CAPÍTULO TREZE
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ATENÇÃO: Seu voto é importante, então deixe sua estrelinha quando chegar ao fim, por favor.
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Quinta - feira | 19:05
Enquanto me arrumo penso em como deve estar os Owes, é meu dever tirar um dia para fazer-lhes uma visita, mas é difícil já que Sophia monta guarda por lá. Solto um suspiro sem sentido enquanto ajeito a camisa dentro da calça, não faço ideia se ela já retornou ao palácio, a última vez que a vi foi hoje a tarde e sinto vontade socar minha cabeça na parede até agora.
Tudo bem que eu a ajudei, mas deveria tê-la deixado se virar pelo bem da minha sanidade, pelo menos minha mãe ficou feliz.
"- Isso já é um avanço, querido" - disse quando me juntei a eles na sala de estar.
Segundo minha mãe, ela e Lottie passavam por lá quando me viram interagir, eu não nem comentei, pois nada do que eu dissesse tiraria o olhar orgulhoso da minha mãe, o sorriso contente de Madeline e a careta presunçosa do meu pai, eu tive que aguentar esses olhares durante todo o dia de corre corre, enfim, foi uma tarde e tanto.
Passo perfume e confiro meu cabelo, não sou adepto ao uso do gel, mas também não gosto dele muito rebelde e isso meu cabelo tende a ser a todo momento. No jantar de hoje nós teremos visitas, na verdade não são bem visitas, já que nos vemos todos os dias, porém não é todo dia que Roger e Cláudio ficam para o jantar.
O homem, com seus quase 59 anos mora com a esposa, Delfi, em um chalé não muito longe daqui, se mudaram para o campo depois que Roger, o único filho do casal, decidiu comprar seu apartamento na cidade, pai e filho sempre foram próximos e ainda são, mas Cláudio o ensinou a ser independente desde muito jovem.
Hoje eles ficaram direto do trabalho, por isso Delfi não estará presente.
Deixo meu quarto e caminho calmamente pelo corredor, dessa vez vou pelo principal, realmente acho que Sophia não estará para o jantar, percorro todo o segundo piso calmamente e desço o primeiro cinco degraus sem pressa, até ouvi-las deixar o quarto da jovem.
Eu me enganei, mais uma vez.
Apresso meu passo para tentar curvar o corredor antes que me vejam, mas então estaco no lugar percebendo que fujo, não, eu não sou assim. Eu quero saber por que Sophia desdenha de mim com sua indiferença, volto os passos que dei e espero até que elas despontem nas escadas.
Miranda e ela, que parecem bem amigas por sinal, conversam alegres sem se quer notarem a minha presença.
- A sua mãe a conheceu. - disse Miranda sorridente - E eu também, mas na época eu estudava na cidade em um colégio integral, passava a semana lá e só vinha aos sábados e domingos, lembro-me de brincar de amarelinha com você. - ela conta com palpável animação, mas contrariando a alegria da amiga o sorriso da morena se esvai conforme a moça fala. - Você não se lembra? - pergunta confusa e eu me vejo ainda mais.
Tudo bem ela me tratar com indiferença, mas será que quer fingir que o que viveu aqui nunca aconteceu? ou ela tem problema?
- E-eu... - se perde nas palavras e eu franzo o cenho ainda mais perdido.
Eu começo a achar que tem algo errado com essa garota, parece loucura, mas será que fizeram lavagem cerebral nela? Ethan e Mary permitiriam isso? será que foram eles? Chacoalho minha cabeça me achando altamente louco com os meus pensamentos e decido intervir.
- Pelo visto a senhorita Owes escolhe o que guardará em sua memória. - comento em alto voz e por um segundo percebo que eu deveria ter ficado calado, os olhos de Sophia correm na minha direção e encontro tristeza e medo neles. - Incrivelmente você também não está na lista, senhorita Solomon. - concluo constatando que eu realmente sou um idiota, mas a raiva e a indignação que queimam dentro de mim falaram mais alto que minha consciência.
Ela me encara por poucos segundos e então olha pra Miranda novamente.
- Podemos conversar sobre isso depois? - pergunta a moça e eu apenas assisto sendo ignorado por ela, eu quero explodir em mil pedacinhos, quem sabe assim ela não lembre quem eu sou para ela.
Miranda me cumprimenta depois de concordar com o pedido de Sophia e eu abro a boca novamente, pro terror de todo mundo.
- Eu a acompanho até a sala de jantar. - minha voz soa confiante, mas o meu lado razão soca o meu lado emoção, eu vivo em uma guerra interna e isso não é nada bom.
A dama se despede de Sophia e ela permanece ali parada por mais alguns minutos, posso sentir que ela não está legal, mas de alguma forma eu também não estou e queria que ela visse, eu quero que ela saiba o quanto me machuca a sua indiferença, poxa, eu a amo e ela me ignora.
- Eu realmente não me sinto surpreso com tudo isso. - digo sabendo que diria merda, mas não consigo me calar, eu quero feri-la como ela está me ferindo, mesmo sabendo que isso é um erro. - Pra quem não ligou durante esses doze anos, por que se importaria agora? - concluo com a voz ácida e o gosto amargo se alastra pela minha boca, o ardor do meu nariz sobe para minha cabeça e a sinto pesar assim como meu coração que se torna preguiçoso e erra uma batida enchendo meu peito de uma dor dilacerante. - Mas eu não posso te julgar... - ela me olha com seus olhos castanhos escuros enraivecidos e lacrimejados, minha voz some e meu colação se aperta.
Por um momento senti o ar dos meus pulmões serem sugados e tudo que eu quero é abraçá-la e pedir desculpas pelas minhas palavras, mas antes que eu possa dizer alguma coisa ou mesmo pensar em dizer ela se apressa e diz:
- Então não faça isso, alteza. - pede com a voz firme, se seus olhos não brilhassem pelas lágrimas eu diria que minha fala não a tinha atingido. - Eu sei aonde fica a sala de jantar, com sua licença. - ela me dá as costas e caminha para longe sem que eu conseguisse fazer nada para impedir.
Eu a vejo se afastar e um sentimento horrível se apossa de mim.
"- Era isso que você queria, não era? machucá-la? conseguiu!" - ouço minha consciência e grunho irado.
- Ponto pra você Adam. - murmuro bagunçando meus cabelos irritados.
E eu achei que que não poderia piorar, me enganei de novo.
Sexta - feira | 08:00
Nem com chá e nem com o remédio eu consegui dormir essa noite, minha vontade era gritar com Madeline por ter dado aquela ideia idiota, totalmente sem nexo, totalmente perigosa, eu e Sophia juntos, misericórdia.
- INÍCIO DO FLASHBACK -
Quinta - feira | durante o jantar
"- Você não precisou estar aqui para atormentar os meus dias." - foi isso que eu disse a ela ontem, antes dela correr de mim ou sei lá o que.
- FIM DO FLASHBACK -
Eu não menti, não menti, havia ido até seu quarto para lhe pedir desculpa, até porque ela ficou tão agitada e nervosa com a ideia de Madeline quanto eu e sei que minha reação a deixou ainda mais chateada, não pediria desculpa pelo que falei antes do jantar, mas pela minha atitude impulsiva de deixar a mesa, mas tudo saiu do controle quando os olhos dela encontrou os meus, foi como em um passe de mágica e eu perdi as palavras e o controle.
Sophia não apareceu pro café, segundo minha mãe as aulas remotas dela começaram hoje e de certa forma fico feliz por ela, o que está mexendo com meus neurônios e agitando o âmago da minha alma é o nosso encontro depois do almoço, não encontro, encontro, mas sim nossa primeira reunião sobre o evento que agora ela ficará no comando junto comigo.
Veja só, como se eu já não tivesse nada pra fazer.
Meu pai, o rei, conversou comigo mais cedo, disse-me que ele e Cláudio estarão presentes na primeira reunião pra passar para nós tudo o que estava sendo planejado e construído e a partir daí eu, Sophia, Roger e Emma daremos sequência. Ergo minha cabeça e respiro fundo sentindo a ar fresco da manhã dar espaço para o calor da tarde, eu provavelmente não sobreviverei a esses dias, que Deus me acuda.
A janela do meu escritório é o meu lugar preferido de uns dias pra cá, principalmente quando me sinto sufocado de mais, mas não posso sair daqui. Queria ter ido ajudar Jose e os meninos com a limpeza das baias mais cedo, mas tive tanta coisa pra fazer que nem xixi tive tempo pra soltar e isso não é um exagero. Agora com a nova decisão do meu pai tudo se tornará ainda mais corrido e tudo graças a maravilhosa ideia de Madeline, eu sei o que ela pretende com isso além de pensar no bem do evento, eu consegui ler as entrelinhas.
Com um suspiro volto para minha mesa e me sento preguiçosamente na poltrona, encaro o envelope que a algumas horas está em cima dela e após muito hesitar me estico e o pego.
Eu sei o que tem aqui dentro, eu o abri mais cedo achando que era mais cartas, mas gelei quando encontrei minhas composições inacabadas. Tiro uma das folhas e leio o que escrevi a não sei quantos anos atrás, melodramático, daria um bom ator de drama, se eu tivesse essa escolha, na verdade eu tenho, mas é muita burocracia.
Tento relembrar qual era o ritmo, mas em vão, deveria ter escrito com as cifras, mas nada impede que eu crie outra, porém outra hora de outro dia.
Descanso o envelope na mesa novamente para alcançar meu celular no bolso.
*Steve? - atendo com um enorme sorriso ao ler no visor da chamada o nome do meu amigo de infância, estudamos no mesmo colégio e na mesma universidade. *Já foi coroado rei? - pergunto sorrindo e girando a cadeira em direção a janela.
Do outro lado da linha ele solta uma risada contida e eu sorrio me lembrando dos divertidos velhos tempos.
*Por enquanto sigo esperando, você sabe, preto é ruim de morrer, dá pra contar nos dedos as vezes que ficamos doentes, somos fortes. - alega e eu sorrio me lembrando bem do rei Seur, o cara é mesmo forte e nem aparenta a idade que tem.
*Que saudade meu amigo, quanto tempo. - não consigo fechar o sorriso que corta meu rosto d'uma forma dolorida.
*Eu digo o mesmo, se eu não ligar, você não liga. - resmunga e eu rio. *Eu estou cercado por amigos desnaturados. - dramatiza, Steve não perdeu seu jeito descontraído e isso é bom, é familiar. - Pietra e Kris? estou morrendo de saudade daquele pirralho de olhos azuis e nem pude conhecer a princesa de fogo. - reclama e eu suspiro.
*Bem, meus pais estão bem, na verdade todos nós estamos. - afirmo e o ouço concordar - Phillip está um moço, cresceu uns bons centímetros depois que você partiu, continuou arteiro e desbocado. - falo e ouço sua risada alta do outro lado. - Mas isso foi até ele voltar pra escola, agora temos que esperar pra ver a atualização quando ele voltar pra casa. - sorrio verdadeiro.
Cada vez que meu irmão vem é surpresa nova, Phillip está sempre mudando, o que é natural.
*Ainda está com Madeline? - pergunta despreocupado e torço a boca em um sorriso enigmático.
*Nosso acordo é pra sempre. - afirmo sem responder diretamente, o semblante sério.
*E nem sinal da garota perdida? - questiona como se soubesse de algo, sua voz tem um tom quase... incriminador?
*Andou falando com Madeline? - franzo o cenho girando meu corpo na cadeira de novo, dessa vez em direção a porta.
*Então é verdade? - questiona e eu me sinto confuso, até aonde ele sabe?
*Depende do que te falaram. - escolho bem as palavras e Steve se mantém em silêncio e então explode em uma gargalhada que me faz sorrir, mas ainda mantenho o cenho franzido em confusão.
*Não falei com Madeline, inclusive, faz tempo que não nos falamos. - confessa e eu recosto minha cabeça na poltrona compreendendo o que aconteceu, cubro meus olhos com os dedos mordendo o lábio inferior nervoso.
Eu simplesmente cai, mais uma vez, como sempre aconteceu, agora aguenta, Adam.
*Você sempre morde as minhas iscas ruivo, não importa quanto tempo passe. - brinca e eu massageio o cenho. *Agora, desembucha, eu quero saber.
*Não tem nada pra saber. - dou de ombros desinteressado, não pretendia lhe contar nada, mas o silêncio que se estende depois da minha resposta, no mínimo insatisfatória pra ele, eu solto um suspiro de derrota.*Ela voltou, parece ter batido a cabeça e perdido a memória, me trata como um desconhecido e eu continuo como um cachorro apaixonado. - digo rápido sem nem acreditar nas minhas próprias palavras.
É Steve, o máximo que ele vai fazer é falar seu habitual: "Se ferrou" que nunca me ajudou em nada, mas que me deixava menos ansioso por ter alguém pra conversar, o mínimo.
*Essa novela nunca acaba, em irmão? - o ouço risonho do outro lado e sinto vontade socá-lo.
*É, é. - suspiro frustrado *Pois é, uma merda, quando os médicos me tiraram da barriga da minha mãe esqueceram a minha sorte lá dentro. - resmungo e ele ri, enquanto eu realmente me lamento por isso.
*Mas você já pensou em falar com a garota? - pergunta e minha cabeça dói só de pensar. *Pode ser esclarecedor, vai que vocês se acertam.
Qual o problema dessa galera? nem tudo se resolve com papo, não .
*Eu realmente tô achando que você bateu um papo legal com a Line antes de me ligar. - me inclino sobre a mesa e apoio meus cotovelos sobre ela, com os dedos desfaço agoniado a organização dos meus fios capilares.
*Juro, não nos falamos, mas me responda. - garante com a voz divertida e eu suspiro sem ter pra onde correr.
*Não, e não tenho pensado nisso. - falo e então franzo o cenho e o nariz.
*Minto, tenho pensado sim, mas porque Madeline e meus pais fazem questão de abordar o assunto toda vez que me vê, não aguento mais. - com um impulso jogo meu corpo para trás, contra o encosto macio. *Você ri, né? - murmuro sorrindo de sua risada, mas na minha testa tá escrito o tamanho do meu desgosto *É porque não é com você. - esfrego a mão no rosto encabulado.
*Larga de drama, eu sempre disse pra Pietra que ela te mimou demais, até parece que se fosse comigo eu evitaria conversar com a felizarda dona do meu coração desde sempre. - diz e eu reviro os olhos, é muito fácil assim, né? *Adam, a menina é o dó da sua escala musical, você é lesado? - questiona e eu sorrio.
*Gostei da comparação, mas talvez eu seja lesado. - digo e o ouço bufar.
*E um teimoso, cabeça dura. - completa e eu sorrio. * Estou indo pra Bélgica na última semana de Junho, avisa tia Pietra e o tio Kris que vão ter visitas. - diz e eu rio alto. *Vou passar um dia ou dois com vocês, e espero que até lá você tenha se enjuizado, se não...
Steve é três anos mais velho que eu, então terminou a faculdade no ano em que eu entrei, ficou na França mais um ano depois da sua formatura e depois voltou para a África para auxiliar o pai.
*Steve, você será muito bem recebido tenho certeza e de bônus levará para casa meu convite de casamento com Madeline. - o insulto e ouço seu silêncio.
*Aposto mil euros que você ainda casa com a americana. - o ouço confiante e não evito lembrar as vezes que já apostamos e eu sempre perdi.
Perigoso, perigoso.
*Não viaja, eu assinei um acordo diplomático. - relembro, mas ele não parece ligar, aliás ele nunca ligou.
"- O amor sempre vence tudo." - foi o que ele sempre disse.
*É uma aposta inofensiva e só precisamos de três coisas, duas pessoas com posições de pensamentos contrárias e dinheiro, tudo isso nós temos e então por que não? - acompanho sua fala chacoalhando a cabeça em concordância já sabendo de toda sua ladainha.
*Não gosto de apostas. - murmuro após revirar os olhos, giro a cadeira em direção a mesa e alcanço uma uma caneta.
*Só por que você sempre perde? isso não é justo. - resmunga e eu sorrio enquanto batuco a caneta na mesa.
*Não banque o espertalhão, conheço seus truques. - afirmo e ele gargalha.
*Não são truques, é a verdade, você sempre perde. - alega e eu nego.
*Não dessa vez. - afirmo confiante, até porque a quebra da diplomacia poderia me dar muitas dores de cabeça, a inimizade entre os reinos, a quebra da exportação e até uma guerra, não, eu prefiro ficar infeliz. *Eu dobro a aposta, dois mil euros.
*Você está sendo muito ousado, tem certeza? - questiona e sua voz zombeteira me tira do sério.
*Absoluta! - afirmo confiante, mas ele gargalha.
*Já estou esperando minha grana no banco. - diz rápido *Você ainda tem meus dados, não é? - brinca e consigo imaginar o sorriso branco em contraste com sua pele lustrada.
*Não seja presunçoso. - instruo em tom de alerta e ele ri.
*Adam, Adam, eu não sei muita coisa sobre o amor, mas sei que se duas pessoas estão destinadas a ficarem juntas elas ficam, não importa o que as separem, nem o contexto da situação, então meu irmão eu lhe asseguro, você já perdeu a aposta, eu quero meu dinheiro. - diz e eu paro de batucar sentindo um leve incômodo no estômago, mas ignoro.
Eu que não vou deixar minhocas entrarem na minha cabeça com essa falança melodramática de Steve.
*O que te deram aí em Durban? - brinco com ele e ouço seu suspiro, pera, eu conheço esse suspiro. *O que você não me contou, Steve? - questiono com um grande sorriso no rosto.
Me desencosto da poltrona e projeto meu corpo para frente para anotar a vinda de Steve.
Última semana de Junho - escrevo rápido e de qualquer jeito, destaco o post-it e colo na tela do PC, e então volto a atenção ao que ele dizia, permanecendo na mesma posição, na ponta da cadeira, atento e curioso.
*Eu me ferrei, Adam. - confessa e eu não sou capaz de não rir, jogo minha cabeça pra trás e gargalho divertido. *Meu pai vivia dizendo que um dia ia chegar a minha vez, bem, chegou e eu pareço um cão adestrado. - conta e eu rio ainda mais.
*Quando iremos conhecê-la? - pergunto surpreso por sua confissão girando a cadeira em um semicírculo pra lá e pra cá, minha mãe me repreenderia se visse.
*Provavelmente no final de Junho, iremos levar o convite para o baile de noivado. - conta e eu quase caio da cadeira
*O que? - pergunto em um quase grito não conseguido esconder o choque, quase engasgado com a minha própria saliva.
*Assim você me ofende, cara. - ri baixo e eu permaneço estático *Juro, tenho quase certeza que foi macumba da minha mãe. - diz desgostoso e eu rio mais uma vez.
Steve casando? isso eu pago pra ver.
*Não duvido, talvez um compromisso mais sério te obrigue a ser mais ajuizado. - provoco e ele murmura algo em zulu, o idioma da região em que mora.
*Não me insulta, se não eu mesmo faço uma pra ti. - ameaça e eu faço uma careta.
*Tá amarrado. - praguejo. *Mas eu não acredito que você vai casar antes que eu.
*E eu não acredito que eu vou casar, cara. - sua voz soa desesperada e eu rio, é que não tem como estar com Steve ou até mesmo falar com ele e não estar feliz, o cara esbanja felicidade. *Inclusive, troca de assunto, esse tá me dando gatilho. - pede rindo também.
*Eu me lembro que seu pai queria fazer um novo acordo com o Brasil após sair da BRICS.
*Ah é, bem, sinceramente eu ainda acho que o mundo antes dessa segunda era monárquica era mais fácil, mas sim, eles fizeram. - o ouço suspirar *É sempre um trâmite todo essas negociações, ainda mais agora com a repartição de território.
*É, eu sei. - murmuro me lembrando da época de transição da república para a monarquia, a resistência de alguns países a aderir e outros, como Estados Unidos, Rússia, China, Austrália, Nova Zelândia, Canadá, e o Brasil que permaneceram como república. *Eu me lembro que tivemos problemas com a negociação de gás com a Rússia por serem contra o novo sistema, a situação ficou tensa, pois não foi somente a França que se inclinou à monarquia. - comento e ouço seu murmúrio.
*Bem, eu só não quero me ver em guerras sangrentas por território. - o ouço dizer e sorrio amargo lembrando da história da minha família.
Há muitos anos quando a monarquia ainda podia se considerar experimental, Klaus II casou-se com Kora, princesa da Suíça. Durante os primeiros anos de reinado eles foram um casal e monarcas admirados, muito queridos e sempre lembrados, uma espécie de exemplo, porém Klaus escondia bem a sua ganancia e malignidade e somente seus aliados mais próximo os conheciam. Juntos construíram um plano grande, que chamaram de "la prise", para aumentar ainda mais o território de Klaus, automaticamente seu poder político e bélico.
Como na Alemanha nazista, Klaus desenvolveu seu plano em sigilo, expandindo tropas, treinando soldados, comprando mais armas, até que estivesse fortalecido o bastante para invadir seus vizinhos.
Como infringia os direitos humanos, Estados Unidos e os países republicanos que ainda se alinhavam à OTAN fizeram de tudo para combater Klaus, mas por fazerem parte de alianças divergentes não puderam lutar fisicamente a favor reinos, afinal de contas, OTAN só luta se algum aliado for invadido, como descrito no artigo 5 da Organização do Tratado do Atlântico Norte.
Em um tempo antigo, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, República Checa, a Itália e a própria França faziam parte da OTAN, porém haviam se rendido à monarquia deixando assim a Organização de mãos atadas perante o ataque dos exércitos de Klaus.
Rapidamente a guerra se espalhou pela Europa, Klaus tomou primeiro a Áustria, invadiu o norte da Itália enquanto outros batalhões subiram para República Checa, sul da Alemanha aonde encontraram grande resistência, invadiram reinos franceses vizinhos na divisa entre Alemanha e Luxemburgo que também foi tomada e por fim a Bélgica.
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ATENÇÃO: Seu voto é importante, então deixe sua estrelinha quando chegar ao fim, por favor.
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Há relatos de que, como na era medieval, Klaus matou o rei belga na frente de sua família e súditos, logo depois a rainha e as quatro filhas.
Lorena ficou quase sem homens adultos e saudáveis pois todos foram recrutados para a guerra, os que aqui ficaram eram crianças, adolescentes, idosos e homens doentes.
Enquanto o poder territorial de Klaus crescia Lorena e Suíça definhavam com as sanções que os países aliados impunham, uma pequena minoria se manteve na boa vida, a famosa burguesia, essas famílias se estabeleceram durante os anos da guerra nas proximidades do castelo e nas grandes fazendas, enquanto os que chamavam-se de "rebeldes" viviam às margens do reino.
Em Lorena essa maioria que vivia em péssimas condições de vida, pois além da escassez de trabalho, os que tinham trabalhavam muito pra ganhar pouco, passavam fome e no inverno rigoroso, frio. A mesma injustiça e escravidão que sempre houve na história, essas mulheres desesperadas e revoltadas, homens mancos, doentes e famintos, jovens sem esperanças e até crianças promoviam atentados ao castelo e saques à bancas, mercearias e à casas dos nobres para sobreviverem.
Na maioria das vezes eram mortos ou presos friamente, mas nunca ajudados. Difamados, mas nunca socorridos.
Vai entender o que se passava na cabeça dessas pessoas, dentro de si imperava o amor ao poder e ao dinheiro, corruptos das próprias almas.
Enquanto isso a conquista continuou pela Europa com números grandiosos de mortes, tanto pros reinos invadidos, quanto para as tropas de Klaus, mas mesmo assim ele seguia firme em seus ideais, um seguidor de Hitler.
Aconteceu que anos após ele tomar a Bélgica, os prisioneiros de guerra e os civis se armaram um golpe e, rebelados, enfrentaram as tropas espalhadas pelo território, reconquistaram Bruxelas e retomaram o poder sobre o reino, mais uma grande perda ao reinado de Klaus, pois até então a Bélgica era a grande fornecedora de ferro à Lorena, eles tinham uma aliança que o rei quebrou.
Com a derrota sobre os belgas Klaus retornou à Lorena com a intenção de descansar a beleza enquanto seus homens morriam em combate, nas epidemias que se alastravam e de fome, mas o que encontrou aqui quando chegou foi seu próprio povo contra si, o que o que lhe colocou em perigo iminente. Numa chuvosa noite de agosto Klaus foi morto em uma invasão dos rebeldes, o castelo não tinha muitos guardas e os que tinham não negaram baixar a guarda e permitir a entrada dos cidadãos. Polparam a rainha, que em tudo o que pode ajudou as pessoas que viviam as margens da cidade, e também a pequena filha do casal, princesa Eveline.
Com a morte do rei, a rainha Kora assumiu o comando sobre Lorena, Suíça e os reinos conquistados, com ideais totalmente controversos aos do marido Kora retirou as tropas suíças e lourences* dos reinos invadidos e quando a filha completou 22 anos foi coroada rainha e casou-se com Carlo III, príncipe da belíssima Holanda.
A moça reinou com sabedoria, sempre ao lado do marido e da mãe e juntos reconstruíram Lorena e Suíça, Kora casou-se novamente e governou seu reino natal, as rebeliões em ambos países diminuíram conforme o tempo, mas nunca deixou de existir a resistência que se mantivera insatisfeita e que rejeitaram Eveline pelo legado de seu pai.
Com a dissipação da nobreza em Lorena, faculdades começaram a ser acessíveis a todos as classes sociais e o conhecimento passou a gerar uma qualidade de vida melhor, empresas foram fundadas e com isso vagas de emprego criadas, a economia de Lorena disparou em um bom nível e concedeu aos conterrâneos boas condições de vida.
A nova geração satisfeita com o cenário abafou o que havia sobrado do discurso êmulo dos antigos e deu lugar a harmonia entre governantes e povo. Kora teve mais um filho, um menino, ela o nomeou Alun, que significa harmonia ou verdadeira paz, ele governou a Suíça após a morte da mãe e ainda hoje os laços deste país com o nosso e com vários outros é de paz e harmonia.
Anos mais tarde, a fim de refazer a aliança com o reino belga, o rei Herbert, neto algumas várias vezes de Eveline, casou sua única filha, princesa Lorraine, com o herdeiro do trono filho do rei Elliot e da rainha Aella, príncipe Matiz Aalbers, unindo assim Lorena e a Bélgica em uma aliança perpétua, assim esperamos.
Vivemos bem hoje, com uma enorme mancha de sangue no nosso passado e no meu sobrenome, mas não se pode jugar a geração presente pelos erros cometidos pela geração passada.
Os portugueses carregam na história a exploração das terras brasileiras, a exploração e escravização dos índios e dos africanos, mas os cidadãos portugueses de hoje não podem ser julgados e culpados pelos maus atos dos portugueses do século XV/XVI.
Tampouco os brasileiros, argentinos e uruguaios de hoje responsabilizados pela permanência e atuação dos soldados na Batalha de Campo Grande entre 1865 a 1870, onde mulheres, crianças e adolescentes paraguaios foram postos pra lutar contra o exército sul americanos e dizimados.
Assim como os alemães de hoje não podem ser responsabilizados pelos atos nazistas de Hitler e seus seguidores que mataram milhares de pessoas, promovendo grandes catástrofes como o Holocausto e a Segunda Guerra Mundial. A história denuncia o passado, mas não pode condenar o presente de uma nação e de seu povo.
Encerramos a ligação assim que o escritório de Steve foi invadido pela namorada, ele se despediu correndo e eu ri, ri bastante, ele estava realmente parecendo um cão adestrado.
Voltei a vasculhar o envelope, muitas memórias invadindo a mente, encaro uma das folhas, já está gasta, a letra da escrita já está um pouco apagada e a folha do caderno levemente amarelada.
Leio a letra da musica e sinto o peito inflar, eu me lembro da melodia, sim, eu me lembro. Olho pra parede do meu escritório cogitando se seria ou não conveniente, em um impulso eu me levanto e pego o violão, volto pra poltrona e respiro fundo.
Deslizo os dedos pelas cordas e sinto quando meu corpo sente as notas que puxo quando dedilho, paro e aperto uma das cordas e então volto a tirar algumas notas singulares.
Fecho meus olhos quando começo a melodia da antiga e incompleta canção, por alguns minutos eu permaneço assim, sem abrir meus olhos e nem a boca, o único som que reverbera no ambiente é o da minha respiração leve, da melodia que produzo e dos pássaros lá fora.
Lembro-me que essa foi uma das canções que compus dentro da casinha, eu sempre buscava refugio lá quando me sentia nostálgico e com saudade, mas eram raras as vezes que eu conseguia terminar uma composição antes do meu peito quase explodir de dor, frustação e tristeza e eu não estou exagerando em nada do que digo.
me diga qual foi sua razão, para quebrar meu coração.
para fazer das minhas noites tão lindas, um mar de confusão.
Chacoalho a cabeça tentando não lembrar do dia em que escrevi essa música, eu estava com saudade do calor e da alegria dela, e ainda sem entender o porquê ela não ligou mais.
entre todas as escolhas, você decidiu partir.
e ao não olhar pra trás, conseguiu me excluir.
Talvez seja mesmo patético tudo isso, mas não é por que eu sou homem que eu não sofreria por amor, eu continuo homem mesmo sofrendo e chorando.
da sua vida, enquanto eu continuei a te amar.
da sua mente, enquanto eu lutava pra respirar.
O motivo pra eu ter parado de escrever, ou deixado de fazer tudo o que me fazia lembrar dela é que eu não sou tão forte quanto pareço quando o assunto é ela, e talvez isso não seja tão ruim de admitir, mesmo que eu mesmo me negue.
Todo mundo tem um ponto fraco, não é?
me diga qual foi sua razão, pra nunca mais voltar.
me explica por que agora, você quer se aproximar?
Durante todos esses anos, eu lutei pra superar.
E justo agora, você resolve voltar.
Paro de tocar e me dobro sobre o violão, alcanço uma folha em branco e tiro a tampa da caneta com os dentes, faço alguns ajustes na letra, escrevo os quatro últimos novos versos e então toco de novo a mesma parte.
Há alguns meses, quando eu fazia terapia consegui vencer alguns bloqueios e voltar a fazer o que antes não fazia, a vida começava a se encaminhar de novo, mas ainda existiam coisas que eu nem pensava em fazer e uma delas era voltar compor.
Traumas e medos não são sentimentos banais, são resultados de um acontecimento que feriu uma pessoa e abalou o conceito de identidade dela, por isso o respeito tem que ser primordial no tratamento de um individuo assim, durante todos esses anos eu recebi apoio da minha família pra vencer meus medos e meus traumas, mas nunca fui pressionado a enfrentá-los.
Isso seria uma violência psicológica e todo tipo de violência é crime.
Mas agora, dedilhando o violão, com mil ideias na cabeça, escrevendo frases combinadas, e com meu coração nela me sinto bem, mesmo que eu saiba que muito coisa realmente não esteja.
Enfio a caneta atrás da orelha e volto a tocar.
diga, o que você quer de mim?
se antes preferiu o fim.
Canto com os olhos fechados, voltando na época que ainda éramos crianças. Me lembro das longas conversas animadas que eu e Sophia tínhamos, gostávamos de falar e eu amava o fato de encontrar uma amiga nela, talvez tenha sido um desses pontos que me fez ser apaixonado nela.
Pensar nisso dói porque eu não posso voltar ao passado e porque o que tivemos nunca mais teremos, mas ao mesmo tempo meu coração se aquece com memórias que jamais serão tiradas de mim, mesmo que se passem mil anos.
diga. o que eu devo fazer?
se ainda sonho em ser eu e você.
Minha voz se cala, mas meus dedos continuam a produzir som enquanto minha mente viaja pelas memórias que eu tentei manter dentro de um baú fechadinho.
Me lembro da vez que Soph falou que adoraria ser bailarina, mas que seus pés não seriam fortes o suficientes para aguentar seu peso de bolinha de queijo. Sem que perceba solto um riso divertido, ela sempre foi perfeita e ganharia o mundo se assim o quisesse, eu ainda tenho certeza.
Também teve o dia em que eu a levei ao meu quarto de brinquedos e a apresentei ao meu Playstation, bom depois disso tive que me contentar em apenas olhar ela jogar, pra Sophia era sempre "só mais essa vez e depois é você". A princípio eu fiquei com ciúmes do meu jogo, depois fiquei com ciúmes dela que não me dava mais atenção, depois daquele dia dificilmente voltamos lá.
Eu sei que é doido dizer que eu me apaixonei por ela naquela época, mas sim, eu me apaixonei por ela naquela época. Tinha treze anos, não sabia nada sobre o amor, mas eu sentia que ela era especial demais e que eu a queria para sempre perto, eu deveria ter feito algo, mas o que?
Entre todas as escolhas, você decidiu partir.
E ao não olhar pra trás, conseguiu me excl...
Paro de cantar e de cantar no mesmo instante em que abro os olhos pra olhar para a porta que se abre, Madeline enfia sua cabeça pela freta e me oferece um sorriso culpado.
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ATENÇÃO: Seu voto é importante, então deixe sua estrelinha quando chegar ao fim, por favor.
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- Entra. - sorrio fraco pra ela e recosto minhas costas na poltrona.
Depois de ontem ainda não havíamos conversado, Line caminha graciosamente até a cadeira a frente da minha mesa, ela parece mais saltitar do que tudo, seus olhos vasculham minha mesa e seu sorriso se amplia ainda mais quando ela identifica o envelope pardo.
- Está compondo. - exclama eufórica parecendo uma criança que ganhara o presente que tanto queria.
- Talvez. - maneio a cabeça para o lado e alguns fios rebeldes caem por sobre meus olhos.
- Está com a caneta atrás da orelha. - analisa meu rosto antes de voltar a fitar meus olhos, quando mais novo esse ato era um habito quando estava compondo, eu o perdi com o tempo. - Eu mal posso acreditar, Adam - o entusiasmo em sua voz me atordoa e eu crispo os lábios em uma linha reta e reviro os olhos. - Oras, não me olhe com essa cara, eu sei a quanto tempo você não compunha. - se senta sobre o vestido branco e preto e junta as pernas as inclinando minimamente para o lado. - É pra ela? - pergunta mais uma vez e eu suspiro incomodado.
Ela já anda me atordoando sobre o assunto proibido, com certeza isso só irá piorar.
- É pra mim, obrigado. - resmungo e ela ri.
- Ruivo, não seja rancoroso, eu sei que está bravo comigo por ontem. - diz e eu suspiro, me levanto e vou até a parede para pendurar de volta o violão.
Bravo eu fiquei hoje.
- E por hoje. - complemento e viro-me para ela.
Line me observa, seu semblante continua animado como antes, ela é impossível, mas disso eu sempre soube.
Enfio minhas mãos nos bolsos da calça e permaneço em pé esperando pelo ela manifestar o que veio fazer aqui, não que a presença dela me incomode, mas o fato dela ter me pego com um violão na mão e cantando frases de lamurias românticas não colabora com o futuro.
- Eu não tenho nada pra dizer em minha defesa. - se manifesta por fim e dá de ombros, reviro os olhos de novo e solto um suspiro resignado, claro que não.
- Eu disse que ia conversar com a minha mãe, não precisava você ter feito isso na minha frente. - digo e ergo um dedo a interrompendo quando ela inicia uma palavra. - Eu sei que se preocupa comigo Madeline, e eu sou grato por isso e você sabe, porém tem coisas que será eu que terei que enfrentar e fazer sozinho. - seus olhos concordam comigo e seu semblante fica sério.
- Tudo bem, você tem razão. - assente com a mãos juntas no colo. - Eu me excedi, me desculpa, Adam. - eu aceno uma vez com a cabeça grato por ter conseguido falar e ela entender.
Retorno pra poltrona e me sento diante do seu olhar, sinto que a conversa tinha mais curvas.
- Não veio aqui só por isso. - murmuro me ajeitando com uma leve sensação de que ainda sairei irritado daqui.
- Eu estou feliz que você esteja compondo, isso é uma boa evolução. - olha pras folhas sobre a mesa e eu apenas a observo - Daigle disse que te viu nas baias, eu estou feliz por isso também, de verdade. - seus olhos sobem para mim e ela sorri, Madeline ergue uma mão e com os dedos leva uma mecha de cabelo para atrás da orelha.
Madeline é linda, a pele clara combina perfeitamente com os olhos e os cabelos castanhos escuros, de longe não se pode perceber, mas ela tem pequenas pintinhas no nariz que se espalham pelo rosto, são clarinhas e por isso só percebidas se olhadas de perto. Ela tem 1,69 de altura, um centímetro menor que a minha mãe, mas não deixa de parecer um pitoquinho ao meu lado, contudo não brincamos com isso porque a jovem tem sérios problemas com seu tamanho, porém1 eu acho fofo.
- Não brigue comigo, nem revire os olhos, mas depois que a Soph... - abaixo as sobrancelhas em uma careta, Soph? já tá assim? - Eu disse pra não revirar os olhos, ruivo. - repreende com uma careta ranzinza.
- Eu não quero falar sobre ela com você, mais uma vez. - digo enfático, porém ela permanece com a mesma fisionomia.
- E vai falar com quem? - questiona e eu me calo, verdade. - Olha ruivo, vocês vão ter que conversar agora que vão trabalhar juntos. - eu fecho a cara e desvio os olhos de seu rosto fino.
- Por que será, hum? - questiono irônico mirando a janela do escritório.
A manhã está passando rápido demais e isso aumenta meu desespero, pois daqui um pouco mais a reunião acontecerá e eu ficarei recluso por longas horas com Sophia e seu cheiro de frutas vermelhas e maçã inebriante.
Fala sério, maldita ideia.
- Eu fiz um favor. - ergo as sobrancelhas até meu coro cabeludo assentindo cético. - Mesmo que agora você não acredite. - conclui rápido. - Olha, Adam...
Leio em seus olhos que chegamos em uma parte delicada na conversa e sabendo qual é eu resolvo me adiantar.
- Não tente me convencer a quebrar o acordo, Line. - advirto e ela bufa, abre a boca para rebater, mas é interrompida por alguém que bate a porta.
- Entre! - permito com meus olhos na madeira com uma enorme vontade de correr por ela.
- Altezas, perdão por interromper. - Roger entra e nos cumprimenta, nas mãos ele tem um envelope transparente.
- Não atrapalha, se aproxime. - inclusive se você quiser me chamar pra uma reunião de última hora, não me oponho.
- Com sua licença. - caminha até a ponta da mesa - Aqui estão os documentos e as análises, peço perdão pelo prazo não mantido, mas tivemos alguns problemas na elaboração de vários deles, tivemos que imprimir alguns novamente. - explicou empurrando por sobre a mesa a pasta.
Me desencosto da poltrona e me estico para pegar os documentos.
- Tudo bem, não se preocupe com isso. - analiso-os rapidamente e superficialmente e sorrio satisfeito. - Ainda estamos dentro do prazo. - mais cedo Roger havia me mandado um e-mail explicando a situação, por isso não me preocupei em cobrá-lo. - Semana que vem temos a reunião com os diretores de todos os orfanatos de Lorena, faça pra mim um relatório com uma relação das petições de cada um deles, com a relação de investimento e dos resultados, por favor. - peço e ele assente - Pra reunião de hoje eu preparei um repertório, mas quero que prepare um também, contudo faça isso depois do seu almoço. - digo e Roger automaticamente olha pro relógio.
- Tenho alguns bons minutos ainda, consigo adiantar o repertório. - afirma e eu assinto.
- Consegue mandar uma mensagem pra Emma? diga à ela que pra reunião de hoje preciso de uma lista dos repórteres das mídias locais. - peço e ele assente. - Por enquanto é só isso Roger, obrigado. - ergo levemente a pasta e ele se reverência.
- Não fiz mais do que meu trabalho. - sorri para mim - Alteza. - se despede de Madeline e logo se retira.
Abaixo meus olhos de volta para a pasta e separo os documentos com a ponta do dedão passando meus olhos rapidamente pelo conteúdo de cada um dos documentos.
- Aonde estávamos? - a voz de Line volta a soar pela sala e eu suspiro, ela ainda queria continuar.
Por Deus!
Quero responder que não faço ideia e nem quero fazer, mas me mantenho calado, ela se lembrará, Madeline sempre se lembra.
- Ah! - eu permaneço com meus olhos baixos, juro que não quero discutir com ela mais uma vez, mas se continuar insistindo em manter certos assuntos, eu... - Quero adiar a entrega dos convites. - exclama e eu arregalo os olhos a olhando no segundo seguinte espantando.
O que?
Eu sempre amei a dedicação dela em me estimular correr atrás dos meus sonhos, mas acho que já está passando da conta, como assim adiar a entrega?
- Madeline, nossos convites estão prontos, o buffet, os músicos, as roupas, os garçons, tudo já está pago. - murmuro com o corpo tenso, os dedos congelados entre os papéis e a mente agitada, mil pensamentos desconexos. - Como assim você vem me dizer agora que quer adiar a festa?
Ela franze a boca em uma linha reta, os olhos endurecidos me fitam sem paciência agora, aposto que segurou o impulso pra não revirar os olhos, ela não costuma agir assim a menos que esteja muito brava, o que parece estar nesse momento, mas eu realmente não ligo.
- Eu disse que vamos adiar a entrega dos convites e não da festa, precisa de cotonete além de calmante? - responde grossa, não seguro o sorriso sádico que se ergue no canto dos meus lábios e a encaro me sentindo frio, eu particularmente não gosto quando esse meu lado é despertado.
Solto os documentos, fecho o envelope e o descanso em cima da mesa assistindo quando Madeline arregala os olhos levemente e então massageia o cenho percebendo como acabara de falar.
Eu não dou a mínima se ela acha que eu tenho que correr atrás de Sophia ou algo do tipo, eu não ligo se ao me casar com ela esteja assinando minha sentença de "infelicidade" eterna ou até que a morte nos separe, mas eu me importo em ser confrontado dessa maneira, não por ser o príncipe herdeiro de um trono, nem por ser o namorado por acordo, mas por ser seu amigo.
Além de que jogar na minha cara os meus problemas psicológicos é golpe baixo e não vai ajudar na sua missão cupido.
A princesa claramente percebeu o clima tenso que se estabeleceu por todo o local e então somente após alguns minutos ela olhou para mim, seus olhos genuinamente arrependidos, o rosto encoberto por uma penumbra fina de vergonha, suas bochechas coradas.
- Desculpa, ruivo. - pede descendo as mãos para o colo novamente e sua postura firme fraqueja um pouco sobre meu olhar.
Eu não sei dizer ao certo se estou chateado ou com raiva pela forma com a qual ela falou comigo, mas eu queria que estivesse do meu lado como em todas as outras vezes, eu queria a sentir seu companheirismo, mas agora...agora ela está me empurrando diretamente para a minha zona de guerra enquanto eu só quero estar no conforto e segurança do nosso acordo.
Eu respiro fundo sem perceber quando foi que meu sorriso sumiu e meu semblante tomado pela minha máscara de frieza, eu estou apreensivo com tudo isso.
- Pra mim é a mesma coisa. - respondo dando de ombros sem nada comentar sobre sua grosseria, é melhor deixar pra lá. - Só que ao meu ver falar que quer adiar a entrega dos convites da nossa festa de noivado é mais fácil do que falar que vai cancelar a festa. - ela abaixa o rosto mirando o chão, é isso, é isso o que ela quer e eu bufo desgostoso com essa conclusão.
Eu sinto um gosto amargo se espalhar pela minha boca aos poucos, não posso deixar que ela me deixe como fiz com Sophia.
- Eu não permito. - afirmo calmamente esfregando as palmas suadas e trêmulas pela calça de linho antes de me pôr de pé e abotoar o botão dourado do terno caro.
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ATENÇÃO: Seu voto é importante, então deixe sua estrelinha quando chegar ao fim, por favor.
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Dessa vez eu não vou deixar que isso aconteça e não é só por mim, nosso relacionamento abrange muito mais do que eu e ela, ou uma paixão adolescente que resolveu se reerguer das cinzas, tá, eu sei que não é bem assim, mas eu não posso permitir que Medeline cogite quebrar o acordo só por acreditar que eu mereço ter uma segunda chance e expor nossas famílias, nossos reinos, nossos povos, nós, por algo tão...tão...
Eu não quero, não quero.
Não quero uma segunda chance pra andar em cima de uma corda bamba se posso continuar na segurança do meu império de gelo, não quero correr o risco de por em guerra nossos reinos por causa de um sentimento que deveria ter sido esquecido, não quero que ela faça isso por mim. a menos que seja por ela.
Encaro os olhos que Madeline colocou nos meus alguns minutos atrás, eles são castanhos claro, mas tem um pequeno círculo mais escuro que contrasta perfeitamente com suas, quase, imperceptíveis sardas.
Line, em um rápido lampejo, fecha a boca que mantinha levemente aberta e que a deixava parecendo uma coelhinha e então franze o cenho fazendo suas sobrancelhas bem delineadas se juntarem em...confusão? não! indignação.
- Você não tem o que não permitir, Adam. - rebate se pondo em pé, a postura mudara de novo, voltou a ser desafiadora.- É uma escolha minha também, eu quero adiar a entrega dos convites e um noivado não se faz só, então... - eu a interrompo.
- Você está me ameaçando? - franzo o cenho e estreito meus olhos me sentindo ainda pior, aonde chegamos?u
- Não. - fala simples - Estou mostrando minhas alternativas, eu tenho duas, é só você escolher. - dá de ombros e inclina o corpo levemente sobre a mesa o suficiente para espalmar suas mãos pequenas sobre ela e me encarar.
Soco minhas mãos nos bolsos e engulo em seco contendo o acesso de raiva, queria jogar algo contra a parede ou socá-la mesmo e estrondar em todas as palavras não éticas que soam na minha cabeça nesse exato instante, porém para me conter viro meu corpo de frente para a janela e respiro fundo fechando meus olhos.
Inspira, um, dois, expira.
Inspira, um, dois, expira.
Inspira, um, dois, expira.
Viro-me de volta pra ela que ainda está me encarando, mas agora está longe da mesa, o mesmo semblante impassível.
- Pode pelo menos me explicar o porquê disso agora? - questiono e ela aperta os lábios finos um contra o outro.
Eu passo a língua pelos meus nervoso quando leio em seus olhos a resposta que ela não dá verbalmente.
- Grr... - grunho nervoso, arranco as mãos dos bolsos e as esfrego contra meu rosto subindo pelos meus fios os desarrumando por completo e desço até a nuca. - Por que está fazendo isso? - soo quase desesperado, patético, mas eu sinto o desespero se alastrar pelo meu peito, rápido, agoniante. - Eu não quero que ela interfira no que a gente tem. - digo a beira de um colapso nervoso. - Eu não vejo motivos pra você achar que eu quero voltar a me apaixonar por ela, Madeline... - reclamo tentando convencê-la que isso tudo é um erro, mas sei que ela não se dará por vencida, ao contrário disso Madeline cruza os braços.
Sua feição agora está cética e tenho certeza que esconde um sorriso debochado porque, novamente, ela não costuma se expressar dessa forma, pelo menos não até agora.
- O que a gente tem, Adam? sem ser uma assinatura em um papel que decompõe? - questiona sucinta e eu emudeço. - E mais, todo mundo sabe que não tem como você voltar a se apaixonar por alguém que nunca deixou de ser apaixonado. - afirma e eu reviro meus olhos me movendo inquieto, volto a desabotoar meu terno e o arranco sem hesitação.
Calor, eu estou com calor.
- Adam, você sabe que o que a gente tem não é real... - eu a corto enquanto subo as mangas da caminha social.
- É lógico que é, somos amigos, Madeline. - evito olhar pra ela - Companheiros, se lembra? eu por você e você por mim? você me salvou e eu te salvei ao assinar aquela droga, nossos pais assinaram. - relembro começando sentir meu corpo inteiro trêmulo.
Ela parece perceber e caminha até mim mesmo depois de negar minha fala, eu recuo assim que a princesa tenta tocar meu antebraço.
- Você sabe do que eu estou falando, das borboletas no estômago, os sorriso cúmplices e os bobos também, os sonhos e planos pro futuro, os presentes e declarações inesperadas, a ânsia em estar perto, o prazer e o contentamento ao segurar as mãos, o conforto e a vontade de nunca mais sair do abraço da pessoa, passeios românticos, piqueniques, divagar sobre as pequenas coisas, as manias fofas... - lista e eu não consigo conter minha mente ao me trair e me levar até ela, Sophia sorrindo e girando sobre a grama com o sol batendo em sua moleira fazendo brilhar seu cabelo, a pele clara refletindo as pequenas gotinhas de suor na raiz da testa, o sorriso nos lábios rosados, ela sorria para mim, seus olhos estavam em mim e eu imediatamente sinto meu coração disparar me fazendo arfar.
Não é real, nunca seria.
- Dan... - chama Line quando tranco meus olhos e chacoalho a cabeça para espantar os pensamentos insanos do meu consciente iludido.
Como eu vou convencer Madeline que devemos ficar juntos se eu não controlo nem mais meus pensamentos? eu não quero pensar nisso, eu não quero pensar nisso, não quero pensar nela, em um nós que nunca existiu.
Reabro meus olhos rapidamente e fito os preocupados da morena a minha frente, tudo bem se não somos um casal normal, tudo bem se não sentirmos borboletas no estômago, tudo bem, tudo bem porque eu sei que podemos fazer isso.
- Podemos fazer isso. - digo em voz alta, mas ela sorri desgostosa, por que? - Eu posso te levar pra lanchar em um restaurante romântico, só nós dois com valsa das flores ao fundo, velas aromáticas como você ama, posso estender uma toalha no chão do parque e ler Orgulho e Preconceito pra você quantas vezes quiser, eu posso tentar fazer dar certo, eu só... - me calo sentindo o chão incerto abaixo dos meus pés e então as mãos dela seguram meus braços e ouço meu primeiro soluço.
Talvez eu irei me sentir patético por essa cena mais tarde, mas por agora a angustia é a única coisa que eu sinto e não há o que eu possa fazer para conter minhas lágrimas.
- Por favor, Dan, não podemos nos enganar assim, comigo nunca será como seria com ela. - seus olhos estão tristes e eu sinto o gelo perturbador correr pela minha coluna. - Eu quero te ver bem Adam, feliz, por favor, tente. - encaro seus olhos que imploram por meu sim, mas eu sinto medo.
Medo de me quebrar de novo, medo de sentir aquela dor horrível mais uma, sinto medo dos pesadelos que a arrancam dos meus braços, sinto medo da sensação de vazio, sinto medo de mais uma vez ficar sem seu cheiro.
- Por que está fazendo isso comigo? por que está me pedindo isso? - me afasto de seu toque, dois passos para trás, me sinto em uma seção de tortura.
- Eu sei que por todos esses anos você esteve escondido atrás da sua máscara de um cara forte, mas todos nós sabemos que seus medos nunca te deixarão avançar. - ela fala e eu permaneço acuado. - Não pode deixar que eles te prive de viver o que você sonhou viver, Adam, por favor... - ela dá um passo na minha direção e eu outro pra trás.
Eu não estou interessado em desapontar Madeline, mas eu não sou tão forte como julguei ser e ela é meu ponto fraco, a droga do meu vício e o gatilho pras minhas crises, eu não posso.
Me sinto no meio de uma ponte de madeira instável, com as cordas podres ameaçando romper e me deixar cair em um abismo profundo e escuro.
"[...] Um passo em falso o envolve em infinita ruína..."
Mary usou essas palavras em um contexto totalmente diferente do que o vivo agora, e apesar de sempre ter torcido meu nariz quando Madeline vinha com o livro pro meu lado, nesse instante para mim as palavras da personagem nunca me fizeram tanto sentido.
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INFO:
*A letra da canção de Adam é um original e não autorizo o uso em quaisquer circunstâncias.
*A citação é do livro Orgulho e Preconceito da minha querida Janezinha, ele se situa em um diálogo entre Mary e Elizabeth. - capítulo 47, página 294 no meu livro. -
ATENÇÃO: Seu voto é importante, então deixe sua estrelinha, por favor.
N/A | NOTA DA AUTORA
Povos e povas, já ouviram aquele ditado: Antes tarde do que nunca? então, aqui estou euuuuu.
Com mais um caps pra vocês, e já vai me desculpando pelo demora porque por aqui a coisa anda feia, ok? Eu espero que vocês estejam bem meus amores, desejo uma boa semana também e espero que gostem do caps.
Deixem bastante estrelinha pra tia e comentem também, belê?
Amo-vos.
Bjinhos.
A.I.M
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