CAPÍTULO QUATORZE


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ATENÇÃO: Seu voto é muito importante, então deixe sua estrelinha quando chegar ao fim, por favor.

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Sexta - feira I 09:45

Essa foi uma das piores manhãs da minha vida, depois da minha conversa super legal com Madeline eu precisava de espaço e muito, muito ar fresco.

Sentindo o vento no rosto fecho os olhos pra apreciar a passageira sensação de liberdade, o vento traz até mim o cheiro da natureza, da terra, das folhas enquanto meus cachos abertos saltitam conforme os trotes de Sol. Estamos nos afastando cada vez mais rápido e agora eu não quero pensar em meus deveres, não quero pensar nos meus pais, muito menos no almoço que estará servido em algumas horas, não quero pensar em nada que possa me fazer voltar a realidade.

A realidade de um trauma só é sentido por quem o enfrenta, é aquela velha história de só sabe como é quem passa, ou só entende quem já passou por isso, ou ainda só quem passou sabe. Apesar de acho que dores são subjetivas, sentidas em diferentes intensidades por pessoas diferentes, talvez alguns sofram menos com algumas situações, outras mais, por isso toda dor é válida e quem a sente nunca deve ser menosprezadas.

Qual é? somos humanos, se não fossemos pra sentir dor não existiria causa pra essa palavra existir.

Tudo culpa da Eva e do Adão.

Eu quero me afastar, não quero que eles me vejam sofrer, não mais. Durante muitos anos minha família me viu chorar e secaram minhas lágrimas, mas eu não quero parecer um peso agora que consigo lidar com isso sozinho. Conforme crescia ouvia muitas vezes de muitas pessoas que o primeiro coração partido é o que dói mais, porém eu decidi parar por ai e não testar uma segunda dose, a tequila não arde menos na segunda rodada.

Não que eu já tenha bebido.

Sol conhece o caminho que traçamos tão bem quanto eu, cruzamos esse campo milhares e milhares de vezes e quanto mais nos afastamos do castelo mais leve eu me sinto, o peso da presença de Sophia me afeta de uma forma assustadora, eu não quero culpá-la, mas mesmo assim faço.

Com meus olhos já abertos a conduzo pelo campo de grama baixa e verdinha, quando estamos perto o suficiente ela salta por sobre a cerca não muito alta e entramos no bosque de flora densa, faz tempo que não venho aqui então a trilha está parcialmente escondida pela grama e por folhas e os galhos insistem em querer acertar meu rosto, desvio ao me abaixar enquanto Sol permanece em uma velocidade boa.

- Uou.... - exclamo quando quase sou nocauteado por um grande galho e olho pra trás ainda espantado, quando volto meus olhos pra frente um menor e mais fino atinge meu rosto, rasga minha pele que se põe a arder. - Que droga. - resmungo com uma careta levando uma das mãos ao rosto e a ponta dos meus dedos tocam o arranhão, estou disperso, mas ainda seguimos a diante, com receio de sofrer mais algum atentado ponho atenção ao caminho focado em fugir de galhos assassinos.

Quando vejo a grande clareira onde foi construída a minha cabana e a baia de Sol seguro a respiração, havia me esquecido como ela é bonita. O desenho foi feito pelo mesmo arquiteto que fez o galinheiro da mamãe e demorou alguns bons meses pra ficar pronta por causa das dificuldades que a mata impunha sobre os construtores e a construção, pelo poço que demorou a ser cavado e pelas placas de energia solar que demoraram pra chegar, mas quando finalmente ficou pronta ficou clara sua magnificência.

Ela tem dois andares, no segundo fica meu quarto, a sacada e um banheiro, em baixo uma mini sala de estar, uma mini cozinha, uma mini sala de jantar e tem um quartinho minúsculo onde guardei todos os meus quadros, todos bem embrulhados.

Quando Sol para eu desço e a conduzo para a baia, o coxo de comida e água estão vazios, e com certeza a ração que tem dentro da cabana está vencida assim como todas as comidas nos armários, por sorte a égua já foi alimentada e não preciso me preocupar com isso. Quando ela está confortável dentro da espaçosa baia tiro a cela para que fique a vontade, um habito meu, desprendo a fivela do peitoral e logo depois da barrigueira, tiro a cela e depois a manta, deposito sobre alguns blocos de feno e me volto para ela alisando seu pelo preto macio.

- Já trago água, não vamos ficar por muito tempo, sim? - converso próximo e acaricio sua fronte até seu chanfro para depois beijar bem ali no meio.

Me afasto e pego o balde ao lado do coxo, com as mangas da camisa verde musgo puxadas até o cotovelo caminho até a bomba de água que pertenceu a antiga fazenda dos Lonford's, encho o balde e volto para a baia, despejo o líquido potável e limpidamente transparente no coxo e descanso o balde de volta no lugar anterior, acaricio Sol que está tranquila e me afasto, fecho a portinha de madeira e sigo para as escadas que levam até a porta da cabana.

Ela fica à alguns metros do chão, o telhado segue o estilo dos clássicos chalés, é toda de madeira e logo na entrada tem duas enormes janelas, sou amante da vista das folhas e árvores aonde os pássaros sempre se abrigam ou pousam para interagir entre si, sou um amante da natureza e por isso esse foi o melhor investimento que eu fiz. Termino de subir os dezesseis degraus e caminho pelo pequeno deck que me leva até a porta de madeira escura enquanto remexo no meu bolso a procura da chave que coloquei mais cedo.

Quando abro a porta sou recebido por um cheiro peculiar de lugar fechado, mas não ruim, pois ainda consigo sentir o leve cheiro de hortênsias e verbena misturado no ar, ainda parado na soleira da porta observo o interior que permanecera como deixei há alguns meses. O ambiente é moderno, mas quis que o designer aplicasse alguns detalhes vintage, algo que remetesse a minha origem, a minha linhagem.

Optei por um lugar claro, clean, mas todos os tons refletem e denunciam que o lugar é habitado por um homem, entro na casa com um pouco de hesitação.

"Não é como se você fosse ser engolido ou surpreendido por algo, Adam" - digo em pensamentos e com essa certeza fecho a porta atrás de mim.

A casa é totalmente de madeira, desde a parte exterior como o piso, os armários, os móveis, as bancadas e as escadas, eu preferi que não fosse muito escura pra não ficar pesado o ambiente, mas contrasta bem com as cores escolhida pelo designer para os tecidos dos estofados dos móveis, estampas e tudo mais. A pequena sala está iluminada pelos raios de sol que atravessam a janela e caem diretamente no sofá verde com almofadas em tons mas claros que ele e marrom, as duas poltronas a sua frente recebem o sol parcialmente e aposto que as almofadas, com estampas de sei lá o que e com bolotinhas grudadas nas pontas de pequenas linhas de lã, estão quentes. O tapete, com pequeno comprimento e largura, tem várias formas que eu nunca parei pra descobrir quais são, a lareira fica bem ali, nas costas das poltronas e ela é elétrica, alimentada pelas placas que captam o calor do sol, acima dela tem várias estantes com vários livros que, confesso, não li nem a metade.

Em cima da mesinha de centro tem uma vela aromática intacta, nunca a acendi, além dos vasos com o aromatizante que ainda se espalha pela casa, minha mãe que escolheu e eu gostei, me lembra ela e seu perfume suave de hortênsias.

O primeiro andar é compacto, assim como o segundo, então de um lado é a sala de estar e do outro a sala de jantar mais a cozinha, a mesa de refeições é pequena, comporta apenas duas pessoas mesmo tendo quatro lados, quando sentamos as pernas quase se tocam, eu já testei.

A luz do sol que entra pela outra janela da entrada faz o verniz de todos os móveis da cozinha brilhar, sobre a mesa não tem toalha, eu realmente acho esse negócio de toalha uma chatice, se derruba café ou qualquer outra coisa que meleque tem que lavar na certa e francamente, eu não tenho paciência pra isso, então pedi que envernizassem e se cair algo é só passar um papel toalha ou a bucha mesmo e fim, sem contar que a madeira é linda.

As gavetas e a estrutura dos poucos armários baixos do outro lado do balcão são da mesma cor que meu sofá e concidentemente da minha camisa, a pia é de inox prata e fica embutida no armário do meio o único com porta e onde guardo produtos de limpeza, acima dela tem algumas prateleiras de madeira com xícaras, copos, pratos e vasilhas. A bancada é toda de madeira também envernizada, sobre ela fica minha cafeteira, uma pequena cesta de frutas, sem frutas, temperos em potes de vidro e alguns outros não perecíveis. Do lado contrário o cooktop elétrico e a lixeira de inox.

De costas para mim estão os dois bancos altos de madeira da ilha e do outro lado, em baixo da balcão, é onde fica o frigobar que uso como geladeira e minha mini adega.

Em cima da ilha tem uma taça com uma garrafa de vinho ao lado, uma folha e uma caneta em cima, caminho devagar até lá e encaro a taça com o fundo sujo de vinho seco, deixo meus olhos caírem para o papel e elevo minha mão para pegá-lo.

Nessa mesma noite de anos atrás eu fui dormir sonhando em te ver na manhã seguinte.

Leio sem dificuldade minha caligrafia corrida, mas legível, o papel está manchado por umas três gotas de vinho, com pesar me recordo do dia e suspiro, essa é mais uma das músicas que comecei e nunca consegui acabar, essa é a pior de todas, tem apenas um verso.

Com um gosto amargo subindo pela garganta e inundando minha boca volto a descansar a folha no balcão e abraço o gargalo da garrafa com uma das mãos, vinho não estraga então esse vai pra dentro já, preciso esfriar minha cabeça e desviar meus pensamentos. Sem muita dificuldade tiro a rolha e não espero muito para virar o líquido na boca no bico mesmo, a garrafa não está cheia, mas tinha uma quantia considerável antes d'eu mandar uma boa quantidade pro estômago.

Estalo a língua com o ardor que o vinho seco causa na minha boca e garganta, sem esperar o efeito passar viro mais uma vez e bebo mais um longo gole, afasto nossas bocas só porque eu preciso de ar, limpo meus lábios com as costas da mão e dou um passo em direção a escada no intuito de matar saudade da minha sacada privada, porém paro quando sinto minha cabeça girar.

Vinho não tem muito poder sobre mim, e eu mal comecei a beber, mas o problema é que faz tempo que eu não tomo nada alcoólico e não fui nem um pouco empático com meu corpo visto que as duas goladas que eu dei não foram nem um pouco generosas, quando me sinto bem caminho em direção a escadaria de madeira e subo degrau por degrau até estar no andar aberto. A cama ainda está com os lençóis revirados, um violão descansa sobre a poltrona do quarto e tem várias folhas em cima do colchão, a porta do banheiro está aberta e o brilho de algo no chão contra a luz, que entra pela enorme janela presa ao teto inclinado, me chama a atenção.

Caminho sem pressa até a porta e olho pra dentro, primeiro fito o chão, há cacos de vidro pra todo canto, devagar ergo meus olhos pro espelho estourado pelo meu punho, na pia tem alguns respingos de sangue, mas nada mais que algumas gotas secas. Suspiro frustrado com cada vez mais memórias invadindo minha mente, eu estava tão bêbado aquele dia que com certeza nem percebi que sangrava, dou as costas para o cômodo e viro a garrafa novamente arrematando o que havia sobrado.

A jogo em cima da cama quando me aproximo, vejo mais sangue por ali, o rastro faz parecer que eu tentei limpar a mão no lençol branco, olho pras folhas com textos, versos e refrãos inacabados, pego um deles e leio.

Você chegou de repente e do mesmo jeito foi embora

não tive nem tempo de entender a nossa história

me lembro da primeira vez que nos vimos

seus olhos brilhantes e cabelos cumpridos

você sorriu pra mim e se apresentou.

Mal sabia eu que aquele dia o meu fim você decretou.

Meus olhos correm pelas letras miúdas, eu não me lembro de ter escrito isso e não é porque eu poderia estar bêbado, até porque eu bêbado durmo, olho por cima do ombro automaticamente e depois volto para o papel.

- As vezes. - corrijo meu próprio pensamento.

Lembra da vezes que corremos juntos?

pelos jardins, pelas copas e pelos fundos?

estávamos sempre aprontando algumas.

e no fim nunca assumíamos nenhumas.

Com olhos atentos sento-me na cama, essa é boa e parece mais acabada do muitas outras, é engraçado como um coração partido pode inspirar as pessoas as vezes, eu daria um bom vocalista de rock melancólico se eu não fosse um príncipe, é claro.

¡Viva las reglas de la realeza!

eu não sabia e não entendia.

que o que eu sentia quando te via de longe era mais que alegria.

estar com você era como deitar sobre plumas

comer algodão doce e pisar sobre areia gelada de dunas.

você me disse um dia que sempre estaria comigo.

e acreditar em você foi meu pior castigo.

mesmo que não tenha mentido.

e sonhar com você seja tudo o que consigo.

Sinto meu pomo de Adão subir e descer quando engulo em seco após acabar de ler o refrão e sentir uma queimação na boca do estômago.

"É a bebida, Adam."

- Ou não... - murmuro a contragosto para mim mesmo, levanto meus olhos para as outras letras espalhadas pelo colchão.

Eu não lembro de quase nenhuma delas, mas a maioria, como as do envelope lá no meu escritório, tem no máximo um verso e metade de um refrão, nem a melodia eu lembro mais. Entre todas aqueles papéis tinha um desenho, não o que Sophia fez de despedida, esse foi quando eu fui lhe ensinar a pintar na tela, ela quis primeiro fazer um esboço no A4 para testar e servir como cola.

Arregalo os olhos quando me recordo de mais um detalhe do meu último dia aqui, deixo as folhas sobre o colchão e me estico sobre a cama alcançando o outro lado e olho pra baixo.

Perco a respiração por alguns instantes, mas estiro meu braço e seguro firme as duas telas empilhadas trazendo para junto de mim dois quadros 15x15, o que está por cima é o meu, desenhei o rosto de Soph, uma pintura de 2012, claro que de lá pra cá eu melhorei bastante, mas eu não estou interessado na minha obra de arte e sim na que está em baixo.

Deixo o meu quadro de lado e fito o desenho pintado com cuidado por Sophia, ela era caprichosa e amava enfeitar, sempre punha flor e árvores em tudo o que fazia, isso me irritava um pouco, mas lá no fundo eu gostava, eu sempre gostei de tudo nela.

Talvez eu possa lhe dar de presente...não, corta essa, Adam!

Me levanto num pulo e o quadro cai sobre a cama, eu ainda o encaro, mas logo meus olhos correm pra janela, caminho até ela e a empurro pra cima, o ar úmido do bosque atinge meu rosto com suavidade e me tira um pouco do torpor do medo.

Vou até as portas da sacada e as abro, passo por elas e espalmo minhas mãos sobre as barras de madeira do guarda corpo com placas de vidro. Tudo está silencioso, ouço um ou outro canto dos pássaros, mas estão longe o suficiente pra eu achar que fogem da minha inconstância, fecho meus olhos e permaneço na mesma posição por não sei quantos minutos, mas poderia ficar até o sol se pôr.

Abro meus olhos quando o vento fresco bate contra meu corpo e bagunça mais meu cabelo, olho pro céu que daqui da pra ser visto com perfeição.

- Um dia minha mãe me disse que você me ouviria em qualquer lugar que eu estivesse e do jeito que estivesse. - digo fechando meus olhos sentindo a luz ultrapassar minhas pálpebras. - Pois bem, eu estou meio quebrado... - coço a nuca tentando decidir se continuo falando sozinho ou se paro de bancar o besta, mas antes mesmo que possa abrir os olhos o vento bate contra mim de novo e sinto todos os pelos dos meus braços se arrepiarem.

Minha primeira reação é arregalar meus olhos e olhar para os lados e para trás, por mais que eu esteja sozinho eu sinto a presença de algo, passo a língua por meus lábios nervoso e respiro fundo.

Nunca me considerei cagão em relação a assombração e coisas do tipo, mas eu sinto a presença tão perto e tão energética que cogito correr, mas não corro.

Estou paralisado.

- Olha Deus, eu não quero pressionar o Senhor não, mas eu realmente espero que seja você aqui, em?! - digo alto e o vento sopra mais uma vez, mais gelado como se fosse o ar de um riso divertido.

Meu quadril bate contra o parapeito e só ai percebo que estou realmente com medo, estou recuando.

Respiro fundo mais uma vez e então me sento no chão.

- Eu estive pensando... - me calo e raciocínio. - Na verdade eu acabei de pensar, a uns minutos atrás, quer dizer...você deve saber, aliás, eu devo chamar você de você ou de Senhor? - pergunto de olhos fechados.

Talvez eu realmente tenha pirado, porque bêbado eu tenho certeza que não estou.

- Não sei, mas meu pai odeia quando eu o chamo de você e eu não quero voc...quer dizer, o Senhor irritado comigo. - mais do que já deve estar, penso, mas então abro os olhos rápido. - Droga, o Senhor lê pensamentos também, né? - pergunto e nego com a cabeça, ferrou...

Quer dizer...argh

- Olha Deus, eu lembro de falar com o Senhor há alguns anos, quando eu tinha uns, sei lá, quinze anos? - pergunto sabendo que não receberia resposta. - Eu te pedi pra que tirasse aquela dor de mim, lembra? enfim...não quero te cobrar, mas é que eu nunca soube lidar, sabe? e agora parece que tá tudo pior, eu nem sei o que eu faço, tenho um medo absurdo e é até irônico já que na teoria eu tenho que ser mais racional porque eu sou homem. - disparo e olho para as minhas mãos, me sinto uma criança, mas eu não ligo, aqui me sinto estranhamente bem. - Eu sei que essa baboseira de que homem não chora não é real porque se não, eu não seria mais um. - solto um riso fraco. - E se até Jesus chorou, quer dizer, a Sophia me contou que chorou e no filme a paixão de Cristo mostra, eu acho. - murmuro ainda com o cenho franzido e então suspiro e olho pra cima. - Não estou pedindo pra que de repente transborde o coração da Sophia de amor por mim pra que vivamos felizes pra sempre, até porque eu não quero isso, não quero quebrar meu compromisso com Madeline e com nosso acordo, mas será que não dá pra amenizar essa parada, não? eu sinto que meu coração pode explodir a qualquer momento quando tenho aquelas crises e o ar... - me calo ao respirar fundo. - Eu sei que me entende e ainda bem porque não consigo explicar muita coisa do que se passa dentro de mim. - murmuro de olhos fechados.

A única razão d'eu não ter zarpado daqui é que eu sei que Deus existe, Ele curou meu irmão na barriga da minha mãe.

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ATENÇÃO: seu voto é importante, então deixe sua estrelinha quando chegar ao fim, por favor.

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- Eu vivo ouvindo minha mãe dizer que pra tudo que acontece tem um propósito seu e eu não faço ideia de qual foi o propósito pro acidente dos Owes... - franzo o cenho - Mas a Sophia tá aqui agora e eu tô morrendo, eu meio que... - coço a nuca de novo. - Meio que preciso de ajuda pra deixar que ela se vá do meu coração de vez... - suspiro cansado.

Encaro o chão por alguns minutos e então o vento leve assopra por mim novamente, não sei entender o porquê, apesar de tê-lo aceito quando criança, eu me afastei completamente dEle com o tempo.

Parecendo anestesiado tombo minhas costas no chão de madeira e estendo minhas pernas, coloco uma mão embaixo da cabeça e a outra no meu coração que bate normalmente, ainda bem, menos mal. Fecho meus olhos e permaneço nessa posição por minutos atrás de minutos, não durmo, mas aos poucos sinto minha angustia diluir como gelo contra o sol.

Tranco a porta as pressas e desço os degraus rapidamente pulando os dois últimos.

- Oi, Sol. - cumprimento minha égua - Eu perdi a noção do tempo, minha mãe vai me matar. - digo adentrando a baia e pegando os equipamentos com rapidez.

Aliso seu pele bem cuidado e coloco a manta por cima, apesar de estar com pressa tomo cuidado pra não colocar a sela errada e correr o risco de machucá-la. A guio para fora da baia e fecho a portinha, no minuto seguinte estou montando nela e a instruindo a começar a andar.

Me sinto leve como um balão cheio de Hélio e isso é bom, muito bom para mim e eu agradeço a Deus por isso. Sol trota velozmente comigo em cima tomando cuidado com os galhos dessa vez, pelos pedaços que sobraram do espelho no banheiro eu pude ver o recém arranhão adquirido durante a vinda, talvez acrescente mais ao meu charme.

Eu espero, né?

Desperto do transe quando Sol salta sem que eu indique a cerca, por um momento pensei que iríamos ir direto por chão, mas suas patas aterrissam com precisão na grama e eu suspiro aliviado, talvez Deus ainda esteja na minha cola, tomara que sim.

Eu ando precisando.

Cruzamos o longo pasto verdinho e continuamos no mesmo ritmo até passarmos pelo portão lateral do palácio, o que é usado na maioria das vezes pelos funcionários pra transportar sacos de ração, adubo, alimentos e coisas do tipo.

Ah, e para eu fugir sem ser notado, claro.

- Alteza! - Joshua me encontra em frente as baias e eu desço com agilidade da égua.

- Jose, eu estou atrasado. - digo ofegante - Pode tirar a sela pra mim, por favor? - pergunto com um pé dentro da baia e o outro fora.

Ele ri, mas assente.

- Sim senhor. - concorda. - Eu cuido dela. - me assegura e eu avanço sobre ele, seguro seu rosto e lhe beijo a bochecha com um estalo.

- Vocês são sempre minha salvação. - ouço a risada alta do senhor ao qual ainda tenho o rosto nas mãos. - Prometo comprar aquele vinho que gosta e presenteá-lo, agora tenho que ir. - digo já correndo.

- Bom almoço, alteza. - ouço o grito do homem. - E obrigada pelos novos instrumentos de trabalho, as botas ficaram ótimas nos meus homens e em mim. - paro no meio do caminho satisfeito.

- Que bom, eu fico feliz, sempre que precisarem pode falar comigo, você sabe. - volto a andar após acenar para ele que retribui. - Bom almoço pra vocês também.

Volto a correr e alcanço a porta da cozinha industrial em menos de cinco minutos, de novo, pela segunda vez nessa semana, todos os olhos se voltam pra mim e algumas caras me encaram com divertimento.

- Alteza? - ouço Sebastian e sigo em frente. - Aprontou o que hoje? - questiona apontando para o ferimento na minha bochecha.

- Fui dar uma verificada na cabana, fazia tempo. - conto e ele assente já empurrando a porta para mim.

- Tem que tomar um banho, está cheirando a vinho velho. - franze o cenho e desce os olhos para verificar a hora no relógio . - Tem menos de meia hora. - avisa e eu assinto com um sorriso.

- Obrigado Sebastian, de novo. - agradeço e ele nega.

- Eu adoro manter a tradição. - sorri me guiando para a saída, ou é entrada? ah, vai depender, é isso. - O meu pai amoitava o seu e agora eu amoito você, vá. - instrui enquanto eu rio baixo - O tempo está correndo. - lembra e eu assinto.

Cruzo o corredor e empurro a porta mágica, subo as escadas feito jato e não sinto mais minhas pernas quando chego no último lance.

- Eu aceito se o Senhor quiser me levar no colo. - digo baixo ao conversar com Deus.

Tomo fôlego e termino a subida, empurro a porta devagarinho e enfio minha cabeça pra me certificar se que a área está limpa.

- Por aqui tudo bem. - digo a mim mesmo e saio da escadaria. - Agora o problema é se minha mãe... - me calo quando ouça a porta do quarto de Lottie se abrir.

Saio em disparada em direção a minha porta, me jogo contra ela e então quando estou dentro do quarto a fecho devagar com uma careta na cara.

Antes de comemorar olho ao redor e sorrio quando confiro que estou sozinho.

- Ufa. - suspiro desabotoando minha camisa.

- Adam? - me sobressalto quando ouço três batidas e a voz da minha mãe soar do outro lado.

- Eu já vou descer, tô terminando... - de começar - digo alto e termino baixinho, ela concorda e diz que me esperará na sala de estar. - Tudo bem, me dá só alguns minutos.

Corro pro banheiro e tomo o banho mais rápido da vida, minha sentença seria péssima se mamãe sentisse meu cheiro de, como Sebastian falou, vinho velho. Com esse banho vergonhoso até pra um francês provavelmente me sentirei imundo mais tarde e terei que refazer o trabalho, mas é o melhor pra agora.

Quando saio do banho e entro no closet encontro minha roupa separada e sorrio, me lembrarei de apertar e beijar Lis mais tarde.

Me visto ligeiro de frente para o espelho, eu sei que a pressa é inimiga da perfeição, mas parece que as coisas estão fluindo, escolho um sapato sem cadarço e me certifico se combina olhando mais uma vez pro meu reflexo. Passo os dedos pelos meus cachos úmidos e decido deixá-los do jeito que estão, esborrifo perfume e saio do closet, cruzo meu quarto ajeitando o pulso da camisa.

Fecho a porta depois que saio e desço as escadas ainda lutando para fechar o botão do punho.

- Oi. - a voz que soa pelo corredor me faz olhar por cima do ombro e então parar de caminhar. - Eu te procurei mais cedo. - Madeline se afasta alguns passos da porta do quarto no qual acabou de sair e avança na minha direção.

- Anh... - vejo quando sua dama de companhia sai também fechando a porta atrás de si - Eu dei uma saída, precisava respirar ar puro. - ela concorda com um sorriso simples e olha pra moça ao seu lado, fala-lhe algo que eu não entendo e então as duas se despedem com beijinhos.

A princesa volta a olhar pra mim, mas logo seus olhos caem nos dedos que ainda lutam com o botão, ela sorri e encurta a distância e me estendendo sua mão.

- Eu não quero que fique bravo comigo. - abotoa o botão com facilidade e eu sorrio agradecido e também pelo comentário. - Você sabe, somos melhores amigos. - seus olhos sobem pro meu rosto, mas depois caem no meu colarinho. - Eu me importo com você e eu sei que as vezes posso ultrapassar a linha do limite e... - tagarela claramente nervosa enquanto suas mãos arrumam meu colarinho inglês e meu sorriso aumenta.

- Está tudo bem, Line. - ela se afasta e eu levanto minha mão para colocar uma mecha do cabelo dela atrás da orelha, logo depois toco seu nariz com meu indicador e ela sorri. - Não é como se eu conseguisse ficar muito tempo de mal com você. - deito minha cabeça no ar e faço um biquinho que arranca dela um riso.

- Aonde você estava? - estuda minha feição e sei que ela viu meu novo machucado, mas sua atenção cai para o braço que eu estendo à ela e começamos a descer o lance de escada para o primeiro andar.

- Na cabana. - concorda com um aceno leve de cabeça - Eu precisava esfriar a cabeça e também precisava ver como as coisas estavam por lá.

- Se sente melhor? - volta a mecha que deslizou para seu rosto para trás da orelha que tem um pequeno brinco dourado em formato de coração.

- Eu me sinto melhor. - sorrio olhando para o fim do corredor que acabamos de virar.

- Fico feliz por isso, Adam. - sua voz está serena, esse é o seu estado normal, não o humor ríspido, a voz alterada e o instinto afrontoso, não combina com seus olhos gentis. - Isso é o que importa. - e eu sei que tem um mas, e eu também sei o motivo desse mas e o motivo desse mas tem nos feito discutir muito ultimamente, gostaria que ela enterrasse esse assunto, assim como eu o enterrei no cemitério do meu coração.

Aqui jaz meu amor morrido.

Lottie no colo de minha mãe sorri grande quando me vê, fala uma frase inteira em bebenês e então estende seus bracinhos pra mim.

Ela não aborda sobre o assunto delicado, ao contrário despenca a falar sobre a noticia que recebera pela tarde, os Hughes, duques de Gales e também a família de sua melhor amiga, Lady Aderyn, retornaram ao reino.

O duque Mael havia sido separado para representar a corte na assembleia dos reinos europeus em Nova York, nos Estados Unidos, assim como os representantes dos países republicanos, os embaixadores, os duques foram separados para representar os reinos e são responsáveis por chefiar a missão diplomática de seu reino de origem.

Ainda não sei o motivo da volta do duque Mael, da duquesa Catryn, do lorde Eloi e da lady Aderyn, mas vejo que Madeline está radiante com o retorno, planeja adiantar o regresso para casa a fim de revê-los.

- Achei que teria que ir te buscar. - Pietra usa seu tom de repreensão assim que cruzamos as portas da sala, sempre me pergunto como ela consegue me repreender com um sorriso no rosto e um semblante suave.

Minha irmã no colo de minha mãe sorri grande quando me vê, fala uma frase inteira em bebenês e então estende seus bracinhos pra mim, eu decido nada comentar, mas aproveito para beijar-lhe a face quando me inclino para pegar Charlotte no colo, seu sorriso se alarga e meu pai resmunga algo incompreensível revirando os olhos.

- E é assim que sua mãe permitiu que você virasse esse grande mimado. - censura e eu rio junto com minha mãe e Line, olho pra Charlotte e faço caminhãozinho pra ela.

- Não seja ciumento, querido. - mamãe o provoca e eu sorrio o olhando.

- Não choramingue, pai. - puxo o gancho da provocação. - Sabe que posso te dar um também se quiser. - brinco e ele faz careta, aproveitando sua rejeição aproximo-me de repente para o provocar e lhe beijo a face também.

Demonstração de carinho não é raridade aqui em casa, se não me incluir na lista, há um tempo atrás eu gostava mais da solidão do que de companhia, então demonstrar afeto e meus sentimentos está sendo algo diferente tanto pra mim, quanto pra eles.

Meus pais se põe em pé e juntos deixamos os sofás e a sala para trás, seguimos calmamente pelo corredor em direção as portas da sala de jantar. Lottie no meu colo se mantem entretida ao apertar meu cabelo molhado, meu pai mantém o braço ao redor da cintura da minha mãe, ela e Madeline conversam animadas sobre a volta dos duques de Gales.

- Olha lá sua mãe, fala mais que Olaf. - viro-me para minha família passando a andar de costas, minha mãe semicerra os olhos pra mim e eu mando um beijo pra ela, Lottie repete e Pietra se derrete.

- Adam, meu filho, eu não ligo se você cair, mas sua irmã está no seu colo. - meu pai me olha com o cenho franzido - Seja consciente.

Giro com minha irmã no colo arrancado um suspiro aflito da rainha, eu e a pequena criança rimos, mas minha mãe me repreende sem nem pensar duas vezes, eu sempre quis ter irmãos e a chegada de Charlotte depois que Phillip entrou no colégio foi a melhor coisa que aconteceu, lógico que ela não substitui aquele pestinha, mas tê-la por perto é bom.

Eu sinto saudades do meu irmão, por mais irritante que ele seja as vezes, e inconveniente também, perdi as contas das vezes que o encontrei no meu escritório rabiscando meus documentos, ou em cima da minha poltrona tentando alcançar meus violões, das vezes que escutou conversas minha atrás da porta e contou pra mamãe, aquele fofoqueiro...

Por mais que as vezes o expulsava do meu quarto, quando o mandava sair aos gritos quando invadia o banheiro, ou quando perguntava por que eu era tão chato, por mais que eu tenha vontade de prender a cabeça dele debaixo do meu braço e esfregar meu punho em seus cabelos lisos até queima-los quando vem com sua atual frase mais usada, "ai que tédio, pra cima de mim, eu o amo, mesmo que agora ele esteja em uma das piores fases da vida pra se conviver com alguém, a arborescência, mais conhecida como adolescência.

- Phillip chega amanhã. - papai relembra como se lê-se meus pensamentos. - Deve ter crescido mais cinco centímetros, pelo menos isso puxou pro pai. - sua voz soa desgostosa e eu rio, entre todos os filhos, ele é o único que tem os cabelos pretos e os olhos azuis como os da mamãe.

- Não reclame, eu carreguei por novo meses essas crianças pra duas delas saírem a cópia do pai, é muito mais que merecido pelo menos um lembrar a mim. - Madeline me alcança e eu logo entendo o motivo quando olho por cima do ombro meu pai puxar minha mãe para si e lhe dar um beijo terno.

Eca!

- Credo, gatilho, gatilho, eca. - brinco, meu pai e Madeline ri, sei que mamãe tem um sorriso no rosto e se olhar para ela agora encontrarei suas bochechas tão rosadas quanto a quem leva uma chinelada na cara.

- Meu garoto já deve estar enorme mesmo. - muda o assunto rapidamente, Madeline permanece ao meu lado e conversa com Lottie que resmunga frases desconhecidas. - Dá última vez que o medimos estava com quanto, 1,60? - pergunta e eu sorrio me lembrando das vezes que ajudei eles na difícil missão de medir Phillip, primeiro porque ele não parava quieto quando era menor, agora porque ele revira os olhos o tempo inteiro e repete sua frase chiclete "que tédio".

- 1,62. - é meu pai quem corrige, Phillip está mesmo acima da média pra um garoto de apenas doze anos, porém na nossa família todos são altos, meu pai mesmo tem 1,83, minha mãe também não é muito baixa com seu 1,70, eu ainda consigo ser mais alto que meu pai.

Madeline, eu e Charlotte somos os primeiros a passar pelas portas da sala de jantar enquanto meu pai tagarela animado sobre a reunião que teremos mais tarde, eu sei o quão contente ele está com a ideia de realizar o festival, porém meu coração retumba dentro de mim ao pensar nela, no cheiro dela trancados comigo dentro de uma sala, claro que não estaremos sozinhos, menos mal, mas isso não ajuda em muita coisa.

Charlotte puxa meu cabelo, eu reclamo e ela ri, aperto seu nariz e ela aperta o meu de volta dando uma risada gostosa quando faço careta e é o suficiente pra eu sorrir feito idiota, é que eu sou apaixonada por essa ruivinha.

Permaneço em pé com minha irmã no colo enquanto os outros tomam seus assentos, a mesa é cumprida, várias e várias cadeiras, aqui cabem mais de trinta pessoas tranquilamente, mas nos sentamos no meio quando estamos em família. Minha mãe ao lado do meu pai e Madeline do outro lado da mesa de frente pra ela, eu me sentarei ao lado da princesa e provavelmente alguém sentará ao meu lado, já que tem um prato a mais posto, do outro lado tem o lugarzinho de Charlotte e o de Sophia.

Mamãe e Madeline conversão, papai observa a esposa, mas sua feição revela que não está entendendo nada, de vez em quando sogra e nora conversam em códigos e nem eu sou capaz de entender, normalmente quando isso acontece elas fofocam sobre mim e isso eu descobri com muito custo.

Madeline é muito querida aqui no palácio, inclusive pelos meus pais e apesar deles não terem aceito muito bem a nossa união por uma diplomacia deram a liberdade de resolvermos nossas vidas, ainda mais depois que contei a minha mãe sobre os panos do rei de Gales, porém aparentemente, para meu completo desgosto, minha mãe é tão a favor da ideia de reconciliação entre eu e Sophia quanto a princesa.

Tento não pensar sobre o que elas falam e ao respirar fundo frustrado sinto o cheiro gostoso que vem das comidas já postas à mesa, apesar de levarmos as coisas de uma forma um tanto quanto medieval outras coisas fogem das regras antigas e eu agradeço por isso, até porque eu como pra caramba e não tenho vergonha de dizer, mas quando os pratos eram servidos já postos eu quase morria de tristeza, parecia prato de restaurante de luxo, ainda bem que eu não pagava, entretanto mamãe mexeu seus pauzinhos e agora nós que nos servimos, e isso é muito melhor pro meu estômago, claro.

Não tenho que planejar mais assaltos a geladeira...assaltos frequentes pelo menos.

- Vamos nos sentar? - faço cosquinha na barriga da princesa que está coberta por um vestido simples.

Caminho com ela até a cadeira de alimentação e a ajeito ali, ainda inclinado assopro meu cabelo quando cai em meus olhos, prendo o cinto em Charlotte que me observa com atenção.

- tato... - chama, eu ergo meus olhos pra ela, sorrio e aperto seu nariz de novo.

Quando tiver filhos quero que sejam ruivos assim como eu, Lottie e meu pai, essa é a nossa marca e é uma marca linda, eu amo as pintinhas que preenche todo o rosto e desce pelo pescoço de pele fina e branca da minha irmã.

- Aí, Charlotte! - reclamo quando me levanto, olho do rosto dela pra pequena mão fechada em punho, esfrego a minha na minha cabeça e faço uma careta, certeza que dentro daquela mini palma tem alguns fios do meu cabelo.

- Ei, Lottie. - minha mãe que tirara a atenção de seu papo caloroso olha pra pequena princesa que sorri inocente. - Lembra que a mamãe disse que não pode puxar o cabelo de ninguém? - chama a atenção da bebê, mas quando meu pai lhe beija o ombro minha mãe simplesmente perde o foco e sorri aquele sorriso de apaixonada pro meu pai.

Reviro os olhos achando graça e olho pra Charlotte que brinca com os meus fios ruivos grudados em sua mão.

- Você me paga. - aponto para criança com os olhos semicerrados, mas me derreto quando ela solta uma gargalhada.

__"__

ATENÇÃO: seu voto é importante, então deixe sua estrelinha quando chegar ao fim, por favor.

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- nah, nah, nah, nah. - abana o dedinho na minha direção e ouço o riso de Madeline se misturar ao meu e ao dos meus pais.

- Não pode fazer mais isso, mon amour. - fala minha mãe e eu dou a volta a mesa, me sento ao lado de Madeline que sorri para mim antes de se virar para Lottie que fala sem parar.

- naun, cebuli, cebuli tui. - aponta pra mim e depois olha pra minha mãe que sorri.

Eu nunca entendo nada, mas ela sempre parece entender tudo, vai ver é mais um dos poderes de mãe, a falança de Charlotte só me serve pra rir e sempre querer morder ela, é fofo.

- tuso, tuso duio. - diz e então rimos de novo pela careta que fez, Charlotte solta um gritinho parecendo nervosa por estarmos rindo dela e então agarra alguns fios de cabelo da mamãe e eu rio alto enquanto a morena segura a mão da criança depois dela e do meu pai gritar um "não, não" apavorado.

- Não se ri das desgraças dos outros, Adam. - meu pai me repreende enquanto ele mesmo ri.

Esperamos em um clima alegre as duas únicas pessoas que faltam para começarmos almoçar, minha mãe comentou sobre a presença de Simon e disse que eu só não fui informado porque ninguém sabia aonde eu estava. Eu e Sam, como Phillip o chama, somos bem chegados, talvez não tanto quanto eu queria porque primeiro ele não para quieto, tá sempre viajando a trabalho e segundo, ele nunca tem a agenda livre e muito menos eu, então sempre que nos vemos é para tratar de negócios, ou melhor dizendo de roupas.

Apesar de tudo eu o considero bastante e estou animado para revê-lo, bater um papo e pôr o assunto em dia, tenho certeza que ele vai cobrar isso já que está com a menina, que eu tanto falava, lá em cima.

Madeline e mamãe voltam a falar sem parar enquanto meu pai come as uvas verdes de um cacho que roubou da tigela, ele me oferece uma e aceito, jogo pra cima e quando ela cai é na minha boca.

- Adam... - abaixo minha cabeça já rindo e encontro os olhos abismados da minha mãe em mim.

- Foi mal. - mando um beijo em sua direção ainda mastigando, mas não funciona dessa vez, pois ela encara meu pai que ri desacreditado.

- Hurun... - ele pigarreia e fecha a cara percebendo o olhar reprovador da mulher na sua direção. - Adam, olha o seu tamanho, não precisamos falar como se portar na mesa, meu filho. - me repreende, mas seus lábios tremem e eu me forço a franzir a boca pra não rir também.

- Eu não sei qual é o pior, você ou ele. - mamãe diz pro ruivo ao seu lado que irrompe em uma gargalhada divertida, eu sigo logo atrás dele e até Madeline nos acompanha com um risinho educado. - Kristopher! - sua voz exprime o tamanho do seu descontentamento, mas nem isso é capaz de fazer cessar o riso do rei, a rainha continua com seus olhos sobre ele, meu pai se curva e beija a bochecha dela como uma rendição, minha mãe cora e eu acho fofo.

- Vamos nos comportar, Adam. - seus olhos me encaram e seus lábios abrigam um sorriso arteiro, meu pai é, muitas vezes, mais adolescente que Phillip, brincalhão e engraçadinho até dizer chega, acho que até depois de dizer também. - E agora é sério. - fala mais pra si do que pra mim. - Meus queridos. - os olhos do meu pai voam em direção as portas que são abertas e todos seguem seu olhar.

Sophia e Simon entram juntos, ambos com sorrisos divertidos no rosto e eu não me preocupo com isso até porque eu sei que meu amigo tem noiva e...e eu não tenho nada a ver com isso de qualquer maneira, porque raios eu ia me incomodar se Sophia ri ou chora, não é mesmo? não que eu queira que ela chore, de jeito nenhum.

Até porque eu não ficaria feliz em vê-la chorar e...

Ah, droga! ela olhou pra cá...

Desvio meus olhos rapidamente e os abaixo para minhas mãos no colo, qual o meu bendito problema? mamãe também foi os receber e elogia Sophia que deve vestir algum design fantástico de Simon.

Eu arrisco um olhar e relaxo me permitindo encara-la ao ver que sua atenção não está em mim, o vestido realmente lhe caiu bem e até combina com ela, a cor não muito chamativa com seu jeitinho e com a cor de sua pele e cabelo.

Qual é? eu sou francês, entendo de moda, mas mesmo que Sophia vestisse um saco de batatas eu a acharia bonita e ainda bem que ninguém pode ler ou ouvir meus pensamentos.

- Rum-rum.. - pigarreio baixo olhando pro meu colo, me sinto desconfortável por não conseguir controlar meus pensamentos sobre esla estando com Madeline ao meu lado, me sinto um traíra as vezes.

- Tudo bem? - pergunta Madeline com o cenho franzido.

- Ahan, sim, sim. - Madeline sorri divertida me dando a sensação de que ela sabe o que pensei, mas sem comentar nada a respeito volta a prestar a atenção nos convidados que se aproximam da mesa, nos levantamos para cumprimentar Simon e Madeline saúda Soph com beijinhos no rosto.

Simon se senta ao meu lado, faz graça com meu cabelo e ergue as sobrancelhas repetidas vezes nas minha direção e depois aponta pra Sophia discretamente, eu reviro os olhos e o zingo de vários nomes mentalmente, dou graças a Deus quando meu pai inicia uma oração de graças e dá inicio ao almoço. Eu sou um dos últimos a me servir, quando estamos em família costumamos dar preferencia para as mulheres, crianças e visitas, mas Soph passou sua vez pedindo pra que a deixassem por último, eu acho é muito inteligente, já que dá pra pegar mais sem medo de deixar alguém sem.

Eu me remexo na cadeira enquanto todos conversam com sorrisos leves, Charlotte está totalmente entretida com sua comida que parece deliciosa apesar da aparência da textura ser horrível, com o que será que eles fazem essa gororoba?

Sophia come tranquilamente concentrada na conversa do meu pai com os outros, eu a vi sorrir e negar enquanto os dois Marias Fifis fofocavam de reis vizinhos ou de amigos famosos, claro que meu pai também zombou os caras dos quais ele não vai com a cara e eu não consegui me manter sério perante a sua implicância com o cabelo de Elvis Presley em Guto Jacobson, um lorde luxemburguês que renunciou o título para se tornar uma imitação barata e ridícula do Elvis, tudo bem que ele lembrava o cantor, mas não era pra tanto, ele nem canta tão bem assim.

Ele nem canta na verdade.

- Anh? - sinto minha afunda com o cutucam de Madeline, a olho sem entender e a vejo prender o riso.

- Você está encarando. - sua voz sai num sussurro quando se curva para ficar mais próxima e eu franzo o cenho.

- Encarando? encarando o que? - as minhas sobrancelhas estão juntas em uma confusão genuína, Madeline abana a mão pedindo discretamente para que eu abaixasse meu tom, mas ela mesma não aguenta e solta um riso leve e divertido com a situação.

- É. - concorda e olha em volta rapidamente. - Você estava encarando ela. - se aproxima de novo e diz baixo, Line se afasta e sem que consiga conter olho pra garota atenta em Simon que fala e a vejo erguer a sobrancelhas, fazer uma coisa esquisita com a boca, mas muito fofa, volto meus olhos para os de Madeline e fecho o sorriso quando vejo o dela.

- Rum-rum... - pigarreio baixo. - É...desculpe. - me remexendo mais uma vez na cadeira e a princesa nega, como se tudo fosse muito normal.

O grande problema é que ela nunca nos viu como nos chama, nunca nos comportamos como as pessoas pensam, não agimos como namorados nem na frente das câmeras e muito menos por trás delas, sempre fomos amigos, melhores amigos, ela esteve sempre ao meu lado como uma grande amiga e ela à mim, eu entendo sua facilidade pra aceitar o que eu sinto por Sophia, porque no fundo eu e ela sempre soubemos que por mais que um contrato nos unisse como um casal, nunca o seriamos.

Eu respiro fundo encabulado, a fome passando aos poucos e eu mal toquei a comida que está cheirosa e apetitosa, num instante observo meu pai e minha que conversam com Simon e no outro eles fitam Sophia, de novo.

Ela parece imã e eu ferro.

- A rotina de vocês parecem divertida. - Line resolve se enturmar, apesar de Simon ser meu amigo, ele e Madeline nunca tiveram oportunidade de se aproximares, Sam é um cara genial e Madeline se daria bem demais com a Giu.

Sophia mastiga e leva a mão a mecha do cabelo que coloca atrás da orelha, seus olhos caem fitam Madeline, mas de repente eles estão nos meus e eu perco o ar. Meu coração traiçoeiro bate mais rápido e eu me sinto engolir em seco, eu sempre ouvi dizer que os olhos são as janelas da alma, eu nunca acreditei nessa baboseira, mas olhando pra dentro dos olhos dela eu tenho o vislumbre de seus sentimentos, o nervosismo, a incerteza e a tristeza. Sophia parece tão presa quanto eu e vejo quando engole em seco, daria muito pra saber o que se passa dentro dela, por que age assim comigo, por que não reage?

Talvez esteja me maldizendo por eu ser um belo de um idiota ou então desejando dar o fora o mais rápido possível e eu entendo se for isso, sei que não fui um anfitrião gente boa, mas pensar que ela me odeia me arrepia os pelos dos braços e me embrulha o estômago, eu a amo tanto.

Pensar em Sophia longe piora as coisas, bem, pensar nela de qualquer jeito acaba comigo, mas pensar nela longe de novo aflige a minha alma, não quero a imaginar longe, não de novo, mesmo que tê-la perto e ao mesmo tempo longe seja torturante pra caramba. Não importa o quanto eu fuja, ela está aqui e sua presença me afeta, mas isso também não significa que eu queira tentar algo com ela, eu sei que se desse errado não sobraria nada de mim.

Vejo quando os olhos, que ela ainda mantém em mim, se tornam assombrados, me remexo na cadeira estofada e de alguma forma sinto que tem algo muito errado que não está certo, permaneço calado, a observando, estudando suas feições que mudam como cenas de um filme, não era difícil perceber que ela estava desesperada.

Ela pode estar tendo uma crise, talvez, talvez seja, mas o que eu faço? desde quando ela tem crises? desde quando eu sei alguma coisa dela?

Seu rosto empalidece e ela arfa, temendo que ela desmaiasse a chamo, observo Sophia piscar uma, duas, três vezes enquanto parece voltar de uma hipnose, todos ao redor a olham e aos poucos os sorrisos se fecham.

- Sophia? - a mão da rainha viaja para o ombro magro da garota que ainda fita meus olhos, ela olha pra Simon, pra minha mãe, mas depois torna a me fitar.

Eu odeio crises, odeio as vezes que não consigo respirar com eficiência, odeio quando tudo gira e eu pareço estar em um camicase maluco, odeio o fato de demorar a passar, mas acabei de descobrir que pior do que passar por uma crise é assistir alguém tê-la.

- O que sente, querida? - os lábios de Soph treme, ela não responde, olha para todos na mesa e então, de repente, ela impulsiona a cadeira pra trás e se põe de pé, alguns a olham se entender muita coisa, mas Sophia gagueja e eu engulo em seco, tudo o que quero é abraçá-la, embala-la em meus braços e dizer que não está só até que seus medos se dissipem, até que ela acredite que sua ente não pode machucá-la, me remexo na cadeira na cadeira pronto para me levantar.

- Desculpem... - é tudo o que ela consegue falar antes de nos deixar pra trás, meu corpo inteiro formiga e meu o coração aos pulos, me levanto.

- Sophia! - chamo preocupado, meus pais, Madeline e Simon parecem paralisados, confusos com o que acabara de acontecer, em um silêncio chocado olham pra garota que se afasta.

- Cleo. - me desvencilho da cadeira. - Por favor, já atrás de Lis. - peço a uma das funcionárias que costuma acompanhar o almoço. - Eu vou atrás dela. - anuncio voltando meus olhos pra mesa, ninguém mais está sentado, mamãe assente, pede pra que uma das funcionárias chamasse Cid, dá um beijo na cabeça da garotinha que ainda come tranquila e após isso vem atrás de mim.

Eu saio na frente, corro pelos corredores, eu sei bem que em situações assim não é bom uma pessoa em crise ficar sozinha, prestes a virar o corredor meus olhos se encontram com os de Miranda

Meu coração bate dolorido contra o peito, seus olhos em mim me faz sentir culpa, sei que talvez tenha uma parcela de culpa em tudo isso.

- O que aconteceu? - Miranda me alcança, os olhos preocupados, ela veste um avental que inclusive está molhado, logo atrás vem Lis e eu sinto vontade chorar.

- Cloe foi nos chamar, disse que era urgente, o que houve? - ela sonda meu rosto e o da minha mãe que agora está ao meu lado.

- Sophia... - é tudo que eu consigo falar antes de ouvir uma porta bater e então o som inconfundível de ânsias e depois de alguém vomitando.

- Meu Deus. - Miranda arfa e sem pensar muito deixamos as duas mulheres para trás e seguimos corredor a fora atrás da origem do som.

- Por favor, Lis, chame o Paul. - ouço minha mãe pedir e depois a voz do rei que fala algo que não me preocupo em compreender.

Na sala de recepção principal um guarda está à frente da sala de reuniões, ele está visivelmente preocupado e ao me ver Gael seu rosto empalidece, mas ele se aproxima para explicar a situação enquanto meus olhos seguem Miranda que entra sem hesitar.

- Eu me responsabilizo, alteza. - seu rosto se curva, mas eu nego e seguro seu ombro.

- Não se preocupe, Gael. - seu rosto ainda tem uma expressão pesada quando ele me olha. - Não se responsabilizará por nada, fez bem. - ele assente, se reverencia e depois se afasta.

Respiro fundo ao olhar para o interior da sala, Sophia ainda vomita, eu quero ajudar, nem que for pra segurar os cabelos dela, espalmo minha mão na porta, eu irei entrar, dou um passo, mas alguém segura meu cotovelo.

- Filho. - ouço meu pai, mas não me mexo, meu coração batendo forte no peito, sinto que a qualquer momento ele sairá pela minha boca.

- Adam, filho, deixe que eu vá. - viro-me para trás e encaro os olhos claros da minha mãe, ela ergue a mão até meu rosto e faz na minha bochecha um carinho.

Com lágrimas nos olhos eu assinto e lhe dou passagem, minha mãe beija meu rosto e me garante que tudo vai ficar bem.

Assisto olhando por cima dos ombros minha mãe ir até o banheiro dentro da sala, depois volto meu rosto pra frente e encaro o semblante sério do meu pai, os olhos verdes repletos de preocupação e os lábios frisados em uma linha reta me faz tremer com a possibilidade de ouvir um sermão mesmo que dessa vez eu tenha ficado calado durante o almoço.

Cruzo meus braços na altura do peito e o aberto ali afim de segurar meu coração no lugar.

- Preciso me sentar - penso assim que meu pai abre a boca para dizer algo, mas tanto minha vontade sentar quanto a voz dele some quando o som da ânsia de Sophia reverbera por todo o lugar.

Me encosto na parede e esfrego meus braços com pelos arrepiados, quando meus olhos se abrem encontro meu pai com o cenho franzido olhando para dentro da sala em direção ao banheiro.

- Meu Deus, ela está pondo as tripas para fora. - solta compadecido e meus ombros caem em descrença, pelo menos não está bravo comigo.

- Vossa majestade, vossa alteza... - Paul, o médico do palácio nos alcança ao lado de Lis, mas antes que pudéssemos dizer algo somos interrompidos.

- Por favor, eu preciso de ajuda. - meus músculos se tencionam de novo ao som afobado da voz de Miranda e, desobedecendo a ordem da minha mãe, irrompo a passagem rapidamente correndo em direção ao banheiro com o médico, Lis e o rei atrás de mim.

- O que hou... - me calo entrando no cômodo, mas minha voz morre assim que vejo o corpo magro de Sophia caído sobre os braços de Miranda.

Olho pra minha mãe que está ajoelhada ao lado esquerdo de Soph, ao lado da privada também, meus olhos voltam a cair na garota desmaiada e sem esperar mais me aproximo, me coloco atrás do corpo inerte, pelo canto dos olhos vejo Lis entrar no banheiro e meu pai enfiar a cabeça pra dentro, Soph está sobre as pernas e totalmente torta.

- Conseguem esticar as pernas dela? - pergunto e mamãe se levanta, estica as pernas da moça e eu passo um dos meus braços por de baixo de seus joelhos e o outro por suas costas.

Lis me dá passagem quando me aproximo e meu coração queima quando a ouço orar baixinho, meu pai já não está mais xeretando e fora do banheiro com cheiro forte vejo passo por ele e pelo doutor que conversam sérios, ambos me olham e Paul passa a me seguir.

- Leve ela pro quarto. - instrui Lis vindo logo atrás do doutor.

Olho pro rosto de Sophia e aperto meus lábios em uma linha reta, está pálido, até seus lábios parecem doentes. Meus olhos se encontram com os de Madeline antes de começar a subir as escadas, ela tampa a boca com as mãos e respiro fundo, não paro e logo estou subindo e subindo os degraus, a princesa com as mãos segurando as barras do vestido corre pela escadas afim de me alcançar, caminha rápido pelo corredor e abre a porta do quarto de Soph para que pudéssemos entrar.

Ela tira as coxas de sobre a cama para que eu deite Sophia, eu me afasto do corpo da moça ainda a olhando, doutor Paul entra e logo depois Lis eles conversam e procuro por Madeline que somiu do meu campo de visão, volto a olhar para a moça desacordada a minha frente, seu cheiro está por toda parte e está impregnado em mim, nas minhas roupas, na minha pele.

Sobre o travesseiro de fronha bege os cabelos castanhos de Soph se esparramam, lisos, brilhosos e cheirosos. O cheiro de maçã me afeta o bom senso e eu me vejo sentando ao lado de seu corpo imóvel, o único movimento que ela tem é de seu peito que desce e sobe, seus lábios não estão tão rosados como sempre, suas bochechas não tem cor e seu rosto está pálido, meus olhos correm em direção a sua mão e meus hesitante deixo que meus dedos toquem os seus, estão gelados.

Sem me conter ou ao menos me dar conta do que faço embalo sua mão na minha e sinto o choque da minha pele com a dela.

Pode crer que é choque térmico, Adam.

Volto meus olhos para seu rosto que está levemente virado na minha direção, uma mecha escorre por seu rosto contrastando com sua brancura, levanto meus dedos até a mecha que mais cedo eu a vi por atrás da orelha e refaço a ação, só que dessa vez com os meus dedos e com ela desacordada.

Saber que Sophia não se lembrará disso quando acordar me tranquiliza por estar aqui, ela com certeza tem os motivos dela pra me tratar com indiferença, mesmo que me quebre, mesmo que me torture e que me enfureça, eu realmente queria que ela nunca tivesse partido, poderíamos ter ficado juntos.

Escorrego meu indicador pela linha do seu maxilar até seu queixo, Sophia é tão linda, tão delicada e tão perigosa para mim.

You got power over me.

Sorrio ao me lembrar de uma frase do refrão de uma canção, recolho minha mão, mas ainda a fito com cuidado, Sophia me tem em suas mãos. Estudo seu rosto de perto, as mesmas feição de anos atrás, eu amava ver ela sorrir, sorrir para mim, eu amava quando ela me contava as histórias das princesas da bíblia que ela tanto amava, era tão mágico como os clássicos da Disney.

Seus olhos sempre foram como pedras brilhantes, eu os chamei de topázio quando ela chamou os meus de esmeralda, seus sorrisos sempre chegavam aos olhos, verdadeiros e bonitos. Sophia sempre fora delicada e sempre muito sensitiva, já eu tinha problemas com a grosseria e sempre dizia algo que fazia ela me olhar de uma forma que eu sabia, eu sabia que havia feito merda.

Eu fiz de tudo pra ela e mesmo que hoje eu não possa fazer doideiras grandes, sei que se ela me pedisse...Me casar com Madeline pode ser o erro que eu vou cometer, mas me apaixonar e amar Sophia foi um dos meus maiores acertos.

- Adam. - ouço a voz suave de Madeline e ela abraça meu ombro com sua mão pequena. - Eu e Lis precisamos limpar ela. - e eu sei que tenho que sir do quarto, mas eu não quero soltar Sophia, em doze anos essa é a nossa maior proximidade. - Adam. - chama Madeline de novo ficando de frente para mim e eu olho para cima, para seu rosto, seus olhos.

Ela sorri fraco e seu olhar me passa companheirismo, apoio.

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ATENÇÃO: seu voto é importante, então deixe sua estrelinha quando chegar ao fim, por favor.

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- Vá, ela ficará bem. - pede, Paul está de frente a penteadeira, coloca algumas coisas sobre ela e agora está de luvas. - Eu prometo. - volto a olhá-la e eu assinto soltando seus dedos aquecidos pela minha mão.

Me levanto, meus olhos presos na garota sobre a cama e eu sinto a enorme necessidade de jogar tudo pra cima, mas eu prometi, prometi a mim mesmo que iria manter minha palavra. Olho pra Madeline que tem uma toalha e peças de roupa em um braço, pra Lis que mantém no rosto uma expressão de preocupação.

- Pode ficar de cão de guarda se preferir, sua garota acorda já-já. - Paul brinca e sorrindo para ele reviro os olhos sentindo a saliva descer apertada pela garganta.

- Não brinca. - sorrio ladino, a preocupação não cabendo em mim, a voz rouca. - Eu volto mais tarde. - eles concordam, Miranda e Lis se aproximam de Sophia adormecida, nesse instante me sinto o príncipe do filme da Aurora.

Suspiro ao olhar mais uma vez para o rosto de Sophia ainda pálido e então suspiro, dou as costas, caminho até a porta e saio sem olhar para trás.

Meus olhos voam em direção da figura esguia que me espera um pouco mais a frente, seu semblante está sério e o cabelo loiro tão bagunçado quanto o meu, Simon sempre foi a perfeita imagem da ordem e com certeza o estilo despojado não combina com ele.

Meus passos se tornam lentos conforme me aproximo dele, enfio as mãos nos bolsos e mordo a língua pra não falar demais sob seu olhar intrigado e preocupado. O silêncio perdura até ele se desencostar da parede e descruzar os braços fortes dentro das mangas do blazer coloridamente esquisito e certamente caro.

- Que tal uma volta pelo jardim? - pergunta estendendo a mão para apontar as escadas e eu sorrio.

- Você primeiro. - digo e ele maneia a cabeça imitando meu gesto. - Preciso só de um minuto. -pego meu celular no bolso traseiro, eu agora tenho uma reunião pra desmarcar.

Transmissão Roger/Emma | 12:57

*Pessoal, a reunião das duas está cancelada, mais tarde eu explico tudo com mais detalhes.

Digito rápido para logo depois de enviar guardar o celular de volta e descer os poucos degraus ao lado de Simon, caminhamos em silêncio para as grandes portas que são abertas para passarmos.

Simon, eu e Steve formamos um bom trio desde sempre, combinamos em muitas coisas e contrastamos nas cores das nossas peles.

Certa vez Simon chamou a mim e a Steve para participarmos de uma sessão de fotos para sua coleção de inverno, bem, por nós dois sermos príncipes ficou mais difícil por causa de toda burocracia e das regras. Demorou quase um ano inteiro pra que conseguíssemos uma ressalva para a anulação dessa, mas todas as outras, incluindo a que exclui possibilidades de redes sociais para os membros da realeza, permaneceram.

Segundo meu pai, e não estou dizendo que ele está errado, todos temos que seguir regras, inclusive quem as cria. Mamãe me ensinou que somos vistos e que somos exemplos e hoje entendo que se formos exigir que alguém viva as leis e as respeite, temos que ser os primeiros a vivê-las e a respeitá-las, mesmo que nos custe muito.

Contudo conseguimos fazer a sessão, o contraste das roupas em nós e nós mesmo foi o máximo, eu de branco, Steve de laranja e Simon de marrom, tiramos fotos individuais, mas as melhores foram as que estávamos juntos.

Esse dia foi incrível e nunca vou esquecer.

- Sou eu sempre a quebrar o silêncio das pessoas. - com um sorriso ele murmura, mas eu não faço ideia do que falar e não sei se Sophia ''e o melhor assunto pra mim por agora, as imagens desmaiada perturbam minha mente.

Caminhamos pelo jardim lateral esquerdo da entrada, eu suspiro.

- Lembra daquele dia em que fomos pro Alaska pra fazer aquelas foto pra sua coleção? - pergunto e ele sorri, coça a barba e assente.

- Eu me lembro sim, a maior dor de cabeça e a demora de quase um ano pra menos de 48 horas de trabalho. - comenta e eu assinto. - Mas aqueles pinheiros cheios de neve deram um ar totalmente monstro pras fotos. - comenta e eu o olho, parecia reviver o dia.

Simon de repente chacoalha a cabeça e para de andar pra me olhar.

- Saudades do Steve. - murmura e volta a andar.

- Falando em Steve, ele me ligou. - conto sobre o olhar do loiro. - Disse que virá pra Europa no fim desse mês pra uma reunião na Bélgica, prometeu que virá a Lorena. - conto e ele assente.

- Falei com ele, mas faz muito tempo. - comenta. - Como ele está? - pergunta tirando uma das mãos dos bolsos para tentar arrumar o cabelo, sei que está incomodado.

- Noivo. - digo e Simon me olha rápido, os olhos arregalados e um sorriso se abrindo nos lábios, ele gargalha de repente e eu olho em volta com um sorriso.

- O que? não, não, não... - nega rindo, o cabelo dele bagunça ainda mais com o vento que sopra por nós, mas ele não parece mais dar tanta importância. - O nosso Steve? - e eu consigo entender perfeitamente o motivo da sua surpresa e descrença, antigamente ele era casado com o mundo, com a solteirice, palavras dele.

- Pois é, eu também não acreditei. - afirmo e Simon se curva minimamente pra trás, olha pro céu e depois volta a posição normal. - Ele disse que virá com convites pra festa de noivado, dá pra crer? - levanto minha mão ao punho e desabotoo botão por botão.

- Fala sério, dude. - solta mais um riso e eu continuo o trabalho com as mangas da camisa as puxando pra cima, até cotovelo. - Quem diria, agora só falta você. - eu maneio a cabeça concordando silenciosamente, cruzo os braços me lembrando da discussão que tive com Madeline sobre exatamente isso.

Noivado, festa, casamento.

- O mar não está calmo pra mim não, irmão. - faço uma careta e com a ponta do sapato chuto a grama. - O noivado provavelmente só daqui dez anos, o casamento então, vem só em 2300. - sinto na boca um gosto estranho e ele sorri fraco negando com a cabeça.

- O que tá rolando na sua vida perfeitinha? - sinto a ironia em sua voz e sorrio olhando pras flores pelo jardim.

- Muita coisa. - respondo vago com um suspiro, Simon se aproxima e abraça meu ombro com uma de suas mãos.

- Não fuja, eu quero saber. - fala e sorrio desgostoso, claro que quer.

- Claro que sim rede internacional de notícias. - brinco e Simon gargalha alto. - Vê se não sai divulgando depois, viu? principalmente pro meu pai, seu fofoqueiro. = Simon gargalha, volta a se afastar, mas então me olha sério e aponta pra mim.

- Não me insulte, eu tenho meus contatos posso por você em mau lençóis.

- Isso é uma ameaça? - questiono com os olhos semicerrados enquanto ele volta a enfiar a mão no bolso. - Steve vem com aposta e você com ameaças.

- Nada, é um aviso. - dá de ombros e eu assinto levando meus olhos para longe dos dele. - E então? eu posso ser um psicólogo também.

- Nada que eu já não esteja acostumado, na verdade as crises voltaram e eu tenho tentado lidar com elas, mas ultimamente tudo parece ir de mal a pior. - conto uma parte do problema, mas Simon hoje está decidido, posso ver em seus olhos e pelo seu sorriso.

- Sophia? - eu o olho instantaneamente, logo depois suspiro e miro o chão.

Até o nome dela me atrai.

- Sabe que a culpa não é dela, não é? - ouço a voz dele quando começo a me afastar de novo.

Estive pensando nisso por um tempo, eu também deveria ter ido atrás ou ligado, mas senti medo de ser rejeitado, talvez o mesmo possa ter acontecido com ela, mas isso já não tem importância nessa altura do campeonato.

- A culpa de quê exatamente? - desconverso sabendo que Simon está bem na minha cola.

- A culpa de tudo estar desandando nesses últimos dias. - fala e eu franzo o cenho parando de andar de novo, estamos longe da fonte e consequentemente da entrada.

- Talvez seja. - discordo me jogando em um banco de madeira com braços e pernas de madeira, mamãe costuma tomar chá por aqui.

- Não, não é. - reafirma - A culpa é dos problemas mal resolvidos dentro de você, Sophia não tem culpa de nunca ter a superado, Adam. - diz e eu apenas encaro as flores.

Problemas mal resolvidos? eu? tenho nada!

Simon caminha lentamente até o bebedouro de água dos pássaros, uma grande bacia de pedra em cima de um pilar greco-romano, e se prepara pra se apoiar nela.

- Não se apoia... - ia dizendo, mas é tarde demais.

Tanto o pilar quanto a bacia são empurrados pelo peso dele e quase vão ao chão enquanto eu seguro o riso pela cara de choque que meu amigo mantém no rosto.

- Não ri, Adam. - repreende enquanto eu gargalho altamente. - Idiota. - reclama se jogando ao meu lado.

- Aqui a gente tem que rir das desgraças, irmão. - digo agora sorrindo - Se não quiser chorar. - dou de ombros e ele parece entender.

- Você ainda tá sofrendo porque...

- Nem vem, esqueceram que eu assinei a droga de um contrato? - me irrita a forma como as pessoas costumam falar da minha vida como se fosse muito fácil passar pelo que eu passei e pelo que passo, nem ao menos se lembram de quem eu tenho que ser para o reino.

- Sinceramente Adam, antes a desculpa era que não sabia onde ela estava, depois foi que ela já devia ter alguém e agora essa. - gesticula exageradamente e eu solto um riso por entre os dentes. - Ah, talvez ela já esteja até casada. - faz uma imitação barata da minha voz e dessa vez eu rio alto.

- Eu nunca falei assim e nem mexo as mãos enquanto falo. - ele ri da minha cara e eu apenas suspiro.

- Adam, fala sério cara. - volta a apoiar as costas no encosto da cadeira ao meu lado. - Você não pode viver de desculpas cara.

- Tá, eu admito que a outra era uma desculpa, mas não agora. - digo sincero. - E eu queria que fosse. - admito.- Mas a quebra desse acordo pode prejudicar politicamente Lorena, depois exporia Madeline e a minha família. - deixo de lado a parte da história que envolve a particularidade de Madeline, daquilo apenas nossas famílias sabiam.

Simon olha pros pés vestidos por um Oxford caro e fica assim por minutos atrás de minutos, quase consigo ver as engrenagens dentro da cabeça dele girar, quando desisto de o observar o ouço:

- Quem elaborou o acordo? - pergunta tranquilo, parece ter tido uma ideia.

- Kim Polene e Jacob Bravior. - respondo sem hesitar, o que ele poderia fazer? - O advogado de confiança do meu pai e o do rei Hughes.

- Você conhece todas as cláusulas do acordo? - Simon não me olha enquanto questiona e eu franzo o cenho.

- Por que? - pergunto desconfiado, mas ele não fala nada. - O que tem em mente?

- Nada, ainda. - dá de ombros e eu não acredito.

- Simon... - giro meu corpo em sua direção um pouco preocupado, Sam é doido.

- Eu lembrei que preciso me encontrar com Giu daqui alguns minutos. - fala de repente olhando no relógio e se pondo em pé. - Preciso ir meu amigo. - avisa e eu me ponho em pé.

Apesar de não querer desconfiar dele isso é algo que eu não consigo não fazer dado todos os indícios de que ele teve uma ideia, muito provavelmente, perigosa e não quer me contar.

- Tudo bem, a gente se vê. - me despeço com abraço e um toque de mão.

- Mande minhas melhoras pra Sophia. - pede e então me encara. - Ou mande alguém mandar por mim. - reformula o pedido com um sorriso zombeteiro de lado.

- Idiota. - resmungo já o vendo se afastar.

- A gente se vê. - acena rindo.

Permaneço por mais alguns minutos antes de suspirar e voltar para dentro do palácio.

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INFO:

A primeira música é um original e eu não autorizo uso de qualquer tipo.

A menção feita é do refrão da música Power - Isak Danielson.

ATENÇÃO: o seu voto é muito importante, então deixe sua estrelinha, por favor.

- do inglês:

Dude - uma forma informal para cara.

N/A I NOTA DA AUTORA

Oi, gente, tudo bem com vocês? sei que demorei, é, mas faz desde sexta que estou tentando corrigir esse caps, juro que fiz de tudo, porém tudo anda muito corrido. Ainda hoje tenho que lavar roupa, lavar tênis e estudar pra prova que terei, mas enfim, estou aqui e espero que vocês estejam curtindo. Como sempre digo a interação de vocês é importante pra mim, não apenas pra saber o que andam achando de tudo, mas também como motivação.

Vocês sabe que amo vocês, já pararam pra perceber o quão doido é isso? kkkk se formos pensar bem é até sem sentido já que nunca nem nos vimos, mas eu amo mesmo assim.

Quero desejar uma boa semana a todos, que Deus abençoe vocês e os livrem do mal.

Amo-vos.

Bjinhos.

A.I.M

PS: Não esqueçam da estrelinha e do comentário, sim? brigadãooo!

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