12. Boliche

"Você sabe o que quero dizer, você sabe o que eu preciso... Não estou tentando te dizer o que fazer, mas tente ficar numa boa. – Mood (feat. Justin Bieber, iann dior & J Balvin)"

Os dias foram passando, e as coisas entre Jordan e eu estavam cada vez mais sólidas. Eu gostava da segurança que ele me transmitia, era tudo tão intenso e verdadeiro entre a gente. Quer dizer, estávamos sempre conversando, fosse pessoalmente ou por chamada, o assunto parecia fluir entre nós dois com tanta naturalidade. Ele era mesmo viciante. Fazia quase um mês desde que nos conhecemos, mas sempre que o via, me dava aquele friozinho gostoso na barriga.

Mal podia acreditar que só faltava uma semana para o natal, acho que nem vi o tempo passar, mas agora todo o clima havia mudado aos quatro cantos do país, em lojas, comerciais de TV, inclusive no colégio. Digo, haviam decorações natalinas para todos os lados, e todo mundo estava ansioso para a folga que teríamos das aulas. Alguns até planejavam viajar para uma virada de ano em grande estilo, como Christine que iria para Paris com seu irmão mais velho, e Jordan que visitaria seus avós maternos no Texas.

A toda volta havia gente empolgada e cheia de planos legais, e não posso mentir que não gostaria de me sentir assim também. Mas, infelizmente, meus pais teriam de trabalhar no feriado, isso quer dizer que me restava apenas se conformar em passar o natal e a virada do ano longe da minha querida vozinha. Acho que era a primeira vez que isso aconteceria. Nem mesmo veria a May, e nós tínhamos combinado de passar os feriados juntas. Era mesmo uma grande quebra de expectativas.

– Está animada para o musical, Liz? – questionou Rose ao meu lado, me fazendo despertar de meus pensamentos.

Ela se referia ao musical escrito por Dylan para o fechamento das aulas na próxima semana. Christine fez todas as Lioness se inscreverem e prestarem as audições ontem pela manhã, mas a ruiva invocada estava mesmo era furiosa com Tayler, porque ele se recusou a fazer o teste com ela para serem os protagonistas. Porém, Jordan, Chris e Noah pareceram se divertir com a possível ideia de interpretarem um personagem de um romance natalino.

– Ah, é. Claro. Estou sim. – fechei meu armário, após trocar os livros para a aula de literatura – O escalamento do elenco e equipe de assistência vai ser no fim da tarde, né?

– Sim. Eu estava passando as músicas ontem com o Matthew. Estão perfeitas. – disse Rose, se referindo ao assistente do Dylan no jornal, parece que também era seu amigo.

Eu forcei um sorriso quando ela agarrou meu braço, e por algum motivo minha atenção divagou ao longo daquele corredor, até encontrar a pessoa mais desprezível daquele colégio. Jason também trocava seus livros no armário um pouco mais a frente. Engoli em seco, assim que ele me olhou por cima do ombro, mas segui caminhando com a Rose, e por mais que ela falasse entusiasmada, eu não conseguia ouvir uma única palavra.

Acontece que ainda me sentia muito constrangida por aquele final de semana, quando confundi os dois irmãos. Digo, por sorte Jason não falou sobre aquele episódio vergonhoso com ninguém, e nem tirou piadinhas comigo, o que eu agradecia internamente. No entanto, sempre que eu tinha o desprazer de encontrá-lo pelos corredores, ele ficava me encarando estranho, como se quisesse falar comigo, mas nunca fazia. E eu acho que preferia assim, não queria nenhuma conversa com aquele garoto idiota.

– Então, o que acha? – perguntou Rose, com seus olhos cravados em mim.

– A-ah, eu... – voltei minha atenção a ela, ao passarmos por ele – Desculpa, eu não te ouvi.

– Bem que o Dylan disse que as vezes você fica com a cabeça nas nuvens. – ouvi sua risadinha, e viramos à direita pelo corredor – Eu estava perguntando se podia convidar o Matthew para o boliche depois da aula...

Sorri leve ao ouvi-la. Acontece que Jordan planejou de fazermos um programinha com nossos amigos hoje. Ele havia escolhido o boliche única e exclusivamente porque lhe contei que gostava de ir com as minhas amigas em Seattle. Inclusive, já era pra ter rolado, mas terminou que todo mundo concordou que poderia ser hoje.

– Claro, eu acho que não tem problema nenhum. – respondi, empurrando a porta da sala de aula logo em seguida.

– Ótimo. Agora só preciso convencê-lo. Aquele garoto é tão antissocial... – Rose me fez rir ao passarmos para dentro da sala.

Fomos as primeiras a chegar ali e, assim que ela sentou-se na carteira atrás da minha, o primeiro sinal bateu. Para minha nada agradável surpresa, Jason foi o terceiro aluno a passar pela porta, o que me fez franzir a testa. Não fazíamos aula de literatura juntos, não que eu soubesse. No mesmo instante que seus olhos encontraram os meus, tentei desviar a atenção, me virando para pegar o livro em minha mochila.

Não queria que ele achasse que eu me importava com a sua presença, porque esse não era o caso. Os burburinhos começaram, à medida que os outros alunos adentravam a sala, e fechei os olhos com força, apertando o livro em mãos ao ouvir o barulho da carteira ao lado sendo arrastada. Assim que me virei outra vez, tive a confirmação de que Jason havia se sentado ali. Ótimo, agora aquela aula seria uma tortura.

– Bom dia, turma. – disse a sra. Lemon, em sua típica simpatia ao adentrar a classe – Espero que tenham feito o trabalho do final de semana passado.

– Mas que trabalho? – um garoto perguntou em tom risonho, do fundo da classe.

– Eu desejo que esteja brincando, Emmett, ou lhe custará dois pontos da prova final. – a professora devolveu em tom sério, arrancando algumas risadas da turma – Oh, sr. Davis, a que devo a honra de sua honorável presença em minha aula hoje?

– Ah, é que a vagabunda da sua filha me fez gozar mais cedo hoje, daí fiquei sem nada interessante pra fazer. – ele sorriu sacana, deixando a sra. Lemoon um tanto estática a primeiro momento, enquanto risadinhas abafadas e de muito mal gosto ecoavam por toda a classe.

– Mas uma piadinha como essa, e o senhor vai tomar detenção. – ela se recompôs, usando de um tom de voz ameaçador – Fui clara?

A professora arqueou uma sobrancelha, no entanto, aquele garoto estúpido pareceu não se importar nem um pouquinho sequer, invés disso, ele deu de ombros, sorrindo o mais debochado que podia. Qual era a dele? Se divertia em humilhar e ofender a todos em volta? Porque parecia muito que sim. Tomando seu silêncio, a sra. Lemoon seguiu com a aula.

– Agora peguem seus livros, vamos discutir o romance de Jojo Moyes, escolhido para esse bimestre. Alguém quer começar? – encolhi meus ombros quando seus olhos percorreram pela turma – Ninguém? Bom, então vejamos... Lizzie Andrews, você pode começar?

– Ah, eu? – me ajeitei melhor em minha carteira, e ela assentiu – Tá, claro. – peguei o meu resumo dentro do livro, sentindo alguns olhares se direcionarem a mim – "Como eu era antes de você" é um romance verdadeiramente instigante. Nesse livro nós temos Louisa e Will como o casal principal, e a história de amor deles surge quase como um romance proibido, já que a Lou namora com o Patrick que, convenhamos, é um grande estúpido.

A leve risadinha de Jason me fez olhar brevemente em sua direção, mas logo retomei minha fala:

– Mas nós vemos que não foi nada fácil para a Louisa, quer dizer, ela amou o Will primeiro, quando ele não passava de um grosseirão amargurado com a sua própria vida, e eu imagino que por boa parte do tempo ele também a amava, mas acontece que muitas coisas perturbavam o relacionamento deles dois. – fiz uma curta pausa para tomar um ar – E a mais forte das perturbações, sem dúvidas, foi o fato dele já ter desistido da própria vida antes mesmo de conhecê-la, em vista do acidente e de todas as dificuldades que enfrentava. Eu acredito que o Will renegou seus sentimentos apenas para não machucá-la por eventualmente se apaixonar por ele.

– Está dizendo que Will era amargurado para fazer as pessoas a sua volta, inclusive Louisa, não sentirem sua falta quando ele se fosse? – indagou a senhora Lemoon.

– Bom, não exatamente. Ele era amargurado por não aceitar sua condição física pós-acidente. A autora traz bem as dificuldades que os cadeirantes vivenciam todos os dias. A estrutura inadequada da maioria dos lugares, o preconceito que os tetraplégicos sofrem, e até mesmo a falta de solidariedade e compaixão das pessoas. Essa é a causa da amargura de Will. – tentei me expressar melhor, e ela pareceu me entender muito bem – Contudo, o fato de afastar as pessoas se direciona ao ponto em que ele não queria ser lembrado, ou amado naquela condição.

– Talvez o Will fosse só um grande babaca egocêntrico. – Jason girou uma caneta entre os dedos, chamando toda a atenção para si – E a Louisa uma estúpida ingênua, disposta a quebrar a cara em nome do amor.

– Mas o quê? – cerrei os olhos – Ele não era nenhum babaca, só tinha perdido sua fé na vida, e em vista de todo o sofrimento que guardava, não queria se sentir vivo outra vez. A Lou também não era estúpida, na verdade ela foi a única que viu o quanto o Will estava mal. E se esforçou até o último segundo para fazê-lo enxergar que merecia ser amado. Ela ofereceu a melhor parte de sua amizade para...

– Tá. – Jason me interrompeu – Mas no que isso foi vantajoso pra ela?

– O amor não se resume a ter vantagem sobre alguém ou uma situação. – rebati sua pergunta com plena convicção – Mas ela conseguiu quebrar a bolha que o Will criou para si, e dia após dia eles foram construindo uma relação de amizade forte o suficiente para fazê-lo se sentir feliz e amado outra vez. Isso bastava para Louisa, e ela entendeu a decisão dele, porque amar não é prender o outro.

– Muito bem! Esse é o espírito. – o elogio da sra. Lemoon fez minhas bochechas esquentarem – Agora quem vai ser o próximo? Não me façam sortear, hein...

A aula seguiu seu curso, e mais pessoas deram seus pontos de vista acerca do romance, tornando aquele momento mais leve e descontraído. Porém, Jason ficou completamente calado e quieto dali em diante, como se refletisse no que escutava a volta. E, quando a professora encerrou os debates, ele passou a anotar algo em seu caderno. O estranho é que, vez ou outra, eu sentia o seu olhar recair sobre mim, me dando a impressão de que ele queria mesmo falar algo comigo.

No entanto, assim que o sinal bateu, Jason foi o primeiro a se retirar da sala, e acho que agradeci mentalmente por isso. Aquele garoto era tão idiota e insuportável, como podia desmerecer um romance tão belo? Dizer que Will era um babaca, e a Lou uma estúpida... Aposto que fez só pra me irritar, porque não interrompeu mais ninguém depois disso. Por sorte, não o vi mais, nem mesmo no horário de almoço. Acho que havia ido embora, era bem típico dele faltar aulas mesmo.

Emily e Dylan se juntaram a mim e Rose na cantina, e em meio ao entusiasmo deles com o musical, eu acabei deixando aquele episódio de lado. Não valia a pena me importar com algo tão estúpido. Depois de um tempo, Jordan e Noah também chegaram tornando tudo ainda mais divertido. Dei boas risadas com eles durante o almoço, o que me fazia desejar logo o fim das aulas hoje, aquele boliche prometia.

– Jason Davis? – fui desperta de meus pensamentos pelo soar da voz da a sra. Miller, professora de teatro – Jason Davis? Não?

Ela continuou a chamar, correndo seus olhos por todos ali, mas parece que aquele imbecil não tinha vindo. Foi a mesma coisa ontem nas audições, e o fato dele não demonstrar interesse em participar, até me deixava mais tranquila. Quer dizer, já bastava a aula de literatura com ele hoje, eu não tinha que vê-lo durante os ensaios do musical também, seria muito desconfortável.

– Meu irmão não gosta de eventos sociais, professora. – Jordan tomou a palavra para silenciar os burburinhos que se formavam ali – Além do mais, ele nem está mais no colégio a essa altura.

– Está me dizendo que o seu irmão foi embora antes do fim das aulas? – ela arqueou uma sobrancelha, e ele deu de ombros, assentindo – Pois bem, pedirei para o diretor entrar em contato com a sua mãe, sr. Bieber. Agora deixe-me ver...

A sra. Miller ajeitou os óculos, correndo seus olhos pela lista que tinha em mãos outra vez, e Jordan me lançou uma discreta piscadela, o que fez minhas bochechas esquentarem imediatamente.

– Como o trio de cupidos teremos Lizzie Andrews, Christine Delacour e Emily Hofmann. – anunciou a professora, na sequência.

Todos bateram palmas, e Christine sorriu azeda. Sei que ela não estava nada satisfeita por não pegar o papel da protagonista.

– Como Lana, a mocinha protagonista, teremos Ashley Durst. – um sorriso largo se acendeu nos lábios da professora – Esse papel se encaixa perfeitamente com você, minha querida.

Era nítido que ela adorava a Ashley. Bati palmas juntamente aos outros, apenas por educação. Eu não a odiava, apesar de sua implicância comigo, e de suas falas desagradáveis. Simplesmente procurava não dar a mínima para pessoas tão negativas, de gente assim se deve manter distância e eu sabia muito bem disso. Entre outros casos, se tivesse lhe feito algo, até me importaria, mas não fiz.

– Obrigada, obrigada. – Ashley sorria super animada.

– Bom, para finalizar, Jordan Davis fará George, o mocinho par de Lana. – a professora completou o elenco e os aplausos não demoraram a soar.

Olhei em sua direção e o vi sorrir meio sem graça para mim, não sei se por pensar que eu implicaria com aquilo, mas não o faria. Não via problema nenhum em Jordan ser o par de Ashley na peça, afinal, era isso, uma peça, e seria divertido para todo mundo. Sorri doce para ele e voltei a prestar atenção no que a professora explicava sobre a semana de ensaios, os quais, segundo ela, se dariam todos os dias após o almoço.

Depois do cronograma de ensaios, ela definiu o par extra para substituir Jordan e Ashley, caso um deles tivesse algum problema no dia da apresentação. Os grupos que cuidariam do cenário, iluminação e som também foram definidos. Enquanto isso, Dylan distribuiu os roteiros, e ao fim tomou a palavra, falando um pouco sobre os personagens, para nos ajudar a estabelecer uma conexão com os nossos respectivos papéis.

– Como vai ser interpretar o que você já é? – a voz rouca de Jordan soou baixinho em meu ouvido, me causando um arrepio gostoso.

Olhei para trás por cima do ombro, vendo-o se sentar ali. Seus braços se entrelaçaram em minha cintura, me envolvendo num abraço aconchegante. E, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele depositou um beijinho carinhoso em minha bochecha, o que me fez estremecer todinha por dentro.

– Ah, o que disse? – tentei manter a postura, afinal, estávamos cercados de amigos e colegas, mas pude ouvir sua risadinha.

– O cupido é um anjo, Liz, e pra mim você já é um. – Jordan explicou baixinho, fazendo minhas bochechas esquentarem.

– Você é muito bobo, Davis. – sorri envergonhada, e seu olhar recaiu sobre meus lábios por alguns segundos.

– O que eu posso fazer se você é a coisa mais linda desse mundo todinho? – suas sobrancelhas arquearam, e senti aquele friozinho gostoso na barriga, o que me fez encará-lo ainda mais tímida – E fica mais perfeita ainda com essas bochechinhas vermelhas.

Sorri boba, olhando para frente. Então balancei minha cabeça para os lados, e senti Jordan afastar lentamente meus cabelos para trás, até pousar seu queixo em meu ombro, me apertando um pouquinho mais entre seus braços. Respirei fundo, tentando me concentrar e ficamos em silêncio, escutando o que Dylan falava. Ele era muito bom naquilo, parecia até um grande diretor de teatro, com sua postura leve e calma, mas ao mesmo tempo séria.

À medida que ia nos apresentando o contexto do musical, Dylan também transmitia características importantes de cada personagem. Era impossível não se envolver com o enredo, mas sou suspeita a falar já que suspirava por romances instigantes, e aquele sem dúvidas era um. Ashley faria uma mocinha desacreditada do amor, após ter seu coração partido por seu ex-noivo numa véspera de natal a anos atrás, e Jordan seria seu melhor amigo, o qual era secretamente apaixonado por ela.

Tanto que estava disposto a dar tudo de si, apenas para descongelar o seu coração endurecido. E toda a história deles seria contada pelo trio de cupidos responsáveis por unir o casal no fim da história. Na verdade, aparentemente eu seria o anjo que convenceria os outros a participarem dessa linda e encantadora história de amor. Saber daquilo me fez dar uma risadinha, porque soava tão irônico, quase como se alguém tivesse manipulado tudo por debaixo dos panos.

Mas isso era totalmente impossível já que foi a própria sra. Miller quem fez a escolha do elenco. Não passava de uma estranha coincidência. A certo momento, Mathew e Rose se dirigiram ao piano, onde entoaram algumas das canções principais, mostrando apenas o ritmo das demais, para que nos familiarizássemos bem. E aquilo até que foi divertido, para a minha surpresa Rose tocava muito bem, e Mathew tinha uma linda voz.

– Sra. Miller, tem mais algo a acrescentar? – Dylan arqueou as sobrancelhas, ao finalizar os informes.

– Ah, não, querido. Estão dispensados. – ela encerrou nossa primeira reunião.

Algumas pessoas puxaram um "Aleluia" em um coro improvisado, que me arrancou risadinhas. Todo mundo começou a se levantar, então tratei logo de guardar minhas coisas na mochila. Jordan ficou de pé primeiro, me estendendo uma de suas mãos.

– Obrigada. – agradeci ao me levantar, passando minha mochila pelo ombro.

– Não por isso, linda. – ele sorriu, aproximando seu rosto do meu, e me roubou um selinho.

– Jordan, podemos... conversar? – alguém chamou nossa atenção, quando olhei para o lado notei que era Ashley.

– Ah, sim. Claro. – ele respondeu após me encarar por um curto instante – O que você quer, Ash?

– Bom, se incomodaria de ser só entre nós dois? – ela arqueou as sobrancelhas – É sobre o musical. A Liz... ela entende, não é, lindinha?

Dava para sentir a falsidade transbordando na voz dela. Sei que não gostava de mim, porque essa era, sei lá... A terceira vez que falava diretamente comigo desde que cheguei ao colégio? Sim, acho que sim. Isso sendo boazinha em não contar com as maldades gratuitas que já tinha tentado plantar em minha cabeça em relação a Jordan, para que eu me sentisse insegura com ele, ou com o que estávamos sentindo um pelo outro. Isso era absurdamente infantil de sua parte.

– Ash, eu acho que...

– Claro que entendo, Ash. – respondi rápido, interrompendo a fala de Jordan – Te vejo no boliche, Dan, tá bom?

Me virei de frente para ele, lhe roubando um selinho só para que aquela garota estúpida entendesse que eu não estava nem aí para os joguinhos psicológicos dela. Eu havia decidido confiar em Jordan, e não tinha nenhum problema com o fato dos dois serem ex-namorados. Até porque o termo "ex" se refere a algo que já passou, e o que me importava era o agora.

– Ah... você vai com a Emily? – ele arqueou as sobrancelhas e eu assenti – Tudo bem, então a gente se vê lá, bebê.

Nos despedimos com outro selinho, e um sorriso largo se fez em meus lábios ao sentir Jordan apertar suavemente meus quadris, antes de me soltar. Ao me virar novamente para Ashley, ela forçou um sorriso, se despedindo com um singelo aceno de mão. Rolei os olhos ao passar por ela, detestava pessoas tóxicas e falsas, me dava embrulho no estômago só por estar na presença de gente assim.

Mas optei por não dar bola e, assim que alcancei o corredor, logo apressei o passo para encontrar a Emily, ou ela me deixaria para trás. Afinal, não combinamos de ir juntas, até então estava tudo certo de que eu iria com o Jordan, pois ele sempre me dava carona. Ao empurrar a porta de saída, senti uma brisa fraca soprar meus cabelos, e me adiantei a descer a escadaria.

– Emy! – chamei ao vê-la no estacionamento, ela já estava quase entrando em seu carro – Posso... ir com vocês?

Dei uma curta corridinha, notando Noah e Dylan já ali dentro.

– Claro que sim, Liz, mas pensei que fosse com o Jordan. – ela franziu a testa, e eu neguei com a cabeça – Aconteceu alguma coisa? Vocês não brigaram, né?

– Ah, não. Nós estamos bem. – respondi ao entrarmos em seu carro – Mas é que a Ashley queria conversar alguma coisa sobre a peça com ele.

Assim que fechei minha boca, todos os pares de olhos dentro daquele veículo se direcionaram a mim, me encarando com um certo tom de estranhice estampado em seus semblantes, quase como se eu tivesse falado um palavrão, ou sei lá... algo terrivelmente inaceitável.

– Não, não, não. Florzinha, você deixou o seu boy com a ex dele? – Dylan foi o primeiro a questionar, enquanto eu colocava o cinto de segurança.

– Qual o problema? Eles vão fazer um musical juntos. – dei de ombros, completamente alheia aquela indagação.

– Espera aí... – Noah franziu a testa, quase virando no banco da frente para me ver num ângulo melhor – Você não acha estranho os dois juntos num musical de romance? Quer dizer, vai pedir para o Davis desistir do papel, né?

Suas sobrancelhas arquearam, como se o que ele acabasse de dizer fosse um fato óbvio que me faria mudar de ideia em relação a Jordan e o musical, o que realmente não aconteceu. As coisas não funcionavam assim, mesmo que nós dois fôssemos oficialmente namorados, o que ainda não éramos, eu não tinha o direito de impor as coisas. Digo, o Dan era bem grandinho e podia tomar as suas próprias decisões.

– Não. Por que eu pediria isso? – perguntei de volta, um tanto confusa.

– Uau! Florzinha, você é tão fofinha e ingênua... – Dylan tocou nas pontinhas dos meus cabelos – Mas eu te atualizo. A Ashley é um tipo raro de vaca, se é que ainda não percebeu, e ela gosta de pastar em território proibido.

Precisei segurar o riso, e o barulho do motor assim que o carro ligou, me ajudou a se conter. Não dava para negar que Dylan tinha razão em parte, Ashley era mesmo uma vaca insuportável. Mas eu tinha duas opções, me importar ou não com isso, e sinceramente os problemas daquela garota não eram da minha conta.

– Deixem a Liz em paz. É só um musical, caramba. – Emily rolou os olhos, manobrando o carro para fora da vaga.

– Então você também deixaria eu dar uns beijinhos na minha ex em nome do teatro e da arte? – Noah usou de tom engraçado, mas recebeu um olhar furioso de Emily – É brincadeira, amorzinho.

– É bom mesmo que seja. E outra, nem rola beijo, não tem isso no roteiro. – Emily nos arrancou algumas risadinhas pelo seu tom de voz enciumado.

– Ai, gente, mudando o assunto, vocês gostaram do roteiro? – Dylan perguntou entusiasmado.

A resposta era óbvia, estava tudo perfeito, ele tinha mandado super bem, mas não esperávamos menos do editor chefe do jornal do colégio, não é mesmo? As matérias de Dylan eram de arrasar, ele tinha talento e sempre caprichava em tudo o que fazia. Conversamos muito sobre o musical durante o caminho, estávamos empolgados com os ensaios, os figurinos e tudo mais.

Na minha antiga escola eu geralmente optava por ficar nos bastidores, organizando as coisas, só participei mesmo de musicais quando era criança, então não preciso nem dizer que até os meus pais estavam animados com isso, o que era até engraçado. Entre risadas e revelações de Dylan sobre os personagens, acabamos chegando ao boliche mais rápido do que eu esperava.

– Como vai ser? – perguntou Dylan, ao estacionarmos – Equipes ou duplas?

Olhei pela janela, enquanto tirava o cinto de segurança. O letreiro azul e branco, junto do desenho de alguns pinos, brilhava bem forte em cima da loja, que se localizava no final de um quarteirão entre a rodovia principal e uma rua comercial.

– Cara, eu ainda não sei. – respondeu Noah, ao descermos do carro.

– Eu prefiro equipes. – disse Emily, sorridente quando Noah lhe abraçou de lado.

– Também prefiro. – concordei com ela, seguindo junto para dentro da loja.

Ao atravessarmos as enormes portas automáticas de vidro, avistei as pistas de boliche mais a frente. Ao lado direito ficava o balcão com um telão enorme atrás, o qual acompanhava as pontuações em tempo real, Rose, Christine, Tayler e outro cara do time, Logan o nome dele eu acho, já estavam lá, então foi para onde seguimos primeiro.

Porém, do outro lado ficavam as lanchonetes e fliperamas. Não era muito diferente do boliche para onde eu ia com a May lá em Seattle, e até que achei isso legal. Notei que a música que tocava baixinho para ambientar era "Mood" remix do Justin Bieber. Fora nós, não haviam muitas pessoas, apenas dois casais com seus filhos.

– Simples, eu não vou jogar. Não vou quebrar minhas unhas perfeitas, ou destacar o esmalte nos buracos daquelas bolas pesadas. – Christine cruzava os braços, visivelmente decidida a empancar o Tayler.

Sabia exatamente porque ela estava fazendo isso, e precisei conter minha risada.

– Mas, amor, sendo duplas ou equipes, se você sair vai ficar desigual. – Tayler insistia, quase em desespero.

– Se vire. Eu não vou jogar, essa não é... como é mesmo? A minha parada. – ela usou exatamente as palavras dele quando recusou fazer parte do musical.

– Meu Deus, isso não pode ser por conta daquele musical idiota, com todo respeito, Dylan... – pediu Tayler, olhando em nossa direção, todos apenas assentimos – Mas é que eu nasci para jogar em campo, não encenar em um palco.

– Ah, então eu nasci para dançar e ter unhas maravilhosas, não jogar uma partida de boliche idiota. – ela rebateu em sua plenitude de calma, abrindo o sorriso mais irônico que já vi na vida.

Precisei me esforçar novamente para não cair na risada. Tayler bufou o ar pelo nariz, e nesse instante ouvimos as portas de vidro se abrirem, o que nos fez olhar naquela direção, a tempo de avistar Chris, Jordan e Ashley adentrarem o local.

– Pelo amor de Deus, Ash, diz que você vai jogar? – Tayler arqueou as sobrancelhas, todo esperançoso.

– Eu vim só assistir, mas posso jogar se quiserem... – ela abriu um enorme sorriso, enquanto se aproximava, o qual fez Christine rolar os olhos.

– Isso! – Tayler comemorou aparentemente fora de hora.

– Hum-hum! – pigarreou Christine – A Rose não pode jogar.

– O quê? – Tayler e Rose perguntaram na mesma hora.

– Ela está com um desvio de coluna por conta dessa banha toda. Tadinha, nem participou dos treinos essa semana. Não foi, Rose? – Christine arqueou as sobrancelhas de forma ameaçadora.

Notei as bochechas da Rose enrubescerem de vergonha e franzi a testa ao escutar algumas risadinhas a volta. Aquilo não estava acontecendo, Christine tinha merda na cabeça? Abri minha boca para falar algo, mas fui interrompida.

– É. Repouso, foi o que o médico disse. – Rose completou a mentira, me deixando profundamente triste.

Ela não precisava se submeter aquele tipo de coisa. Christine era muito maldosa as vezes, em especial com Rose, e eu não conseguia apoiar isso. Não era certo.

– E fechar a boca também, querida. – Christine arrancou mais risadinhas.

– Qual o seu...

– Eu sinto muito. Espero que melhore, Rose. – Jordan me interrompeu, falando calmo e educadamente.

Seu tom de voz foi o bastante para cessar as risadinhas maldosas a volta. Mas apenas seu toque, quando me abraçou por trás, foi capaz de me acalmar. Acho que agradeci aquilo internamente. Não queria iniciar uma confusão, mas foi por bem pouco.

– O-obrigada. – Rose gaguejou, desviando seu olhar aos próprios pés.

– Acho que sendo assim, sobram nove pessoas. Podemos jogar com equipes de três, quem está dentro? – perguntou Jordan, olhando em volta.

– Porra, é disso que eu tô falando. – Tayler às vezes parecia esquecer com quem namorava.

Desde que cheguei, pude notar o comportamento de cada um naquele grupo, e Christine tinha um perfil vingativo. Aquela frase "Ganhou a batalha, mas não a guerra" se encaixava perfeitamente a eles nesse exato segundo. Contudo, só o fato dela não ter tido o gostinho de estragar as coisas, já era de bom tamanho.

Compramos o passe, e o atendente pareceu agradecer quando finalmente nos afastamos do balcão. Era visível que não estava mais suportando o dilema causado por Christine. Em seguida, as equipes foram decididas, Chris, Emily e Noah em uma, Tayler, Dylan e Logan em outra.

– Então acho que fico com você e a Liz, Dan. – Ashley sorriu estranho, chegando mais perto de Jordan enquanto seguíamos para a pista.

– É... parece que sim. – ele respondeu meio vago – Dempsey, que tal vocês começarem?

– Por mim tudo bem, Davis. – Tayler deu de ombros e os outros logo concordaram.

Christine e Rose foram as primeiras a sentarem no sofá preto estofado, de frente para a pista de número 9. Uma estava entediada, enquanto a outra parecia super sem graça. Eu precisava conversar com a Rose sobre esse comportamento de aceitar tudo o que lhe impunham. Estava do seu lado, mas não dava para lhe defender quando ela mesma deixava acontecer. Mas não julgaria, talvez só não soubesse o quanto aquilo era prejudicial.

Jordan me puxou para o seu colo quando se sentou um pouco afastado delas, no segundo sofá. Ashley deu uma curta olhada em nossa direção e seguiu para o outro, um tanto entrunfada. Não sei, mas parecia que estava querendo provocar ciúmes em mim, se aproximando do Dan por conta do musical, mas não acho que ele estivesse correspondendo. E era o que importava. Minha mãe sempre dizia que precisamos confiar nas pessoas para ter um bom relacionamento. Eu confiava nele.

– O que ela queria com você? – perguntei baixinho, olhando para o Dan por cima do ombro.

– Nada demais. Ashley é muito perfeccionista e queria decidir horários para ensaiarmos depois do colégio. – ele respondeu no mesmo tom que eu, pousando suas mãos em minhas coxas.

– Ah... – não consegui pensar em nada para completar a frase.

Não queria julgar ninguém, nem conhecia a Ashley direito, mas não posso negar que parecia mesmo estar querendo me fazer ciúmes. Porém, tentei não pensar muito nisso, e tornei minha atenção para frente. Os meninos decidiam quem iniciaria o primeiro frame.

– Estava pensando em deixar o papel para o Logan.  – Jordan chamou minha atenção outra vez.

– Mas... por quê? – franzi a testa, encarando-o um tanto confusa.

– Não sei. Achei que... Isso não incomoda você, Liz? – os olhos caramelados do Jordan mergulharam nos meus.

– De jeito nenhum, Dan.  Acho que vai ser divertido, não quero que saia. – fui sincera e ele sorriu largo.

Nesse segundo, estremeci com o barulho do strike de Tayler. Ele parecia ter sido o escolhido para fazer as primeiras jogadas, e não era nada mal, posso dizer. Jordan comemorou, elogiando a jogada junto com os outros meninos. Mas vi que Christine rolou os olhos, pelo pouco que a conhecia, acho que estava a ponto de arrancar a cabeça do próprio namorado. Não consegui conter meu risinho, mas logo desviei meu olhar para não chamar sua atenção para mim.

– Posso te contar uma coisa? – Jordan se inclinou um pouco para frente, sussurrando em meu ouvido e me causando um arrepio intenso.

– O quê? – perguntei, fingindo prestar atenção na segunda jogada de Tayler.

– Só fiz o teste para o musical porque queria ficar pertinho de você nos ensaios. – Jordan tornou a sussurrar, apertando seus braços em volta da minha cintura.

Sorri boba, balançando levemente minha cabeça para os lados, enquanto Tayler realizava o pêndulo, lançando a bola na pista novamente...

[...]

🍁. O que será que vai acontecer nesse musical, em? Será que dá certo??

🍁. Alguém shippando o casal?

🍁. Deixem seus comentários e não esqueçam de votar no capítulo. Até o próximoooo 😘😘

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