um sorriso pervertido nos lábios – Ou vai me dizer que já ajoelhou para o otário do meu irmãozinho?

– Você é um idiota! – esbarrei com o ombro ao passar por ele.

– Hey, olha a ofensa, mocinha! – Jason debochou, vindo atrás de mim – Assim magoa o meu pobre coração frágil.

– Você é tão engraçado, Jason. – rolei os olhos e ele balançou a cabeça para os lados, controlando a risada.

– E você é tão travada! – ele rebateu com extremo sarcasmo, me fazendo parar de caminhar, encarando-o incrédula – Qual foi? Nunca sentiu vontade de aprender a usar essa boca pra ajudar um cara a se aliviar?

– Isso... – minha voz soou meio trêmula, e quase me amaldiçoei, enquanto cruzava os braços numa tentativa de parecer mais confiante – Isso não é da sua conta!

– Mas imagino que seja da conta do Jordan! Não acredito que aquele mané ainda não te botou para mamar gostoso. – Jason fixou seus olhos em meus lábios que se contorciam procurando as palavras – Eu já teria colocado.

– O Jordan... ele não é assim! – falei por fim, e ele me encarou por alguns segundos, antes de explodir em uma risada.

Franzi a testa, completamente confusa com aquela reação, ao mesmo tempo que me questionava qual era o problema daquele garoto? Algumas pessoas nas proximidades das barracas a volta, olharam em nossa direção, o que me deixou ainda mais constrangida. Será que o Jason não podia chamar um pouco menos de atenção, não?

– Ah, puta que pariu! Você deve fazer isso de propósito. – o vi apertar a barriga, reduzindo o riso – O Jordan... – ele tomou fôlego de novo – Você deve achar ele tão princesinha, que nem imagina quanta coisa suja passa naquela cabeça, não é?

– Do que está falando? – apertei os meus braços, encarando-o num misto de confusão e vergonha, ao notar uma de suas sobrancelhas arquearem.

– Não é possível que você não saiba que o meu irmãozinho saía com uma garota diferente a cada semana. Acha que faziam o quê? Brincavam de adoleta, contando carneirinhos? – seu tom ainda era de riso – Jordan é tão sujo quanto eu! Na verdade, em relação a garotas, provavelmente aquele filho da mãe já comeu bem mais vadias do que eu.

Não posso dizer que fiquei surpresa ao ouvir isso. Afinal, eu sabia que o Jordan saía com muitas garotas antes de mim. Mas nunca tinha parado para pensar que elas faziam tudo o que ele quisesse, enquanto eu... Bom, aquilo ontem no meu quarto foi o mais longe que chegamos até agora. Talvez o Jason tivesse razão, eu devia aprender mais coisas, porém não admitiria isso em voz alta para que aquele idiota completamente bêbado ouvisse.

– Você sempre fica estúpido assim quando enche a cara? – indaguei, um tanto brava – Quer saber, eu não tenho que ficar aqui enquanto você me ofende e faz piadas de mau gosto comigo!

Rangi os dentes, me virando para ir embora.

– Hey, espera... – ele alcançou o meu braço – Eu não quis te ofender. Só estava brincando com você, não fica chateada, Lizzie.

– Isso não é brincadeira que se faça, Jason! – me soltei num solavanco.

– Tá legal, então me deixa se desculpar pelo menos... – pediu ele, parecendo se recompor.

– E por qual motivo você faria isso, se hoje mesmo no colégio me disse com todas as letras que não quer a minha companhia? – arqueei as sobrancelhas.

– Não faz perguntas, só... – seu olhar divagou pelo ambiente – Olha, vem comigo!

Ele passou por mim, e franzi a testa ao me virar, vendo-o seguir até a barraquinha mais próxima. Olhei em volta, decidindo se devia mesmo acompanhá-lo, não me parecia uma boa ideia, mas foi exatamente o que fiz, mesmo sem entender o motivo. Quando parei ao seu lado, Jason já havia pago o dardo e carregava a arma com ele, foi quando notei que estávamos na mesma barraquinha de quando cheguei com Jordan a quermesse.

O tiro foi disparado e, impressionantemente, acertou em cheio o alvo do coelhinho de pelúcia azul, que logo caiu no cesto. Arregalei os olhos em espanto, ao som das palmas das pessoas a volta. Como aquilo podia ser possível? Quer dizer, aquele idiota estava bêbado, ele até fedia a álcool, como conseguiu acertar o dardo com tanta facilidade? Sem dizer nada, Jason devolveu a arma ao balcão, enquanto o dono da barraquinha recolhia o prêmio do cesto, o qual nos entregou com um sorriso de felicitação que não foi retribuído pelo vencedor.

– Toma. – Jason praticamente empurrou o coelhinho em minha direção, o que me fez cerrar os olhos – O que foi? Era o que você queria, não era?

– Co-como você sabia disso? – perguntei completamente confusa ao receber a pelúcia, e ele riu fraco, mas não me respondeu.

– Lizzie?! – ouvi alguém me chamar ao longe, e avistei Emily se aproximar.

– Até mais, Lizzie. – Jason se despediu, mas lhe segurei pelo braço antes que passasse por mim.

– Foi você, não foi? – o encarei ainda mais desconfiada agora – O desenho no meu armário... Foi você ou não?

– Depende... Você gostou? – sua pergunta fez minhas bochechas esquentarem, e rapidamente assenti – É bom saber disso, mas agora eu tenho que ir.

– Tudo bem. – concordei, soltando o seu braço por fim.

Seu olhar mergulhou no meu por mais alguns segundos, até que assentiu para si mesmo antes de passar por mim. Automaticamente, me virei em sua direção, a tempo de vê-lo seguir por entre as pessoas.

– Hey! – tentei chamar sua atenção, mas ele não olhou para trás – Obrigada!

Em resposta, Jason apenas ergueu a sua destra ao alto da sua cabeça, enquanto se distanciava cada vez mais de mim. Sorri doce, apertando aquele coelhinho fofo entre os braços.

– Onde você se meteu? O que estava fazendo com esse garoto? – fui desperta pela voz da Emily, que parou bem ao meu lado.

– Precisei ir ao banheiro, e esbarrei com o Jason. Ele me deu esse coelhinho. – omiti boa parte do que realmente aconteceu, pois não era necessário outras pessoas saberem – É fofo, não é?

– Jason te deu um coelhinho? Do nada? – ela franziu a testa, e eu assenti.

– Sim, acho que ele ganhou e não queria, mas isso não vem ao caso. Me conta, conseguiu seu autógrafo? – tentei mudar o assunto, sabia o quanto ela o detestava.

– Sim, e uma foto. O Trevor é tão lindo! – Emily falou super animada.

Ela me puxou pelo braço, começando a contar tudo o que aconteceu depois que eu saí, enquanto seguíamos para a barraquinha de cachorro-quente outra vez, mas a única coisa que eu conseguia pensar era que o Jason havia acabado de admitir que me desenhou e colocou no meu armário para que eu visse. Eu ainda não sabia exatamente como processar tal informação, mas acho que fiquei feliz por saber que foi ele.

De alguma forma, fazia parecer que prestava mais atenção em mim, do que eu imaginava, e talvez isso fosse bom. Eu queria acreditar que era. Sorri boba, apertando o coelhinho de pelúcia que ganhei entre os braços. Não fazia a menor ideia de como o Jason sabia que era o ursinho que escolhi mais cedo naquela mesma barraca, mas isso também não importava agora.

– Vocês duas demoraram. – a voz do Noah me fez despertar – Mais um pouco e os nossos lanches esfriam.

– Desculpa, é que tinham muitas pessoas tentando tirar fotos com o Trevor. – Emily soltou o meu braço, para sentar na cadeira ao lado do seu namorado – Estava a maior loucura, mas deu tudo certo.

– Onde foi que conseguiu isso, Liz? – perguntou Jordan, se referindo ao meu coelhinho, assim que me juntei a eles na mesa.

– Ah, sim, vocês não vão acreditar... – Emily se intrometeu – Foi o Jason que deu o coelhinho de pelúcia pra ela.

– O Jason, é? – as sobrancelhas do Dan arquearam, indicando que ele não havia se agradado muito – Então vocês estavam com ele?

– Na verdade, eu encontrei com ele quando estava indo ao banheiro, mas acho que até já foi embora. – tentei contornar.

– Entendi. – ele assentiu com a cabeça, e fechou a cara.

Percebendo que o clima havia pesado, o Noah estranhamente se interessou em ver as fotos que a Emily havia tirado com o tal Trevor no tapete vermelho, e ficaram conversando entre si. Então, aproveitei para puxar a minha cadeira, a fim de me aproximar mais do Davis que ficara completamente em silêncio.

– Hey, não fica assim, é só um coelho idiota de pelúcia. – agarrei o seu braço, e sua atenção veio a mim.

– Não, esse é o coelho que eu devia ter conseguido pra você. – o vi negar com a cabeça, meio emburrado.

– Eu não ligo pra quem conseguiu o quê, estamos nos divertindo hoje. – beijei discretamente a curvatura do seu pescoço – Isso é tudo o que importa, não é?

– É, você tem razão. – Jordan riu anasalado, desmanchando aquela cara amarrada.

– Ótimo, agora vamos lanchar com os nossos amigos, e depois continuar aproveitando a nossa noite. – propus, e ele concordou, parecendo relaxar por fim...

[...]

🌺. Genteee, e esse Jason? Passou de piadinhas maliciosas a "toma um coelhinho fofo" em segundos kkkkk aiai Liz...

🌺. Jordan todo fofo, neném com a Liz aaaa 🥰❤

🌺. Deixem seus comentários, e não esqueçam de votar na 🌟 ajuda muitooo. Obrigada, e até o próximo capítulo 🥰😘

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