2. Festa no sábado
"O que vem fácil, vai fácil... é assim que você vive, oh! Leva tudo, mas nunca retribui... Deveria ter percebido que você era encrenca desde o primeiro beijo... – Grenade, Bruno Mars."
Ontem meu dia foi estranhamente agradável, e isso era bom. Nunca pensei que fosse me sentir tão bem por estar longe de casa, mas cá estou eu, não é mesmo? Depois do almoço, Dylan e Emily me apresentaram todas as instalações do colégio, nem a sala do zelador escapou. Daí ele foi para o jornal, e ela me fez se inscrever na mesma oficina de artes que frequentava. Sem dúvidas, eu havia gostado daqueles dois logo de cara.
Acabei não esbarrando mais com Jordan pelo resto da tarde, e acho que fiquei agradecida por isso, me senti um pouco mal por fazê-lo passar vergonha na frente dos amigos, mesmo que isso tenha acontecido de forma indireta, mas tentei não me concentrar nisso ao longo do dia. Agora só veria todo mundo de novo na segunda. Diferente de ontem, minha manhã e quase tarde inteira hoje se resumiram a desempacotar caixas e mais caixas da mudança com os meus pais.
Por sorte, os dois foram convocados na empresa de última hora, e pude me dar uma trégua. A qual aproveitei num banho longo e relaxante, eu merecia um descanso digno depois de tanto trabalho, ainda mais sabendo que amanhã seria igualzinho. Ao sair do banheiro, chequei o corredor, constatando que ainda estava sozinha em casa. Bom, talvez eu pedisse uma pizza para o jantar como a mamãe recomendou, e então caísse na cama, era um ótimo plano.
Já caminhava para dentro do meu closet quando ouvi alguns barulhinhos de mensagens, no meu celular, ecoarem pelo quarto. Sorri animada, me apressando a pegar o aparelho sobre a mesinha de cabeceira. Era a May, nós duas combinamos de conversar ontem, mas acabou não dando certo. Me sentei na cama, desbloqueando o celular, e rapidamente abri em sua conversa:
"Desculpa não ter mandado mensagem antes, mas estava meio enrolada."
"Anda, me conta como foi o seu primeiro dia?"
Ler aquilo me fez sorrir triste. Morreria de saudades ficando longe da May. Acho que essa tinha sido a pior parte de me mudar. Respirei fundo, espantando aqueles pensamentos melancólicos, não era hora para tristeza, então comecei a digitar em resposta:
"Ah, foi bem tranquilo, eu conheci gente nova, eles são bem legais. Mas já estou morrendo de saudade."
Enviei aquilo, e antes mesmo de sair da conversa, li pela barra de notificações uma mensagem da Emily que acabava de chegar, o que me deixou um tanto surpresa, não achei que ela fosse me chamar tão cedo. Quer dizer, eu queria, mas tive receio de incomodá-la, o que provavelmente não fazia sentido. Ela dizia o seguinte:
"Hey, gosta de festas? Vai rolar uma de última hora hoje na casa do Tayler."
"Os meninos decidiram comemorar a vitória de ontem em grande estilo. XoXo."
Arqueei as minhas sobrancelhas, um tanto surpresa. Era impossível organizar uma festa assim, do dia para noite, ou será que não? Em Seattle sim, a maioria das festas que fui eram na casa da May, e a gente se programava com a galera mais ou menos uma semana antes. Dava um trabalhão, nossa sorte é que o tio Alex nunca ficava sabendo delas. Tive um susto ao sentir o celular vibrar em minhas mãos, era ela numa chamada de vídeo.
"Eu não aceito coisas pela metade, então conte tim-tim por tim-tim do que aconteceu." – disse a loira sapeca do outro lado da telinha, assim que eu atendi a chamada.
"Calminha, amiga, amiga." – gesticulei como se estivesse falando com um bichinho de estimação, e logo ouvi sua risada.
"Vamos, Lizzie, não me deixe curiosa. Sabe que odeio ficar curiosa. Quero detalhes. Já conheceu algum gatinho? Ele beija bem?" – ela praticamente colou a câmera no rosto, para simular que me encarava bem de pertinho, e foi minha vez de rir.
"Eu não beijei ninguém, sua maluca. Mas acabaram de me convidar para uma festa." – eu mal acabei de falar, e a May saltou sentando na cama.
"Hummmm... Então já fisgou um deus grego aí em Shadowtown foi, danadinha?" – um sorrisinho rasteiro se fez em seus lábios, e eu rolei os olhos.
"Claro que não. Sabe que eu não me sinto bem depois..." – suspirei pesado, sentindo um calafrio ruim me percorrer.
Lembrar daquele desgraçado me dava embrulhos no estômago.
"Para com isso já. Não está mais em Seattle, e aquele cretino não pode te atormentar para sempre." – May me repreendeu bem séria – "Ainda vai conhecer um cara bacana, mas tem que se permitir, Liz."
Sorri leve para acalmá-la. Nunca me sentia bem quando tocávamos nesse assunto, porque não tinha contado tudo a ela, não tive coragem o suficiente, então a May sabia em parte sobre o que tinha acontecido. No que dizia respeito a minha reputação que Luke praticamente destruiu no colégio, com suas mentiras estúpidas, o que veio antes disso, eu decidi guardar só pra mim. Mas acho que ela estava mesmo certa, ele não podia continuar me atormentando pra sempre.
"Que tal a gente falar sobre coisas alegres?" – indaguei, a fim de trocar o assunto – "Eu fui convidada para fazer um teste na segunda, e se eu passar vou ser uma líder de torcida de novo."
"Tá brincando!" – ela arqueou as sobrancelhas, com um sorrisinho maroto nos lábios – "Isso é maravilhoso, e nós duas sabemos que você vai passar."
"Ah, bom... Quanto a isso, eu não sei." – respondi devagar, pois conhecia bem a amiga explosiva que eu tinha – "Digo, acabei de sair das Vikings, isso não seria meio que uma traição com vocês?"
"Ai, boo-boo, às vezes eu tenho vontade de acertar a sua cara com muita força." – tive que segurar o riso ao ouvi-la – "Você tem que aproveitar o ensino médio, e o que seria melhor do que ser uma líder de torcida? Se não tem mais as Vikings, vai com..."
"As Lioness." – completei, e ela assentiu.
"Isso aí, vai com as Lioness. Já pensou na coreografia para o teste?" – suas sobrancelhas arquearam.
"Não, mas eu vi uma apresentação delas no jogo ontem, e são impecáveis. Então eu pensei... 'Quem poderia me ajudar?', porque vai ser um teste e tanto..." – dei uma risadinha, e a May saltou da cama.
"Sabe que adoro desafios. Tô dentro, mas não vou te dar moleza. Nossa coreografia vai fisgar a abelha rainha." – disse ela, em tom super confiante.
"Você é a melhor, não é?" – sorri doce, e ela logo assentiu.
"É, eu sou sim. Agora levanta esse traseiro da cama, vou te ajudar a se arrumar para a festinha da vitória." – a vi apoiar o tablet sobre sua escrivaninha, antes de dar duas palminhas – "Você precisa conhecer gente nova, e o que seria melhor do que uma socialzinha para socializar?"
"Mas..." – franzi a testa, um tanto confusa – "Eu não lembro de ter dito que era festa da vitória."
"E precisa? Você acabou de me dizer que teve jogo ontem. Ninguém daria uma festa após uma derrota, boo-boo." – dei uma risada, ela me chamava assim desde que nos conhecemos no jardim de infância – "Agora vamos, que eu não tenho a noite toda, nem você."
"Ai, tá bom... Você venceu." – sacudi a cabeça, me levantando num salto logo em seguida.
Depois disso, a May me fez responder positivamente a mensagem de Emily, que confirmou passar com Dylan na minha casa dentro de uma hora. Dali por diante foi uma correria só, para achar minhas coisas ainda empacotadas dentro das caixas, mas demos boas risadas. No fim, tudo o que consegui fazer foi uma maquiagem bem básica, com delineado gatinho e gloss nos lábios para dar um up.
Fiz um penteado simples, com duas pequenas trancinhas nas laterais, dica da May. Ficou lindo, ela era muito boa nisso. Para vestir, escolhemos um vestido rosa de alcinhas, bem justo ao corpo e que media até quase metade das minhas coxas. Por cima eu coloquei um casaquinho branco confortável e, para combinar, nos pés calcei um tênis branco. No fim, até que ficou muito bom, nos despedimos e eu desci ao som da buzina do carro de Dylan. Ele era bem pontual.
– Piuí! O carrinho da alegria chegou, a bordo senhoras e senhores. – disse ele, super animado, após buzinar pela terceira vez ao tempo em que eu trancava a porta de casa.
– Eu juro que ele ainda não bebeu nada, Liz. – Emily me fez rir, enquanto me aproximava do carro.
– Tem certeza? Ele ainda pode ter batido a cabeça. – ajeitei meu casaco, apressando o passo ao sentir uma brisa gélida me golpear – Ou encontrado uma garrafa escondida.
– HÁ-HÁ-HÁ! Engraçadinhas... – Dylan rolou os olhos, mas caiu na risada logo em seguida, e me adiantei a entrar no carro.
O bom humor empregado em nossas conversas se estendeu por todo o caminho, e isso me deixou bem tranquila. Nós três também comentamos sobre o jogo de ontem, e falamos do teste de segunda, Emily se ofereceu para me ajudar com uma coreografia, mas eu já havia combinado de ensaiar com a May, então apenas agradeci sua gentileza.
Não custamos muito a chegar, e logo vi que a casa do Tayler era enorme. Haviam carros estacionados para todos os lados no pátio em frente a mansão. Bati a porta ao descer do veículo, me olhando pelo vidro da janela enquanto arrumava o meu vestido.
Notei a Emily descer também e dar a volta, vindo em minha direção. Ela estava simplesmente linda, ainda mais do que ontem na escola. Usava um vestido vermelho, um pouco mais colado ao corpo que o meu, e uma jaqueta jeans por cima, sem contar nos seus cabelos cacheados maravilhosamente impecáveis e presos por um lacinho muito fofo de uma bandana.
– Olha, eu sei que deve ser acostumada com festas, florzinha... – Dylan chamou minha atenção, após travar o carro. Não pude deixar de notar seu estilo impecável, ele usava uma camisa cinza chumbo, de mangas longas e uma calça de lavagem mais clara, porém, não foi exatamente o que me chamou atenção – Mas quero frisar que o que acontecer aqui, morre aqui.
Ele me olhava com um tom sério, o que lhe caía bem estranho, já que sempre estava sorrindo.
– O quê? – questionei risonha, ajeitando a alça da minha bolsa no ombro.
– Ai, lá vem o Dylan. Não liga, Liz, ele é louco. Provavelmente está falando sobre algum boy enrustido que está de olho. – explicou Emily, me arrancando uma risadinha.
– Olha o jeito que você fala comigo, sua atrevida! – Dylan fingiu estar ofendido, mas ela também deu risada, me puxando pelo braço.
– Só não bebe todas e acorda do lado do Muza de novo. – Emily brincou risonha e ele assentiu, nos seguindo.
– Gente, aquilo foi uma delícia. – Dylan acenou cumprimentando algumas pessoas a frente da casa – Mas vê se a senhorita bebe todas e acorda na cama do Noah amanhã, aquele gostoso!
– Dylan, fala baixo! – ela o repreendeu, e notei as suas bochechas enrubescerem, pelo visto, o gatinho dela era esse tal de Noah.
– Tá bom, tá bom. – Dylan deu uma risadinha, jogando a toalha.
Ao entrarmos na casa, esbarramos com um grupo de garotos gritando "BEBE, BEBE, BEBE!", para outro que praticamente virava um galão de cerveja na boca. Aquilo me fez rir, mas passei direto por eles, seguindo Dylan e Emily pela sala. A cada passo, podia sentir as vibrações da música, que tocava extremamente alta, percorrerem por todo o meu corpo. O mar de pessoas se estendia por todo o ambiente, assim como o cheiro de álcool e nicotina.
Eram odores tão fortes que chegavam a me incomodar. "Pelo amor de Deus, boo-boo, haja como uma pessoa da nossa idade...", a voz da May ecoou em meus pensamentos, e uma leve risada me escapou. Era o que aquela maluquinha sempre me dizia quando íamos a uma festa, porque eu sempre fui a mais "séria" do grupo, isso quer dizer que não usava drogas ou coisas assim. Na verdade, eu não conseguia entender como as pessoas gostavam de fazer essas coisas, mas também não era de julgar ninguém.
Dylan e Emily que iam mais a frente, abriam caminho enquanto cumprimentavam várias pessoas, acho que eram bem populares, mas isso não era nada estranho já que ambos eram tão legais e sociáveis. Contudo, eu precisava me esgueirar para não esbarrar em ninguém, e a luz baixa não era minha melhor amiga nesse momento. Por mais que tentasse, não conseguia evitar todos os ombros e costas.
– Aí, foi mal, princesa. – alguém disse ao tombar forte contra o meu ombro.
Ao olhar para o lado, vi que se tratava de um jogador, pois ele usava uma jaqueta verde e branca, assim como a de Jordan e Tayler no dia anterior. Senti minhas bochechas esquentarem ao perceber que seus olhos passeavam por minhas coxas, subindo indiscretamente até o pequeno decote em meu vestido. Então, me apressei a cobri-lo fingindo ajeitar meu casaco.
– Tudo bem. Não foi nada. – forcei um sorriso, dando um passo a frente para acompanhar Dylan e Emily.
– Hey, espera aí. Você é a garota nova, não é? Claro! A gostosa que chegou dando um fora no Davis. – aquele cara parecia já estar alterado, e eu não gostei muito do seu tom de voz.
– Eu não...
– Lizzie, sua mãe não te ensinou? – Dylan voltou alguns passos, chamando nossa atenção – Não devemos conversar com estranhos, ainda mais se for um estranho qualquer. Agora vem comigo, dear.
Ele rapidamente entrelaçou seu braço ao meu e, sem nem me dar tempo para pensar, saiu me arrastando em direção a cozinha. Vi um sorrisinho debochado surgir em seus lábios assim que direcionou seu olhar pra mim, então o agradeci mesmo em silêncio. Não sei como me livraria daquele cara lá atrás sozinha, não me parecia o tipo que me deixaria passar tão fácil.
– Até que enfim! O que estavam fazendo, por que demoraram? – questionou Emily, assim que lhe alcançamos.
– Nada novo. Você sabe, só o Marcus enchendo o saco. – Dylan me soltou para pegar uma garrafa de vodka sobre o balcão.
– Ai, que cara chato. Uma dica, Liz, nunca dê bola para o que ele fala. – Emily deu uma risadinha, enquanto preparava o seu drink.
– Ah, tá legal. – sorri, olhando em volta.
Não havia muita gente por ali, pelo menos não tanto quanto na sala, mas era onde ficavam as bebidas. Tinha um barriu cheio de gelo e cerveja bem ao lado do balcão com copos vermelhos, garrafas de vodka e whisky. Nesse instante, a porta do deck se abriu, e a brisa soprou aos ouvidos outra música misturada a risadas e conversas vindas lá de fora, então acabei vendo mais pessoas espalhadas pela área da piscina, como se estivesse rolando uma festinha a parte ali fora.
– Você bebe, Lizzie? – ouvi Emily perguntar, e neguei rápido com a cabeça.
– Ah, só um pouquinho, vai? É uma festa, florzinha... – Dylan insistiu.
"Não seja careta hoje, boo-boo, você tem que socializar. Então já sabe, né?", o último conselho da May antes de encerrarmos a ligação um pouco mais cedo, ecoou em meus pensamentos quase como uma ordem. Acho que ela estava certa, eu não queria que me achassem careta essa noite, então respirei fundo e assenti para Dylan.
– Tudo bem. – respondi por educação, não queria ser uma estraga prazeres. Ele sorriu satisfeito.
– Já estava quase indo te buscar, meu amor. – ouvi alguém falar e me virei, vendo um garoto abraçar Emily um tanto apertado.
Ele era um pouco alto, tinha os cabelos castanhos e um rosto delicado, com olhos pequenos e bem escuros. Os vi romperem o abraço e ela deu um selinho nele, sorrindo meio tímida logo após. Então aquele era o Noah? Acordei dos meus pensamentos pegando o copo com a bebida que Dylan me entregava, foi quando avistei Jordan adentrar a cozinha com alguns amigos. Aquele sorriso dele era tão... perfeito, que quase não consegui desprender minha atenção de seu rosto.
Mas Emily deu uma leve cotovelada em meu braço, o que rapidamente me fez voltar a si, sorrindo envergonhada. Jordan olhou para mim e levantei um pouco o meu copo, o cumprimentando de longe. Meu Deus, como estava lindo. Vestia uma camisa creme de mangas longas, as quais estavam afastadas até quase o seu cotovelo, uma calça jeans de lavagem clarinha, e uma correntinha de ouro em volta do pescoço. Nada que chamasse muita atenção, mas estava lindo.
– Ah, já vou pegando o meu rumo, que não tenho dom para segurar vela, florzinha. – disse Dylan, em tom risonho, brindando o seu copo no meu, enquanto Jordan se despedia dos outros garotos.
Sorri, balançando a minha cabeça para os lados, antes de dar o primeiro gole em meu drink, mas era muito amargo, fiz uma careta involuntária pelo gosto horrível daquele líquido que desceu queimando pela minha garganta.
– Isso... você não bebe, né? – perguntou Jordan, agora sozinho, com um sorriso nos lábios.
– Não mesmo. Mas Dylan insistiu. É uma festa. – expliquei meio envergonhada, mas ele pareceu não se importar, pegou o meu copo virando tudo dentro do seu.
– Não precisa beber se não quiser. Vem, vamos pegar um refrigerante para você? – Jordan me chamou, confesso que fiquei surpresa, pois não era bem o tipo de atitude com a qual eu estivesse acostumada.
Digamos que meu ex-namorado nunca faria isso, era mais provável que me fizesse beber tudo. Mas eu não tinha que ficar lembrando dele, "Aquele cretino não pode te atormentar para sempre", a voz da May ecoou em meus pensamentos. "Ainda vai conhecer um cara bacana, mas tem que se permitir, Liz", eu sabia que ela tinha razão, e não dava para generalizar com todos os garotos por conta de apenas um.
Nesse instante, olhei para Emily, que apenas assentiu sorrindo para mim, e concordei com um leve aceno de cabeça. Acho que eu queria ir com o Jordan, apesar de ter um certo receio guardado em meu peito. Ele não era o Luke, e eu estava livre para ser uma nova Lizzie essa noite, talvez até um pouco mais confiante.
– Eu acho melhor. Obrigada. – voltei a encará-lo, sorrindo educada.
– Fico feliz que tenha vindo. – Jordan encaixou os dois copos.
Confesso que senti as minhas bochechas esquentarem, então desviei o olhar. Não queria que ele percebesse o quão idiota era minha timidez.
– A Emily foi bem convincente. – menti, seguindo com ele para os fundos, na verdade, Emily só tinha me convidado mesmo, não insistiu nem nada.
– Imagino que sim. – Jordan estendeu a sua mão esquerda para mim, a qual eu logo segurei, passando por entre algumas pessoas com ele.
– Você chegou agora? – perguntei, ao alcançarmos a área externa, ele me olhou de novo, aquilo me deixava meio desconcertada.
– Ah, não. Ajudei o Tayler com as coisas. Acho que passei o dia aqui. – ele explicou e eu notei que estávamos caminhando para a área coberta.
– Entendi. Que legal! – falei quando ele soltou a minha mão.
O observei colocar nossos copos sobre uma mesinha, em seguida, abriu um freezer, pegando uma garrafa de coca-cola. Abracei um dos meus braços, estava meio frio ali fora. Nesse instante, me arrependi por não ter vindo de calça, mas agradeci mentalmente por estar usando um casaco. Olhei em volta, havia gente para todo lado, inclusive dentro da piscina, de roupa e tudo. Ouvi o chiado do refrigerante caindo no copo e voltei a olhar para Jordan, levemente agradecida por sua gentileza.
– Prontinho. – ele fechou a garrafa, me entregando o copo de volta logo em seguida.
– Obrigada. – sorri doce, e ele apenas assentiu, se encostando na freezer de frente para mim.
– Ah, por nada. – Jordan deu um gole em sua bebida, arqueando as sobrancelhas logo em seguida – Parece que o Dylan estava com a mão meio pesada. Isso aqui tá bem forte para alguém que não bebe.
– Acho que ele preparou para mim o mesmo que preparou para ele. – falei em uma certa defesa, não acho que Dylan fosse do tipo que embebeda garotas.
– É, faz sentido. – Jordan assentiu outra vez – Então, você morava em Seattle, o que mais gosta de fazer além de esbarrar nas pessoas?
– Isso... Esse é um dos meus passatempos favoritos, sabe? – falei em tom risonho, e ele pareceu se divertir – Mas numa festa ele é meio perigoso, então eu troco.
– É? E o que gosta de fazer em uma festa, Liz? – uma de suas sobrancelhas arqueou, lhe atribuindo um certo tom de curiosidade.
– Ah, conversar com estranhos, beber refrigerante do lado de fora e às vezes... Às vezes eu faço uma coisa muito radical também. – falei me sentindo um pouco mais confortável, porque ele não estava dando em cima de mim, na verdade, estava sendo uma conversa bem legal.
– Ah, é? Radical? O que você faz? – Jordan bebeu mais um pouco, ao tempo em que me observava se aproximar do baldinho com gelo na freezer ao lado.
– Bom, gelo no refrigerante. Mas isso é só quando estou muito radical mesmo. – coloquei duas pedrinhas de gelo no meu copo e Jordan deu uma risada extremamente gostosa de ouvir.
– Você é impagável. Gostei disso, do seu humor. – disse ele, risonho, eu também sorri, passando uma mecha do meu cabelo para trás da orelha.
Há tempos não tinha uma conversa leve e bem-humorada com um garoto, acho que Luke tornou isso impossível no meu antigo colégio. Geralmente os caras só se aproximavam de mim por sexo, então eu não sabia se estava indo bem, mas pelo menos não estava tremendo como vara verde, e isso já era bom.
– Mas, e você? Além de salvar meninas de uma queda certa, o que mais gosta de fazer? – perguntei curiosa, na tentativa de estender um pouco aquela conversa leve.
– O que mais eu gosto de fazer? – Jordan balançou o copo em círculos, parecendo pensar um pouco – Acho que eu gosto... – ele desencostou da freezer, se aproximando um pouco mais de mim, pude sentir o meu corpo estremecer – de ver esse seu sorriso lindo, que desde ontem não consegui tirar da cabeça nem por um segundo.
– Ah, e-eu... – gaguejei nervosa e ele sorriu, então não consegui me concentrar em nada para falar.
– Aí, Davis. – alguém chamou nossa atenção, era o loiro de olhos azuis do dia anterior.
– Fala, Chris! – Jordan fez um toque com ele.
– Olá. – Chris me cumprimentou e eu sorri meio sem jeito, levantando um pouco o meu copo, em um curto aceno.
– Aconteceu alguma coisa? – perguntou Jordan, e rapidamente o loiro a nossa frente negou com a cabeça.
– Não cara, o Tayler... Não encontrei ele. – Chris me pareceu levemente preocupado. Jordan, por sua vez, apontou para a piscina – Puta que pariu! A Christine vai surtar.
– Manda ele subir e se trocar antes dela ver. – Jordan deu uma solução rápida, mas seu amigo negou outra vez com a cabeça.
– Me ajuda com isso, Davis? O cara tá muito bêbado. – Chris pediu quase em desespero e Jordan me olhou.
– Ah, não, podem ir, eu... já peguei o meu refrigerante, vou falar com a Emily. – não quis ser chata, afinal, Jordan e eu só estávamos jogando conversa fora mesmo.
Ambos assentiram.
– Depois eu quero conversar mais com você, tá? – disse Jordan, arqueando as sobrancelhas, eu apenas confirmei com a cabeça.
Depois disso, os vi seguirem para a piscina e respirei fundo, caminhando de volta para dentro da casa. Não sei onde aquilo teria dado se não tivéssemos sido interrompidos, por um segundo foi como se eu tivesse esquecido de que estávamos cercados de pessoas. Balancei minha cabeça para os lados, adentrando a cozinha outra vez.
Emily já não estava mais ali com o Noah, e eu acho que já esperava por isso. Bebi um pouco do meu refrigerante, caminhando entre as pessoas em direção a sala onde a música tocava quase ensurdecedora. Por sorte, não demorei a avistar Dylan que estava sentado no sofá conversando com algumas meninas.
– Vem cá, florzinha? – ele me chamou assim que me viu.
– Ah, claro. – sorri doce, me aproximando.
Me sentei bem ao seu lado e ele me apresentou para o grupo de amigas que, a propósito, eram muito legais e simpáticas, e logo me incluíram na conversa sobre a última matéria do jornal do colégio: "Sungas recheadas na aula de natação". Deve ter sido mesmo interessante, já que subiu à procura dos exemplares pelo que entendi do que eles falavam, mas não ficamos ali por muito tempo, a batida da música era mesmo envolvente, e logo Dylan resolveu dançar.
Para ser bem sincera, ele saiu me arrastando pelo meio das pessoas. No início eu estava quase morrendo de vergonha, mas depois me deixei levar, era mesmo divertido e nós ríamos mais do que dançávamos. Dylan ficava falando das bundas dos meninos a volta enquanto se entupia de álcool, o que me arrancava risadas a todo o tempo. Paramos apenas quando senti a minha bexiga apertar, por conta do enorme copo de refrigerante que eu havia tomado.
Dylan me disse onde ficava o banheiro e eu subi as escadas, deixando-o com suas outras amigas no sofá. Já estava terminando de lavar as minhas mãos quando escutei duas vozes soarem altas pelo corredor, me parecia uma discussão. Peguei o papel para secar as mãos, me virando assustada com um estrondo na porta.
O barulho foi de alguém caindo no chão. Franzi a testa, jogando o papel no lixo, escutando as vozes aumentarem o tom. Peguei a minha bolsa e estiquei a minha mão até a maçaneta, mas recuei quando escutei um estardalhar de vidro quebrando no corredor. Era uma briga, mas o que eu faria? Estava sozinha naquele banheiro e a música tocava tão alto que ninguém lá embaixo me escutaria se eu gritasse.
Ouvi um murmúrio de dor que fez meu coração saltar dentro do peito, acelerando os batimentos. Antes que eu pudesse perceber, minhas mãos foram a tranca e eu abri a porta, saindo apressada dali, a tempo de ver aquela cena perturbadora. Era ele? Jordan? Sua roupa estava diferente de quando nos falamos no início da noite, mas assim que se virou para trás, aqueles olhos caramelados me fizeram engolir em seco.
Jordan me encarava com ódio estampado em sua face, ao tempo em que apontava um canivete para o pescoço do cara caído no chão. Notei sangue em seus punhos e percebi que também haviam respingos misturados aos cacos de vidro espalhados pelo carpete. Não era dele, mas sim do outro garoto, que me parecia bem machucado. Então, cerrei os punhos com força, caminhando apressada em sua direção.
– O que está fazendo? Você ficou louco? – perguntei em espanto, e ele franziu a testa.
– Vaza daqui, vadia! – rosnou Jordan, sem um pingo de educação.
Eu abri minha boca, completamente incrédula com toda a cena que se passava, mas não consegui dizer nada de imediato. Onde havia parado o cara gentil que me serviu refrigerante há pouco menos de umas horas? Porque aquele Jordan não parecia ser a mesma pessoa sorridente e leve que eu conheci. Eu só me perguntava mentalmente "Qual era o problema daquele idiota?".
– Quem você acha que é para falar assim comigo, seu cretino estúpido? – questionei ofendida, mas seu semblante não esboçou nenhuma reação.
– Quem eu acho que sou? Por acaso sabe com quem está falando, ou só é retardada mesmo? – questionou ele, enraivecido com o cara que não parava de se mexer – Fica quieto, filho da puta!
Assim que tentou se levantar, Jordan desferiu um soco no estômago dele, fazendo-o tombar de joelhos ao chão outra vez, então lhe empurrei para o lado, sem nem pensar no que estava fazendo.
– Você... é um idiota! – sentia meus olhos arderem de raiva, e ele me encarou ainda mais furioso – Não pode sair ofendendo e agredindo as pessoas assim.
– Qual foi? Conhece esse arrombado aqui? É a putinha dele, por acaso? – seu olhar desdenhoso me mediu da cabeça aos pés.
– O quê? O que deu em você, garoto? – cerrei os olhos – Há pouco estava dando uma de bom moço lá embaixo, mas agora estou vendo que não passa de mais um filho da mãe desgraçado.
– Olha, tanto faz, o meu assunto não é com você. – disse ele, sendo um completo estúpido, me fazendo sentir o sangue esquentar em minhas veias. Como eu podia ter me enganado tanto com aquele cretino? – Agora vaza de uma vez, que eu tenho negócios pra acertar.
– Como consegue ser tão babaca, Jordan? – berrei com raiva e ele franziu a testa, me olhando como se eu tivesse lhe xingado com a pior ofensa do mundo...
[...]
🍁. Oh, meu Deus, o que será que deu no Jordan para surtar assim de uma hora para outra? 😳
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