19. O garoto silencioso
"Não peça minha opinião. Não me peça para mentir, e depois implorar e pedir perdão por ter feito você chorar. – Human, Rag'n'Bone Man."
Depois de minha conversa com Dylan, me senti um pouco mais calma. Não sei se ele estava certo, apesar de também desconfiar que Jordan não faria aquilo, Marcus me disse com todas as letras. Contudo, tentei focar na aula, ignorando os olhares e risadinhas que me seguiram por toda a manhã. Era hora do almoço agora, e estava sozinha de novo, escutando os cochichos a minha volta, enquanto guardava minhas coisas no armário. Só queria que esse dia idiota acabasse logo de uma vez, para eu poder ir embora para casa.
– Hey, Lizzie, não é? – alguém parou bem ao meu lado, e quando olhei naquela direção percebi que era um dos meninos da educação física de mais cedo.
– Sim. E você é...? – forcei um sorriso, mesmo que não me importasse em saber seu nome.
– Nicholas, mas pode me chamar só de Nic. – seus olhos percorreram pelo meu corpo, me deixando extremamente desconfortável – Fiquei sabendo que você gosta de se divertir.
– Como assim? – franzi a testa, ao mesmo tempo em que cerrei meus punhos.
– Ah, qual é? Tá todo mundo sabendo da sua brincadeirinha com os caras no vestiário... – ele deu um passo a frente, sorrindo malicioso – Meus amigos pediram para te perguntar se não quer... sabe, se divertir com a gente.
– É? – senti meus olhos arderem pelas lágrimas, Nicholas assentiu, parecendo não se importar nem um pouco sequer por ter me magoado – Então manda eles se foderem, aproveita e vai junto!
Bati a porta do armário com toda força que tinha, o que provocou um estardalhar pelo corredor. Nesse instante, mais olhares vieram em minha direção, e senti minha respiração pesar, à medida que meus batimentos aceleravam. Olhei em volta, escutando risadinhas, meu peito inflamava junto a vontade de explodir em um choro outra vez, mas não podia, não na frente de todo mundo. Ouvi quando Nicholas fez uma piadinha, então me apressei a passar por aquele idiota. Sequei uma lágrima que escorreu, e virei no corredor a direita, pisando forte no chão.
Eu só queria um lugar onde pudesse me esconder daqueles olhares de julgamento. Não conseguia olhar em volta, porque sabia que com mais uma risadinha eu desabaria completamente. É péssimo ser julgado, ainda mais por algo que você não fez. Eu não era aquela garota de quem estavam falando, não era assim. Fui desperta de meus pensamentos ao sentir apalparem minha bunda, me virei assustada e o cara deu uma risada, soltando um beijinho maldoso para mim.
– Como tá a bocetinha, Lizzie? Foi de uma vez, ou um seguido do outro? Gostosa! – ele disse, e mais uma lágrima me escapou.
Não consegui abrir a boca. Nenhuma palavra saía. Dei um passo para trás, olhando um tanto perdida para o fim do corredor, avistando Jason ali. Ele me encarava tão atônito quanto eu naquele exato segundo. Mas assim que dei mais um passo para trás ele se apressou a se aproximar do cara que continuava falando coisas sujas e maldosas sobre mim para que todo mundo ouvisse.
– Escuta aqui seu filho da puta... – Jason o agarrou pela gola da camisa, empurrando-o contra os armários, o estrondo me fez estremecer e todas as risadinhas cessaram – Nunca mais toque nela, ou eu acabo com a tua raça!
Jason o empurrou outra vez, com ainda mais força, e todos os que estavam perto se afastaram assustados. Tudo o que eu consegui fazer naquele momento foi me virar, seguindo pelo corredor, enquanto ainda sentia poder mover as minhas pernas, que iam ficando mais pesadas a cada passada. Meu corpo estremeceu ao escutar um grito de dor ecoar, mas só continuei seguindo em frente, sentindo as batidas do meu coração em minha garganta, as lágrimas desciam queimando a pele do meu rosto. Quando minhas pernas começaram a falhar, eu me apressei a entrar em uma sala aparentemente vazia, e me sentei em uma das carteiras antes que tombasse ao chão. Quanto mais eu me afogava no meu desespero, mais aquelas imagens e comentários maldosos ecoavam em minha cabeça.
Você já se sentiu em queda livre? Como se do nada o chão sumisse debaixo de seus pés, e daí você só cai, esperando o momento de tocar o chão, mas ele não está lá. De repente ela aparece, a angústia, e rapidamente se espalha do seu peito para todo o seu corpo. Um sentimento de dor e impotência. O medo. Então você sufoca até transbordar em um choro incontrolável, se sentindo fraca e ridiculamente impotente, até se perder no espaço oco da sua queda idiota. Nenhuma palavra vem, seu cérebro trava e o som da sua alma é silenciado abruptamente. Já não me lembrava mais como era doloroso se sentir assim, frágil a ponto de quase me despedaçar.
Fui desperta com o som da porta ao se abrir, olhei assustada naquela direção, vendo Jason adentrar a sala. Tentei disfarçar o choro com a minha mão trêmula, e ele rangeu os dentes. Tudo o que eu menos precisava agora era de suas piadinhas. Queria mandá-lo embora, mas não conseguia dizer nada. Ele fechou a porta devagar, e jogou sua mochila sobre uma das carteiras, alcançando uma cadeira logo em seguida, a qual arrastou até parar em minha frente. Vi quando ele sentou ali, sem dizer absolutamente nada.
– O-o que você... – até minha voz saiu trêmula, e mais lágrimas rolaram pelo meu rosto.
Seu olhar veio a mim, mas Jason apenas negou com a cabeça, como se dissesse que eu não precisava falar nada agora. Eu assenti, tentando controlar meu choro, e ele continuou em silêncio, completamente quieto. Vi quando cruzou os braços, passando sua atenção para a parede branca ao lado. Tudo o que se ouvia era o som dos meus soluços. E se passaram longos minutos assim, nenhum de nós dois dizia nada para o outro. Acho que não era preciso.
De um modo estranho, a presença de Jason ali me deu segurança. Não por conta das pessoas terem medo dele, mas porque percebi que estava preocupado de verdade. Eu estava frágil, com medo e sozinha, mas ele veio e ficou comigo, só ficou, sem dizer nada. O Jason não era um cara mau, não como as pessoas falavam. Sei que era um estúpido às vezes, a maioria das vezes, mas ele se importava... Se importava quando as pessoas estavam vulneráveis, e isso era mesmo bom.
– Obrigada. – falei baixinho, depois de um longo tempo, então ele me encarou.
– Pelo quê? – Jason franziu a testa, e me toquei de que ele não fazia ideia do quanto a sua presença tinha sido importante para mim.
– Por ficar. – respondi, e respirei fundo, estava um pouco melhor agora.
– Você... quer almoçar comigo? – ele perguntou um tanto apreensivo.
Arqueei as sobrancelhas pelo seu convite inesperado, e acabei fitando-o por alguns segundos, o que pareceu lhe incomodar bastante. Mas no momento em que abriu a boca, eu assenti.
– Só... não faz piadinhas, por favor? – pedi não muito animada, e Jason pareceu surpreso com minha resposta.
– Certo. – vi quando ele se levantou, então logo fiquei de pé também.
Jason pegou sua mochila, se encaminhando até a porta, a qual abriu para mim. Dei um curto sorriso por educação, e passei para fora. O corredor já estava quase vazio agora, mesmo assim um arrepio me percorreu a espinha. Eu aguentaria todos aqueles julgamentos de novo?
– Fica tranquila. – Jason interrompeu meus pensamentos – Ninguém vai falar nada, nem chegar perto de você de novo.
– Como... como sabe? – encolhi um pouco os ombros.
– É sério? – ele franziu a testa – Lizzie, essa droga de colégio inteiro já deve estar sabendo que eu rachei a cara daquele palhaço por você.
– Isso não muda o que estão falando de mim. – cruzei os braços, numa tentativa de me manter firme.
– Muda sim. Ninguém é louco o suficiente para tocar em alguém que anda comigo. Eles tem medo de me deixar muito irritado. – Jason falou aquilo com extrema naturalidade.
– Como assim tem medo? – perguntei quando ele passou por mim.
– Ainda não percebeu? – ele continuou andando, então me apressei a alcançá-lo – Todo mundo aqui me olha com receio de que eu surte e mate o primeiro imbecil que cruzar o meu caminho. Isso... menos você. E a Christine, claro. Mas aquela ali... quando cisma, desconfio que até o diabo corre.
Isso me arrancou uma leve risadinha. Ele estava certo, Christine era assustadora quando queria ser. Mas eu nunca tinha parado para pensar que as pessoas temiam Jason, talvez porque ele não era assustador para mim. Levando em consideração a forma que nos conhecemos e tudo o que me falaram dele, era prudente sentir medo, mas eu realmente não sentia.
– Por isso me chamou para almoçar? – perguntei, virando com ele pelo corredor a esquerda.
– É. Quer dizer, também. – Jason desviou o olhar, metendo as mãos para dentro dos bolsos – Não acho certo te deixar sozinha, não enquanto estiver... assim.
Senti minhas bochechas esquentarem. Ele estava sendo tão bonzinho por me fazer companhia. Talvez não soubesse, mas isso era realmente importante pra mim. Não sei se eu teria coragem de sair daquela sala se não fosse por ele.
– Sr. Jason, que bom vê-lo. – ouvimos alguém falar na direção oposta a qual caminhávamos, o que nos fez se virar no mesmo instante – Posso saber o que estava fazendo para faltar a minha aula?
Era a sra. Lemoon, professora de literatura. Ela era uma senhorinha de seus sessenta anos, baixinha, toda gorducha e de cabelos branquinhos. Um doce de pessoa. Adorava suas aulas, talvez porque a alma dela era tão romântica quanto a minha.
– Ah, claro que sim. Eu faltei porque estava fumando um baseado lá fora. – Jason falou de uma vez, deixando a pobre mulher horrorizada.
– Mas o que... – a sra. Lemoon olhou dele para mim, depois voltou a encará-lo – Não pode faltar minhas aulas assim. Essa já é a terceira vez que lhe falo isso.
– E é a terceira vez que eu lhe digo que suas aulas são um tédio. – ele parecia mesmo não se importar com a expressão de choque no rosto dela – Agora se me der licença, eu preciso bater um rango.
– Me desculpe, ele não quis dizer essas coisas. – tentei contornar, extremamente sem graça, quando ele se virou seguindo em direção a cantina – E-eu... Isso foi muito grosseiro, me desculpe mesmo, Sra. Lemoon.
A pobre senhora apenas assentiu, ainda chocada com aquele garoto que ao menos se dava ao trabalho de medir o impacto de suas palavras sobre as outras pessoas. Não que fumar um baseado fosse uma coisa muito horrível, na verdade, era bem comum entre as pessoas da nossa idade, mas certamente não era para a professora. Fora o fato dele dizer explicitamente que suas aulas eram chatas. Isso tinha sido um tanto maldoso de sua parte.
Apressei o passo e consegui acompanhá-lo. Paramos em frente ao balcão para fazermos os pedidos. Jason parecia totalmente alheio com o que havia ocorrido lá atrás. Não queria dar uma de chata e repreendê-lo, pois ele estava sendo muito legal comigo, mas eu precisava dizer alguma coisa. Fizemos os nossos pedidos, e antes que eu pudesse ele pagou tudo. Então seguimos para uma das mesas lá fora.
– Você podia ter mentido, sabia? – falei ao vê-lo se sentar, e rapidamente seu olhar confuso recaiu sobre mim – Para a Sra. Lemoon, aquilo foi meio... rude.
– Ah, se foder! – ele rolou os olhos – Aquela velha é um saco. Quem diabos liga para poesia?
– Eu gosto de poesia. – aquilo saiu meio baixo enquanto eu também me sentava, sentindo alguns olhares em nossa direção.
Incômodo, preocupação? Talvez alguns... Mas o medo estava estampado na maioria das caras ali.
– Jordan também. – ele comentou e logo o seu olhar veio a mim novamente, como se estivesse checando se não havia falado alguma idiotice, mas eu lhe dei um curto sorriso – Mas você já deve ter visto o caderno de letras dele.
– Na verdade não. – fui sincera. Eu nem sabia que Jordan gostava de poesias.
Geralmente, quando nós saíamos conversávamos muito sobre mim, ele parecia gostar de me ouvir, mas talvez só não quisesse que eu o conhecesse tanto. Notei Jason ficar em silêncio de novo, sua expressão era fechada, do tipo que não dá para ler, acho que ele estava fazendo um esforço para estar ali, como quem não sabia se gostava do que estava fazendo. Ele não me perguntava nada, desconfio que nem se importava em me decifrar. Aquilo era diferente de quando eu almoçava com Jordan. Abri o meu suco, ouvindo o chiado da sua coca, quando ele puxou o lacre da latinha. Sem querer, acabei fixando o meu olhar naqueles dois hambúrgueres enormes em sua bandeja.
Na verdade, eu nem tinha percebido que olhava diretamente para a sua comida. Acho que no mesmo instante em que ele citou o nome do Jordan, senti vontade de lhe perguntar algo, mas estava receosa daquele assunto me deixar nervosa outra vez. Jason não tinha me perguntado nada sobre o que aconteceu para que eu pudesse me acalmar mais e esquecer de como me senti há pouco. Mas eu estava impaciente, precisava saber o que ele achava daquilo. Precisava saber se ele achava que o Jordan era capaz de fazer algo assim, mesmo que ele risse da minha pergunta.
– Jason... – chamei meio receosa, enquanto ele desembrulhava um de seus hambúrgueres, e rapidamente me olhou.
– O que é? Você não vai me pedir um pedaço, né? – sua voz saiu em um tom irônico, eu até achei engraçado, mas neguei rápido com a cabeça.
– Não é isso. – respondi, e ele arqueou uma sobrancelha – Você... já sabe o que estão falando de mim, não é?
– O que tem? – seu tom de voz mudou um pouco, me soando meio vago, como se não fosse nada importante, mas ele continuava me encarando.
– Acha... Por acaso, você acha que o Jordan disse isso? – perguntei, sentindo um nervosismo percorrer pela minha voz.
Jason ficou em silêncio por alguns segundos, me encarando fixamente, como quem pensa se deve responder ou ignorar. Achei que ele escolheria a segunda opção, mas seus lábios se moveram em sequência.
– Você acha? – ele respondeu com outra pergunta, me fazendo engolir em seco.
Aquela altura, eu desconfiava que não, pois não fazia sentido agora que Jordan estava com a Ashley, certo? Sei que eu tinha gritado com ele e ignorado todas as suas mensagens e ligações, mas a expressão no seu rosto mais cedo no campo de futebol... Jordan me pareceu triste, preocupado, talvez arrependido pelo que fez, mas eu estava mesmo em contradição agora.
– Eu não sei mais. – falei por fim, escutando Jason soltar a respiração com força, como quem o faz quando está incomodado.
– Não foi o meu irmão. – ele respondeu de uma vez, dando uma mordida no seu hambúrguer logo em seguida.
– Se não foi ele, então...? – perguntei em dúvida, Jason deu de ombros, mastigando.
Apertei meus dedos uns contra os outros abaixo da mesa, olhando para o meu prato. O meu coração gritava que Jason estava certo, mas a minha cabeça insistia em me alertar que se Jordan me usou para conseguir outra garota, ele podia claramente ter espalhado aquilo sobre mim. E o fato dele não ter me procurado depois disso, não que eu quisesse falar com ele, mas talvez se... se aquilo fosse mentira, talvez ele tivesse me procurado.
– Não vai comer? – ouvi a voz de Jason soar do outro lado da mesa.
– Acho... eu estou sem fome. – empurrei a bandeja para frente. Jason travou o maxilar, me lançando um olhar endurecido, como se me repreendesse.
– Você... – ele fez uma pausa, decidindo se devia ou não prosseguir – Garota, você é muito tonta, ou realmente não percebeu que Jordan não está na mesa dos jogadores?
Jason me pareceu chateado, mas automaticamente eu olhei para lá, por cima dos seus ombros, no mesmo instante Tayler e Noah desviaram o olhar. Jason tinha razão, Jordan não estava na mesa, ele não estava em nenhum lugar daquela cantina.
– Onde quer chegar? – voltei a encará-lo, mas agora ele mastigava novamente.
O vi assentir algumas vezes seguidas com a cabeça, tomando um pouco da coca para engolir. Então voltou a me encarar, com aquele olhar frio de quando o vi pela primeira vez na casa do Tayler, aquilo me incomodou um pouco, mas logo as palavras saíram pelos seus lábios.
– Estou dizendo que, se o Jordan tivesse dito essas coisas, agora estaria rindo com os caras naquela mesa, e bem... eu não estou escutando risada nenhuma de lá, e você? – ele falou com um certo incômodo em sua voz, empurrando a bandeja de volta para mim.
Acho que ele estava mesmo chateado, talvez por eu achar aquilo do seu irmão, ou só por ter que defendê-lo, já que ambos não se davam muito bem. Olhei em direção aos garotos do time outra vez e assenti para mim mesma, pegando o meu sanduíche na bandeja. Jason tinha sido legal de me chamar para almoçar, eu não queria lhe ofender e recusar a comida. O silêncio se instalou de novo entre nós dois e ele forçou um sorriso quando eu dei a primeira mordida. Não falamos muito depois disso, na verdade eu tentei ficar calada o máximo que pude, não queria chatear ninguém. Depois do almoço, as pessoas que antes pareciam estar rindo de mim, me olhavam com um certo receio, como se ainda estivessem me julgando, só que com medo de fazer isso em voz alta.
Não houve uma só piadinha ao meu respeito, durante ou depois do almoço, mas aqueles olhares ainda me incomodavam, não era nada legal se sentir julgada, principalmente por uma coisa que você não fez. Mas até que o Jason foi legal, pela primeira vez não fez nenhum comentário constrangedor, gostei disso. De alguma forma, era bom saber que ele não era nenhum monstro. No fim, o Jordan estava certo quando me contou sobre ele aquele dia na minha casa. De um jeito meio estranho, o Jason tinha o seu lado bom, só que ele parecia não gostar de usar, pelo menos não a todo momento, era como se aquilo exigisse muito dele.
– Então, o que vai fazer agora, Lizzie? – Jason chamou minha atenção assim que devolvemos as bandejas na cantina.
– Ah... tenho uma oficina de artes agora pela tarde. – rapidamente o respondi, e um sorriso cínico surgiu em seus lábios.
– Que coincidência... parece que vamos fazer monstrinhos de gosma juntos hoje. – ele me arrancou uma risada, estávamos na mesma turma, apesar dele nunca aparecer.
Suponho que Jason não gostava de comparecer nem às aulas obrigatórias, quanto mais as extracurriculares...
– Estamos na aula de biscuit, não é uma gosma. – o corrigi, após controlar meu riso, seguindo com ele para fora da cantina.
– Tanto faz. É tãaao empolgante. – Jason rolou os olhos – Preciso trocar os livros, ainda tô com os da velha Lemoon.
– Isso quer dizer que você vai ficar hoje? – arqueei uma sobrancelha, e ele riu fraco pelo nariz.
– É, tô louco pra fazer gosma amassada. – aparentemente seu humor irônico tinha voltado, eu gostava disso.
– E você pelo menos trouxe algum material fora o livro? – tentei controlar meu riso com a cara confusa que ele fez.
– Claro... que não. – acabamos rindo juntos, ao som do primeiro sinal da tarde.
– Você é tão... idiota e atrapalhado. – sacudi minha cabeça para os lados – Mas tudo bem, eu tenho o suficiente para dividir.
– Ah, você salvou minha vida, Lizzie. Acho que estamos quites agora. – reduzimos o passo ao chegarmos no corredor dos armários.
Ashley estava ali com algumas amigas, bem em frente ao armário da Dafne, que não ficava muito longe do meu, e assim que nossos olhares se cruzaram, o sorriso em meus lábios desapareceu. Ela nos encarava como se nossa presença a irritasse, e não pude deixar de notar que o bom humor de Jason pareceu descer pelo ralo em questão de segundos, então me lembrei do que disse mais cedo no campo "Se eu fosse você, ficaria mais atento com a vadia da Ashley". Ela e as amigas seguiram caminho quando ele abriu seu armário, e eu apertei a alça da minha mochila, sentindo minha língua coçar dentro da boca.
– Jason... – o chamei ao me certificar que não tinha mais ninguém por perto – Por que disse para eu ficar atenta com a Ashley?
– Porque ela não presta, Lizzie! – ele fechou o armário assim que trocou os livros e o segundo sinal bateu.
– Como assim? – franzi a testa, completamente confusa com aquela informação, e ele soltou o ar com força pelo nariz.
– Não sei se notou, mas eu não gosto de ficar respondendo perguntas a cada dois segundos. – Jason passou por mim, parecendo estar irritado.
– Desculpa. – o segui em direção a sala onde teríamos a oficina – Eu não...
– Tá. Eu conheço essa vadia muito bem, se quer saber. – ele me interrompeu, sem reduzir o passo, ou olhar em minha direção – É do tipo que manipula qualquer babaca como bem quer, e claro que estou falando do estúpido do meu irmãozinho também. Bom, pelo menos costumava ser assim antes... de você.
– O que você quer di...
– Chega de perguntas por hoje, Lizzie. – Jason se enfiou para dentro da sala, me impedindo de completar a pergunta, e o terceiro sinal bateu.
Engoli em seco, encarando a porta por alguns segundos, antes de segui-lo. Confesso que fiquei receosa de que tudo voltasse a ser como tivera sido pela manhã, mas tê-lo por perto, de alguma forma me deixava um pouco mais tranquila, apesar daqueles olhares a minha volta. Rapidamente tirei o material da mochila e segui até a carteira ao lado de Jason, onde me sentei e comecei a dividir. Ele não disse nada, na verdade, apenas desviou o olhar em direção a janela ao lado.
– Boa tarde, artesãos. – o professor Bartro falou animado ao adentrar a sala, e Jason riu pelo nariz – Prontos para pôr a mão na massa?
Todos responderam com um "Sim" meio aguado, exceto minha dupla, que só pelo leve sorrisinho sacana devia estar pensando em um monte de piadinhas maldosas, mas não disse nada. Logo o professor deu início a oficina, pedindo que modelássemos em biscuit algo de que gostávamos. No início, Jason nem olhou para o material que dividi com ele, mas talvez pelo fato de eu não ter tentado puxar conversa, de repende começou a trabalhar. Eu apenas sorri, continuando minha atividade, mas vi quando ele rolou os olhos.
Já estava quase no fim da oficina, quando um toque de celular soou estridente, tentei não olhar, só que a curiosidade não permitiu. Jason soltou os pincéis sobre a carteira e pegou o celular no bolso, consegui ver que no identificador aparecia "Allana", eu não fazia ideia de quem era, mas ele encerrou a chamada, se levantando apressado. Arqueei as sobrancelhas assim que o vi pegar a mochila, o professor se virou no intuito de repreendê-lo, mas ele nem se importou, apenas foi embora.
– Psss! – ouvi alguém fazer chamando a minha atenção, era a Emily – O que foi aquilo no almoço com o Jason?
Eu evitei olhar pela sala de aula desde que cheguei, concentrando a minha atenção na escultura de biscuit que fazia. Era um coelhinho, me inspirei no desenho que a Emy fez para mim. Mas a minha tentativa de ignorar aqueles olhares de julgamento, me fez até esquecer que ela também estava ali.
– Ah, ele me chamou. – sussurrei de volta, sentindo o seu olhar preocupado.
– Tá todo mundo falando que ele agrediu um cara hoje. – ela disse baixinho, eu assenti.
– Emily, estavam falando de mim pelos corredores. – olhei em direção ao professor, que ainda estava do outro lado da sala, observando o projeto de alguns alunos – Ele só quis me ajudar.
– Te ajudar? Ele bateu em uma pessoa, Lizzie! – ela parecia não saber do que se tratava.
– Alguém espalhou um boato, Emy... uma coisa ruim sobre mim. E os caras começaram a me assediar nos corredores. – expliquei sentindo um nervosismo me invadir novamente, ao lembrar daqueles sorrisos maldosos me perseguindo.
– Lizzie, eu sinto muito. – ela disse e eu assenti, tentando espantar aqueles pensamentos, não queria sentir tanto medo de novo.
– Na próxima aula nós... – o professor foi interrompido pelo soar estridente do sino da saída e todos se levantaram, então comecei a juntar as minhas coisas.
Olhei para o lado, em direção a carteira de Jason, era a única onde ainda tinham alguns materiais espalhados, junto a escultura que ele fazia, "Monstrinhos de gosma", ri fraco ao me lembrar de nossa curta conversa agradável. Sua escultura era um pequenino par de luvas de boxe, não muito bem moldado, mas pelo que conhecia do escultor impaciente, até que estava bom, sorri enquanto recolhia tudo, guardando cuidadosamente em meu estojinho, pois a tinta ainda estava meio mole.
– Você... quer conversar sobre o que aconteceu, Liz? – perguntou Emily, quando ficamos de pé, mas eu neguei com a cabeça.
Não sei se conseguiria lhe explicar tudo, como fiz para o Dylan mais cedo, não sem cair no choro e eu não queria me descontrolar outra vez. Ela pareceu ter entendido, porque não insistiu que eu lhe contasse sobre o que tinha acontecido, mas notei seu olhar preocupado enquanto saíamos da sala juntas.
– O que acha de irmos para a minha casa amanhã após a aula? – ela perguntou enquanto caminhávamos pelo corredor – Posso chamar o Dylan, a gente assiste as Kardashian's e joga conversa fora, como fizemos antes do natal.
– Me parece uma boa ideia. – dei um leve sorriso, ela estava tentando me animar – Emy, você pode me dar uma carona hoje?
– Claro. – respondeu ela, virando comigo pelo corredor.
– Obrigada, eu só... Me espera pegar o livro de química? – perguntei me lembrando do trabalho e ela arqueou a sobrancelha.
– Ai, esses malditos trabalhos... – ela rolou os olhos – Eu vou com você, preciso pegar o meu livro também.
– Certo. – dei uma risadinha pela cara de decepção dela, então voltamos pelo corredor.
– Você conseguiu pegar os passos novos da Christine? Porque olha... eu estou com dificuldade e sei que ela vai pegar no meu pé quando voltar de viagem. – ela disse em um suspiro que me fez rir, eram mesmo um pouco difíceis.
– Eu também achei meio... – parei de falar ao ver algumas pessoas próximas ao meu armário – O que tá acontecendo?
– Liz, espera? – ouvi a Emily falar, vindo atrás de mim quando apressei o passo.
Eles me encararam, dando umas risadinhas. Cerrei os punhos, passando por entre aquela gente, em direção ao meu armário que estava todo melado de alguma coisa branca gosmenta, talvez fosse cola, mas estava realmente parecendo outra coisa... no centro havia escrito em letras grandes e maiúsculas, num tom vermelho sangue, a palavra "VADIA".
Senti as lágrimas chegarem em meus olhos, com aquelas risadinhas maldosas de novo atrás de mim. Percebi a Emily ao meu lado, me olhando com extrema preocupação e engoli em seco, limpando as lágrimas rapidamente com as costas da mão. Tentei ignorar aquela gente toda e caminhei até o meu armário, eu só precisava pegar o meu livro e ir embora daquela merda de colégio.
– Lizzie... – Emily se aproximou enquanto eu destrancava a porta, com raiva de tudo aquilo, mas eu não a respondi, acho que eu não conseguiria falar nada sem cair no choro.
Puxei a porta, tomando um susto com a quantidade de preservativos que caíram aos meus pés, em meio as altas risadas de todo mundo naquele maldito corredor. Senti uma queimação subindo pela minha garganta, olhando para o chão, encarando todas aquelas camisinhas cobrindo os meus pés, enquanto tentava me manter firme, mas quando começaram a zoar, fazendo alusões a gemidos e batendo nos armários, senti como se estivesse desabando de novo. Olhei para o lado e Emily me puxou para um abraço.
– MAS O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? – ouvimos uma voz forte soar pelo corredor, a qual fez calar todos os berros e piadinhas.
Virei o meu rosto para ver quem era, avistando um homem alto e magro, vestido em seu paletó impecável. Suas mãos se apoiavam na cintura e seus olhos quase saltavam por detrás das lentes do óculos. O seu olhar ameaçador varreu todo aquele corredor, até recair sobre mim. Ele deu alguns passos em minha direção, me fazendo engolir em seco, à medida que eu tentava segurar as lágrimas.
– Diretor Hendrik? – Emily pareceu assustada e me dei por conta de que ainda não o tinha conhecido.
[...]
🍁. Gente, Jason surpreendeu ou não? kkkkkk
🍁. Tadinha da Liz. Será que é mesmo o Jordan que está fazendo isso? 😳😳
🍁. Não esqueçam de apertar na estrlinha, ajuda muuuuito. Até o próxiimo capítulo 😘
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