16. Um Coração Partido
"Você me deixou em pedaços, brilhando como estrelas e gritando..." – The heart wants what it wants, Selena Gomez.
Prometi para mim mesma que não iria chorar, nem me importar com o Jordan e a Ashley. Então quando saí daquele camarim, tentei apenas levar o musical numa boa, nenhum dos meus amigos merecia que eu fizesse o contrário, ou que estragasse as coisas. Tive sorte que o primeiro ato era meu, com Christine e Emily, o que não deu espaço para ninguém vir atrás de mim, ou tentar falar comigo.
Engoli o choro ao subir com as meninas no palco, e de um jeito leve, cantar e dançar aquela melodia serviu para me distrair da minha melancolia idiota. Me sentia absurdamente estúpida por estar triste num dia tão alegre para todo mundo. Depois do primeiro ato, Jordan e Ashley mal saíam do palco. E sempre que isso acontecia, eu dava um jeito de me esconder por trás do cenário, onde ficava conversando com a Rose que cuidava da iluminação.
– Você e o Jordan brigaram? – ela perguntou ao trocar a luz amarela pela azul.
– Quê? – fingi não entender e ela arqueou as sobrancelhas, me encarando.
– Você sabe... por que está fugindo dele, Liz? – Rose cruzou os braços, parando bem a minha frente.
– Não estou fugindo de ninguém. – menti, forçando um curto sorriso – Mas e você, por que saiu da cantina daquele jeito mais cedo?
– Não sei do que... do que está falando. – Rose quase gaguejou, e notei que perdeu pelo menos um tom de pele – Eu só... tinha esquecido uma coisa.
– Tá, se não quer contar, tudo bem. Mas é péssima mentindo. – dei um sorrisinho para amenizar o clima, não queria deixá-la nervosa.
– Eu sei. – Rose soltou a respiração com força – Mas é que...
– Lizzie! O que está fazendo, caramba? – a voz de Christine interrompeu nossa conversa – Vem logo. O nosso último ato é em dois minutos!
– Ah, claro. – falei envergonhada. Por um segundo esqueci que tínhamos mais uma cena, a pior de todas nessa situação, posso dizer – Continuamos essa conversa depois tá, Rose?
Ela concordou com a cabeça, suas bochechas estavam vermelhinhas como um tomate, o que me fez sorrir leve ao abraçá-la.
– Ai, vamos logo! – Christine me puxou pelo braço – Se quer brincar de pique-esconde com o Davis, tudo bem. Mas não mela tudo, florzinha.
– Desculpa, mas pode só me ajudar a colocar minha máscara? – pedi assim que ela me soltou.
– Não tem que usar... – estendi a máscara em sua direção, e ela respirou fundo ao pegá-la – Tá. Tudo bem. Vira, dear?
– Obrigada. – forcei um sorriso, e me virei um pouquinho de lado por conta das asas.
– Eu sei o que a Ashley está fazendo. Não cai na dela, tá legal? – Christine amarrou a máscara bem firme – O Davis está mesmo a fim de você. É a primeira vez que vejo ele se esforçar por alguém nessa droga de colégio.
Ouvir aquilo fez meu peito arder por dentro. Queria acreditar que era verdade, mas acontece que a Ashley nem sabia que eu estava lá no camarim quando entrou com a Dafne e falou aquelas coisas sobre ela e o Jordan.
– Obrigada, Christine. – espantei as lágrimas que insistiam em chegar, resolvendo não aprofundar aquele assunto.
– Vamos, é agora. – ela me deu um curto abraço, e notei que a Emily já subia os degraus.
Lhe acompanhamos rapidamente. Dylan prendeu o cabo nas nossas asas e fomos puxadas para o alto. Tomamos nossa parte na música, enquanto as luzes centrais reduziam, e as amarelas que eram direcionadas a nós três produziam um brilho angelical. Giramos simulando um voo em direções distintas no palco, até que o vocal das meninas reduziu o tom, deixando minha voz sobressair por entre a delas.
Pisei ao chão, ainda de frente para a plateia, onde fiz alguns passinhos, me livrando do cabo ao mesmo tempo em que cantava solo. As luzes tornaram a aumentar quando os cabos das meninas foram puxados de volta para trás do cenário, então me virei para o casal, o qual os movimentos haviam sido "pausados". Preparei meu arco em direção a Jordan que me encarava mais do que deveria na cena. Na verdade, era para ele olhar para a Ashley enquanto eu os flechava, mas não foi assim que aconteceu.
Engoli amargo aquela sensação ruim que subia pela minha garganta, só Deus sabe o quanto era difícil fingir que estava tudo bem e seguir como planejado agora. O painel com o efeito da flecha se acendeu, e finalmente abaixei o arco, girando para completar o meu último ato. Contudo, antes que eu pudesse sair do palco para os bastidores, Jordan alcançou o meu pulso, me fazendo olhar profundamente em seus olhos, os quais me pareciam tão tristes quanto os meus agora.
– Me solta! Não tem isso... Me larga agora! – sussurrei muito nervosa.
– Liz, eu...
Ashley começou a cantar sua parte, nos causando um curto susto, e me soltei do Jordan em um solavanco, me apressando a sair de cena. Minha respiração estava pesada, e meus batimentos acelerados. Ele já tinha conseguido o que queria, Ashley estaria em sua cama depois da peça, então por que merda continuava vindo atrás de mim? Será que queria se desculpar por ter me enganado tão terrivelmente? Bom, eu não precisava das suas desculpas.
– Ai, você foi ótima, Liz. – Dylan me recebeu com um abraço, Emily e Christine se juntaram.
Mais uma vez engoli o choro, retribuindo o carinho de cada um deles. Depois todos nos direcionamos para o lado do palco para agradecermos a plateia no final. Me desfiz da máscara, e acabei me distraindo numa conversa com a Emily sobre o Noah, eles eram muito fofinhos um com o outro. Mas assim que a plateia começou a bater palmas, olhei em direção ao palco, a tempo de ver o Jordan beijar a Ashley na frente de todo mundo.
Nesse exato segundo, meu coração ficou pequenininho dentro do peito. Algo lá no fundo ainda queria acreditar que era mentira, porque eu achei que ele gostasse de mim, e me permiti se apaixonar mesmo com tantos avisos. Mas aquilo... Um nó se formou na minha garganta e as lágrimas que tanto espantei a noite inteira chegaram com força aos meus olhos. Passei por entre os outros personagens que seguiam para o palco, sentindo o meu choro vir. Desci as escadas aos prantos, saindo pelos fundos.
Olhei de um lado ao outro, um tanto perdida, ao mesmo tempo em que uma lufada de vento gélido me golpeava, fazendo meus cabelos esvoaçarem, e as penas da minha enorme asa tremerem. Então ouvi a porta abrindo de novo, e um forte arrepio me correu pela espinha. Me virei apressada, avistando Emily passar para fora. Seu olhar estava banhado de preocupação. Ela se aproximou rápido de mim e me abraçou com força, sem dizer nada. Não era preciso.
– Por que, Emy? Por que ele fez isso comigo? – perguntei entre soluços pesados, e ela rompeu o abraço, me segurando pelos ombros enquanto me olhava tristonha.
– Não fica assim, Liz. Não chora, deve ter sido um improviso. – ela tentava justificar para me acalmar.
– Não foi isso. O Jordan quer transar com a Ashley, Emily! – minha voz soou embargada, à medida que o choro se intensificava – E-eu ouvi... Ouvi tudo no camarim.
– Do que está falando? Como assim? – a vi franzir a testa, um tanto embaralhada pela informação repentina, e eu fechei os olhos com força.
– Eu estava nos fundos do camarim, quando... quando escutei ela dizer isso para a Dafne. – meus soluços cortaram a fala algumas vezes.
Emily me abraçou de novo.
– Deve ter sido só mais uma provocação da Ashley, Liz. – ela seguia tentando me acalmar, mas eu neguei com a cabeça.
– Não foi. – funguei com o nariz, abrindo os olhos outra vez – Eu achei... achei mesmo que ela estivesse me provocando esses dias, mas hoje... Emy, ela nem sabia que eu estava lá atrás.
– Ainda acho que tem uma explicação. – disse Emily, e ouvimos o ranger da porta outra vez.
Jordan passou por ali, me encarando extremamente preocupado, então acabei me soltando da Emily para descer os degraus depressa. O que diabos ele ainda queria vindo atrás de mim depois daquilo? Será que não já tinha me torturado o suficiente essa noite? Devia mesmo ser divertido para ele brincar com os meus sentimentos.
– Lizzie, deixa eu te explicar? – Jordan alcançou um dos meus braços, antes mesmo que eu descesse o último degrau.
– Me solta! – dei um solavanco com força, mas ele me agarrou pela cintura evitando que eu desabasse no chão.
– Eu não sei o que deu na Ashley, mas...
– CHEGA! – gritei entre as lágrimas, o empurrando para longe.
– Amor... – Jordan segurou minha mão, e eu o encarei furiosa – Não foi minha culpa.
– Me deixa em paz! – me livrei de seus toques de novo, dando alguns passos para trás.
No mesmo instante, vi Emily se aproximar.
– Lizzie, por favor... me escuta? – ele tentou me puxar outra vez, mas recuei um pouco mais.
Depois daquela cena ridícula no palco, eu não queria ouvi-lo, não queria nem mesmo olhar na sua cara.
– Deixa ela respirar um pouco, você pisou na bola, Davis! – ouvi Emily falar ao passar por ele – Vamos, Liz, vou te ajudar a limpar essa maquiagem.
– Eu só quero conversar com ela. – insistiu Jordan, fazendo menção de nos seguir – Me deixa se explicar?
– Esse não é o momento certo. – Emily o encarou furiosa – A Liz precisa esfriar a cabeça, deixa ela em paz, tá legal? Não adianta conversar assim.
Ela passou o braço por cima dos meus ombros, me puxando para junto de si, enquanto me conduzia para longe dele, que cessou os passos parecendo finalmente desistir. Não olhei em sua direção nem mesmo uma única vez sequer, tudo o que eu mais queria era arrancar aquela maldita dor do meu peito. Me sentia uma tonta por ter acreditado que era de verdade, que alguém como o Jordan se apaixonaria por mim e que teríamos um romance como os que eu lia tão desesperadamente nos livros. Nesse ponto, estava começando a acreditar que o idiota do Luke devia ter razão, eu nunca viveria algo assim, porque esse tipo de coisa não existia na vida real.
Encostei minha cabeça no ombro da Emily, deixando as lágrimas correrem soltas, ela apenas me apertou mais naquele abraço, caminhando bem devagar comigo para não tropeçarmos em nada naquele escuro. Visto que, a essa altura, os corredores do colégio já deviam estar tomados pelos alunos e seus familiares, acabamos dando a volta em direção ao ginásio de natação. Aquela área era um pouco mais afastada, e por isso seria mais difícil darmos de cara com alguém indesejado durante o percurso. Era melhor assim, eu não queria que mais ninguém me visse naquele estado, seria vergonhoso demais.
Contudo, depois que adentramos o enorme ginásio, paramos antes mesmo de alcançarmos as piscinas, pois havia alguém sentado mais ao longe. Cerrei os olhos para conferir melhor e, quando Jason percebeu nossa presença, rapidamente virei a cara, desejando que um buraco se abrisse embaixo dos meus pés e me engolisse logo de uma vez. Infelizmente não foi o que aconteceu, então implorei em silêncio para que ele não fizesse nenhuma piadinha as minhas custas e, parecendo ler meus pensamentos, tudo o que fez foi voltar a encarar a piscina a sua frente.
– Vem, Liz, vamos para o vestiário feminino. – Emily me puxou na direção contrária.
Ao me virar com ela, ouvi o soar de um barulho metálico, como o de um isqueiro acendendo, e olhei por cima do ombro, mas não consegui ver muito. Jason estava de costas, sentado na beira de uma piscina, com os pés mergulhados para dentro da água, e não parecia nem um pouco a fim de saber o que estava acontecendo. Aquele barulho se repetiu mais vezes, e tive certeza de que ele tentava acender um cigarro, era mesmo a sua cara. Tornei a olhar para frente, adentrando o vestiário junto com a Emily.
– Olha, não fica assim, tá legal? – disse ela, em tom baixinho, para que só eu escutasse – Não sei o que merda deu na cabeça do Jordan. Você é muito mais do que ele merece.
– Não quero... Eu não quero falar sobre ele, Emy. – solucei baixinho, e ela assentiu.
Nos sentamos num dos bancos de madeira encostado na parede, onde apenas ficamos em silêncio por longos minutos, esperando o choro preso em meu peito esvair por completo. Emily não saiu do meu lado nem por um segundo, ela me abraçava tentando me acalmar, e acho que estava grata por tê-la como amiga num momento difícil como esse. Quando finalmente as lágrimas cessaram, ela me ajudou a se livrar das asas que estavam um tanto amassadas, algumas penas até tinham caído. Bom, pelo menos o musical do Dylan já tinha sido apresentado.
Também lavamos toda a maquiagem borrada do meu rosto, o que de alguma forma me fez se sentir um pouco mais leve. Então nos sentamos no chão daquele vestiário, e a Emily me deu alguns conselhos, tentando me animar a todo tempo. Acho que nunca ninguém tinha sido tão legal assim comigo antes, nem mesmo a May que, apesar de ser minha amiga de infância, também era muito desligada para essas coisas. Mas acontece que era mesmo difícil lembrar que o Jordan não teve escrúpulos de me usar para conseguir a Ashley de volta.
Ver o beijo dos dois me machucou tanto, foi como sentir o meu coração se partindo em milhões de pedacinhos. Tentei esquecer, ocupar minha mente com outras questões, só para convencer a Emily que uma hora ficaria tudo bem. Bom, cedo ou tarde precisava ficar. Ela saiu apenas para se trocar e pegar as minhas coisas, porque eu não queria topar com eles, mas tinha que ir embora. Meus pais deviam estar preocupados atrás de mim aquela altura. Acabei ficando sozinha por um tempo, e andava de um lado para o outro naquele vestiário, quase furando um buraco no chão com os pés.
Abracei os meus braços, encarando o meu reflexo no espelho, e pude sentir o nó em minha garganta crescer, quase me roubando todo o fôlego. Meus olhos arderam de novo, mas neguei com a cabeça e resolvi checar se a Emily já estava voltando. Empurrei a porta com calma, afinal não queria dar de cara com ninguém indesejado. Notei então que o Jason permanecia sentado exatamente no mesmo lugar que estava quando nós duas chegamos, e isso devia ter pelo menos uns trinta minutos. Ri fraco pelo nariz, ao vê-lo soprar a fumaça para cima, devia estar numa brisa e tanto.
– Você... viu a Emily? – perguntei baixo, me aproximando em passos lentos.
– A sua amiga saiu apressadinha faz uns minutos. – respondeu ele, sem mostrar muito interesse.
Para ser honesta, nem sequer me olhou, o que me fez questionar em silêncio se não estava chateado comigo pelo recente episódio no armário de vassouras... Bom, talvez eu que devesse estar, já que aquele idiota quase me beijou lá dentro, mas esse não era o caso. Apenas acenei com a cabeça em confirmação, e o vi voltar a tragar o seu cigarro. Olhei em direção ao vestiário feminino, tendo a certeza de que não queria ficar sozinha lá dentro de novo. Não que conversar com o Jason fosse ser melhor que isso, só não dava para ser ainda pior. Respirei fundo, me aproximando um pouco mais.
– Preciso trocar de roupa, e a Emy foi... – paralisei por um ou dois segundos, quando ele me olhou por cima do ombro – Ela foi buscar as minhas coisas.
– Podia ficar com essa. Você está muito sexy assim. – ele mediu o meu corpo com os olhos, fazendo uma curta pausa em meus seios, antes de voltar a me encarar.
Senti as minhas bochechas esquentarem violentamente no mesmo instante. Jason pareceu perceber que havia me deixado sem graça, então voltou a tragar o cigarro mais uma vez.
– Isso é maconha? – tentei puxar assunto, me sentando ao seu lado, ele soprou a fumaça para frente, assentindo.
– Que foi? Quer dar um trago, Lizzie? – sua voz soou risonha, e o encarei com uma certa incredulidade estampada em minha face – Ajuda a relaxar. Não... eu não vou te cobrar.
Jason estendeu o cigarro em minha direção, mas eu rapidamente neguei com a cabeça.
– Não, obrigada. – rolei os olhos, passando a encarar a água azulzinha da piscina.
Eu nunca tinha "dado um trago" em um cigarro antes, ainda mais um cigarro de maconha, essa não era bem a minha praia, sem contar que os meus pais me matariam se apenas sonhassem comigo fazendo isso.
– Tá. – Jason deu de ombros, continuando a fumar, assoprando a fumaça para cima e para frente. Até que o encarei novamente – O que foi, mudou de ideia?
– Não, só... por que voltou para o colégio? – não posso negar que estava mesmo curiosa em saber – Me disseram que largou tudo no último semestre.
– Ah, não sei... Bateu saudade dos meus amiguinhos, sem falar dos professores. Eu amo esse lugar. – o sarcasmo presente em sua voz era tão forte, que até quem não o conhecesse notaria de cara.
– É sério, por que voltou? – insisti, agora um tanto mais risonha.
– Você quer mesmo a verdade? – suas sobrancelhas arquearam.
– Por favor? – pedi.
– Só estou dando um tempo dos negócios, Lizzie. Às vezes é necessário esperar a poeira abaixar. – Jason finalmente foi sincero, mas não sei se entendi muito bem aquilo.
Contudo, decidi não me estender muito no assunto, pois notei que não era algo de que o Jason se sentisse confortável em falar, ao menos não comigo. E não queria irritá-lo, ou brigar com ele outra vez.
– Esperar a poeira abaixar... Tá bom. – assenti para mim mesma – Agora, mudando um pouco de assunto, você não está chateado comigo?
– Por que eu estaria? – o vi cerrar o cenho.
– Não sei, talvez por aquilo no armário de vassouras. – dei de ombros.
– Ah, aquilo... – Jason encaixou o cigarro entre os lábios, dando uma longa tragada – Olha, não pilha com isso.
– Tem certeza? – indaguei, lhe arrancando uma leve risada.
– Você tá ligada que eu estou na maior brisa aqui, não é? – ele sacudiu a cabeça – Pode ser que eu nem saiba o que estou dizendo agora, quanto mais ter certeza de alguma coisa.
– Eu aposto que sabe exatamente o que está falando, só não quer admitir que está sendo legal comigo. – o encarei.
– Ah, eu só estou fumando um. Se você chama isso de ser legal... então eu sou mais legal do que pensava. – Jason me encarou de volta, me arrancando um sorriso fraco.
– Não é só isso. Notei que apesar do episódio no armário de vassouras, você não me ofendeu nenhuma vez hoje. Acho que já é um começo. – ele ficou calado por um segundo ao me ouvir, voltando a encarar a água azul na piscina à nossa frente.
– É que... Eu não quero tomar outro tapa daqueles e, bem... Dá pra perceber que você está mal hoje. – respondeu ele, sem deboche.
Senti meus olhos arderem, mas não queria que ele pensasse que eu era uma chorona, então apenas recostei minha cabeça em seu ombro, fugindo um pouco do campo de sua visão.
– O mais engraçado nisso, – falei baixinho, tentando espantar as lágrimas – foi você ter sido o único a perceber.
– Qual é? O Jordan também percebeu. Ele estava todo tenso hoje. – Jason parecia não se importar muito, e eu respirei fundo, tentando me controlar.
– O Jordan está com a Ashley. – aquilo saiu mais baixo do que eu esperava, mas percebi que o Jason quase se engasgou com a fumaça – Você estava certo no fim das contas, eles até se beijaram no palco.
– Ah, então eles se beijaram? – por algum motivo, ele não pareceu surpreso com aquilo, mas assenti mesmo assim – Entendi.
– Não vai fazer nenhuma piadinha idiota? – me ajeitei melhor, mergulhando meus pés na piscina.
– Não, eu não faria isso. – negou risonho – Mas já que perguntou, me ocorreu uma dúvida... Se aquele ditado sobre quem avisa, for pra valer, quer dizer que somos amigos agora?
Jason fez um trocadilho com o ditado conhecido "Quem avisa, amigo é", e eu cerrei os olhos incrédula, tratando logo de desencostar a minha cabeça do seu ombro.
– Você não presta. – fingi estar ofendida.
– Não, eu realmente quero saber. – ele riu anasalado – Dá pelo menos pra ser amigo com benefício? Parece mais divertido.
– Cala a boca, seu idiota! – acabei o empurrando com mais força do que o esperado, o que aparentemente lhe fez se desequilibrar me puxando junto – AAAAA!
De um segundo para o outro, o silêncio naquele enorme ginásio foi interrompido pelo choque abrupto dos nossos corpos afundando na piscina. Fechei os olhos com força, prendendo a minha respiração quando a água gelada cobriu minha cabeça, então senti Jason soltar o meu braço e me adiantei a emergir com ele. Tossimos algumas vezes pelo susto inesperado, até que finalmente o encarei, constatando que o seu semblante não estava nada bom. No entanto, não consegui conter a risada presa em meus pulmões.
– Se foder! Está achando isso engraçado? – se queixou ele, completamente desacreditado.
– Você está tão chapado que não aguentou um simples empurrãozinho? – desdenhei, ainda em risadas.
– Empurrãozinho? – questionou indignado – Pareceu mais que você queria me afogar, isso sim.
– Não seja tão dramático. – rolei os olhos – Até parece que é feito de açúcar.
– Não sou, mas aposto que você é bem docinha. – comentou Jason, e notei um discreto sorriso sacana surgir no canto dos seus lábios.
– Isso não tem graça. – senti minhas bochechas esquentarem ao vê-lo se aproximar.
– Ah, perdeu a graça agora? – seu rosto praticamente se emparelhou com o meu, e esbarrei numa das bordas ao tentar nadar para trás.
– Jason...
– Relaxa, eu só estou curtindo com a sua cara. – ele riu divertido, tornando a se afastar – Vem, vamos sair, a água está um gelo.
Ao vê-lo se virar, soltei a respiração com força, me permitindo achar graça outra vez, não sei explicar o quão desconcertada ficava quando o Jason chegava tão perto assim. Era estranho. Balancei a cabeça para os lados, a fim de não pensar muito sobre isso, e passei a destra pelos meus cabelos, afastando as mechas coladas em meu rosto. Depois o segui para fora da piscina, pois a água estava mesmo muito gelada. Jason disse que havia camisas e algumas toalhas limpas em seu armário no vestiário masculino, então o acompanhei até lá, tiritando de frio pelo caminho.
Apesar de só ter nós dois naquele enorme ginásio, fiquei meio receosa de entrar com ele ali, mas a baixa temperatura corporal falou mais alto. Como prometido, ele me cedeu uma das suas camisas e toalhas secas, então corri logo para um dos box para me secar. Comecei pelos cabelos, os quais escorriam água para todo lado, e após finalmente prendê-los para dentro de uma das toalhas num coque, decidi me livrar da fantasia que não estava lá numa situação muito diferente. Eu só não contava com um único detalhe, o maldito zíper que parecia ter emperrado.
– Jason, será que você pode me ajudar aqui? – passei a cabeça para fora do box, e senti as maçãs do rosto esquentarem ao vê-lo completamente pelado no meio do vestiário.
– Caralho! – ele rapidamente cobriu o seu pênis com a toalha que usava para secar os cabelos, e eu bati a porta do box com força.
– Desculpa. – encolhi os ombros envergonhada – É que o zíper da minha fantasia emperrou.
– Tá, deixa eu ver? – notei sua voz se aproximar.
– Você já se cobriu? – questionei, só para checar.
– O que você acha? – sua pergunta já meio que era uma resposta, então concordei com um aceno.
Sem dizer mais nada, abri a porta, e Jason se apressou para dentro com uma toalha presa em volta da cintura. Lhe dei as costas, enquanto encarava a parede branca do box, sem saber ao certo se aquela situação conseguia ser ainda mais embaraçosa. Segurei firme no decote da fantasia, temendo que ela escorregasse para baixo, e senti os pelos da nuca eriçarem quando os seus dedos tocaram o zíper aparentemente emperrado, o qual forçou umas três vezes até finalmente conseguir descer.
"Não vou fazer nada que você não queira...", algumas lembranças invadiram os meus pensamentos, fazendo uma corrente de energia me transpassar, o que Jason pareceu perceber ao se aproximar inalando o perfume em minha pele. Apertei mais a fantasia contra os meus seios para que não ficassem amostra, e o encarei por cima do ombro. Quando o seu olhar encontrou o meu, sorri agradecida e o vi assentir antes de se afastar, não se demorando a sair. Então, voltei a fechar a porta do box, tratando logo de me livrar daquela fantasia ensopada de água, assim bem como da minha roupa de baixo.
Resolvi tomar um banho, por causa de todo o cloro da piscina e, no box ao lado, Jason fez o mesmo. Era isso, ou ficar com a pele toda grudenta quando secasse. Por sorte, a água quentinha do chuveiro estava numa temperatura agradável, mas enquanto me ensaboava me peguei olhando fixamente para a parede ao lado. No fim das contas, acho que ele não era tão ruim assim. Depois de me secar, soltei os cabelos, apanhando a camisa que o Jason havia me emprestado, a qual me pus a vestir, passando as toalhas por cima dos ombros a fim de me aquecer melhor.
– Você já terminou aí? – ouvi sua voz rouca soar do outro lado da porta, e me virei apressada.
– Ah, sim. – respondi, passando os dedos pela tranca.
No entanto, a recente imagem do Jason completamente nu, surgiu em meus pensamentos, me causando um estranho arrepio pelo corpo. Aquilo foi o suficiente para me fazer pausar os movimentos por alguns segundos, me questionando se a essa altura ele já devia estar vestido... Bom, tentei me convencer que sim, antes de abrir a porta outra vez e vê-lo sentado no banco de madeira mais à frente. Como imaginei, ele usava uma calça moletom, com as toalhas largadas por cima dos ombros e seus cabelos úmidos bagunçados.
– Parece que a minha camisa serviu... – seus olhos me fitavam de cima a baixo, sem ao menos disfarçar – Muito bem, por sinal.
– Só ficou um pouco grande, mas tudo bem. – forcei um sorriso, sentindo minhas bochechas enrubescerem – Obrigada.
Jason não disse mais nada, apenas concordou com um leve aceno de cabeça antes de se levantar daquele banco, se aproximando lentamente de mim. Engoli em seco, tentando disfarçar o meu nervosismo enquanto ajeitava melhor as toalhas em meus ombros, as quais apertei firme ao vê-lo parar poucos centímetros a minha frente. Meu olhar se encontrou ao seu outra vez, e senti meu rosto inteiro esquentar de vergonha, sem que ele precisasse fazer nada mais do que me encarar em completo silêncio.
Encolhi os ombros ao perceber sua destra se erguer, e Jason se apressou em pausar o movimento por uns poucos segundos antes de tocar meu rosto delicadamente com os nós dos dedos, afastando uma mecha de cabelo para trás da minha orelha. Nesse instante, seus olhos cor de mel mergulharam nos meus, e senti um leve tremor nas pernas, mas por sorte ele pareceu não perceber. Acho que era melhor assim. O vi dar mais um passo à frente, quase emparelhando nossos corpos, enquanto seu polegar acariciava a minha bochecha devagar, e acabei sorrindo doce.
– Você fica bem melhor assim, Lizzie. – disse ele, cessando as suas carícias.
– Do que está falando? – franzi a testa.
– Não quero mais te ver chorar. – sua resposta me pegou de surpresa – As lágrimas roubam todo o brilho dos seus olhos, e isso não combina com você.
– E-eu...
– Não tem que dizer nada. – o vi negar com a cabeça – Eu só quero que saiba que ninguém vale o seu sofrimento, muito menos o fodido do Jordan. Ele não reconheceria a preciosidade de um anjo nem mesmo se testemunhasse a sua queda com os próprios olhos, então não volte a chorar por aquele imbecil.
– Lizzie?! – ouvi a voz da minha mãe ecoar no ginásio lá fora, e estremeci num susto.
– Filha, onde é que você está? – foi a vez do meu pai me chamar, e temi que eles entrassem no vestiário.
– Eu preciso ir. – falei baixinho – São os meus pais.
– Tudo bem, eu te acompanho. – Jason deu um passo para trás, e segurei em seu braço num impulso.
– Lizzie, está tudo bem, pode sair de onde estiver. – escutei a voz do meu tio, o que conseguiu me deixar ainda mais apreensiva.
– Olha, eu tenho mesmo que ir, mas você não pode sair agora. – falei rápido, e Jason franziu a testa sem entender nada – Por favor, não sai do vestiário até não ter mais ninguém lá fora?
– Por quê? – perguntou confuso.
– Eu te explico depois, pode ser? – pedi nervosa.
– Tá! – ele concordou contrariado, e soltei o seu braço.
Não queria que o meu tio descobrisse algo sobre o Jason que pudesse de alguma forma complicar as coisas e, por ora, manter os dois longe era o melhor a se fazer.
– Obrigada... – me despedi uma última vez, antes de sair daquele vestiário.
– Querida, onde você se meteu? – minha mãe foi a primeira a me avistar, e notei que segurava minhas roupas, as quais Emily havia ido buscar – Não te vimos no final da peça, já estávamos preocupados quando encontramos sua amiga.
– Aconteceu alguma coisa, Liz? – meu tio olhava desconfiado em direção ao vestiário masculino.
– Não. Estou bem. É que resolvi dar um mergulho para esfriar a cabeça, só não esperava que a água estivesse tão gelada. – inventei apressada, recebendo seu olhar questionador.
– Não teve nada a ver com aquele final no musical? – tio Henry sabia ler as pessoas, fazia parte do trabalho dele, então era meio difícil que comprasse uma mentira. Pelo menos as que não eram bem contadas.
– Não. – tentei me acalmar, quanto mais calma ficasse, mais verdadeira soaria – Para ser sincera, tive um problema com as asas, e não consegui subir no palco para agradecer com os outros. Acho que isso me causou um certo pânico. Então a Emy me trouxe pra cá, para acalmar os ânimos.
– Mas está se sentindo bem agora? – meu pai foi o primeiro a comprar minha desculpa esfarrapada.
– Ah, eu estou sim, não se preocupem. – forcei um sorriso.
– Você foi perfeita, querida. Acidentes acontecem, não foi sua culpa. – minha mãe mexeu em algumas mechas do meu cabelo, super orgulhosa.
– É, a senhora tem toda razão. – concordei em tom gentil – Foi uma boa peça.
– Precisamos comemorar. – meu tio pareceu finalmente dar o braço a torcer – Que tal com os biscoitinhos amanteigados da vovó Dália logo amanhã cedinho?
– Como assim? – perguntei confusa, até onde eu sabia, meus pais não iam conseguir folga no feriado para viajar, e por isso passaríamos o natal em casa mesmo.
– Gostou da surpresa, meu amor? – minha mãe perguntou animada – Eu e seu pai já organizamos tudo para partir daqui mesmo. Só voltamos depois do ano novo.
Aquelas palavras pareceram ecoar em minha cabeça, e um sorriso involuntário se formou em meus lábios. Depois dessa noite pesada, seria bom passar um tempo longe, sem contar que eu ia poder ver os meus amigos outra vez. Sem dúvidas, essa tinha sido a melhor notícia da noite inteira...
[...]
🍁. Jordan pisou na bola, e acabou magoando muito a Liz 💔
🍁. E esse Jason sendo bonzinho?? O que será que deu nele?
🍁. Deixem seus comentários, e não esqueçam de votar. Até o próximo capítulo 😘
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