CAPÍTULO TRÊS

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ATENÇÃO: Seu voto é importante, então, por favor, deixe sua estrela quando chegar ao final.
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Quarta a noite I 01 de Junho

- Eu não queria ouvir isso. - confesso e o médico assente.

- Eu tenho certeza. - afirma e algumas lágrimas escorrem de meus olhos. - Mary chegou ao hospital desacordada e com um corte alarmante na cabeça, perdeu uma quantidade de sangue relevante, mas, felizmente, por conta da rapidez do socorro não foi o bastante pro sistema dela sofrer um colapso. - diz e eu assinto sentindo meu corpo tremulo e minha cabeça girar - Como seu pai não teve nenhum corte grave como o dela e estava semiconsciente dei preferência a Mary e em uma cirurgia simples, fechamos a ferida. - relata, eu assinto e fungo com os olhos na mesa. - Além desse ferimento descobrimos pela radiografia, e confirmamos na ressonância, a fratura traumática que Mary sofreu na tíbia. - revela o médico fazendo uma pequena pausa, eu o olho e o vejo suspirar. - Descobrimos também duas costelas quebradas. - conta e eu franzo a boca em uma linha reta engolindo em seco.

Quando eu penso que não poderia ficar pior...Ao ouvir isso tapo minha boca em descrença e as lágrimas começam a cair com mais violência, eu não posso acreditar.

- Meu Deus... - arfo sem conter a angustia que de repente me parece ainda mais forte. - Como... - me calo - Isso... - fungo de novo - Isso é terrível.  - choro secando as lágrimas incessantes com as costas da mão. 

Ao meu lado Roger se remexe e logo estende para mim um lenço alvamente branco, eu o agradeço antes do doutor voltar a falar. 

- Nós a medicamos e ela segue inconsciente. -  fala e meus olhos fitam a foto em família,

Eu nunca imaginei isso, mas notícias assim doem, doem muito.

- Quando eles deram entrada na emergência não foi difícil identificar as fraturas. - fala e eu arregalo os olhos.

- As? - pergunto e ele assente.

- Eu já explico. - garante. - Mas mesmo sabendo que, talvez, teríamos que fazer duas cirurgias precisávamos estudar o caso e o trauma, por isso ainda não fizemos nada em relação a fratura da sua mãe.

Agora eu o olho com atenção e medo do que ele possa falar.

- O seu pai, apesar de também ter tido uma fratura, não vai precisar de cirurgia, enquanto sua mãe, infelizmente, sim. - afirma e eu massageio minha testa sentindo minha cabeça doer - Isso por que houve o desvio do osso e, para mantê-lo alinhado e estabilizado até que ele cole novamente, precisará de pinos.- explica e eu assinto limpando o rosto com o lenço. - Identificamos no seu pai uma fratura no osso do antebraço, o que na medicina chamamos de fratura distal da ulna. - ele me estende duas chapas e localiza com o dedo indicador as fraturas de minha mãe e do meu pai. - Nós conseguimos fazer uma redução fechada do osso, colocá-lo no lugar e então colocamos a tala. - explica e eu o olho. 

- Ele vai fazer uso do gesso? - pergunto e ele assente.

- Sim, futuramente. - confirma - Usamos a tala no início por causa do inchaço no local do trauma, mas engessamos em uma ou duas semanas, no máximo. - explica e eu assinto. - O carro em que seus pais estavam foi atingido por outro e sua mãe estava no lado que foi atingido, por isso o caso mais grave que o do seu pai. - relata - No entanto, quando seu pai deu entrada ele estava delirando e por isso farei mais alguns exames pra certificar que não houve lesões em seu cérebro. 

- O senhor tem uma estimativa de dias que eles ficarão aqui? - pergunto remexendo meus dedos entre si.

- Não tenho previsão, infelizmente. - nega - Isso devido a tudo que lhe expliquei, mas seu pai, se não tiver nenhuma lesão cerebral, ganhará alta antes da sua mãe, mas não tenho previsão para isso ainda. - afirma e eu assinto em concordância.

- Tudo bem doutor, eu entendo. - fungo baixo -  Obrigada por tudo que está fazendo por eles. - agradeço sincera.

- É um prazer, essa é a minha missão. - afirma e olha pra alguns papéis que descansam em sua mesa. - Futuramente eu lhe darei as instruções sobre a fisioterapia que ambos irão precisar. - diz e eu assinto. - E sobre a cirurgia da sua mãe, nós a faremos ainda hoje. - avisa - Está marcada para às sete e quarenta. - informa se levantando. 

- Certo doutor. - me levanto também, seguida por Roger que ajeita o terno e abotoa o botão dourado.

- Seu pai provavelmente está dormindo, mas posso levá-la até o quarto dele, se quiser. - sugere e eu assinto.

- Por favor. - concordo.

Com as mãos juntas em frente o tronco remexo e aperto os dedos entre si seguindo o doutor pelo corredor branco, estou nervosa, mas também ansiosa para ver meu pai, estou com tanta saudade e sinto tanto, tanto.

Voltamos a entrar no elevador e o vejo o doutor apertar o botão do andar de cima, o silêncio no ambiente era pesado e os segundos que se seguiram até chegarmos pareceram minutos intermináveis.

Doutor Armand nos guia até a porta do quarto e a abre, olha pra mim e sorri compassivo.

- Foi um prazer lhe conhecer, Sophia. - afirma - Ainda nos veremos pelos próximos dias e espero que tenha boas notícias para lhe dar. - exclama e eu assinto.

- Foi um prazer doutor, creio em Deus que terá. - aperto a mão que ele me estendeu e então é a vez de Roger o cumprimentar.

Olho pra dentro do quarto enquanto o médico se afasta, meu pai está deitado com vários fios ligados a si, seu semblante está neutro, seus ombros escondidos pelo roupão hospitalar, as pernas cobertas pelo lençol branco, o cheiro que vem de dentro me tonteia ligeiramente, olho pro braço dele imobilizado pela tala e sinto meu coração se contrair dentro de mim.

Ontem ele estava tão feliz, brincando comigo, sorrindo pra minha mãe e hoje seus olhos estão fechados, seu semblante sem brilho e isso me assusta.

- Sophia. - ouço Roger me chamar e o olho.- Vá lá. - encoraja e olho novamente para dentro do quarto iluminado pelo abajur que fica em cima de uma mesa de cabeceira ao lado de uma poltrona de couro. - Eu estarei aqui do lado de fora, caso precisar. - afirma e eu assinto sem olhá-lo.

Toco a maçaneta e por um instante a senti mais gelada que o normal, empurrei mais a porta para que meu corpo passasse sem dificuldade e então olho para Roger.

- Fique a vontade para fechar. - fala e então me oferece um sorriso acolhedor, ao qual eu não consigo retribuir.

Fecho a porta atrás de mim e fico  encarando ela por alguns segundos de costas para meu pai, isso é tão difícil meu Deus. Fecho meus olhos sentindo as lágrimas virem sem permissão enquanto sinto meu coração bater dolorido.

Giro meu corpo sob meus calcanhares e olho novamente para a cama de hospital aonde meu pai repousa ainda de olhos fechados, caminho devagar até ele observando seu rosto e me lembrando do seu sorriso.

Eles ficarão bem Sophia, creia no seu Deus, o mesmo que criou o céu, a terra, as estrelas, que fez a mulher de uma das costelas de Adão, que prometeu a Abraão uma enorme geração, que sonhou os sonhos de José, que guiou Moisés e o povo de Israel, que abriu o mar, fez chover maná, colocava nuvem de dia para resfriar o povo e coluna de fogo à noite para aquece-lo, esse é seu Deus, um Deus de milagres.

Toco a mão quente de meu pai e olho pro oxímetro que mede seu pulso conectado ao monitor de batimentos cardíacos, com a outra mão acaricio seus fartos cabelos que começam a ficar grisalhos por causa da idade, olho pro seu rosto e franzo os lábios em uma linha reta.

Me sinto muda, com um nó entalado na minha garganta, é uma sensação péssima.

Fecho meus olhos e oro em silêncio, por ele, pela minha mãe na sala de cirurgia, por mim e isso é tudo o que eu posso fazer por alguns minutos.

Mas quando sinto as pernas cansarem eu me sento na poltrona disposta ali ainda o observando com atenção.

Meus olhos fitam meu pai como se fosse o melhor de todos os livros ou filmes, para mim ele não parecia querer acordar, mas eu sei que é por conta dos remédios.

Durante as horas que se seguem eu canto alguns dos hinos que ele mais gosta, meu pai não está em coma, mas talvez, de alguma forma, ele saiba que sou eu e o quanto o amo.

Por volta das oito e meia uma enfermeira entra no quarto e quando me vê sorri.

- Boa noite. - cumprimenta gentil - Você deve ser a Sophia. - comenta fechando a porta atrás de si enquanto eu tento lhe dar meu melhor sorriso.

- Sim, sou eu. - afirmo calmamente.

- Muito prazer, meu nome é Claire. - se apresenta se aproximando da cama -  Só hoje ouvi muito de você. - afirma e eu sorrio de verdade.

Esse é meu pai.

- Doutor Armand disse que ele estava delirando quando chegou. - murmuro confusa e ela assente. 

- Por isso achei que você não fosse real. - brinca e eu sorrio.

- Bom, nesse caso eu espero que ele tenha dito apenas coisas boas. - digo e ela ergue as sobrancelhas e concorda.

- Oh sim, senti até vontade de ser mãe de uma filha como você. - fala e eu rio fraco.

- Muito obrigada. - agradeço e ela assente.

A enfermeira se posiciona ao lado esquerdo do meu pai e deposita sobre a cama uma bandeja de inox, em cima dela descansam duas seringas.

- Ele não vai acordar mais hoje, não é? - pergunto um pouco decepcionada, mas eu compreendo, prefiro que descanse.

- Não, minha querida. - confirma minhas suspeitas e eu assinto a assistindo furar o cano de borracha transparente injetando o líquido ali. - Por causa dos efeitos fortes dos medicamentos. - explica e eu assinto.

- Tem alguma informação da minha mãe? - pergunto e ela me olha enquanto descansa uma das seringas de volta na bandeja e pega a outra. 

- Sem novidades por enquanto. - afirma erguendo o instrumento no alto e conferindo se não há ar. - Ainda está em operação. - informs - Não se preocupe, é normal, cirurgias de fraturas traumáticas sempre são demoradas. - fala e eu assinto.

Observo ela pressionar a base, mas não enxergo o líquido transparente sair.

- Porque não vai pro hotel, toma um banho e descansa um pouco? - pergunta organizando as coisas na bandeja sorrindo. - Sei que a viagem foi cansativa e seus pais estão em boas mãos. - pisca pra mim - Você tem que estar bem para eles ficarem bem também. - aconselha e eu não esboço nenhuma reação.

Não me sinto com fome, mas me sinto cansada, porém não estava nos planos deixar o hospital essa noite.

- Eu sei que você está em uma posição delicada, mas não pode castigar seu corpo. - fala ainda e eu foco em meu pai. - Eu vou deixá-los à sós, qualquer coisa é só apertar aquele botão ali. - aponta e eu movo os olhos na direção de seu dedo.

- Tudo bem, obrigada. - agradeço e ela assente.

A porta se fecha após ela sair e eu volto meus olhos para a cama observando meu pai.

- Oh pai... - murmuro acariciando seu rosto.

Permaneço ali, agora, apenas o olhando. 

Não quero sair daqui, mas sinto meus olhos pesar mais a cada minuto, o cheiro de remédio não colabora fazendo meu estômago permanecer enjoado.

Ouço vozes do lado de fora e logo depois batidas na porta.

- Senhorita Owes. - ouço a voz com sotaque me chamar.

- Sim? - viro meu corpo na poltrona olhando pro doutor Armand que ainda está com touca e roupa do centro cirúrgico.

- Por favor. - ele me chama e eu não demoro a me levantar, beijo a mão do meu pai e sigo até a porta.

Ele a fecha quando saio e então olho pra Roger que se mantém perto de algumas cadeiras do corredor, ele fala ao telefone.

- A cirurgia foi bem sucedida. - diz e eu sorrio grande, sinto como se pudesse pular de alegria e alívio. - Sem complicações. - conclui e sinto lágrimas gratas escorrem pelo meu rosto.

- Graças à Deus, graças à Deus. - murmuro com as mãos um pouco erguidas.

- Mary está na sala de recuperação pós anestesia. - explica e eu assinto me mantendo atenta. - Como foi anestesia geral ela ficará sob observação por, pelo menos, quatro horas. - informa e eu concordo. - Nesse período não será possível que tenha contato com ela, então, sabendo que a senhorita fez uma viagem cansativa até aqui, aconselho que vá descansar. - argumenta - Assim que ela for transferida pro quarto eu mesmo ligarei. - promete e eu assinto.

Eu realmente estou cansada e a poltrona do quarto, apesar de ser confortável, se torna desconfortável com as horas. Também preciso de um banho e talvez pôr algo no estômago já que faz algumas horas que não como nada.

- Tudo bem doutor. - me sinto vencida.

- Não se preocupe, eles ficarão bem. - afirma e eu concordo com um sorriso contido.

- Eu posso me despedir de meu pai? - pergunto apontando para o quarto.

- Claro, fique à vontade. - diz - Nos vemos amanhã, boa noite senhorita.

- Igualmente. - aperto sua mão e o vejo se despedir de Roger antes d'eu entrar e fechar a porta atrás de mim.

Caminho até meu pai e pego sua mão boa.

- Mamãe saiu da cirurgia. - murmuro olhando pro seu rosto - O doutor Armand disse que correu tudo bem e eu me sinto grata à Deus por isso. - me calo e olho pra parede a minha frente. - Eu voltarei logo, pai. - prometo e me curvo para beijar sua testa. - Te amo. - afirmo e então acaricio uma última vez seu cabelo.

Solto sua mão e caminho em direção a porta, antes de abri-la dou uma última olhada pra ele e depois de um suspiro tomo coragem e abro a passagem, saio por ela e encontro o olhar de Roger que vem em direção a mim.

- Tudo bem? - pergunta e eu assinto em concordância. - Certo. - murmura - Podemos ir então? - chama e eu afirmo em silêncio.

Quanto mais passos damos mais eu sinto vontade voltar.

- Comprei um chip pra que você possa se comunicar com sua família e com seus amigos. - revela e eu o olho. - Pra dar notícias. - conclui e eu assinto.

- Obrigada, Roger. - agradeço após pegar o pequeno pacote que ele me estendeu e sorrio simples.

- Não por isso, Sophia. - murmura e eu guardo o chip no bolso do vestido.

- Você é amigo deles? - pergunto e ele me olha rapidamente enquanto entramos no elevador.

- Dos seus pais? - pergunta e eu assinto - Eu os conheci a alguns dias, mas já os considero. - afirma - Na verdade, não há como alguém não querer ser amigos deles. - confessa e eu sorrio.

É verdade.

- Seus pais, de alguma forma, conquista todos com um simples cumprimento. - fala e eu sinto meus olhos lacrimejarem - Quando eles começam falar sobre a bíblia e sobre as histórias de Jesus... - parece perder as palavras por um instante e então sorri. - É como se nos teletransportássemos, sabe? Eu me sentia tocado por algo tão... - hesita parando de gesticular. - Não sei, é difícil explicar. - ri fraco.

- Tocado pelo Espirito Santo? - pergunto e ele me olha enquanto as portas do pequeno cubículo se abrem.

- Faz sentido? - pergunta com as sobrancelhas franzidas e eu concordo com a cabeça andando ao seu lado.

- Sim, completamente. - afirmo me lembrando das vezes que senti essa presença. - É sobrenaturalmente bom, não dá vontade sair nunca da presença dEle. - comento e ele assente.

- Eu nunca havia sentido nada como isso. - confessa e eu sorrio.

- E nunca irá conhecer nada parecido, o abraço do Espírito é único em todo o universo, sentimos o cuidado do filho e do pai através dele. - digo e o vejo me olhar com brilhantes olhos.

- É incrível. - murmura e eu sorrio.

Agora, na recepção só tem duas mulheres e nenhuma delas é a que nos guiou até a sala do médico, nós nos despedimos e somos recebidos pela noite fresca assim que cruzamos as portas de vidro.

- O que me espera? - pergunto à Roger que me olha enquanto caminhamos até o carro que já nos espera em frente ao hospital.

- Está nervosa? - questiona com um sorriso gentil nos lábios.

Bem, considerando que ficarei hospedada na casa do rei e da rainha, acho que...

- Um pouco. - confesso e ele solta um riso fraco abrindo a porta do carro para mim.

- Não se preocupe, eles irão te recepcionar bem, tenho certeza. - afirma e eu entro no carro.

Eu só espero saber lidar bem com os requisitos da realeza.

Roger entra logo depois de mim e a porta é fechada pelo segurança que entra na frente, ele olha pra mim e então abre o botão do terno.

- Sophia, lembre-se que lá você é hospede. - comenta e o olho sentindo como se ele tivesse lido minha mente.

Eu assinto em agradecimento, mas ainda não me sinto menos apreensiva.

- Por que essa briga com o botão. - pergunto e ele olha pra baixo e então sorri na minha direção.

- Não sei, na verdade passou a ser um ato automático. - afirma e eu apenas concordo. - Mas, sinceramente, é muito melhor sentar com ele aberto, é mais confortável. - explica.

- No verão você não sente calor? - pergunto olhando para fora da janela enquanto o carro se move..

- As vezes. - afirma maneando a cabeça. - Mas não sou uma pessoa muito calorenta. - responde e eu olho pra ele, mas meus olhos, mesmo sem permissão, correm pra fora de sua janela.

- Em Londres, alguns dias de verão chegam perto dos trinta graus. - comento - Eu quase morro com roupa fresca, imagina com terno. - sorrio baixando meus olhos pra minhas mãos. - Não sei como os pastores aguentam. - resmungo.

- Homens são resistentes. - alega e eu solto um riso fraco.

- É, eles são. - concordo sentindo o assunto morrer lentamente.

Ficamos calados pelos minutos restantes, cada vez parecemos nos afastar mais da cidade, o cenário aos poucos vai ficando mais verde, cumpridos pastos, os postes de iluminação nos permite ver as grandes fazendas, são lindas.

- Estamos longe? - pergunto calma, os olhos na paisagem.

- Não, faltam poucos quilômetros agora. - afirma e eu sinto minhas mãos soarem de repente, não, não estava mais calma. - Ei, eu consigo sentir seu nervoso, se acalme. - pede Roger sorrindo.

Olho pra ele com um sorriso simples, iria o responder, mas seu celular foi mais rápido e ecoou seu toque por todo o carro.

*Majesté? - atende em francês e viro meu rosto para o vidro.

Não presto atenção na conversa deles, mesmo que queira sinto que estaria invadindo a privacidade de ambos, por isso canto mentalmente uma música aleatória e só paro quando vejo mais a frente uma enorme construção, ela fica ao fim da estrada asfaltada, tem enormes portões dourados e grandes muros de pedra, a iluminação deixa a entrada ainda mais grandiosa.

- Uau... - murmuro encantada.

- É lindo, não é? - pergunta Roger e eu assinto enquanto ele se ergue no banco para guardar o celular no bolso da frente da calça social. - Espera pra ver por dentro, se sentirá uma princesa. - comenta e eu sorrio.

- Eu sou uma princesa, aos olhos de Deus e dos meus pais. - dou de ombros e ele sorri, vejo Roger abrir a boca e erguer as sobrancelhas, ia falar algo, mas desiste em seguida juntando novamente os lábios.

Vejo o segurança no banco da frente se comunicar com alguém quando já estamos mais próximos ao portão e então ele começa a deslizar abrindo passagem para nós.

Como se ainda pudesse ficar mais bonito olho pros dois lados do jardim, é incrível, há várias flores, árvores e o piso de concreto divide espaço com a grama que é cortada simetricamente, mais a frente tem uma fonte e então a alguns metros adiante as grandes portas de madeira escura que guardam a entrada do palácio.

- Betânia iria amar esse lugar. - comento enquanto o carro para em frente as escadas que leva a porta dupla.

Olho pra ele que parece divertido com minha animação.

- Eu posso tirar fotos, filmar? - pergunto e ele assente.

- Claro. - diz e eu sorrio grande.

Ela vai surtar.

Minha porta e a de Roger são abertas assim como a do palácio.

- Senhorita. - o guarda diz e eu saio e o agradeço.

Vejo algumas pessoas uniformizadas virem na nossa direção e o segurança que me cumprimentou a pouco segue para o porta malas.

- Sophia. - Roger chama minha atenção. - Por favor. - me chama e eu sigo até ele cumprimentando os homens que passam a carregar minhas malas pra dentro.

Me ponho ao lado dele e antes que possa dizer algo somos alcançados por uma jovem bonita.

- Senhor. - ela o cumprimenta. - Senhorita. - saúda a mim. - Meu nome é Miranda, me permite? - aponta para minha mala de mão e eu assinto.

- O meu é Sophia, muito prazer. - digo e ela mantém o sorriso.

- O prazer é todo meu, com licença. - afirma antes de se retirar.

Olho pra Roger, respiro fundo e solto o ar com uma careta.

- Você foi bem. - afirma e eu sorrio - Vamos, suas majestades nos esperam na sala de visitas. - chama e de repente sinto as pernas bambas.

- Eu acho que preciso de uma cadeira de rodas. - murmura o fazendo rir baixo.

- São humanos como você, Sophia. - resmunga e eu assinto.

- Eu sei, mas não consigo evitar. - confesso e ele apenas sorri.

Cruzamos as portas de madeira esculpida em desenhos simétricos, como os jardins, após subirmos os poucos lances de escadas.

Pelas portas abertas consigo ver o enorme lustre que nos saúda com seu brilho, não sei quantos, mas há muitos cristais.

O cômodo tem um bom tamanho e pra todos os cantos que eu olho vejo luxo estampado, é uma forma simples de dizer que é rico sem falar.

Os acabamentos das paredes em dourado parecem terem sido feitos a mão, e apesar da construção ser "nova" o papel de parede de século anterior cumpre seu objetivo de me levar de volta ao passado.

As poltronas, duas azul e duas com estampa dourada, ficam ao lado e à frente do sofá com estofado dourado com detalhes azul, tudo combina.

Embaixo dos pés de madeira dos assentos tem um tapete que me lembra um quadro renascentista, uma mesa de centro quadrada e que parece ser de ferro, mas é dourada,  e outras duas mais altas e redondas que ficam do lado das poltronas de frente pro sofá.

Em cima das redondas há abajures e em cima da de centro dois cântaros pequenos com tampa, eles parecem ser de porcelana e retratam o quadro das mãos de Michelangelo.

Na parede da direita tem uma porta que, como as paredes, parece ter sido esculpida a mão.

Eu giro ao meu entorno e então olho pro teto.

- Uau. - murmuro observando admirada, além de mais um lustre, esse menor, há pintura de anjos em vestes azuis, vermelhas e brancas. - É lindo. - digo e olho pra Roger novamente que mantém as mãos juntas atrás do tronco e um sorriso gentil nos lábios.

- Acredito que a sua dama apresentará melhor o palácio à você, mas aqui é a sala de recepção. - apresenta - Ali. - aponta para a porta - É uma das salas de reunião.

- Quantos cômodos tem aqui? - pergunto curiosa.

- Se eu não me engano... - faz uma careta e olha pro chão pensativo. - Trezentos e quarenta e nove. - diz e eu arregalo os olhos surpresa.

- Uou. - suspiro voltando meus olhos pro lugar mais uma vez.

- Trinta e sete são banheiros, vinte são escritórios, duzentos e dez são quartos, os aposentos reais e os de hóspedes e os dos funcionários contam nessa soma. - explica e eu concordo.

- E quantas pessoas trabalham aqui? - pergunto me aproximando de um dos quadros que, com certeza, vale mais que meu rim no mercado negro.

Deus, eu tenho que parar de pensar isso.

- Não tenho certeza, mas está na média de quatrocentos funcionários. - eu arregalo os olhos mais uma vez e ele sorri.

- Todos moram aqui? - pergunto e ele assente - E os outros oitenta e dois cômodos? - questiono e ele assente olhando para o corredor que se segue e então ele se põe a minha frente sutilmente como se escondesse algo, mas sua fisionomia continua passiva.

- Você estava contando, certo. - resmunga baixo após estalar a língua. - Os cômodos restantes se dividem em mais salas como essa, cozinhas, refeitórios para os funcionários, área de lazer, e os cômodos sociais oficiais que são os que a família real frequenta. - explica - Sala do trono, sala de jantar, biblioteca e... - o interrompo.

- Biblioteca? - pergunto voltando minha atenção para ele depositando com cuidado o vaso de volta ao centro da mesa.

- Sim. - afirma com um sorriso. - Também tem a sala de visitas, várias delas. - exclama com o cenho franzido. - Eu já disse sala de visitas antes? - pergunta confuso e eu sorrio negando. - Certo, e tem também a sala de estar que é aonde eles te esperam. - fala olhando rapidamente por cima do ombro e eu sigo seu olhar, mas não encontro nada e aparentemente nem ele, volto meus olhos pra ele que sorri gentil. - Está pronta? - pergunta e meus olhos fogem de seu rosto.

- Quanto custa aquele quadro? - mudo o foco de sua pergunta e ele ri fraco enquanto as portas são fechadas cessando o vento fresco que antes entrava. 

- Em torno de 1500 euros. - responde me olhando de volta enquanto solto um assovio. - Mas não mude de assunto, precisamos ir. - chama e então me fita com atenção. - Não quer que eles venham até nós, não é? - pergunta e eu nego.

Seria pior, muito pior, sem micos Sophia.

- Tudo bem. - sussurro alisando o tecido do vestido. - Podemos ir. - afirmo e ele assente.

Como um bom cavaleiro Roger estende a mão pra que eu avance primeiro.

- Viraremos a esquerda no próximo corredor. - avisa e eu assinto.

O grande cômodo em formato de um retângulo acaba em uma enorme escadaria, ela é grande e tem os corrimãos grossos, parecem pequenas réplicas de colunas greco romanas e pelas escadas sobe um tapete azul da mesma cor que as poltronas.

- Eu pareço estar em um dos meus filmes de amorzinho. - murmuro e o ouço sorrir.

- E esse só é o início. - alega enquanto viramos o corredor.

O piso de mármore brilha como se fosse encerado com frequência, perigoso eu conseguir ver meu reflexo nele, não deixo de notar que esses corredores tem o teto em um meio círculo e do meio das paredes sobe pinturas como a do teto da sala, eu um dia posso ficar cega com o tanto de brilho que aqui tem, eu pareço ter entrado dentro de uma máquina do tempo e voltado pra era medieval.

Senti a mesma coisa quando entrei no castelo da Betinha pra visitar logo quando chegamos em Londres.

As lâmpadas de LED dentro de lampiões que não duvido ser de ouro se estende pelo longo corredor e com o intervalo de um metro, tem lustres.

Em sua extensão também tem alguns sofás pequenos, poltronas, aparadores com pequenas esculturas em cima, realmente me lembra o castelo da Betinha em Londres.

- Os aposentos dos hospedes ficam no segundo andar, e os da família real no terceiro. - fala e eu continuo a observar os detalhes minuciosos do corredor. - O acesso é pela escadaria principal. - explica e eu assinto completamente absorta, provavelmente não vou me lembrar de nada do que ele diz depois.

- Posso tirar uma foto? - pergunto de repente e ele para assim como eu.

- Eu realmente tenho que te levar até a família real. - alega e eu assinto em concordância. - Tenho certeza que terá tempo pra isso. - me sorri gentil e eu guardo meu celular no bolso novamente.

- Pra quais lugares aquele corredor leva? - pergunto curiosa apontando com o indicador para trás enquanto nos aproximamos do fim.

- Pra lá fica a sala do trono, o salão de baile e o escritório do rei, da rainha e do príncipe. - conta e eu assinto. - E também a biblioteca.

Eu não evito um suspiro ao pensar nela, se um simples corredor é bonito assim imagina uma biblioteca?

- Por aqui. - aponta antes de virar pra esquerda enquanto eu ia reto.

- Oh claro. - corrijo meus passos me juntando a ele. - Perdão. - peço constrangida e ele nega com um sorriso divertido. - O que tem atrás daquelas portas? - pergunto apontando para trás.

Seguimos agora por um outro corredor, esse tem o pé direito alto e me pergunto como isso é possível, nele também tem sofás e até alguns vasos de planta, no chão o tapete azul se estende.

Viro-me para trás seguindo a linha do tapete e o vejo acabar aonde uma escada que desce se inicia, no segundo seguinte sinto meu pé se chocar contra algo e uma dor aguda subir pelo meu dedo atingido, o alto som que provoco ecoa por todo corredor e então olho pra Roger que me encara preocupado.

- Você está bem? - pergunta simples parecendo analisar meu rosto.

- Só um segundinho. - peço com um careta e ao curvar minhas costas e segurar meus joelhos mordo meu lábio para não dizer qualquer besteira e fecho os olhos que senti arder.

Por que isso só acontece comigo?

- Sophia? - chama hesitante e então me endireito e o olho com um sorriso amarelo no rosto.

- Não se preocupe, está tudo bem, acho que só quebrei o dedo, mas isso a gente resolve depois. - afirmo e ele arregala os olhos, eu rio baixo percebendo que ele levou a sério. - Eu estou brincando Roger, estou bem. - digo e ele parece suspirar aliviado.

Eu ajeito a poltrona que saiu do lugar com a força do impacto e depois coloco as mãos atrás do tronco com a melhor cara de inocente que eu poderia fazer.

- Podemos continuar. - digo e ele continua me olhando com um semblante engraçado.

Roger não diz nada, apenas solta um riso baixo e acena com a cabeça, voltamos a caminhar e passamos por várias portas no caminho.

- Pra onde estava olhando? - pergunta finalmente e eu sorrio me sentindo aliviada, por um segundo achei que ele havia se irritado comigo.

- Bem, pra escada no final do corredor. - digo e ele assente. - Pra onde ela leva? - pergunto curiosa, me sinto uma criança de novo.

- Você faz muitas perguntas, Sophia. - observa e eu me sinto envergonhar.

- Desculpe. - murmuro e ele nega com um sorriso simples.

- Tudo bem. - garante. - Aquelas escadas levam para as piscinas, pra enfermaria, pra área de serviço, pro refeitório, banheiros e quartos dos funcionários.

- Meu Deus, vocês tem tudo aqui. - murmuro e ele assente.

- Sim, nós temos. - afirma sorrindo e então paramos em frente a uma porta dupla dourada, os umbrais esculpidos harmonizam bem com a cor creme das paredes. - Pronta? - pergunta.

- Não. - respondo enquanto assinto afirmativamente e isso me lembra o Chaves.

O homem ri baixo e então assente para o guarda que se mantinha próximo de nós.

- Te desejo sorte. - fala e eu me viro pra ele sobressaltada.

- Não vai comigo? - pergunto sentindo a ansiedade e o nervosismo aumentar dez vezes mais, ele nega e eu faço uma careta.

- Agora é com você, foi muito bom conhecê-la Sophia, nos vemos por aí. - se despede.

- Nem se eu implorar de pé junto? - pergunto e ele franze o cenho.

- Talvez, mas é você que eles esperam entrar por essas portas. - argumenta e eu olho pra elas. - Vá lá. - diz dando alguns passos para longe de mim.

- Tá... - murmuro e então o olho. - Obrigada pela boa companhia e o prazer foi meu em conhecê-lo. - me despeço dele que assente com um sorriso fechado.

Eu me viro pra porta de volta e então respiro fundo.

- Você acha que eu posso dar meia volta? - pergunto ao guarda que parece jovem demais.

- Na verdade não, senhorita. - responde e o olho com olhos arregalados.

- Você fala? - questiono surpresa - Quer diz... - chacoalho a cabeça envergonhada por me expressar mal. - Ai meu Deus... - resmungo espremendo meus olhos com o dedo indicador e polegar.

- Sim, nós falamos. - afirma antes d'eu ter coragem para olhá-lo novamente. - A regra do silêncio absoluto não se enquadra ao nosso reino. - explica e eu assinto.

- Isso é bom. - comento. - Se caso eu me perder por esses corredores que com certeza parecem labirin... - eu me calo e então o olho de novo constrangida. - Desculpa, eu estou nervosa. - me justifico.

- Não se preocupe. - pede fazendo uma careta até que fofa - Tenho sua permissão? - pergunta e eu volto a encarar as portas.

- No três. - permito respirando fundo. - Um... - vejo ele se colocar de frente as portas de costas para mim, o guarda legal veste um terno quase igual o de Roger e no peito também carrega um brasão, mas com um formato diferente. - Dois... - conto sentindo minhas mãos soarem enquanto as abro e fecho rapidamente.

Mas antes que pudesse falar "três" à minha frente o cara gira as maçanetas e ouço as portas se abrirem com um barulho gostosinho até.

Arregalo meus olhos entendendo sua tática e quando vejo mais a frente três pessoas se porem de pé tento suavizar meu semblante mesmo sentindo que poderia desmaiar, o guarda me dá passagem se colocando próximo a um dos lados da porta, olho pra ele que me oferece um sorriso brincalhão.

Ele me paga!

Com quatro pares de olhos em mim me obrigo a não me sujeitar a vergonha e passo a caminhar, o lugar é imenso, mas concentrada a dar passos corretos e não cair de cara no chão procuro não olhar deslumbrada pra canto nenhum.

- Sophia! - ouço a rainha dizer meu nome com empolgação e então me permito sorrir.

- Majestades. - dou meu máximo para fazer uma reverência descente, mas tenho quase certeza que falhei lindamente.

Eu deveria ter treinado isso.

- É um prazer vê-la novamente, querida. - garante ela enquanto estou sob o olhar brilhante do rei com uma juba que me lembrou o Simba, tudo bem que ele também tem uma cara de doido, mas é de uma forma boa. - Apesar do motivo que a trás até nosso reino. - conclui.

- Sentimos muito pelo acontecido. - ouço pela primeira vez a voz do único homem do círculo, era firme e superou minhas expectativas.

- Eu também sinto muito, mas quero agradecer pelo carinho de me comunicar e me trazer tão rapidamente. - agradeço e eles assentem.

- Era o mínimo que poderíamos fazer. - alega e eu sorrio, meus olhos, então, são atraídos para a pequena criança que, com seus grandes olhos e com os dedos da mão na boca, me fita curiosa.

- Sophia, essa é Charlotte, a nossa caçula e única princesa. - apresenta o rei e por um segundo o olhar da garotinha, que puxou a cor do cabelo do pai, o olha sem entender.

- Muito prazer little girl. - seguro com os dedos sua pequena e gordinha mão desocupada porque a outra ela ainda mantinha na boca.

- Vamos nos sentar. - convida a rainha e eu concordo. - Nossos outros dois filhos, infelizmente, não puderam estar aqui. - fala se sentando ao lado do marido enquanto eu me ponho de frente para eles.

- Phillip está na escola, o ano letivo ainda não se findou. - explica - E Adam não se sentia bem, foi medicado e está repousando. - justifica ele calmamente.

- Desejo melhoras ao príncipe. - digo sincera e olho novamente para a criança que se esforça para livrar-se dos braços da mãe.

- Não chegou a conhecer Phillip, não é? - pergunta a mulher e meus olhos se erguem em direção a ela, talvez desesperados.

Por Deus, que ela não pergunte sobre o passado.

- Não, ele ainda não havia nascido. - falo confiante sobre isso, pois mamãe já havia contado essa história um milhão de vezes para mim.

- Em algumas semanas ele estará conosco, ficará feliz em finalmente te conhecer, já ouviu muito sobre você. - comenta a rainha e eu sorrio.

A garota, agora sobre o chique tapete da sala, se dobra sobre seus pequenos joelhos e então fica de pé.

- Eu estou ansiosa para conhecê-lo também. - afirmo sorrindo apaixonada para a criança que caminha na minha direção.

- Ela costuma ser mais tímida. - comenta a rainha - Mas parece que simpatizou com você. - murmura com um sorriso bobo pra bebê que veste um macacão jeans e um body de mangas cumpridas por baixo, nos pés um tênis com brilho rosa.

- Eu fico lisonjeada, pois eu estou apaixonada por ela. - garanto e a garota para no meio do caminho. 

Charlotte tenta apoiar a mão na mesa de centro, mas sem sucesso se desequilibra e cai sentada, o rei solta um riso e a garota olha dele pra rainha e de repente ela sorri grande me dando a visão de seus dentinhos.

- Adam andou com dez meses e Phillip com onze. - comenta Pietra - Já Charlotte tardou mais, andou com um ano no seu baile de aniversário. - comenta e a olho.

- Isso é normal, uma das crianças da igreja, que eu ajudava cuidar de vez em quando, andou com um aninho também. - comento enquanto me estico para segurar as delicadas mãos da menina e a ajudo a levantar.

- Faz tantos anos. - murmura o rei olhando sorridente para mim - Lembro quando você e Adam corriam pelos jardins do palácio. - murmura e eu assinto mantendo um sorriso fechado, mas surtando por dentro

- Vocês dois eram inseparáveis. - concorda a rainha com melancolia na voz. - Espero que se deem bem agora como quando eram crianças. - ela me sorri animada novamente e eu sinto de volta o nó na minha garganta.

Podemos voltar a falar da Charlotte?

- Sinceramente, eu também espero que sim. - confesso com um sorriso pequeno, sinto vontade de sair andando rápido daqui.

Eu pego a pequena bebê e a ajeito no meu colo brincando com suas mãos.

- Sobre os gastos dos meus pais... - puxo o assunto importante, mas logo sou cortada pelo rei.

- Não se preocupe com isso, nós nos responsabilizaremos. - afirma o rei e eu arregalo os olhos.

- Eu agradeço vossa majestade, mas não poss... - sou interrompida por ele.

- Não negue. - pede e eu me calo.

- Queremos cuidar deles, Soph. - murmura Pietra e eu a olho - E de você enquanto estiver aqui, nos deixe fazer isso. - pede e eu me sinto sem palavras.

- Podemos dividir as despesas então. - argumento, mas os vejo negar.

- Deixe isso conosco, minha querida. - ela se levanta e pega de mim a filha.

- Você terá que se preocupar com os gastos de fisioterapeutas no futuro. - fala o rei atraindo minha atenção a si enquanto a mulher volta a se distanciar. - Queremos ajudar, vocês fazem parte da nossa família. - afirma o rei se levantando e os observo sem palavras.

- Sabemos que sua viagem foi cansativa, por isso não vamos nos estender. - fala Pietra e eu permaneço sentada. - Guiarei você até seu quarto, Miranda irá levar seu jantar, imagino que ainda não jantou. - deduz e eu me levanto assentindo, ainda me sinto estranha com tudo isso.

- Desejo a você uma boa estadia, se sinta à vontade em nosso meio.- deseja o rei com um sorriso calmo. - Estou feliz em tê-la em minha casa de novo, Soph. - afirma e eu sorrio agradecida. - Se precisar de alguma coisa não hesite em nos pedir.

- Obrigada majestade, eu sou grata pela hospitalidade e carinho de vocês. - digo sincera e eles me sorriem.

- Por favor, me acompanhe. - pede Pietra já se encaminhando em direção a porta.

Sigo logo atrás dela deixando o rei para trás e sorrindo para a criança que me olha, as portas são abertas pelo segurança que está pro lado de dentro e quando saímos procuro com os olhos o que conheci mais cedo, mas não o encontro.

- Aqui é lindo. - resmungo enquanto avançamos o corredor de pé direito alto.

- Não é? quando eu vim aqui pela primeira vez me senti uma princesa. - comenta com um sorriso. - O avó dos últimos sete avós do pai de Kristopher construiu esse castelo sob influência dos anteriores da família. - conta e eu me lembro de Betânia. - Ele tem muito em comum com o castelo de Nanci. - comenta e eu continuo em seu encalço.

- Não é difícil se sentir uma princesa aqui. - comento e ela sorri assentindo.

- Eu me lembro como se fosse ontem do dia em que trouxe meus alunos. - conta - Eu havia me formado fazia um ano e lecionava à alguns meses, minha primeira turma. - murmura e eu ouço com atenção. - Viemos em uma excursão e quem reinava era a mãe de Kris, a falecida rainha Louise III, viúva do rei Kristopher I, que Deus os tenha.

Nos aproximamos da escada e eu suspiro, Bet iria amar essa história.

- Como a vossa majestade e o rei se conheceram? - pergunto curiosa enquanto subo atrás dela degrau por degrau.

- No meu terceiro ano como professora. - responde - Todo ano eu trazia as turmas aqui, havia se tornado uma tradição. - começa a contar mantendo nos lábios um sorriso bonitinho. - Kristopher quase nunca esteve no reino durante aquele mês, com exceção dessa dia e foi nessa excursão que nos trombamos. - sorri - E então nossa história de amor e luta começou. - afirma olhando sorridente para mim quando alcança o segundo andar.

- Por que luta? - pergunto de cenho franzido.

- A história é longa, talvez em alguma tarde de chá lhe conte em detalhes. - promete me olhando rapidamente. - Mas pra resumir eu era uma plebeia e casamentos entre um membro da família real com um membro de uma classe inferior não era bem visto, como no passado. - conta me guiando para o lado esquerdo.

Daqui de cima consigo ver lá embaixo e é lindo, a parede que fica de frente para a escadaria tem um grande espelho com bordas douradas assim como o acabamento das paredes. logo no início dos corredores tem uma porta, e depois dela várias outras idênticas.

Esse corredor, diferente dos outros, não tem desenhos, a tonalidade das paredes é clara e orna bem com o dourado dos lustres, com as portas e até com o tapete com detalhes azuis.

- A mãe do rei apoiou? - pergunto a ela que para de frente a uma porta.

- Sim, ela foi a primeira a saber e a nos dar sua benção. - afirma sorrindo. - Mas, infelizmente, não viveu muito mais pra conhecer o primeiro fruto do nosso amor. - murmura sem perder o sorriso.

Eu assinto deixando meus olhos caírem em direção ao chão então sigo com eles a linha do tapete e foco uma grande porta no fim do corredor.

- É um deck, eu e sua mãe amamos tomar chá da tarde por ali. - conta e eu a olho de volta. - Ali. - aponta pro outro lado do corredor em direção a porta idêntica a a desse lado. - É outro e dele e conseguimos ver o pôr do sol. - conta e eu assinto. - Bom, eu vou te deixar descansar, Miranda já deve estar a caminho. - acaricia meu braço - Dê boa noite, Lottie. - instrui à filha e eu sorrio grande pra garotinha.

- Boa noite pequena. - pingo meu dedo em seu nariz e ela sorri grande escondendo seu rosto entre os cabelos soltos e longos da mãe.

- Boa noite Soph. - deseja e eu assinto.

- Boa noite vossa majestade. - me curvo rapidamente e ela sorri.

Ela dá as costas para mim e observo a mulher altas e magra seguir em direção o corredor contrário ao meu, quando está próxima ao deck ela vira e então sobe o primeiro degrau da escadaria.

Com um suspiro volto meu olhar pra porta e então pra maçaneta escura, eu a toco e a giro, entro no quarto escuro e aperto o interruptor que há ao lado do umbral. Permaneço na soleira tentando digerir o tamanho do cômodo, eu entro devagar e fecho a passagem logo atrás de mim.

- Eu posso morar dentro desse quarto. - murmuro me encostando na porta.

O quarto todo tem um tom neutro, beje e dourado queimado, todo chão é revestida por um tapete creme com pequenas e delicadas rosas bordô nas pontas e o resto liso, as paredes são bejes e os acabamentos muito bem feitos, a cama fica distante da porta, ela está revestida por uma colcha com babados nas pontas, as fronhas dos travesseiros combinam com a roupa do colchão, a cabeceira escura é grande e imita a frente de uma coroa, acima da cama um dossel de duas pontas.

Ao lado dela há duas mesas de cabeceiras com detalhes em ferro e em cima de cada um tem um abajur, de frente para a cama há duas poltronas com a mesma paleta de cor das paredes e do tapete, acima delas tem um pequeno e lindo lustre e é ele que ilumina o quarto. A cortina abertas de frente aos acentos denuncia a existência de uma porta francesa que dá passagem para o que eu penso ser a sacada.

Do lado direito da cama há uma penteadeira com um enorme e elegante espelho, seu formato é como o da cabeceira da cama e de frente para ele uma cadeira estofada e de madeira que me lembrou o filme das princesas da Disney, mais ao lado duas portas.

Me desencosto da passagem de entrada e caminho ainda encantada pelo quarto, a primeira coisa que faço é ir até a porta francesa e então a abro sentindo quase que instantaneamente o sopro fresco da noite.

Respiro fundo satisfeita e então caminho para fora, me aproximo curiosa do parapeito que mais uma vez me lembra a arquitetura greco romana e então arregalo os olhos.

- Fala sério, eu quero ser rica assim também. - murmuro admirando o grande espaço traseiro ocupado pelo que acho ser uma estufa, e mais ao lado uma menor construção, me parece um galinheiro.

Do lado contrário há algumas árvores frutíferas e eu me sinto tentada a ir até lá, continuo a admirar a paisagem até meus olhos recaírem para o canto aonde minha visão não pode alcançar mais.

- Aquilo é um lago? - pergunto a mim mesma e então em um sobressalto viro meu corpo rapidamente para trás quando três batidas na porta me assustam.

Com o coração acelerado e com a sensação de frio sumindo gradativamente do meu corpo ouço mais três batidas.

- Já estou indo. - digo caminhando devagar até lá.

Entro no quarto e o atravesso, não vou mentir que por um pequeno instante pensei ser meu velho amigo, mas quando abri a porta meus olhos comtemplam uma moça.

- Olá, senhorita Owes. - ela saúda com um sorriso gentil. - Eu trouxe o seu jantar. - aponta para o carrinho de metal dourado ao lado de seu corpo.

- Por favor, me chame de Sophia ou Soph, apenas. - peço e então me afasto da porta a abrindo mais. - E fique a vontade. - digo e ela assente.

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INFO:
1.500 euros equivalem à, aproximadamente, 8.970 reais.

ATENÇÃO: o voto de você é importante, então deixe sua estrelinha, por favor.

- do Inglês:
Litte girl. - garotinha / pequena garota

- do Francês:
Majesté - Magestade

N/A | NOTA DA AUTORA

Oi gente, eu espero que vocês estejam gostando.
Não se esqueçam de votar, por favorzinhooooooo.

Bjinhos.
A.I.M

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